quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Portugal | SETE ANOS DEPOIS, COSTA NO CAMINHO DE PASSOS

Joana Petiz | Dinheiro Vivo | opinião

Não há margem, a palavra de ordem é contenção. Os portugueses têm de apertar o cinto, que isto agora vai ser a doer e o dinheiro para apoios vai esgotar-se nas contas que é preciso manter secas e certas. Os pensionistas e os funcionários públicos terão cortes nos rendimentos - o valor que se lhes subtrai nunca o chegarão a receber, portanto o Constitucional não o proíbe, como proibiu nos tempos da troika. E as empresas que se façam ao caminho, que de São Bento não vale a pena ficarem à espera de grande coisa. Os impostos que existem são para manter, porque é fundamental garantir receita fiscal - para redistribuir, para pagar dívida e para fazer do défice superavit - e o consumo, confirmando-se a travagem a fundo que o governo antecipa para 2023, vai cair a pique, com os mealheiros dos portugueses já rapados e as contas todas a subir, efeito da inflação e das taxas de juro que se elevam para a travar.

Sete anos depois de ter empurrado Pedro Passos Coelho da liderança do país, assumindo-a para si com a missão de desfazer as políticas de contas certas que "atropelavam os portugueses", é o próprio António Costa que dá a guinada de volta a essas prioridades, impondo a sua própria dose de austeridade a um país massacrado por crises simultâneas - falta de matérias-primas e de mão-de-obra, cadeias logísticas de pantanas, pandemia, guerra e inflação, descarbonização a jato, digitalização...

Costa pode mascará-lo como quiser, mas as suas ações demonstram que reconhece por fim a virtude do caminho que o governo de Passos Coelho tomara com o objetivo de pôr Portugal a crescer com ambição, de nos libertar do miserabilismo histórico através de reformas que há muito deviam ter sido cumpridas. A essas, infelizmente, a maioria absoluta de Costa continua a fazer orelhas moucas. Mas ainda há mais de três anos de PS em maioria e as dificuldades crescentes deverão precipitá-las. Já o vimos na TAP, que os socialistas seminacionalizaram, depois compraram o que restava nas mãos de privados, apenas para perceber que não podia ser o Estado a geri-la e que tê-la na esfera pública seria ditar-lhe a morte - acabando agora o mesmo governo, que a desbastou de valor e recursos, a querer vendê-la com urgência e sem grande critério.

A consolidação que Fernando Medina abraçou de corpo e alma faz sentido, Portugal precisa de ser e de se mostrar capaz de se governar com o que tem - nem que seja para poder pedir em melhores condições, quando a isso seja obrigado. O governo podia ir mais longe ou ter mais critério nos apoios que desenhou, sim. É uma questão de opções. De escolhas políticas. Se tivéssemos prosseguido as que o governo PSD-CDS tomou há sete anos, talvez não estivéssemos a sofrer tanto agora. Podíamos ser mais Irlanda do que Grécia.

Que olhar para trás nos sirva para duas coisas: aprender com os erros, evitando repeti-los; e avaliar a validade e as consequências das escolhas feitas. E talvez uma terceira: aprender a pedir contas, em lugar de embarcar em demagogia e facilitismos anunciados. A responsabilização começa por nós.

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