Presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, Augusto Mário Silva, diz que também foi atacado. Mesmo correndo risco de vida, promete não abandonar os seus concidadãos. "Emigrar ou fugir não é opção", afirma à DW.
Após os ataques à Rádio Capital FM e à residência de importantes vozes críticas do país, esta semana, o presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) denuncia que ele próprio foi ameaçado junto à sua residência por "elementos desconhecidos".
Mesmo assim, para Augusto Mário Silva, "emigrar ou fugir não é opção". Em entrevista à DW África, garante que ele e outros ativistas ficarão do lado do povo da Guiné-Bissau. Fugir seria "virar as costas" aos cidadãos guineenses que precisam dos defensores dos direitos humanos, defende.
À DW África, Augusto Mário Silva exige a "demissão imediata" do ministro do Interior, Botche Candé, por "incapacidade" para garantir a segurança e tranquilidade públicas.
DW África: Como recebeu as notícias dos últimos ataques e ameaças contra jornalistas e outras vozes críticas na Guiné-Bissau?
Augusto Mário Silva (AMS): Nós recebemos as notícias com muita tristeza e inquietação, mas já esperávamos, tendo em conta os métodos instituídos. A Rádio Capital FM tem vindo a ser uma voz incómoda ao regime instalado, e nunca desperdiçaram a oportunidade de atacar a rádio. Esta é a segunda vez que a atacam. Portanto, registamos mais um ato cobarde de ataque à imprensa e que tem um propósito político. O principal responsável por tudo isso é o Governo.
DW África: Diz que o Ministério do Interior mostrou-se incapaz de garantir a segurança e tranquilidade públicas... Portanto, é responsável?
AMS: O Ministério do Interior é quem tem a responsabilidade constitucional e legal de garantir a segurança aos cidadãos. Mas infelizmente tem demonstrado incapacidade a este nível.
DW África: Acha, então, que o ministro do Interior deveria demitir-se imediatamente?
AMS: É óbvio que sim, pois num Estado de Direito democrático, quando um ministro revela incapacidade em garantir a segurança dos cidadãos, a primeira consequência política dessa incapacidade deveria ser a sua demissão imediata. Mas, conhecendo o país que temos, isso está longe de acontecer.
DW África: Houve ataques contra o Dr. Rui Landim e o jurista Vaz Martins, que é o seu antecessor na chefia da Liga Guineense dos Direitos Humanos. Duas vozes críticas. O que se pode dizer sobre estes dois casos?
AMS: Não são apenas estes dois casos, há outros. Eu próprio fui vítima de ataques por parte deste esquadrão da morte do atual regime. Atacaram as casas de Rui Landim e Vaz Martins e, por último, a minha casa. Felizmente, não houve disparos como houve na casa do Dr. Landim. Mesmo assim, isso demonstra a intolerância de algumas pessoas, ou de algum círculo político, ligado ao poder vigente, às vozes críticas.
DW África: Sr. Augusto Mário Silva, na sua opinião, fugir ou emigrar seria uma opção válida para os defensores dos direitos humanos, neste momento?
AMS: Fugir é virar as costas aos nossos concidadãos que precisam dos defensores dos direitos humanos. Nós, enquanto pessoas que trabalham neste campo, comprometidos com o valor da dignidade da pessoa humana, estamos dispostos a enfrentar as consequências que podem advir das nossas atuações. Mas vamos continuar ao lado do nosso povo e dos nossos concidadãos que precisam de nós. Não vamos virar as costas a eles.
DW África: Mas está consciente de que corre o risco de perder a própria vida?
AMS: Estou consciente e tenho a perfeita noção do risco que todos nós aqui corremos. Mas não temos outra alternativa, pois não temos uma segunda pátria. A nossa única pátria é a Guiné-Bissau. Nascemos, crescemos e desenvolvemos a nossa atividade aqui. Portanto, não vamos abandonar os nossos concidadãos.
António Cascais | Deutsche Welle
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