sábado, 4 de junho de 2022

O ECLODIR DA GUERRA E O SALTO DA TPA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O meu desejo sincero era ir beber um copo com a rainha platinada, mas estando a monarca pior da perna não quis apertar com ela. Noutros tempos ganhei o título de Eusébio da cerveja. Depois fui condecorado com a medalha Maradona do Gin. Imparável, conquistei o título honorífico de Messi do Tinto Velho. Nenhuma rainha, prateada, dourada ou platinada tem a minha pedala. Ia a Londres só para humilhá-la.

Sinceramente, não gosto de ficar em falta com ninguém. Vai daí hoje meti-me no jacto privado e dei uma saltada à capital do império colonial mais duradouro do mundo, para assistir à santa missa do jubileu. Bati com o nariz na porta e deitei fora a garrafa de gin.

A soberana platinada está pior da perna e não conseguiu subir a escadaria da Catedral de São Paulo. Francamente, não entro em templos porque estou, há muitos anos, de relações cortadas com o dono da casa. Mas abria uma excepção para partilhar a missa com a rainha. Ela não foi e eu também não. Para compensar a frustração dei uma saltada à Ucrânia para ver como a Federação Russa está a ser esmagada e o Zelensky se prepara para ser investido como czar de todas as Rússias, da Polónia, da Alemanha e do lindo torrão lusitano. Tive azar. 

O herói de todo o Ocidente estava a visitar soldados feridos, num hospital só para nazis. Amanhã vai visitar uns quantos mortos e no domingo tem marcado um convívio com os prisioneiros nazis exportados de Mariupol para a República de Gdansk. Mais frustrado fiquei.

Em desespero decidi ver o noticiário das 20 horas da TPA. O novo equipamento é mais glorioso que a Ucrânia, um autêntico banquete cozinhado pelo Carlos Rosado de Carvalho. O som era inaudível, os cortes eram mais que muitos, mas o Ernesto Bartolomeu deu-me a notícia do século. Em 1992, o MPLA ganhou as eleições. Para as Presidenciais, José Eduardo dos Santos também ganhou. Mas foi necessária uma segunda volta entre ele e Jonas Savimbi. O Ernesto Bartolomeu, no seu estilo inimitável, tonitruou: “A segunda volta não se realizou porque eclodiu a guerra”. 

Obrigado, Ernesto. Muito grato, Bartolomeu. Andei estes anos todos enganadíssimo. Meti na cabeça que a segunda volta das Presidenciais, em 1992, não se realizou porque Jonas Savimbi deu ordens para a UNITA recusar os resultados eleitorais. E mandou os seus pistoleiros ameaçarem a representante da ONU em Angola, Margareth Anstee, que reduziam Angola a pó, caso ela publicasse os resultados eleitorais, como lhe competia. Um dos pistoleiros ameaçador foi Abel Chivukuvuku. Outros ameaçadores foram Ben Ben, Salupeto Pena, Jeremias Chitunda e Alicerces Mango. Cumpriram as ameaças e mataram centenas de angolanas e angolanos nas ruas de Luanda e outras cidades de Angola.

Até hoje, eu pensava que não foi o eclodir da guerra. Foi uma acção armada de banditismo para matar a democracia no ovo. O Presidente José Eduardo dos Santos, o seu governo, as forças armadas, a direcção do MPLA e de outros partidos políticos confiaram na ONU e na Troika de Observadores (Portugal, Rússia e EUA) para chamarem à razão os bandoleiros que dispararam contra o regime democrático e rasgaram o Acordo de Bicesse. Falharam.

Até que o Presidente José Eduardo dos Santos deu ordens às Forças Armadas Angolanas e às forças de segurança para desencadearem uma operação conjunta no sentido de acabarem com o banditismo. Assim se fez. As FAA, os seus soldados, sargentos, oficiais subalternos, capitães, oficiais superiores e os seus generais cumpriram sempre os seus deveres para com o Povo Angolano. Eliminada a quadrilha do criminoso de guerra Jonas Savimbi, regressou a paz e desde então, as eleições têm sido pacíficas, livres e justas.

No dia 24 de Agosto vão acontecer de novo. Contados os votos, os resultados são revelados ao Povo Angolano. E a vida pacífica vai continuar. Não há bandidos que travem Angola para a paz e o progresso. 

Até Agosto estou de férias, Não me castiguem com novas tecnologias na TPA, que não me deixam ouvir o som e quando oiço é o Ernesto Bartolomeu a eclodir a guerra. 

Se me voltam a castigar desta maneira, vou mesmo beber um copo com a rainha platinada, mesmo que esteja pior da perna. Não apertem comigo.

*Jornalista

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