sábado, 7 de maio de 2022

O JORNALISMO QUE FAZ FALTA PARA ANIMAR A MALTA -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Hoje peço a palavra para falar com os meus colegas de profissão. Todos, desde o Luís Alberto Ferreira, meu camarada de Redacção no Jornal de Notícias e o jornalista angolano mais antigo ainda em actividade, até às e aos jovens que começaram comigo, a dar os primeiros passos na profissão. Imaginem que são enviados para a Ucrânia para fazerem a cobertura dos acontecimentos. O que faziam? Claro, a primeira coisa é estudar pormenorizadamente o teatro dos acontecimentos. Muito bem, camaradas.

Feito o estudo, isolamos os temas mais importantes que vamos tratar nas nossas reportagens. A Ucrânia fez parte da União Soviética. Os mais altos dirigentes do país eram oriundos daquela República Socialista. Em sete presidentes da URSSS (líderes do país e do Partido Comunista) dois eram ucranianos, Nikita Kruschev, que nasceu em Kalinovka, e Leonid Brejnev, nascido em Kamianske. Dos restantes, cinco nasceram na Rússia e um (Staline) na Geórgia.   

Ucrânia é o acontecimento que vamos cobrir. Estão lá milhares de informações. Temos que isolar as que nos vão permitir apresentar o bilhete de identidade da notícia. Kiev, a capital, tem de fazer parte do nosso trabalho. Antes de chegarmos ao objectivo, estudámos que é uma das cidades mais antigas da Europa de Leste. Entre os séculos X e XII foi um símbolo cultural e político na região e capital do Principado de Kiev ou Rússia Kievana. No dealbar do século XIII foi invadida, ocupada, destruída e perdeu o seu fulgor.

A Revolução Industrial da Rússia deu a Kiev um novo e decisivo impulso (finais do século XIX). Depois da Revolução de Outubro (1917) Kiev tornou-se uma importantíssima cidade da República Socialista Soviética da Ucrânia, mas só em 1934 foi a capital. Depois da II Guerra Mundial registou tal crescimento que se tornou a terceira maior cidade soviética, depois de Moscovo e Leninegrado.

A GUERRA E A DERIVA PSICÓTICA DO OCIDENTE -- Bifo

#Publicado em português do Brasil

Franco “Bifo” Berardi | Outras Palavras | Tradução: Vitor Costa

Inimigo interno

A lógica da guerra é o horror.

Putin e os que o provocam. A loucura sacrificial russa e a ignorância americana. O inimigo interno que a mídia cala. O que leva alguém a pegar em armas. Guerra interbranca e emergência bárbara das periferias. Xi: “uma só mão não faz barulho”

Na semiótica da guerra, todas as histórias de horror, mesmo as falsas, são eficazes porque produzem ódio e medo.

Por que se surpreender se os EUA lançarem bombas de fósforo em Fallujah ou se os russos matarem prisioneiros indefesos em Bucha?

Estamos falando de crimes de guerra? Mas a guerra é um crime em si, uma cadeia automática de crimes.

A pergunta a responder: quem é o responsável por esta guerra?

Quem a queria, a provocava, a armava?

O nazi-stalinismo russo liderado por Putin, não há dúvida. Mas todos vemos que mais alguém a desejou e a está alimentando ativamente.

Se em fevereiro a União Europeia tivesse convocado uma conferência internacional para discutir as demandas do chanceler russo Sergey Lavrov, a máquina da guerra poderia ter parado. Em vez disso, preferiram colocar lenha na fogueira.

Um delegado ucraniano que participava de conversas com os russos declarou de forma muito franca: “Estou surpreso. Por que a OTAN disse tão cedo que não interviria em caso de guerra? Foi assim que ela estimulou a Rússia a escalar o conflito” (citado em Limes 3/2022, El fin de la paz, La palabra a los pueblos mudos).

Os que participam de uma guerra são incapazes de pensar. Por razões neurocognitivas bastante fáceis de entender, os que fazem a guerra não têm tempo para pensar, eles têm é que salvar suas vidas, eles têm é que matar aqueles que podem atentar contra suas vidas.

E primeiro eles devem silenciar o inimigo interno.

