sexta-feira, 29 de abril de 2022

PARA ACABAR DE VEZ COM A GUERRA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Stepan Bandera foi o líder da Organização dos Nacionalistas Ucranianos e do seu braço armado, Exército Rebelde Ucraniano. Durante a II Guerra Mundial serviu as forças nazis da Alemanha na Frente Oriental (Operação Barbarrossa) durante a invasão da União Soviética. A História Universal regista que Bandera e as suas tropas assassinaram milhares de judeus, polacos e comunistas. 

Após o triunfo do golpe de estado de 2014, o assassino exterminador ganhou o estatuto de herói nacional. É o herói do presidente Zelensky que pateticamente foi à televisão dizer aos ucranianos que é judeu e perdeu familiares no Holocausto. Logo, se ele ama Bandera, o seu amado não pode ser nazi. Como se não existissem judeus nazis. Olhem para o que se passa, neste momento, em Jerusalém e têm a mais eloquente resposta. Tropas israelitas matam jovens palestinos na Esplanada das Mesquitas, como se fossem cães vadios.

Um pormenor. O Exército Rebelde Ucraniano (UPA) é ainda hoje uma das organizações da extrema-direita ucraniana. Mas há mais. Zelensky foi eleito, em 2019, presidente com 73 por cento dos votos. A sua primeira medida foi dar a todos os antigos membros das milícias nazis o estatuto de combatentes e veteranos da pátria. Todos passaram a usufruir das mordomias e subsídios atribuídos aos militares que se bateram contra o nazismo no Exército Vermelho.

Os beneficiários são antigos membros da Organização dos Nacionalistas Ucranianos, do Exército Rebelde Ucraniano (de Stepan Bandera), do Exército Revolucionário Popular Polaco/Sich/Ucraniano. E também apanharam esta boleia, os nazis do Batalhão de Azov, que nasceu com o golpe de estado de 2014. O partido Svoboda, o Pravyi Sektor (Sector de Direita) e outros grupos neonazis também formaram, a partir de 2014, as suas milícias armadas. Quase todas passaram a integrar forças regulares ucranianas como o Exército, a Polícia de Patrulha para Operações Especiais da Ucrânia e a Guarda Nacional.

O Presidente beneficiário do golpe de estado nazi, Petro Oleksiyovych Poroshenk (2014-2019), nomeou seu ministro do Interior Arsen Avakov, membro proeminente do Batalhão de Azov. Os operacionais desta milícia foram integrados maioritariamente na Guarda Nacional.  O genocídio no Leste da Ucrânia tem a marca destes nazis. Atenção! Andam a matar ucranianos desde 2014, quando começou a sangrenta guerra civil. Até 24 de Fevereiro de 2022, os democratas da União Europeia, da OTAN (ou NATO) e do estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) nunca se aperceberam que existe uma guerra na Ucrânia. Já foram assassinados 15 000 civis e há mais de milhão de refugiados. Todos ucranianos.

O governo saído do golpe de estado de 2014, liderado por Poroshenko, um ano depois de tomar o poder adoptou as chamadas “Leis Anticomunistas” também conhecidas pelas “Leis de Descomunização” ou ainda “Leis da Memória”.

O conjunto desta legislação causou algum alarme entre os nazis de colarinho branco europeus porque “colocam em causa a liberdade de expressão”. E porque honram e legitimam “organizações e indivíduos que participaram no assassinato em massa de judeus, polacos e comunistas durante o Holocausto na Ucrânia e nos massacres em Volhynia. O que foram estes massacres, em 1943? Mais de 100.000 civis polacos foram mortos nesta ocasião pelas milícias apoiantes das hordas nazis de Hitler, que ocuparam a Ucrânia e a Polónia. Exterminaram milhares de camponeses polacos e ucranianos. O Parlamento da Polónia qualificou estes massacres como um genocídio, em 22 de Julho de 2016. Os nazis da Organização dos Nacionalistas Ucranianos e do seu braço armado, Exército Rebelde Ucraniano, liderados por Stepan Bandera, comandaram o extermínio.

Em Maio de 2017, 46 deputados ucranianos, principalmente do Bloco de Oposição, apelaram ao Tribunal Constitucional da Ucrânia para declarar as Leis Anticomunistas, inconstitucionais. Em 16 de julho de 2019, os juízes às ordens de Zelensky confirmaram a sua constitucionalidade! Juristas de colarinho branco ocidentais não perderam tempo e declararam que a Ucrânia do partido Servo do Povo está a  “legislar a História e restringe gravemente a liberdade de expressão”. Mas isso foi antes de 24 de Fevereiro de 2022, dia em que começou a operação especial militar da Federação Russa na Ucrânia, para desmilitarizar e desnazificar o país. Agora já ninguém quer saber dessas leis celeradas. 

