Paulo Baldaia* | TSF | opinião
Continuo sem saber o que António Costa entende que o Partido Socialista deve fazer se perder as eleições, mas a maioria parlamentar se mantiver à esquerda. E duvido que alguém saiba, porque essa pergunta não lhe foi feita. Ou seja, o líder do PS, perante circunstância idêntica em 2015, entendeu que devia governar, mas agora já disse que deixa de ser secretário-geral. E o PS? Deve entregar o poder a Pedro Nuno Santos e fazer dele o próximo primeiro-ministro de um geringonça 2.0 ou deve dar oportunidade ao vencedor de formar governo e tentar aprovar os orçamentos do Estado para 2022 e 2023?
Rui Rio continua no mesmo sitio com tantos avanços e recuos. Da viabilização de um governo socialista por dois anos à possibilidade de o viabilizar por quatro com uma revisão a meio, continua também ele sem obter a reciprocidade socialista que faltou ao PSD em 2015.
O que parece evidente é que, numa campanha que o líder do PS quer transformar numa escolha entre ele e Rio como candidatos a primeiro-ministro, Costa ficou refém de uma maioria absoluta, porque o próprio reconhece que o caminho mais rápido para um novo governo das esquerdas é a derrota do PS com a maioria à esquerda. O que não parece razoável é que a campanha seja bipolarizada na escolha do primeiro-ministro, mas se admita como hipótese que o chefe de governo a sair destas eleições possa vir a ser alguém que não se apresenta ao eleitorado como candidato ao lugar.
Se Costa joga no tudo ou nada, sabemos que governará com maioria absoluta e procurará gerir o tempo até novas eleições se as ganhar sem essa maioria. Na verdade, percebe-se que na cabeça dele só há dois bons cenários ou a maioria ou a derrota que o libertará. Só por isso é que Costa consegue fugir à responsabilidade de ter de responder à questão de saber se viabilizará um governo minoritário do PSD, na sequência de uma vitória de Rio. Nada dizendo, devemos presumir que quem fez o que fez em 2015 continuará em coerência a defender que, perante o mesmo resultado, a decisão do PS seja igual. Mas aqui entra o Presidente da República que não aceitará esta passagem de testemunho mas, não podendo dissolver o Parlamento nos seis meses seguintes às eleições, terá de resolver um grande imbróglio. Perante este cenário, só vejo uma solução: um governo de iniciativa presidencial que permita fazer caminho para novas eleições com outros protagonistas políticos.
*Jornalista
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