quinta-feira, 23 de junho de 2022

A UNIÃO AFRICANA NÃO QUIS SABER DE ZELENSKY

Apesar da insistência ucraniana e das pressões de países europeus, há meses, 51 dos 55 chefes de Estado africanos boicotaram o encontro virtual com o presidente da Ucrânia, no dia 20.

A esmagadora maioria dos países do continente africano ignorou a campanha de pressão ocidental para que se juntassem ao apoio à guerra por procuração entre o Ocidente e a Rússia em território ucraniano, refere o portal Multipolarista, que destaca o empenho da França e da Alemanha nesse sentido.

A Ucrânia andava a tentar organizar desde Abril uma vídeo-conferência entre a União Africana (UA) e o presidente desse país, Volodymyr Zelensky, que era repetidamente adiada pelo organismo africano, refere o periódico Le Monde, notando como «a simples organização de uma mensagem por vídeo ilustra as relações tensas entre o Sr. Zelensky e os líderes do continente», que «mantêm uma posição neutral».

A sessão veio a concretizar-se esta segunda-feira, via Zoom. No entanto, a grande maioria dos chefes de Estado africanos boicotou a sessão: apenas quatro – em 55 – se juntaram ao encontro, o que confirma que a «neutralidade» africana se manteve face à guerra por procuração na Ucrânia.

Tendo por base uma fonte interna, o portal The Africa Report identificou os chefes de Estado presentes na reunião virtual e à porta fechada como o presidente do Senegal, Macky Sall, o presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, o presidente do Congo, Denis Sassou Nguesso, e Mohamed al-Menfi, líder do Conselho Presidencial da Líbia – reconhecido por alguns países como governo legítimo do país norte-africano, que continua dividido territorialmente desde que a NATO iniciou a sua destruição, em 2011.

Na sessão com Zelensky, esteve ainda presente o político chadiano Moussa Faki Mahamat, actual presidente da Comissão da UA, além de alguns diplomatas de outros países.

Da parte da UA, nota-se uma tentativa de manter o evento o mais discreto possível, uma vez que não há qualquer alusão a ele nem na página oficial, nem na conta de Twitter do organismo.

A referência oficial ao encontro foi feita por Moussa Faki Mahamat na sua conta de Twitter, afirmando que «reiterava a posição da UA de urgente necessidade de diálogo para acabar com o conflito, de modo a permitir que a paz regresse à região e a restaurar a estabilidade global».

A «comunidade internacional»

A este propósito, o Multipolarista lembra que os Estados Unidos e a União Europeia afirmam com frequência que agem em nome da «comunidade internacional», mas eventos como este mostram que a «comunidade internacional» a que Washington e Bruxelas se referem representa cerca de 15% da população mundial – sendo que Austrália, Nova Zelândia, Coreia do Sul e Japão também são «comunidade internacional».

vasta maioria da população mundial, que reside no chamado Sul Global, assumiu uma posição neutral em relação ao conflito em curso na Ucrânia. São exemplo disso países como a China, o Bangladesh, a Índia, o Paquistão, o Brasil, o México, o Vietname ou a Etiópia.

Outros, como a África do Sul, o Irão, a Venezuela, Cuba, Nicarágua, Coreia do Norte ou Eritreia, mesmo apelando ao diálogo e à paz, não hesitaram em apontar os Estados Unidos e a NATO como os verdadeiros causadores da actual crise na Ucrânia.

periódico britânico The Guardian publicou uma peça em Março na qual reconhece que muitos países africanos «se lembram do apoio de Moscovo à libertação do jugo colonial», permanecendo no continente um «forte sentimento anti-imperialista».

A mesma peça afirmava que alguns países africanos «apelam à paz mas apontam a expansão da NATO para leste como responsável pela guerra, queixando-se dos "dois pesos e duas medidas" do Ocidente e resistindo a criticar a Rússia».

Mas as proximidades não se justificam apenas pelo passado. A Rússia tem importantes relações comerciais com África e, sendo um dos principais produtores de trigo mundiais, é uma fonte importante de alimentos para o continente.

«Se a insegurança alimentar é um problema endémico em países africanos antes colonizados e que foram devastados por séculos de imperialismo ocidental, os Estados Unidos ameaçaram tornar esta crise ainda pior», destaca o Multipolarista.

Segundo refere The New York Times, a administração norte-americana tem estado a pressionar países africanos para que não comprem trigo russo.

AbrilAbril

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