Calma regressou às ruas de Bissau, um dia depois da "tentativa de golpe". Multiplicam-se as mensagens de repúdio ao "ato bárbaro", que fez vários mortos. Mas multiplicam-se também as perguntas: afinal, o que aconteceu?
Em comunicado, a Assembleia Nacional Popular (ANP) da Guiné-Bissau refere que foi com "profunda preocupação" que tomou conhecimento da "tentativa de golpe de Estado perpetrada por um grupo de homens armados não identificados", durante uma reunião extraordinária do Conselho de Ministros, na terça-feira (01.02).
De acordo com Adja Camara Pinto, segunda vice-presidente da ANP, tratou-se de um "grave e intolerável atentado ao Estado de Direito democrático e à ordem constitucional vigente".
Pelo menos, seis pessoas morreram, de acordo com fontes militares. A ANP solidarizou-se com as famílias das vítimas.
Apelos a investigação "transparente"
A calma regressou entretanto às ruas de Bissau depois da tensão da véspera.
Após um silêncio inicial face à incerteza sobre o que se passava no terreno, multiplicam-se agora as reações da sociedade civil e dos partidos políticos.
Em entrevista exclusiva à DW África, o líder do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, diz que não está convencido com as explicações "simplistas" do Presidente da República sobre a suposta tentativa de golpe de Estado, e exige um "inquérito sério" para se apurar o que aconteceu.
A Liga Guineense dos Direitos Humanos pede também uma investigação "transparente e conclusiva" para esclarecer as circunstâncias do "motim" de terça-feira.
Os militares fecharam o Palácio do Governo enquanto fazem buscas no local.
Fontes militares citadas pela agência Lusa revelaram que "várias pessoas" foram detidas. Contactado pela DW África, o Estado-Maior General das Forças Armadas remeteu quaisquer esclarecimentos ao Governo.
A DW África contactou o Ministério da Defesa, mas ainda não obteve resposta. Ao que a DW apurou, vários membros do Executivo estão em lugares discretos e incontactáveis, por razões de segurança.
"Ato bárbaro"
Numa nota de imprensa, a Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), liderada pelo primeiro-ministro, Nuno Gomes Nabiam, pede a responsabilização dos culpados.
Perante o "atentado cobarde e bárbaro", o partido mostra-se solidário com todas as instituições democráticas da Guiné-Bissau e salienta que a paz, a unidade nacional e o respeito pelo Estado de Direito democrático e a "não-violência" sempre foram a sua "bússola orientadora".
O Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15), a segunda força política na Assembleia Nacional, também condena o "ato bárbaro e violento" de 1 de fevereiro "que visa somente pôr em causa, mais uma vez, a ordem constitucional e o Estado de Direito democrático na Guiné-Bissau".
João Aberto Djata, vice-líder da bancada parlamentar do Partido da Renovação Social (PRS), que pertence à coligação governamental, lembra que golpes de Estado não são a forma de resolver diferendos políticos.
Dúvidas por esclarecer
Questionado pela DW África sobre o que poderá ter estado na origem do ataque, Djata aponta o dedo acusador: "Havia uma certa tensão política forjada por interesses escuros protagonizados por alguém que queria chegar ao poder por meio da subversão da ordem constitucional. Portanto, esse indivíduo deve ser identificado", disse o político, sem mencionar nomes.
O ataque ao Palácio do Governo aconteceu poucos dias depois de uma remodelação governamental, contestada inicialmente pelo primeiro-ministro, mas que acabou por ser aceite.
Djata admite que o narcotráfico pode também ser um dos motivos da tentativa de golpe, mas será ainda preciso apurar a veracidade dessa tese: "Sabemos que forças desta natureza tendem a desestabilizar o país e a criar desordem para poderem operar da melhor forma. Mas, por enquanto, não podemos apontar dedo a isto."
Deutsche Welle | gcs, bd, EFE, Agência Lusa
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