terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Angola | GREVE DOS TAXISTAS MARCADA POR ARRUAÇAS NA VIA PÚBLICA

Tal como prometido na última semana, os taxistas de Luanda paralisaram as actividades, criando vários constrangimentos aos cidadãos, que foram obrigados a regressar a casa devido à falta de transporte.

Logo pela manhã, muitos taxistas decidiram encostar as viaturas em forma de protesto. Outros, em número reduzido, optaram por trabalhar, mas foram impedidos por lotadores, que obrigavam os passageiros a descer, criando enormes transtornos para chegar ao destino. Tal situação foi constatada na rota Calemba II/Vila de Viana, onde os meliantes aproveitaram o momento para assaltar os bens dos passageiros.

Na Avenida Deolinda Rodrigues, no troço entre Vila de Viana e Grafanil, muitos cidadãos foram obrigados a caminhar a pé nos dois sentidos. O mesmo cenário foi reportado em outros pontos da cidade de Luanda, como Cacuaco, Golfe, Benfica, onde foram registados actos de vandalismo. 

Um autocarro do Centro de Hemodiálise Sol foi completamente queimado pelos manifestantes, em Benfica. Num vídeo que circula nas redes sociais é possível ver os ocupantes do autocarro a serem apedrejados, o que os obrigou a descer imediatamente, antes de queimado.

Não satisfeitos com a sua acção, os manifestantes arrancaram bandeiras e atearam fogo ao Comité do MPLA em Benfica. Jornalistas da TV Zimbo e Palanca TV também na escaparam à fúria dos taxistas e comparsas, que estavam determinados em acabar com a vida dos profissionais da comunicação social, por estarem a recolher informações sobre a greve.

Jornalista da Palanca TV, Orlando Luís quase perdeu a vida depois de lhe ter sido despejado petróleo para ser queimado vivo, nas imediações do Comité do MPLA em Benfica. "Graças a Deus, um agente regulador de trânsito que salvou-me daquela situação”, disse.

O jornalista Telmo Gama e o repórter de imagem Justino Campos, ambos da TV Zimbo, também quase foram queimados vivos pelos descontentes.

Elizandra Melo acabou por faltar a uma consulta médica agendada para ontem, devido a falta de táxi em Viana. Já Bartolomeu Manuel teve de regressar a casa devido aos actos de vandalismo e arruaça ocorridos em várias zonas de Luanda, tendo apelado o Governo e os taxistas a sentarem-se a mesma mesa para ultrapassar a situação.

Violência contra moto-taxistas

Alguns motoqueiros que transportavam passageiros em Cacuaco foram vítimas de violência e viram os pneus das motas furadas, supostamente por não estarem solidários com a greve dos taxistas. O presidente da Associação dos Motoqueiros e Transportadores de Angola (AMOTRANG) disse que os agressores são supostamente membros da Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola (ANATA).

Bento Rafael disse ter contactado o presidente da ANATA, Francisco Paciente, "que garantiu não ter orientado nenhum acto de agressão aos moto-taxistas”. Bento Rafael sublinhou que "a greve não abrange os moto-taxistas”, que tem a liberdade de trabalhar sem constrangimentos. "Não fizemos parte dessa greve, porque não fomos contactados”, disse.

O presidente da Associação dos Taxista de Angola (ATA), Rafael Inácio, considera que "o acto foi aproveitado por elementos estranhos, para criar confusão”, pelo que condenou a atitude, prometendo recolher mais informações com a equipa de fiscalização daquela organização. 

O porta-voz do Comando Provincial da Polícia Nacional em Luanda disse que 17 indivíduos foram preventivamente detidos por, supostamente, estarem envolvidos em actos de vandalização e arruaça na via pública. O superintendente Nestor Goubel, que reprovou a atitude dos cidadãos, referiu que a Corporação foi obrigada a pôr ordem e segurança na população.

Reclamações dos taxistas

Os presidentes das associações Nova Aliança dos Taxistas de Angola (ANATA) e Associação dos Taxista de Angola (ATA), Francisco Paciente e Rafael Inácio, respectivamente, haviam anunciado a greve, a semana passada, inicialmente, devido à redução em 50 por cento da lotação dos transportes públicos, ou seja, autocarros e táxis.

Os homens dos "azuis e branco” reclamavam também do facto dos autocarros não serem alvos de fiscalização da Polícia de Trânsito, em detrimento dos taxistas, cujas multas por excesso de lotação levou-os a insurgirem-se contra a Corporação.

Essa situação levou a uma reunião de concertação entre as associações dos taxistas, que elaboraram um caderno reivindicativo com sete pontos apresentado as autoridades para resolução. Dos sete pontos, segundo os taxistas, apenas a parte relacionada com lotação das viaturas foi resolvida, criando descontentamento no seio dos associados.      

Ficaram pendentes as questões relativas à profissionalização da actividade de táxi, criação da carteira profissional, inserção dos taxistas no sistema de segurança social e políticas públicas, reabilitação das vias esburacadas, que contribuem nas avarias das viaturas e acesso à habitação.

André da Costa | Jornal de Angola

Imagem da destruição de autocarro, do Comité do MPLA em Benfica © Fotografia por: DR - JA

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