domingo, 21 de agosto de 2022

Angola | O Soldadinho Apaixonado por Adalberto – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Jacques Arlindo dos Santos é um indígena da estirpe do inimitável William Tonet.  Mas o dono do Folha Oito (vota oito, oito, oito!) fica a perder porque embora tenha dois nomes estrangeiros e o outro apenas um, o grandioso jornalista do Chivukuvuku e Adalberto nasceu na cidade do Huambo, enquanto o seu parceiro viu a luz da vida numa aldeia de Calulo, Libolo. Os citadinos ficam sempre a perder em autenticité mobutista face aos aldeãos. Ambos subiram a corda até ao topo, levados ao colo pelo MPLA. Depois descobriram outras minas de ouro e aderiram às oposições. 

Jacques doas Santos confessou o seu amor a Adalberto da Costa Júnior porque ele declarou que se ganhar as eleições entrega a direcção da UNITA a outro sicário do partido. Diz o Jacaques, engolindo as palavras, reprimindo os arrotos e os peidos: “Assim Angola vai para a frente. O nosso mal tem sido o partidarismo!” O mal da democracia são os partidos!

Vou pensar nisso e depois digo-lhe se é verdade. Mas desconfio que está a analisar a política à angolana de uma forma simplista, errada e com o cérebro dos pés ou da pança descomunal que lhe cresceu nos anos em que mamou no MPLA. Nada a opor. Outros mais idiotas, mais asquerosos, mais analfabetos e mais desleais mamaram mais do que ele. Muito mais. Mas não cospem no prato e isso faz a diferença. Um nadinha de pudor não faz mal a ninguém, nem mesmo aos oportunistas que treparam na vida sem saber ler e escrever mas têm muita lata. 

Jacques dos Santos é um dos milhares de cágados que o MPLA pôs nos galhos mais altos da árvore do sucesso e agora está apaixonado pelo mentiroso compulsivo que chefia a UNITA. Mais um que entrou à pressa no comboio que jamais saíra da estação, porque lhe falta a locomotiva, que são os votos do Povo Angolano. A vida é bela para esta fauna que nunca fez nada na vida e atingiu o topo, sem alguma vez ter demonstrado qualquer habilidade ou capacidade.

No momento em que declarou o seu amor a Adalberto da Costa Júnior, Jacques dos Santos disse que “nasci e cresci no MPLA”. Este vai competir com o chefe do Galo Negro no concurso de mais mentiroso. O soldado motorista do RI20 foi cumprir o serviço militar obrigatório em 1963. Quando despiu a farda e arrumou as botas da tropa ficou pendurado, mas conseguiu um lugar no topo do pessoal menor de uma companhia de seguros. Estava um degrau acima de contino. Um brioso dactilógrafo que batia ofícios à máquina. O chamado amanuense. Mesmo assim copiava com erros! O Angerino de Sousa sofreu muito com o antigo soldado.

No 25 de Abril de 1974, Jacques tinha 31 anos. Hesitou entre os independentistas brancos e o “ideário da UNITA”, o partido da paz. Quando os patrões foram para Portugal e o MPLA se impôs na primeira Grande Batalha de Luanda ele descobriu a sua vocação e aderiu ao movimento. Nasceu num dia e pouco depois era director de uma companhia de seguros. Meritocracia à moda do Savimbi, pura e dura. Quanto mais básico, melhor. O homem cresceu, cresceu até ficar um gigante. O soldadinho motorista chegou ao topo e depois a muitos topos.

O Cine Teatro Nacional foi-lhe oferecido de bandeja para ele brincar à Cultura com a Chá de Caxinde. Pensou assim: Estou num mundo de cegos. Eu tenho um olho, conseguido na tropa portuguesa. Portanto sou rei. E o zarolho fez da Chá de Caxinde a escada para trepar ao topo da intelectualidade. O soldadito chegou a escritor, sem saber ler nem escrever! Culpa do meu amigo Ndunduma que lhe deu todas as aberturas e até fez do analfabeto insanável, membro da União dos Escritores Angolanos. Um pormenor. No dia 10 de Novembro de 1975, algumas dezenas de angolanos assinaram a Proclamação da União dos Escritores Angolanos. Nessa altura ele ainda não tinha nascido e crescido dentro do MPLA, não entrou na instituição.

O MPLA deu-lhe um dos melhores equipamentos culturais de Angola. Ele fez uns bailes, uns carnavais, umas almoçaradas com os golpistas do 27 d e Maio de 1977. E sobretudo publicou os seus escritos. É um dos melhores a alinhar palavras por sons e por alturas. Escreve polícia com um “u” e pensa assim. Escreve ONITA porque nunca percebeu bem a diferença entre “O” e “U”-. Também não é um exercício fácil. Agualusa que diga! O soldadinho condutor do RI20 chegou a membro da Academia Angolana de Letras. Nisto foi mais longe do que Marcolino Moco, a quem fecharam a porta. Porque sabe escrever a palavra polícia.

As imagens de Jacques dos Santos a dizer que nasceu e cresceu no MPLA são altamente enganosas. Mais enganadoras do que ele. Quem vê um velho pançudo, voz sumida e trémulo, dizer que nasceu no MPLA, é levado a pensar que ele vem de 1956. Ou do 4 de Fevereiro de 1961, quando já tinha 18 anos e muitos combatentes que morreram durante a revolução, até eram mais novos do que ele. Nada disso. O soldado motorista do RI20 entrou no MPLA quando já era chefe de família. Em 1992, saiu-lhe a sorte grande e meteram-no na lista de deputados do MPLA. Mamou até 2008, precisamente 16 anos a viver à grande. E o Cine Teatro Nacional a pingar muito dinheiro para o apaixonado do Adalberto. Aquilo dá casamento!

Há um ano percebi, pelos escritos do oportunista insanável, que estava a caminho da UNITA. Avisei publicamente sobre a migração. Infelizmente, ninguém me ouviu e o nababo ainda viveu em Portugal longo tempo à custa do Estado Angolano. Apanhou o comboio sem locomotiva. Vai ficar sentado na carruagem de luxo, ao lado de Marcolino Moco, carpindo saudades dos tempos em que o MPLA lhes enchia os bolsos.

Esperem para ver. A Luzia Moniz também vai declarar uma paixão assolapada pelos criminosos de guerra da UNITA. A Alexandra Simeão segue o mesmo caminho mas também vai piscar o olho ao Chivukuvuku e tentará engatar o Justino Pinto de Andrade. Menina, dali não levas nada. O candidato a deputado está sem guzo quase desde que nasceu. 

O Novo Jornal ficou furioso porque o Presidente João Lourenço não lhe concedeu uma entrevista. Se tem muito tempo de antena é criticado. Se não quer tempo de antena é criticado. Organizem-se. 

Os triunfalistas do Galo Negro estão murchos. Uma empresa de sondagens de categoria mundial fez uma pesquisa em Angola que dá ao MPLA nova maioria absoluta, com quase 58 por cento das intenções de voto. A UNITA vai aos 37 por cento. É possível que haja uma bipolarização e os outros partidos fiquem com as sobras. A sondagem foi publicada no jornal espanhol El Mundo um dos mais prestigiados rotativos mundiais. Eu não acredito em milagres. Se A UNITA conseguir os 27 por cento de 2017 pode fazer uma festa de arromba.

*Jornalista

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