sábado, 8 de janeiro de 2022

Mensagens do WhatsApp de Boris que levam Labour a acusá-lo de corrupção

Primeiro-ministro já pediu desculpa por omitir informação num inquérito, mas oposição não desiste

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, já estava debaixo de críticas por as obras do seu apartamento privado em Downing Street terem sido financiadas por um doador do Partido Conservador. Uma investigação acabou por concluir que não violou as regras, mas o problema é que o responsável pelo inquérito não teve acesso às mensagens de WhatsApp que o primeiro-ministro trocou com o doador, David Brownlow. Nelas há referência a um evento que este queria realizar, tendo-lhe sido dado acesso ao governo. Johnson já pediu desculpa, alegando que uma troca de telemóvel fez com que se esquecesse das mensagens. Mas o Labour acusa-o de corrupção.

"Parece que o Lorde Brownlow teve acesso ao primeiro-ministro e ao ministro de Cultura porque estava a pagar pela remodelação luxuosa do seu apartamento", disse a número dois trabalhista, Angela Rayner. "Nesse caso, é corrupção pura e simples", acrescentou. Já a líder dos Liberais Democratas no Parlamento, Wendy Chamberlain, considerou que este é apenas "o último capítulo do escândalo" a envolver os conservadores. "A desculpa de Boris Johnson para não ter revelado as mensagens de WhatsApp - porque tinha um novo telemóvel - é equivalente ao cão comeu os meus trabalhos de casa", disse.

As mensagens em causa datam de novembro e dezembro de 2020, quando Brownlow estava encarregado de criar um fundo para proceder à remodelação dos apartamentos privados do primeiro-ministro em Downing Street. Acabaria contudo por ser ele a pagar as 112 500 libras (quase 135 mil euros) das obras, com Boris Johnson a saldar a dívida só em março de 2021, após o escândalo chegar aos jornais. Uma investigação feita por Christopher Geidt, responsável por fiscalizar o cumprimento das normas de conduta dos ministros, ilibou o primeiro-ministro, alegando que não tinha havido conflito de interesses.

Mas Geidt não teve acesso às mensagens que vieram agora a público. "Olá David. Receio que partes do nosso apartamento ainda estejam um pouco numa lixeira e estou desejoso de permitir que a Lulu Lytle [uma designer de interiores] avance com as coisas. Posso pedir-lhe que entre em contacto contigo para as aprovações? Muito obrigado e tudo de bom. Boris", lê-se numa das mensagens. Num P.S. o primeiro-ministro dizia estar a par dos planos de Brownlow para a realização de uma "grande exposição" e que ia acompanhar o caso.

Na resposta, este agradeceu a Johnson por estar a pensar na exposição e lembrou que o fundo para pagar as obras ainda não estava criado, mas que a sua aprovação seria rápida e como sabia de onde o dinheiro ia sair, estas podiam avançar assim que a decoradora entrasse em contacto. Segundo os registos públicos, Brownlow reuniu-se mais tarde com o então ministro da Cultura, Oliver Dowden, para discutir a exposição. O evento não avançou nos moldes que Brownlow queria, mas outro semelhante está previsto para este ano.

O primeiro-ministro pediu entretanto desculpas por não ter divulgado as mensagens, lembrando que por motivos de segurança teve que trocar de telemóvel. Em abril soube-se que o seu número estava na Internet há 15 anos e que isso o deixava vulnerável a ataques.

Susana Salvador | Diário de Notícias

Imagem: Boris Johnson numa conferência de imprensa. © JACK HILL / POOL / AF

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