Na Guiné-Bissau, a situação política adensa-se depois de o PR ter dito que não irá nomear Domingos Simões Pereira primeiro-ministro. Analista considera que há uma interferência de Embaló nos assuntos internos do PAIGC.
A atualidade política guineense está a ser marcada pela denúncia do deputado do Movimento para Alternância Democrática (MADEM-G15), Manuel Nascimento Lopes ("Manelinho"), sobre uma alegada ameaça à sua integridade física.
"Um telefonema anónimo para me ameaçar é uma vã tentativa de me amedrontar. Estou tranquilo na minha casa e que ninguém se preocupe com isso", escreveu esta terça-feira (25.01) o parlamentar na sua página no Facebook. O deputado não disse, contudo, de quem terão partido as ameaças.
Num contexto de muita movimentação política, com vários partidos a realizar congressos, enquanto outros traçam o plano para as legislativas do próximo ano, o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, deu início, na semana passada, em Quinhamel, na região de Biombo, norte da Guiné-Bissau, a uma série de visitas à população do interior do país, com muita "pompa e circunstância".
"Visitas de Estado"
Embaló chama a essas deslocações "visitas de Estado", mas a designação não está a reunir consenso.
"A visita de Estado acontece nas deslocações externas [do chefe de Estado], nas deslocações aos outros países, e não propriamente numa deslocação feita no território nacional. O que aconteceu na deslocação do chefe de Estado a Quinhamel trata-se de uma presidência aberta ou de uma visita normal", explica à DW África o jurista Luis Landim.
Umaro Sissoco Embaló é acompanhado nestas visitas pelo ministro do Interior, Botche Candé, líder do recém-criado Partido dos Trabalhadores Guineenses (PTG). Embaló tem sido associado à nova formação política, mas negou sempre essas afirmações.
Polémica com Domingos Simões Pereira
Entretanto, Sissoco Embaló despoletou um novo debate político na Guiné-Bissau, ao fazer a seguinte afirmação: "Por razões constitucionais não posso nomear Domingos Simões Pereira primeiro-ministro e nem ministro, porque ele disse que eu não ganhei eleições. Por questão de coerência não penso que podemos coabitar. Mesmo que ele seja presidente [reeleito] do PAIGC não sei se vou nomear o PAIGC no governo, mesmo que vença eleições com 102 deputados."
Prontamente, o líder do PAIGC reagiu às declarações do Presidente da República, sem nunca mencionar o nome do chefe de Estado.
Numa comunicação aos militantes do partido, na passada quinta-feira, (20.01), por ocasião do Dia dos Heróis Nacionais, Domingos Simões Pereira deixou um aviso.
"Não haverá ninguém e nenhuma força, por qualquer que seja a motivação que tenha, não terá mais condições, na Guiné-Bissau, de impedir ao PAIGC de exercer a competência e responsabilidade que o povo guineense lhe atribui."
"Atitude antidemocrática"
O analista político Jamel Handem considera que há uma interferência de Umaro Sissoco Embaló nos assuntos internos do PAIGC.
"As declarações do Presidente da República demonstram uma clara intenção de interferir e perturbar a realização do próximo congresso do PAIGC e ao mesmo tempo, revela a sua atitude antidemocrática, aversão a Domingos Simões Pereira e a sua intolerância para com os adversários políticos", explica.
Handem prevê consequências políticas nocivas em virtude das declarações do chefe de Estado. "Fica claro que ele [Umaro Sissoco Embaló] não vai respeitar a Constituição da República, em caso da vitória do PAIGC, nas próximas eleições legislativas. Em consequência, estamos a caminhar para o aprofundamento da crise política e da ilegalidade no país".
Depois do congresso do Partido da
Renovação Social (PRS), no qual Alberto Nambeia foi reconduzido para um
terceiro mandato, o PAIGC marcou a sua reunião magna para
Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche Welle
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