Martinho Júnior, Luanda
A 21 de Abril de 2022, as forças que lutam pela libertação do Donbass declararam que a cidade de Mariupol está libertada, no preciso dia em que, num discurso na Conferência Anual 2022 do Fórum Boao para a Ásia, o Presidente da República Popular da China, Xi Jinping, se preocupou em apresentar uma Iniciativa de Segurança Global, que respeita a Carta das Nações Unidas, que respeita toda a humanidade.
A República Popular da China, membro fundador do Não Alinhamento, em Bandung, tem assumido um percurso construtivo que se inscreve na perspectiva de lógica com sentido de vida e é essa substância que socorre hoje o seu posicionamento nos relacionamentos internacionais, um posicionamento que honra a dignidade de todo o Sul Global pela coerência dos termos de integração a que se propões, contra uma hegemonia unipolar que exige sua exclusividade pela força das armas e exclui todos os outros fora dessa bárbara opção!
É claro que os média do “hegemon” unipolar omitiram esse discurso, o que demonstra o grau que atingiu a barbaridade do propósito daqueles que jamais levaram a cabo a descolonização mental e por isso persistem, desde o tempo das “caravelas negreiras”, numa trilha de domínio que é hoje subversão da Carta das Nações Unidas e uma afronta à premente necessidade de equilíbrios globais em benefício de toda a humanidade!
Nesse mesmo dia Zelenski teve 15 minutos de intervenção no Parlamento português em Lisboa, numa autêntica subversão aos ideais do 25 de Abril e tomando todo o espaço dos media da NATO que excluíram por completo a intervenção do Presidente Xi Jiping alheando os sacrificados povos europeus e de muitas outras latitudes de fora da Europa!
O tempo de Xi Jinping no Parlamento português foi ocupado pelo da subversão de Zelenski!
01- A imprensa chinesa reverteu alguns extractos desse discurso para português, salientando os compromissos na mudança de paradigma:
“-- Continuemos comprometidos com a visão de segurança comum, abrangente, cooperativa e sustentável e que trabalhemos juntos para manter a paz e a segurança mundiais;
-- Continuemos comprometidos em respeitar a soberania e a integridade territorial de todos os países, defendamos a não interferência nos assuntos internos e respeitemos as escolhas independentes dos caminhos de desenvolvimento e dos sistemas sociais feitas por pessoas de diferentes países;
-- Continuemos comprometidos em cumprir os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas, rejeitemos a mentalidade da Guerra Fria e nos oponhamos ao unilateralismo e digamos não à política de grupos e à confrontação entre blocos;
-- Continuemos comprometidos em levar a sério as preocupações legítimas de segurança de todos os países, defendamos o princípio da segurança indivisível, construamos uma arquitetura de segurança equilibrada, eficaz e sustentável e nos oponhamos à busca da própria segurança ao custo da segurança dos outros;
-- Continuemos comprometidos em resolver pacificamente as diferenças e disputas entre os países por meio do diálogo e da consulta, apoiemos todos os esforços propícios à solução pacífica das crises, rejeitemos padrões duplos e nos oponhamos ao uso arbitrário de sanções unilaterais e à jurisdição de braço longo;
-- Continuemos comprometidos em manter a segurança em domínios tradicionais e não tradicionais e trabalhemos juntos em disputas regionais e desafios globais, como terrorismo, mudanças climáticas, ciber-segurança e biossegurança. Fim”
Esses compromissos deixaram de ser levados em consideração desde a própria IIª Guerra Mundial, desde o momento em que sobre um Japão imperial já derrotado, a arrogância genocida dos Estados Unidos fez rebentar bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasaki, inaugurando a IIIª Guerra Mundial não declarada contra todo o Sul Global que se estende até nossos dias…
02- A libertação de Mariupol e do Donbass na Ucrânia, inscreve-se no sentido de viragem para uma nova era e é um fenómeno que na actualidade diz respeito a toda a humanidade!
A viragem, não se circunscrevendo de forma alguma ao leste da Europa, marca a mudança global de paradigma, entre o que é bárbaro e o início dos compromissos de segurança vital global que para o serem só podem ser substantivos, recíprocos, civilizados e não mais motivação para qualquer tipo de exclusivismo feudal, de tóxica exclusão ou de deliberada subversão!
