sábado, 19 de fevereiro de 2022

Angola | IRMÃ MARIA DILAR MARCELINO

Artur Queiroz*, Luanda

Maria Dilar Branco Marcelino era professora, nascida no Luena. Em 1963 deixou a profissão e entrou para a vida religiosa. Irmã da caridade, do amor, da solidariedade. Irmã de todos. E mana biológica do engenheiro agrónomo Fernando Marcelino, também nascido no Luena. Formado no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa. Ali conheceu Miete, angolana de Benguela, sua esposa e a extremosa mãe dos seus filhos. Zaida Dáskalos, professora, tia do médico David Bernardino, irmã do poeta Alexandre Dáskalos e do engenheiro Sócrates Dáskalos, nacionalista angolano da primeira hora e governador de Benguela.

A irmã Dilar foi uma missionária incansável. Deu tudo o que tinha, ensinou tudo o que sabia, amou todos os seres viventes conhecidos e desconhecidos, próximos e longínquos. Trabalhou incansavelmente para as comunidades do Cuando Cubango, ao serviço da Igreja. Onde estavas tu, José Manuel Imbamba, bispo da tortura, da morte e da destruição, quando ela se entregava de corpo e alma à Humanidade naquele cantinho de Angola? 

Onde estavas tu, Belmiro Chissengueti, bispo capturado por pensamentos manchados com o sangue dos inocentes, lambuzado na morte dos teus irmãos de Igreja e de Pátria, ajaezado à moda dos destruidores da compaixão pelos pobres e oprimidos?

Onde estavas tu, padre Mário Zezano, instrumento auxiliar de assassinos a soldo dos racistas e nazis da África do Sul? Que 30 dinheiros pagaram a tua cumplicidade ontem e pagam hoje a tua absolvição dos assassinos do povo de Deus e da Pátria Angolana? Onde estavas, alma danada, diabrete em figura de gente? Que Satanás fez de ti contador entusiasmado dos mortos causados pelos teus sócios da kamanga na guerra pós eleitoral? Fala agora, não consentiremos que te cales para sempre. 

E tu, padre Jacinto Pio Wacussanga, onde estavas quando a irmã Dilar se desfazia em bondade, amor e solidariedade com as comunidades mais desprotegidas do Cuando Cubango, já de si terra esquecida e abandonada? Que deus te encomendou sermões de trampolineiro e te empurrou para o curral dos monstros assassinos da UNITA? Que sandice ofuscou quem fez de ti sacerdote e ao mesmo tempo comilão insaciável dos diamantes de sangue? Quem te ensinou esse truque de te servires da fome para enganar os famintos?

Vós todos, padres e bispos da UNITA, por onde pastavam as vossas ambições quando a irmã Dilar foi assassinada na cidade do Huambo às ordens de Jonas Savimbi? Absolveram os assassinos em confissão ou depois do assassinato repartiram os 30 dinheiros da traição, irmãmente? Sim, a irmã Dilar, freira da Igreja de Roma, foi assassinada em 1992, quando a UNITA recusou os resultados eleitorais e fez do Huambo a capital da morte e da tortura. 

O padre Viti (na altura já era bispo) abençoou os assassinos e benzeu as armas que dispararam contra a irmã Dilar. E vós todos, padres e bispos da UNITA? Comemoraram com vinho de missa e dançaram com o Diabo? Imbamba, Chissengueti, mostrem o som e as imagens do que fizeram em 1992, quando a irmã Dilar foi assassinada pelos sicários da UNITA. Mostrem o que escreveram a condenar tão hediondo crime. 

Se nada têm para mostrar e agora tanto falam a favor dos assassinos, então arrumem as imbambas e tenham a coragem de abandonar a Igreja de Cristo. São demasiado porcos em palavras, pensamentos e actos, para pertencerem a uma instituição que apesar de tudo fez muito pela Humanidade e também por Angola. Eu tive professores padres e irmãos maristas, em colégios privados mas também no Liceu Salvador Correia em Luanda. Sei do que falo. 

A irmã Dilar foi assassinada com o seu irmão, Fernando Marcelino e a cunhada, Miete Marcelino. O engenheiro Marcelino dedicou toda a sua vida a Angola e ao Povo Angolano. Trabalhou no Instituto de Investigação Agronómica de Angola (IIAA) até ser assassinado pelos sicários da UNITA. Formou dezenas de jovens, investigou cientificamente a cultura do milho. 

O instituto tinha dezenas de investigadores e técnicos superiores. Depois do 25 de Abril quase todos partiram. Mas ele aguentou firme até ser o único investigador. Um dia os sicários da UNITA puseram uma bomba nas instalações e destruíram o fabuloso herbário do IIAA, a sua entomoteca preciosa (colecção de insectos) e o insuperável laboratório de solos. Bispos e padres da UNITA, parasitas da Igreja, os vossos maninhos do Galo Negro destruíram a Ciência! E insatisfeitos com tão hediondo crime, também assassinaram o cientista. A irmã Dilar e o engenheiro Marcelino foram cravejados de tiros, na cidade do Huambo. Como comemoraram o feito dos vossos sócios de diamantes de sangue? Falem!

Os matadores dispararam à queima-roupa sobre a irmã Dilar, sua cunhada Miete, seu irmão Marcelino e sobre a professora Zaida Dáskalos, tia do médico David Bernardino. Só ela sobreviveu. Bispos e padres da UNITA, parasitas da Igreja Católica, hoje mostram de uma forma exuberante e indesmentível que estão tristes por não terem sido vós a disparar as balas assassinas. Não merecem o respeito de ninguém, nem de vós próprios. 

David Bernardino, sabem quem era? Médico no Huambo. Criou uma rede de postos de saúde nos bairros pobres da cidade e ali dava assistência médica e medicamentosa a todos, sem excepção. Um dia foi ao município da Cela e pediu à administração da Empresa de Lacticínios de Angola que lhe oferecesse o soro que sobrava do leite no fabrico de manteiga e queijo. Desde então, todos os dias as mamãs pobres do Huambo faziam o pirão com aquele soro, rico em vitaminas e sais minerais. David Bernardino era um ser humano extraordinário. Sei do que falo. Os meus filhos César e Anabela eram tratados por ele, porque os pais não tinham dinheiro para pagar as consultas do Dr. Fialho, pediatra da cidade.

Bispos e padres da UNITA, entrincheirados na Igreja Católica, sabem o que aconteceu ao Dr. David Bernardino? Os vossos sócios, os vossos matadores, assassinaram-no à porta do centro de saúde da Bomba, tinha acabado de consultar os seus doentes, que eram os mais pobres dos pobres. O que escreveram sobre esse hediondo crime? O que disseram? Ou mostram de que lado se colocaram ou então sou forçado a concluir que já estavam com os assassinos da UNITA. Logo, são assassinos impiedosos disfarçados com coleiras, sotainas e solidéus.  

Circulam notícias de que os padres e bispos da UNITA aboletados na Igreja Católica estão furiosos com o Governo por causa de um negócio de diamantes que envolve a empresa Canocini. Não confio nessas fontes. Mas os próprios padres e bispos confirmam por palavras e actos que são mafiosos ao serviço da UNITA. Nisso eles são credíveis.

* Jornalista

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