Esse inimigo interno é a sensibilidade do ser humano, a consciência, se quiserem nomeá-la assim. Freud falava disso em um texto sobre a “neurose de guerra” escrito durante a I Guerra Mundial: o inimigo interno se manifesta como dúvida, hesitação, medo, deserção. O inimigo interno é a vontade de pensar.

Agora estão toda a mídia e todo o sistema político determinados a derrotar esse inimigo interno.

Já estamos muito longe no processo de militarização do discurso público e a classe política e jornalística italiana traz disciplinadamente o cérebro à massa nacionalista. Nessa massa é difícil distinguir as vozes de jornalistas de extrema direita e aquelas dos intelectuais de formação trotskista.

O sistema de mídia passou por uma mutação dramática nos últimos dois anos. Durante a pandemia ele foi constantemente mobilizado para fins sanitários. Vinte e quatro horas por dia nos mostravam ambulâncias, aventais verdes, aparelhos de ventilação e, depois de certo ponto, injeções, seringas e mais injeções e mais seringas, num fluxo ininterrupto de ansiedade e intimidação. Alguém previu que esse cerco da mídia médica era o preâmbulo de uma mutação definitiva na mídia. Agora, por vinte e quatro horas, vemos espetáculos aterrorizantes, corpos mutilados, a fuga desesperada e dolorosa de mães e filhos. Vinte e quatro horas por dia testemunhamos a multidão de comentaristas e generais clamando pela guerra e silenciando seu inimigo interno.

O AVISO AOS FANTOCHES E A DERROTA DOS PORCOS -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A Oposição fantoche e acéfala berrava desalmadamente que o MPLA tinha medo dos “votos da diáspora”, por isso não permitia que os angolanos residentes no estrangeiro votassem. O mesmo partido, com maioria qualificada na Assembleia Nacional, alterou a lei e todos os cidadãos nacionais podem votar, estejam onde estiverem. 

Concluído o registo eleitoral, os resultados estão à vista. Foram abertos processos de recenseamento na África do Sul, Alemanha, Bélgica, Brasil, França, Grã-Bretanha, Holanda, Namíbia, Portugal, República Democrática do Congo, República do Congo e Zâmbia. Estão registados 18 mil eleitores! Agora é que o MPLA perde as eleições, porque estes novos votantes vão dar o seu voto à esquina da UNITA com o Bloco do Reumático e o agente da BRINDE (polícia política do Galo Negro) Abel Chivukuvuku. 

Aos pataratas do reumático vou dar uma informação preciosa. Estes 18 mil votantes vão calar os políticos que são autênticas fraudes. Mesmo que votem todos no banditismo político. Cá para mim, a maioria absolutíssima vai votar no MPLA. Depois veremos.

Igor Khashin, cidadão russo, vive em Portugal há muitos anos. É um activista dos direitos dos emigrantes do Leste da Europa. E está a ser vítima da mais repugnante russofobia por parte dos partidos políticos portugueses, excepto o Partido Comunista. Soube hoje que ele concorreu a um lugar no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) mas foi “chumbado”. Este facto indica que tem nacionalidade portuguesa. Mas isso não interessa. O importante é que um activista dos direitos dos refugiados está a ser assassinado na praça pública, numa campanha orquestrada pelos serviços secretos da Ucrânia, com a embaixadora daquele país em Lisboa à cabeça. Os filhotes dos velhos fascistas portugueses enlouqueceram.

Angola | Tribunal Supremo arquiva processo do ex-ministro Higino Carneiro

Processo relativo ao general Higino Carneiro, ex-ministro das Obras Públicas angolano, foi arquivado pelo Tribunal Supremo de Angola, ficando este livre de julgamento.

O tribunal supremo fez "o despacho de despronúncia e arquivamento do processo movido contra Higino Carneiro", o que iliba o antigo ministro da prática dos vários crimes de que era acusado, avançou a Rádio Nacional de Angola (RNA), o

Higino Carneiro, ministro das Obras Públicas entre 2002 e 2010 e ex-governador das províncias de Luanda, Cuando Cubango e Cuanza Sul, membro do Bureau Político do MPLA e deputado desta força política, ia a julgamento acusado de crimes de peculato, nepotismo, trafico de influências, associação criminosa e branqueamento de capitais - tendo os atos sido cometidos, alegadamente, entre 2016 e 2017. 

