Que país é este em que 48 anos
depois do 25 de Abril qualquer opinião que não coincida com a doutrina oficial
e ouse dizer de Zelensky aquilo que realmente é traduz um apoio ao autocrata
Putin?
Vamos ver se nos entendemos.
Sem meias palavras, sem
reticências, sem redundâncias nem floreados.
Exactamente 48 anos depois da
Revolução de 25 de Abril de 1974, que derrotou o fascismo em Portugal, a
Assembleia da República, dita «a casa da democracia», decidiu convidar para
discursar o chefe nominal de um aparelho de poder nazi.
Volodymyr Zelensky, presidente da
Ucrânia, não é um democrata. Foi designado em eleições não democráticas uma vez
que parte significativa do eleitorado não teve condições para votar devido à
guerra imposta pelo regime do mesmo Zelensky em várias regiões do país.
O regime de Kiev é suportado por
um aparelho político, policial e militar nazi inspirado no nacionalismo
integralista ucraniano nascido na segunda década do século passado e do qual os
herdeiros, em pleno auge do expansionismo hitleriano, colaboraram com as tropas
e as SS alemãs em chacinas de milhares de polacos, judeus e cidadãos soviéticos
– ucranianos e russos. Stepan Bandera, um dos colaboracionistas hitlerianos
mais carismáticos dos anos quarenta, é hoje o «herói nacional» da Ucrânia de
Zelensky e a figura de referência dos grupos políticos, militares e dos
esquadrões da morte que sustentam o regime.
O regime dirigido por Volodymyr
Zelensky proibiu o Partido Comunista da Ucrânia. Já depois disso interditou
mais 11 partidos. Aleksander e Mikhail Kononovich, dirigentes da União da
Juventude Comunista Leninista (organização proibida) estão presos às ordens da
polícia política (SBU) e há notícias de terem sido torturados. Denis Kirev,
membro da delegação ucraniana às negociações em curso com a Rússia, foi
assassinado numa rua de Kiev pela polícia política depois de ter sido designado
como «suspeito de traição». Recentemente foi a vez de Viktor Medvedchuk, um dos
dirigentes do partido de oposição Plataforma de Oposição – Pela Vida, com a
prisão do qual Zelensky atingiu o grau da ignomínia, propondo entregar à Rússia
o seu adversário, um cidadão ucraniano, em troca de compatriotas seus feitos
prisioneiros pelos russos.
O actual chefe da
contra-espionagem do SBU, Oleksandr Poklad, nomeado por Zelensky em 2021,
conhecido por «Estrangulador» devido à sua forma favorita de torturar
prisioneiros, é uma personagem comprovadamente ligada ao crime organizado, aos
vários grupos nazis que orbitam na presidência, e acusado de execuções
extrajudiciais. Foi condecorado por Zelensky com a «Ordem da Coragem». O
presidente ucraniano também agraciou recentemente, em pleno Parlamento
de Kiev, o comandante do Batalhão nazi Azov, um corpo integrado na Guarda
Nacional, que compareceu ao acto envergando farda de combate.
Entre as mais recentes nomeações
de Zelensky destaca-se a de Dmitry Yarosh, fundador e dirigente de organizações
nazis, designadamente o Sector de Direita, como conselheiro do chefe do
Estado-Maior das Forças Armadas, Valerii Zalushnyi. A 1 de Março passado o
presidente ucraniano substituiu o governador regional de Odessa por Maksym
Marchenko, um ex-comandante do neonazi Batalhão Aidar que está acusado de
crimes de guerra cometidos na região do Donbass.
Sobre a relação do regime de
Zelensky com a democracia, a população do país e as opiniões divergentes pode
ler-se num Relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos
Humanos: «O ACNUDH documentou alegações de desaparecimentos forçados, detenções
arbitrárias e incomunicáveis, tortura e maus-tratos perpetrados com impunidade
por polícias ucranianos, principalmente por elementos do Serviço de Segurança
da Ucrânia (SBU).»
Também um relatório publicado
pelo Departamento de Estado norte-americano reconhece o seguinte: «A ONU
observou deficiências significativas nas investigações sobre abusos de direitos
humanos cometidos pelas forças de segurança do governo […] em alegações de
tortura, desaparecimentos forçados, detenção arbitrária e outros abusos
supostamente perpetrados pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU).»
Ou ainda, segundo o mesmo
relatório: «Nenhuma justiça, verdade ou reparação foi alcançada para qualquer
uma das vítimas de desaparecimento forçado, detenção secreta e tortura de civis
pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) e nenhum suspeito foi processado».
Descrições que fazem lembrar
singularmente as práticas de Pinochet e de outros regimes afins. Os quais,
ainda que com algum pudor, são qualificados como fascistas pela generalidade
dos poderes ocidentais.
O nacionalismo ucraniano, de que
Volodymyr Zelensky é presentemente o representante nominal máximo, assenta
ideologicamente no conceito de «nação pura» defendido pelo integralismo
fundador e reproduzido actualmente na obra de Andryi Biletsky, fundador do
Batalhão Azov, sobre a necessidade de uma «cruzada branca», no imediato contra
os «negros da neve», uma das designações usadas para os ucranianos de origem
russa. As suas ideias servem de base doutrinadora nos acampamentos da juventude
organizados por entidades governamentais e nos quais se ministra treino militar
às crianças.
As marchas com tochas organizadas
regularmente em Kiev e Lvov para homenagear a memória do nazi e «herói
nacional» Stepan Bandera, com numerosas estátuas e nomes de avenidas em todo o
país, fazem-se ao som de gritos de «enforquem os russos», «morte aos russos».