O “hegemon” unipolar continua a agir como se o mundo fosse refém histórico dum compromisso em prol de si próprio, ente ego-exclusivista que promove regimes de exclusão, o “hegemon” unipolar motivador duma IIIª Guerra Mundial que se tem arrastado sempre por via do exacerbar de tensões, conflitos, caos, terrorismo e desagregação, sob policiamento, manipulação, ingerência e influência de mais de 800 bases do Pentágono espalhadas pelo mundo!
Esse é de facto o único agressor, o único opressor e jamais o agredido ou oprimido e por isso é ele que não quer compromissos de segurança vital global para toda a humanidade e deve ser apontado como tal por todo o Sul Global eminentemente Não Alinhado e respeitador da Carta da ONU!
A libertação de Mariupol e do Donbass está a fazer-se quando a hegemonia unipolar decide-se pelo desencadear dum “apartheid global” dilacerante, com a tentativa do silenciamento da Federação Russa nos media, ao mesmo tempo que foram decididas sanções contra ela num grau que só têm precedentes em relação a Cuba Socialista e à Venezuela Bolivariana!...
A Federação Russa passou a ser agora o alvo preferencial desse “sistema” bárbaro, num corolário de práticas de conspiração que se foram refinando e ganharam novos conceitos, novas formas e novos métodos desde o colapso da União Soviética no início da década de 90 do século passado, sem que o império abandonasse os pressupostos do seu domínio arcaico, compulsivo e genocida!
O “hegemon” estendeu por via da manipulação, de ingerências de toda a ordem, da subversão democrática e da continuada mentira, a Organização do Tratado do Atlântico Norte até às fronteiras da Rússia, pondo cada vez mais em causa os pressupostos da segurança vital comum entre todos os europeus e ignorando as capacidades do multilateralismo que se vão estendendo pacificamente no imenso continente euroasiático!...
São os povos europeus, que foram sacrificados como carne-para-canhão nas Iª e IIª Guerras Mundiais, que mais uma vez, por impedimento da coerência possível desde que haja segurança vital comum, podem vir a ser os primeiros sacrificados numa IIIª Guerra Mundial se alguma vez se atingir seu clímax!
03- Neste mesmo dia o ente instalado à força na Ucrânia por via do golpe da Praça Maidan em 2014, um ente fantoche criado pelos seguidores de Leo Strauss no fulcro do poder da hegemonia unipolar, absorvendo as capacidades neonazis dos seguidores de Stepan Bandera, discursou na Assembleia da República Portuguesa subvertendo por completo os ideais do 25 de Abril.
O estado português responde assim, “por osmose”, aos compromissos dum membro fundador da NATO, perante o estado golpista e fantoche da Ucrânia, que só não é mais aspirante à NATO por que em função da impossibilidade de segurança vital comum nos relacionamentos para com a Federação Russa, está a ser legitimamente desmilitarizado e desnazificado à força, numa emergência a que não se pôde mais fugir!
Depois do que aconteceu na IIª Guerra Mundial, quando a União Soviética sofreu o peso maior da agressão nazi do IIIº Reich provocando mais de 20 milhões de mortos, é legítimo que haja segurança vital comum para os povos da Federação Russa, da Ucrânia e da Europa, mas há o Pentágono e a NATO, o campo dos que ao invés de procurar soluções de paz, lançam cada vez mais lenha na fogueira!
Na Ucrânia a exclusividade desse ente imposto desde a Euro Maidan, levou por seu turno à exclusão das mais variadas sensibilidades sociopolíticas, num processo traumático de tal ordem que se estendeu ao ambiente sociocultural dum país que deveria salvaguardar, desde a sua própria independência, a riqueza de sua multiculturalidade!
Na Ucrânia o ente fantoche fez prevalecer à força um etno-nacionalismo eivado de neonazismo, excluindo todas as outras sensibilidades, a começar pelas mais uma vez sacrificadas sensibilidades comunistas e socialistas no campo sociopolítico, russas e de outras minorias, no campo antropológico-cultural, linguístico e educacional!
O estado português, que não avançou com a descolonização mental aproveitando os ideais do 25 de Abril quando se levou a cabo a descolonização institucional, assume desse modo o compromisso de ter estabelecido a ponte entre o colonial-fascismo de Oliveira Salazar e Marcelo Caetano e o neonazismo dum Zelenski que é agora absorvido enquanto indelével marca de subversão do próprio 25 de Abril!