Em setembro do ano passado, o procurador-geral da República, Hélder Pitta Gróz, tinha anunciado que o processo de Higino Carneiro tinha seguido para tribunal.

O combate à corrupção, à impunidade e ao nepotismo é uma prioridade afirmada pelo Presidente angolano, João Lourenço, no poder desde setembro de 2017.

Deutsche Welle | Lusa

AVES MIGRATÓRIAS DE DESTRUIÇÃO MASSIVA

#Traduzido em português do Brasil

MK Bhadrakumar | Katehon

O Conselho de Segurança da ONU realizou um evento extraordinário em 6 de abril sob a rubrica Arria Formula Meeting on Biological Security sobre as atividades biológicas em países como a Ucrânia. Previsivelmente, os representantes dos EUA e do Reino Unido não apareceram no evento e a mídia ocidental também escureceu os procedimentos. Mas isso não diminui o profundo significado do que aconteceu.

O ponto alto dos trabalhos do Conselho de Segurança que duraram mais de duas horas foi a divulgação pelo general Igor Kirillov, chefe das Forças de Defesa de Radiação, Química e Biológica das Forças Armadas Russas, que Washington está criando laboratórios biológicos em diferentes países e os conectando a um sistema unificado sistema.

Ele disse que os EUA gastaram mais de US$ 5 bilhões em programas biológicos militares desde 2005 e detalhou que apenas em territórios que fazem fronteira com a Rússia e a China, cerca de 60 instalações foram modernizadas durante esse período. A rede ucraniana de laboratórios foi projetada para realizar pesquisas e monitorar a situação biológica, composta por 30 instalações em 14 locais povoados.

Materiais altamente sensíveis dos laboratórios biológicos ucranianos foram exportados para os EUA no início de fevereiro, pouco antes do início da operação especial russa, e o restante recebeu ordens de ser destruído para que não caísse nas mãos dos russos. Mas o encobrimento foi apenas parcialmente bem-sucedido. De fato, a Rússia possui provas altamente incriminatórias.

Anteriormente, também, a Rússia havia divulgado uma série de documentos relacionados às atividades militares biológicas do Pentágono, que apontavam para um projeto mundial de instalação de laboratórios biológicos em países rivais com o objetivo de desenvolver armas virais direcionadas contra esses países.

As atas da conferência do Conselho de Segurança de 6 de abril são de domínio público e acessíveis.

Quase 193 milhões de pessoas enfrentaram insegurança alimentar em 2021, diz ONU

#Traduzido em português do Brasil

Peoples Dispatch

Guerras e conflitos foram diretamente responsáveis ​​pela insegurança alimentar enfrentada por mais de dois terços (139 milhões) do total da população afetada em 2021, afirmou o Relatório Global sobre Crise Alimentar divulgado nesta quarta-feira.  

Quase 193 milhões de pessoas de 53 países em desenvolvimento enfrentaram diferentes níveis de insegurança alimentar aguda em 2021, quase 40 milhões a mais do que no ano anterior, conforme o Relatório Global das Nações Unidas sobre Segurança Alimentar (GRFS) 2022 divulgado na quarta-feira, 4 de maio. precisa de assistência humanitária urgente e intervenção global para evitar fome e mortes em grande escala.

De acordo com o relatório, os níveis de gravidade da insegurança alimentar de pouco ou nenhum alimento variaram de lugar para lugar. Ele disse que as pessoas que enfrentam níveis de insegurança alimentar de emergência ou catastróficos estão acima de 40 milhões agora, com cerca de meio milhão de pessoas principalmente em países africanos e no Iêmen enfrentando formas extremas de insegurança alimentar ou à beira da fome e da morte. Esse número é quatro vezes maior do que no ano anterior. 

O GRFC é uma publicação conjunta da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Programa Alimentar Mundial (PAM) e União Européia (UE).

O relatório diz que uma combinação de razões tem sido responsável pela crescente insegurança alimentar em todo o mundo. Além da pandemia de COVID-19, que interrompeu as cadeias de suprimentos em todo o mundo e causou aumento nos preços dos grãos alimentícios em países altamente dependentes de importações, as crescentes interrupções na produção relacionadas ao clima também foram responsáveis ​​​​pela insegurança alimentar global. No entanto, de longe, a razão mais significativa para a insegurança alimentar é o conflito. 

