domingo, 12 de junho de 2022

JORNALISTAS SEMPRE PROPAGANDISTAS JAMAIS -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Um fascista que governou Portugal e chegou a Presidente da República dizia “raramente tenho dúvidas e nunca me engano”. Eu sou um desgraçado porque duvido da própria dúvida e não me lembro de alguma vez viver desenganado. Sempre, sempre, sempre enganando-me, às vezes tragicamente. Mas nunca enganando ninguém, nem os meus inimigos que são mais do que as mães.

O Presidente João Lourenço disse, ante um grupo numeroso de jornalistas, afirmou que tem orgulho mos Media Angolanos. Não distinguiu públicos de privados. Nem sequer excluiu os partidários ou confessionais. Para o Chefe de Estado, todos merecem uma avaliação positiva e fazem o seu orgulho. Raramente estou de acordo com os titulares de órgãos de soberania, com os ocupantes do Poder, mesmo aquelas e aqueles que são do MPLA. Há Governo? Sou contra. Há deputadas e deputados? Desconheço. Há líderes e dirigentes partidários? Não lhes dou confiança. Mas nesta tema estou de acordo com o Presidente João Lourenço. Porque os Media Angolanos são motivo do nosso orgulho. 

Uma jornalista angolana de altíssima qualidade diz que eu sou grosseiro, estou sempre a partir a loiça e a barraca, estrago sempre tudo. A coisa começa bem e depois descarrilo deitando abaixo os meus alvos. Hoje apetecia-me partir tudo mas vou ser comedido, em homenagem a essa tremenda profissional. Sabem por que razão os Media Angolanos devem ser o nosso orgulho? Tomem nota. A Emissora Oficial de Angola foi buscar jovens com o sétimo ano do liceu e até com frequência universitária, para “assistentes literários” que eram, de facto, noticiaristas, escreviam as cabeças dos registos magnéticos e um ou dois parágrafos para os programas. Até essa altura, o nível era baixo. Chamavam aos jornalistas “os rapazes dos jornais”. Mulheres, na Imprensa, só existia uma: Edite Soeiro. Ainda tentei imitá-la mas ela, profissionalmente, era inatingível. Com a abertura do ensino superior em Angola (1963/1964) tudo mudou. No Lubango abriu a Faculdade de Letras e daí saíram jovens para a Imprensa e Rádio. Mas a maioria da mão-de-obra era fornecida pelos liceus. Televisão, ainda não existia. Veio com o 25 de Abril de 1974 e a Independência Nacional, em11 de Novembro de 1975.

No final da década de 60 já existiam muitos jornalistas com o curso complementar dos liceus, o curso das escolas técnicas ou dos institutos comercial e industrial. Muito bom. Os directores dos órgãos de comunicação social tinham de ser licenciados. Mas os Chefes de Redacção é que mandavam. Alguns eram angolanos. No Censo de 1960 os portugueses eram 170 mil. Mas 50 mil tinham nascido em Angola No Censo de 1950 eram apenas 79 mil. Os mestiços e os negros assimilados, 53 mil. Analfabetos eram 4,8 milhões. A esmagadora maioria negra. Os jornalistas profissionais que trabalhavam na Imprensa e na Rádio eram quase todos europeus. Angolanas e angolanos eram poucos. Jaime Figueiredo e Acácio Barradas, angolanos, chegaram a chefes de Redacção. Ernesto Lara Filho, poeta, cronista e repórter inigualável (também tentei imitá-lo mas desconsegui), marcou o jornalismo dos anos 50 e criou modelo de Reportagem Angolana. João Charula de Azevedo foi o grande capitão de jornais. Mestiços, na Imprensa tínhamos Aníbal Melo, Luís Alberto Ferreira, Bernardino Coelho, Jaime Saint Maurice e poucos mais.

Na Rádio brilhavam intensamente estrelas como Rui Romano, Adriano Parreira, Sebastião Coelho, Norberto de Castro. E as rainhas: Sara Chaves, Natália Bispo, Miná Jardim, Concha de Mascarenhas e outras que a minha memória deixou escapar ainda que sejam fogo que arde sem se ver. Nem chama, nem fumo, só grandeza e eternidade.

O salto que vou dar elimina leprosos morais, vigaristas vulgares, bêbados da valeta, motoristas do RI20, escriturários e outros usurpadores desalmados. Chegámos à data da Independência Nacional e tínhamos as redacções repletas de estagiárias e estagiários. Deixámos de cumprir as densidades. A Lei obrigava as empresas de comunicação social a não admitirem mais de 10 por cento do total dos jornalistas profissionais. No Jornal de Angola, profissionais eram quatro e estagiários 15. Na Rádio eram 12 profissionais e 40 estagiários. No Diário de Luanda eram quatro profissionais e quatro estagiários. Menos mal.

Esta foi a linha de partida. A guerra encarregou-se de desertificar as Redacções. Alguns morreram na guerra. Outros partiram para outras paragens. Muitos passaram de estagiários de primeiro ou segundo ano, a directores, chefes de redacção, editores, redactores e repórteres. O nível profissional? Baixíssimo. Os profissionais eram poucos, talvez cinco por cento das necessidades. Imaginem a tragédia. Jornalistas são quadros superiores das empresas jornalísticas. Não se formam instantaneamente. Pelas minhas contas (sempre fui pouco exigente) uma e um bom jornalista só atinge a maturidade profissional ao fim de dez anos.

Na Rádio formámos dezenas de profissionais. Mais de metade foi embora. Muitos para ministérios e embaixadas. No Diário de Luanda formámos alguns profissionais. Uns abandonaram a profissão, outros foram para Portugal, poucos ficaram nas bancas, No Jornal de Angola formámos muita gente. Mais de metade foi tratar da vida. Porque as e os jornalistas angolanos são quadros superiores mas a remuneração salarial é de pessoal menor.

Passei muitos anos a ministrar formação aos mais novos. E a engolir elefantes vivos. As e os melhores são desqualificados e desprezados. As e os esforçados, mal remunerados. Os menos dotados chegam a directoras, directores e até ministros. Obrigado, Presidente João Lourenço. Eu também estou orgulhoso das e dos jornalistas angolanos. Dos Media Angolanos, sejam quais forem. Em nome de dezenas de mulheres e homens que comigo deram os primeiros passos na profissão, aceite a minha gratidão. Eu tenho um desmedido orgulho nas nossas e nossos profissionais. Sabem porquê? Há 70 anos tínhamos sete ou oito jornalistas. Mais de 97 por cento das angolanas e angolanos eram analfabetos. 

Os propagandistas da UNITA e seus parceiros esquinados dizem que “Angola foi classificada esta semana como o país que tem a pior imprensa de África” Quem diz isto? A ONG AfroBarómetro que só existe para receber dinheiro dos diamantes de sangue. Onde foi publicado o estudo? No jornal sul-africano “Continental” órgão dos nazis de Pretória. Credibilidade, zero, profissionalismo menos, menos zero. Cometem um erro criminoso. Comparam Angola a países que são independentes desde a década de 50 e nunca tiveram um dia de guerra, quanto mais 62 em alta intensidade (1961-2022) como teve Angola. 

Jornalistas de todo o país são o nosso orgulho! Abaixo os propagandistas.

*Jornalista

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