Em 24 de Julho de 2015, o Ministério do Interior ucraniano usou as “Leis Anticomunistas” ou “Leis da Memória” para ilegalizar o Partido Comunista da Ucrânia, o Partido Comunista da Ucrânia (Renovado) e o Partido Comunista dos Trabalhadores e Camponeses da Ucrânia. O Partido Comunista da Ucrânia recorreu da proibição e ganhou a causa. Mas logo a seguir, o Ministério da Justiça proibiu a participação dos comunistas nas eleições. A Comissão Central de Eleições da Ucrânia também proibiu a candidatura do comunista Petro Symonenko às eleições presidenciais de 2019, que Zelensky venceu. Se Symonenko tivesse concorrido o actor teria ganho? Fica a dúvida. Nessa época, o presidente Putin disse que a Ucrânia estava à mercê de “nazis e antissemitas”. 

Os Media ocidentais perderam a compostura e andam há dois dias repetindo declarações de Palamar Sviatoslav, apresentado como comandante do Batalhão de Azov nas catacumbas da fábrica siderúrgica de Mariupol. Ainda bem. Porque ele disse isto: “Ainda não recebemos ordens para abandonar a nossa posição e por isso vamos continuar a lutar”. Ninguém informou António Guterres desta declaração. Como se sabe, o corno é sempre o último a saber. E quando sabe, o melhor é fingir que não sabe. O sabão lava tudo, até a estupidez natural e a impotência precoce.

O canal público português RTP hoje também deu um contributo importante para a ressuscitação do jornalismo na guerra da Ucrânia. Apresentaram civis aprendendo a manejar armas, dentro de uma descola na cidade de Odessa! Civis manejando armas numa escola. Também não disseram nada a António Guterres. O corno é sempre burro ou um come merda.

A ONU, a União Europeia, a OTAN (ou NATO) e o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) querem acabar com a operação militar especial da Federação Russa na Ucrânia? É muito simples. Este é o regime que nasceu do golpe de estado em 2014. Tal como aprovaram as leis anticomunistas, aprovam agora leis para a desnazificação do país. Uma parte da operação perde logo o sentido. A outra parte é ainda mais fácil. Não mandam armas para a Ucrânia e dão ordens a Zelensky para declarar que o seu país é neutral e deixa de ser um perigo para a existência de um estado vizinho.

Hoje estou com uma grande vontade de fomentar a concórdia. Então aí vai o meu contributo. Os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) que abrangem todos os continentes, decidem criar um bloco militar defensivo chamado Organização do Tratado da Rosa dos Ventos (OTROVE). O México adere imediatamente e nesse âmbito, são colocadas rampas de lançamento dos mísseis ultrassónicos russos, com ogivas nucleares, ao longo dos 3.141 quilômetros de fronteira com os EUA. No Golfo do México são colocados submarinos nucleares. Nas cidades de Juárez e Chihuahua são colocadas bases aéreas com os mais modernos aviões de guerra russos, radares, fogo antiaéreo tremendo. 

Cuba também adere à Organização do Tratado da Rosa dos Ventos e acolhe mísseis ultrassónicos apontados a Miami e a Washington. A ilha passa a ser a maior base naval do mundo. Os navios de guerra da OTROVE vigiam dia e noite os portos norte-americanos. A Casa Branca tem mil canhões apontados. Não vou continuar. Remato dizendo que se isso acontecesse e os EUA fizessem operações militares no México e em Cuba para desarmar os dois países, eu estaria de acordo. Cem por cento de acordo. Cada estado, união ou federação de estados têm o direito à sua segurança e à sua existência. Ninguém está seguro se lhe apontam um canhão ao nariz.

Retirem as bases da OTAN (ou NATO) das fronteiras da Federação Russa. Acabem com os nazis em todo o mundo, quanto mais não seja em honra dos milhões de vítimas das hordas nazis de Hitler. E nunca se esqueçam que a União Soviética perdeu 27 milhões de cidadãos nessa guerra. E foi o Exército Vermelho que derrotou as tropas alemãs, libertou os campos de concentração e rebentou com o comando nazi em Berlim. Não esqueçam. 

Mas se esquecerem, podem estar a pisar o risco e a justificar mais operações militares especiais da parte de quem tem poder para isso. Por favor, desnazifiquem a Ucrânia e declarem-na um país neutral. A guerra acaba imediatamente. Do que estão à espera? Sim, querem dominar as potências emergentes. Querem travar o vento com as mãos. Ainda não sabem que isso é impossível. Vão ser os últimos a saber ou jamais saberão porque morrem antes. A guerra mata mesmo e nem sempre acontece na terra dos outros. 

*Jornalista

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