Artur Queiroz*, Luanda
O meu amigo Marcolino Moco deu uma entrevista ao Novo Jornal onde opina sobre temas de actualidade que eu não vou contestar nem sequer comentar. Mas tenho que lhe recordar alguns factos que acabam por tornar inútil o seu discurso. Caro Marcolino, não é um mestiço que está na direcção da UNITA e tu sabes isso melhor do que ninguém. O partido foi sempre dirigido de fora para dentro, desde Jonas Malheiro, que escolheu ser Savimbi que, como sabes, tem conotações com morte. Esta parte foste tu que me ensinaste.
A direcção da UNITA em 1977 era o coronel Passos Ramos, chefe da inteligência militar portuguesa na Zona Militar Leste.
Este por sua vez recebia ordens
do general Bettencourt Rodrigues, comandante supremo das tropas. Um oficial
superior também dirigia a UNITA a partir do quartel-general da Região Militar
de Angola (RMA)
Militantes do MPLA arriscaram a liberdade e a vida para desviar da tal repartição do quartel general da RMA cartas de Savimbi aos generais Luz Cunha e Bettencourt Rodrigues, ordens de operações conjuntas e transferência de militares da UNITA para os Flechas da PIDE em Cangamba e Gago Coutinho (Lumbala Nguimbo).
Por razões que desconheço só as cartas foram publicadas. Mas existia uma ordem secreta para que uma companhia de artilharia, a pretexto de proteger os madeireiros entre Cangumbe e Munhango, apoiasse Jonas Savimbi até todas as suas tropas serem integradas no Exército Português.
A companhia do exército português que protegia Savimbi em Cangumbe era comandada pelo capitão Benjamim de Almeida que anos mais tarde escreveu um livro intitulado “O Conflito na Frente Leste”.
Em Outubro de 1973, o grande guerrilheiro e presidente da UNITA enviou-lhe uma carta com este pedido:
“Não gostaria de ser incómodo, mas é a necessidade que me obriga a solicitar a sua boa vontade, caso possa fazê-lo, para me arranjar: Uma boa capa de chuva, um par de botas altas militares número 42, cinco frascos de aero-om e algumas bisnagas de bálsamo de mentol, pomada tópica. Caso lhe seja possível adquiri-los, gostaria que me indicasse quanto é”. (Páginas 199 e 200 do livro Angola- O Conflito na Frente Leste).