O membro fundador da NATO que é Portugal faz assim uma vez mais jus à sua “qualidade” de vassalo-cúmplice, com um compromisso de tal ordem que se assume enquanto efectivo “REGIME DE MARCELOS”, entre o padrinho Marcelo Caetano e o afilhado Marcelo Rebelo de Sousa, entre o colonial-fascismo e a arrogância duma hegemonia unipolar que para ainda o ser lança mãos da ocupação da Europa pelo Pentágono, lança mãos da extensão deliberada e coerciva da NATO para leste, lança mãos de todos os artifícios que incluem as mais perversas “redes stay behind” recriadas desde a IIª Guerra Mundial, pelos iniciativas asfixiantes dos anglo-saxões!…
O fantoche Zelenski foi à Assembleia da República Portuguesa deste “REGIME DE MARCELOS” fazer mais uma “conversa em família”, em tudo similar àquelas conversas que Marcelo Caetano protagonizava quando o colonial-fascismo começava a entrar em colapso pré 25 de Abril!
No dia em que a multilateralidade se afirma com a premente necessidade da Iniciativa de Segurança Global, que é vital para toda a humanidade, o “REGIME DE MATRCELOS” advoga uma expansão como se ainda estivéssemos todos nos tempos das “caravelas negreiras”!
04- A mudança de paradigma traz obrigações para o Não-Alinhamento, para a emergência, para a dignidade do Sul Global e para com o respeito devido a toda a humanidade e à Mãe Terra!
A hegemonia unipolar pretende como um grande abutre, vir ainda depenicar todos os pedaços dum corpo que foi por si caçado na Conferência de Berlim e tornado inerte desde então e especialmente ao longo da IIIª Guerra Mundial que não sendo declarada, tem sido também por isso mais perigosa em especial nos termos, ainda que “soft power”, de sua capacidade de subversão neocolonial!
Portugal do “REGIME DE MARCELOS”, como membro fundador da NATO, nos compromissos para com Angola adoptou até nossos dias, particularmente depois dos “contos proibidos” que marcaram os “bons serviços” à CIA por parte de Mário Soares, os nexos duma “rede stay behind” que sendo inspirada pela imperial Coroa Britânica, foi aninhada ao “engenho e arte” do protagonismo colonial-fascista-nazi português agora expostos também com a intervenção de Zelenski numa completa subversão do 25 de Abril!
É esse o berço e a desenvoltura da “rede stay behind” que dá pelo nome de UNITA, que teve reconversão nos laços entre Mário Soares e Savimbi, reformulando o Exercício Alcora a contento e agenciando de forma inteligente essa organização etno-nacionalista desde os tempos da “africanização da guerra” até nossos dias!
A “africanização da guerra” foi um cadinho efervescente de etno-nacionalismos em Angola, cruzados com etno-nacionalismos de outras paragens (na década de 90 do século XX, por via de Savimbi com o etno-nacionalismo ucraniano ainda em embrião), a fim de manipulando, confundindo, alienando, dividindo, subvertendo, provocando todo o tipo de ingerências e mantendo expedientes de colonização mental, propiciasse a inércia suficiente ao jeito de neocolonização indexada ao domínio do “hegemon” unipolar!
Tem sido esse o trabalho dilecto do “REGIME DE MARCELOS” na direcção de Angola e é também, por vocação de Mário Soares, o processo em curso na via do carácter do Partido Socialista Português, inclusive na procura incessante de estimular um etno-nacionalismo quimbundo que teve seu corolário traumático no golpe do 27 de Maio de 1977 em Luanda e cuja propaganda inteligente se estende até hoje estimulada ininterruptamente a partir de Lisboa!
Angola, estado Não-Alinhado, emergente e ávido de paz, não pode neste momento de mudança de paradigma deixar de fazer um extenso balanço (retrospectivo e introspectivo), de ordem filosófica, doutrinária, histórica, antropológica e económica, de forma a com dignidade e continuando a seguir a trilha da lógica com sentido de vida inspirada pelo movimento de libertação em África, ter a coragem de saber optar e de saber decidir, ainda que a partir dos pressupostos alcançados em tão difíceis conjunturas e condições!
Círculo
Imagem: Presidente Xi Jinping – “Xi propõe Iniciativa de Segurança Global” – http://portuguese.news.cn/2022-04/21/c_1310567537.htm
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