Pedro Ivo Carvalho* | Jornal de Notícias | opinião
Os governos escolhem palavras e caminhos diferentes para atingir, quase sempre, os mesmos propósitos.
Se com Passos Coelho vimos projetada a ideia da austeridade, decorrente do estado de pré-falência em que recebeu o país, com António Costa constatámos que era possível virar essa página negra, dando quase tudo a quase todos, e, mais recentemente, percebemos também que qualquer medida que possa ter algum tipo de conotação com essa palavra maldita passou a figurar nos dicionários com a designação de "contas certas". O tempo e energia que os dois maiores partidos perdem com o malabarismo dos sinónimos no campeonato da austeridade ajudam a explicar o estado de estagnação em que medramos.
É evidente que um Governo responsável tem de acautelar que a dívida pública não se transforma num monstro insaciável, como é flagrantemente natural que esse mesmo Governo tenha, em contraponto, de responder com dinheiro e apoios sociais quando uma fatia considerável da população está a empobrecer, como acontece agora, com esta fusão explosiva que junta subida da inflação, falta de matérias-primas, guerra e uma escalada perigosíssima das taxas de juro. É desse equilíbrio, de resto, que resulta uma boa governação e um princípio básico de justiça social.
O campeonato da austeridade certamente que ajuda a adornar os discursos nas tribunas do Parlamento, mas apenas isso. Espera-se que, desta vez, o Governo não volte a ser atropelado pela realidade dos números e que aja mais depressa do que no passado recente. Porque as contas (certas, é verdade) do Orçamento do Estado estão a perder validade todos os meses. Vai ser preciso abrir de novo os cordões à bolsa para evitar que as classes mais desfavorecidas (e inclui-se aqui uma parte considerável da classe média) não atirem a toalha ao chão no próximo ano. Esperar para ver como fecha 2022 em termos de inflação para montar uma estratégia, como sugere o líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, é capaz de ser tão eficaz como tentar travar o vento com as mãos.
*Diretor-adjunto
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