segunda-feira, 6 de junho de 2022

SUCESSO ESTRONDOSO NO MUNDO CÃO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Eu quero ser um cãozinho corgi para entrar na realeza. Fui a um canil e perguntei à treinadora de cães se dava um bom exemplar. Ela olhou para mim de alto abaixo, mandou-me levantar as orelhas, esticar o queixo e fazer béu-béu. Obedeci prontamente. 

A criadora de canídeos deu-me logo um certificado de corgi mas recomendou que não me esquecesse de ser sempre amoroso, companheiro, obediente e inteligente. Prometido. Fez as contas e chegou à conclusão que um exemplar como eu vale cinco mil euros. Se ela quisesse ficar comigo, fazia-lhe um desconto. Não quis. Tem duas ninhadas para vender a reis, rainhas e valetes. Estou ansioso por mudar da cabana para o palácio. Nasci para viver em grande.

Vou para casa da rainha platinada, quero muito ser cão de luxo. Está decidido. Perguntei à tratadora e treinadora de corgis se na corte da soberana platinada podia escrever umas crónicas e nos intervalos dava para ensinar o Agualusa a soletrar o bê-á-bá. Nunca! Nos palácios reais só a realeza ensina. E os cães o máximo que podem exteriorizar é dar ao rabo. Aqui está um problema existencial muito sério. Como diria Lenine, que fazer?

Nestas coisas eu sou muito rápido. Sim, quero ser cão de luxo, raça corgi. Mas como a TPA agora tem novas tecnologias, fico no Centro de Produção Ernesto Bartolomeu como repetidor de som. Por exemplo, o Presidente João Lourenço faz um discurso. E quando os telespectadores ouvem as suas palavras, eu repito-as  segundo depois, como se estivesse a falar das profundezas de um túmulo. É um grande espectáculo dentro do espectáculo.

Como sou um cãozinho irrequieto, mexo nos botões e faço sair o som límpido, sem reverberação nem eco. Vou ganhar a minha vida trabalhando como um cão. Algum dia tinha que vergar a mola. O Adalberto da Costa Júnior, depois do dia 24 de Agosto também vai entrar no meu clube. Eu mexo nos botões, trato do som, faço companhia à rainha platinada, sou amoroso e obediente. O descobridor de túneis entre os Coqueiros e o Palácio da Cidade Alta vai fazer mais como?

Adalberto nasceu em Maio de 1962 e recebeu logo o diploma de engenheiro à civil. Em Maio de 1974, com apenas 12 anos assinou o cessar-fogo com Portugal, ao lado de Jonas Savimbi. Desde então tornou-se muata e só trabalha à mesa, com copo, garfo e faca. Trata por tu o dinheiro, seja dos diamantes de sangue, do marfim, da droga ou doações dos países amigos. Um senhor com perfil de ricaço. No dia seguinte às eleições vai fazer túneis. Se não for capaz, sempre se arranja um lugar no cemitério para escavar covas, com pá e picareta. Um futuro brilhante na companhia dos mortos.

Eu sou um corgi, amoroso, obediente e com grande habilidade para apanhar pão no ar. Jamais me passou pela cabeça que o meu destino era o mundo cão. Chegou a hora do sucesso. Eu, cãozinho de luxo. O Adalberto, coveiro da UNITA. A vida é mesmo muito bela. Nasci bafejado pela sorte. 

*Jornalista

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