Manuel Augusto Araujo | Praça do Bocage
Hoje (11.03) o director de o Público publicou um artigo em que atira para o caixote do lixo todos os ilusionismos que têm usado para se fingir independente travestindo o seu reaccionarismo estrutural. Disso ninguém já deveria ter alguma dúvida lendo-o ou ouvindo as suas trôpegas intervenções na televisão, onde por vezes o farsola lá tentava vender gato por lebre sem conseguir de facto solapar que faz parte da camarilha de cruzados do pensamento único, que se quer impor como dominante, alinhados nos pelotões de analistas, especialistas, pivôs, entrevistadores, pseudo-jornalistas e mesmo mentirosos profissionais, de cores diferentes mas todos com o mesmo paladar, que germinam como venenosos cogumelos na comunicação social nacional e internacional intoxicando a opinião pública para que deixe de ser possível pensar, num controlo avassalador que arrasa de vez a capacidade crítica de quem quer que seja atirando quem tenha a veleidade de o fazer mesmo da maneira mais limitada, mesmo só colocando dúvidas, para as colónias penitenciárias em que se exterminam quaisquer liberdades democráticas com as ferramentas dos mecanismos em que a realidade é triturada para que os povos fiquem incapazes de perceber os reais fogos políticos, substituindo-os pelos fogos fátuos em que o império dominante retira proveitos com o empobrecimento moral, intelectual e económico dessa situação, em que o neoliberalismo como sistema económico-político de abrangência global é suportado pela formatação da uma opinião única sobre o funcionamento da sociedade.
O Público, como outros meios de comunicação social nacionais, faz à nossa e periférica escala, parte desse gigantesco aparelho globalizado. Não pode perder ocasião para calçar saltos altos, de se por em bicos de pés, para os grandes patrões mundiais do sistema perceberem que estão dentro do redil e merecem que de quando em quando um afago que ressarcise o zelo. É nesse quadro que se deve ler este artigo que é um bom justificativo e justifica bem porque é que o capital continua a investir a fundo perdido nos media – a Sonae ganhou alguma vez dinheiro com o Público por mais ginástica contabilística que faça? quantos jornais não são deficitários apesar das entradas de capital, das preferências não inocentes das inserções publicitárias e da redução das despesas nomeadamente com os despedimentos efectuados? – na propaganda em que se tornou a comunicação social em que se paga largamente aos torquemadas que garantem que nada descarrila, sejam indigentes mentais ou tenham um pouco mais de sofisticação como os manueiscarvalhos, sem que seja necessário exagerar porque as suas qualidades policiescas não exigem grandes argúcias. Melhores ou piores, são os cães de fila da tirania da comunicação social como lhes chamou Ramonet, os seus mercenários de serviço que escrevem quilómetros de textos manipuladores largamente estudados e denunciados por Chomsky. Um dos truques dessa gente para se fingir democrática, é de quando em quando deixar publicar nas páginas que controlam críticas aos poderes de que são serventuários. Desta vez, no Público, oartigo de Boaventura Sousa Santos logo colocado no pelourinho para execução sumária. Dias antes os generais Raul Cunha, Carlos Branco e Agostinho Costa tinham sido objecto de infames calúnias no Expresso, uma das vozes do grupo Bilderberg através do grupo Impresa em Portugal, só por fazerem análises de indole de estratégia militar sobre a condenável guerra que decorre na Ucrânia depois da invasão russa, que não eram coincidentes com o que a propaganda em grande alarido queria impor. As mensagens mais primárias, com as mais duvidosas origens até na sua formulação, usam colossais meios de difusão e quem ousar uma dúvida é logo cremado pelos censores, os sempre de serviço e os que surgem a retalho sobretudo nas redes sociais.
São truques mas para que a ilusão seja a realidade estão muito bem montados e bem explicados nos manuais da CIA, que aprenderam e aprofundaram as teorias de Goebels, que deve dar voltas e reviravoltas roxo de inveja no inferno em que de estar a arder, e banaliza o Grande Irmão de Georges Orwell.
O objectivo deste bombardeio, com a mais densa desinformação e propaganda, é que os mais avisados fiquem paralisados pela dúvida já que a maioria está pronta a se deixar iludir por esses fogos reais de desinformação que têm a enorme virtude de fazer de fachada para uma cerrada censura sem recurso a lápis azuis o que é melhor conseguido quando pelo meio de um quadro impecável e uniformemente pintado introduzem uns calculados riscos para induzir um falso efeito de abertura e liberdade. Nas últimas dezenas de anos o pluralismo informativo é uma das farsas desta sociedade mais bem montada. A malha tem-se apertado sufocando a tão apregoada independência de informação, que quanto mais é alardeada menos existe. Um recente estudo do ISCTE elaborava uma estatística centrada na quantidade de comentadores de direita e esquerda nos últimos anos nos media nacionais e mesmo com um critério de esquerda de larguíssima malha, que até considera Sérgio Sousa Pinto ou Francisco Assis como de esquerda só porque estão inscritos no PS, muitos outros exemplos seguem o mesmo critério, demonstrava como a direita era cada vez mais dominante na comunicação social. O pluralismo e a independência de informação é cada vez mais atirado para as urtigas, até com grande complacência do chamado serviço publico como é visto com clareza pelos comentadores a que recorre e que não foge ao padrão dos media privados.
Se lançarmos um olhar mais universal não sabemos se a CIA, que nos anos cinquenta tinha na sua folha de pagamentos directos mais de 700 jornalistas em todo o mundo e mais uns milhares pagos indirectamente por várias prebendas, as maneiras de pagamento são as mais diversas na sua maioria procuram camuflar a sua origem, em que moldes a continua essa prática. Pelo estado actual dos media até se deve ter acentuado, as fusões são mais que muitas e o desaparecimento ou a censura a outras fontes de informação tem-se acentuado. Há ainda o suplemento de muitos reformados da CIA serem hoje comentadores principais na CNN, Fox, New York Times, Washington Post, etc. Há que esperar pela próxima desclassificação de alguns documentos que só revelam uma pequena percentagem da realidade, mas sempre levantam a ponta da manta dessas acções secretas. O que gostaríamos chamar a atenção dessas instâncias é que a quantidade de merecedores se não de benesses mais ou menos vultuosas mas de pelo menos umas gorgetas tem aumentado em grande número porque a concorrência aumentou ferozmente, num sistema em que a ameaça de despedimento está ao abrir da porta, a precariedade é vulgar e nem sempre o abanar a cauda a editores e directores é garantia suficiente, pelo que se podem perder alguns talentos.
Tem que se funcionar de acordo com a lei da sobrevivência no pântano em que a comunicação social se tornou. O capital neoliberal, que domina os media no chamado mundo livre e as múltiplas agências, das mais secretas às menos secretas ou até públicas e festivas como as ONG’s, que lhe dão apoio logístico, deve ter alguma atenção aos serviços prestados por essa gente e se não os podem recompensar a todos com cargos bem remunerados devem pelo menos, brindá-los de algum modo. É o mínimo que podem, devem fazer honrando os bons hábitos relacionais da aristocracia com a criadagem que não se devem perder nos tempos modernos. Seria mais que uma deselegância, seria mesmo um sinal de arrogância de pensarem de lá por os terem pela arreata ficarem dispensados de lhe dar pelo menos meia cenoura.
Imagem: Decalcomanie, 1966, óleo sobre tela, MAGRITTE
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