TODAS AS CRIANÇAS SÃO IGUAIS?

Manuel Augusto Araújo | Praça do Bocage

Todos os dias os canais televisivos exibem um anúncio da Unicef, tem sido utilizado com o mesmo fim por outras empresas, que alerta para a situação das crianças na Ucrânia, solicitando apoio. Nada mais justo e correcto. As crianças são as mais frágeis vitimas emocionais das barbaridades da guerra a que são sujeitas. São as suas mais indefesas vítimas e os choques psicológicos que sofreram e sofrem mesmo quando subtraídas às mais violentas imagens tendo sido refugiadas noutros lugares não se apagam. As marcas de todas as situações que viveram, de que tenham maior ou menor memória em função da sua idade, vão acompanhá-las ao longo da vida. O trabalho que a Unicef desenvolve na Ucrânia inscreve-se no trabalho que ao longo dos anos tem realizado em mais de 190 países, para salvar a vida de crianças, defender os seus direitos, apoiando-as da infância à adolescência. Faz bem a Unicef em chamar a atenção para a situação actual da Ucrânia. Faz bem, fazendo mal porque a situação das crianças na Ucrânia está muito longe de ser nos dias de hoje a mais alarmante, a mais grave vivida pelas crianças noutras partes do mundo, o que é reconhecido pela própria Unicef quando traça o quadro catastrófico vivido no Iemen, em que neste momento 12 milhões de crianças, mais que a população de Portugal, precisam de assistência humanitária. Em que uma criança em cada dez minutos morre à fome ou por doenças que podem ser prevenidas, em que cerca de 2 milhões de crianças (com menos de 5 anos) sofrem de subnutrição aguda grave; 37% das crianças com menos de 1 ano não estão vacinadas; 2 milhões de crianças não têm acesso a educação; existe quase um milhão de casos suspeitos de cólera. A Unicef está no Iemen a fazer um trabalho de grande envergadura em condições extremamente adversas. O que é estranho é que sendo as condições de vidas das crianças iemenitas muitíssimo mais calamitosa que a das crianças ucranianas nunca tenhamos visto um anúncio, nem sequer semanal ou mensal, sobre essa situação enquanto o das crianças ucranianas é várias vezes exibido diariamente. É evidente que deve ser exibido, mas acentua a diferença de tratamento mediático entre uma e outras o que não é caso isolado, lembrem-se as crianças no Iraque, as que sobreviveram às quinhentas mil assassinadas pelos EUA que Madeleine Allbright justificava como danos colaterais, às da Síria sujeitas às violências do Daesh – Estado Islâmico, noutras partes do mundo como se pode ler nos relatórios da Unicef. A diferença, a diferença abismal está no tratamento mediático desses relatórios, em linha com a tremenda diferença com que os media corporativos tratam os problemas dos refugiados conforme a sua origem. A diferença, em relação à Unicef está no desvelo, não o desvelo de tratamento físico, mas o desvelo colocado pelos muitos anúncios que chamam e bem a atenção para um caso específico enquanto outros, até mais graves e impondo cuidados mais urgentes e imediatos não merecem ser publicitados, ficam na nuvem do olvido, entregues à boa consciência de relatórios que poucos lêem. Diferença que se fará sentir no volume de donativos, isso a Unicef não ignora, não pode ignorar.

VÍTIMAS DOS CRIMINOSOS DE GUERRA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

 Cada refugiado que morre no mar Mediterrâneo é um crime de guerra que deve ser imputado ao alto comando da NATO e aos governos dos EUA e da União Europeia. É altura de repudiar a propaganda, as mentiras, as mistificações, a suprema hipocrisia que assaltou o mundo mediático, sobretudo quando uma repórter fotografou uma criança de borco, que deu à costa a uma praia da costa da Turquia.

Milhões de seres humanos estão a viver os horrores da guerra e as acções particularmente destruidoras do Banditismo Político Violento que se instalou ao nível do poder nos países ocidentais. Desde o Magrebe ao Afeganistão, os países da NATO lançaram um rasto de morte e destruição que vitimou milhões de seres humanos. Ninguém sabe quando os algozes se saciam com o sangue das suas vítimas.

Tudo começou com a Primeira Guerra do Golfo, em 1990/1991 com a famigerada “Tempestade no Deserto”. O Iraque, um país próspero e o mais progressista da região, foi simplesmente destruído. Eu vi bombardear Bagdade. Sofri os efeitos dos rebentamentos dos mísseis “Cruzeiro” e dos bombardeamentos aéreos contínuos, todas as horas de intermináveis dias. 

Oficialmente morreram 25 mil soldados iraquianos e 248 da “coligação internacional”. Os feridos foram mais: 75.000 iraquianos e 776 da coligação. Mas ninguém fala dos mortos e feridos civis. Porque Washington e Londres venderam a balela de que os bombardeamentos eram “cirúrgicos” e só causavam baixas militares. Mas eu vi os corpos destroçados de mulheres e crianças nos bairros populosos da periferia de Bagdade, em Ramadi ou em Rutbah, já perto da fronteira com a Jordânia.

E vi milhares e milhares de refugiados. O Iraque era o país de destino de emigrantes dos países do Médio Oriente e sobretudo do Paquistão. Centenas de milhares trabalhavam naquele país. Quando começaram a rebentar os mísseis “Cruzeiro”, mais de um milhão de pessoas fugiu para a Turquia, mas sobretudo para a Síria e a Jordânia. Números oficiais da ONU: mais de dois milhões de refugiados da guerra do Iraque (iraquianos ou não) estão ainda hoje, em condições desumanas, na Síria e na Jordânia.

A segunda Guerra do Golfo, em 2003, desencadeada pelos EUA depois da Cimeira das Lajes, com George W. Bush (Washington), Tony Blair (Londres), Aznar (Madrid) e Durão Barroso (Lisboa), transformou os campos de refugiados da Síria e da Jordânia em colmeias humanas permanentes, sem as mínimas condições de vida. Eu vi aquela tragédia.

Com o início da guerra da Síria, desencadeada por Washington, Paris, Londres e Berlim mais milhões de pessoas viram as suas vidas ameaçadas e tiveram que fugir. Mesmo aquelas que há mais de 20 anos vegetavam nos campos de refugiados que nasceram com as guerras do Iraque.

A “rota da energia” está a ser devastada pela guerra da NATO. A Primavera Árabe foi o truque usado para destabilizar e derrubar regimes sólidos e estáveis na Tunísia e no Egipto. Na Líbia, as potências da NATO decidiram desencadear mais uma guerra que culminou com o assassinato do Presidente Kadhafi. Destruíram um país próspero e que vivia décadas de paz e estabilidade. Hoje a Líbia não existe. Dezenas de milícias, armadas, municiadas e financiadas pelos países da NATO, da União Europeia e dos EUA, disputam o poder de armas na mão. O petróleo líbio é roubado pelos países que lançaram a guerra.

No Afeganistão a ocupação estrangeira acabou. A NATO fingia que saía mas não saía, as potências ocidentais retiravam mas não retiravam. Até que saíram mesmo, à força. Mais milhares de vítimas civis e milhões de refugiados. Cada um que morre na fuga é um crime de guerra. Os criminosos são os Governos dos países da União Europeia, dos EUA e o alto comando do bloco militar que está a semear a guerra, a destruição e a morte em todos os países da “rota da energia” entre o Magrebe e o Oriente, mas também na África Ocidental e Oriental. Basta olhar para a Nigéria, o primeiro produtor de petróleo do continente. E para Moçambique.

Portugal está presente na guerra do petróleo como membro da NATO e da União Europeia. Todos os países do bloco militar têm o dever de acolher os refugiados. Todos, sem excepção. São eles os senhores da guerra, é a eles que compete acolher as vítimas do Banditismo Político Violento (não gosto da palavra terrorismo). São eles que têm de levar a paz e a estabilidade aos países onde estão a fazer a guerra. São eles que têm de reparar os danos causados pelas suas agressões armadas.

Acima de tudo, são os países da NATO e da União Europeia que têm de desarmar a sua criação mas tenebrosa: o Estado Islâmico. Essa organização é filha da NATO e das políticas das grandes potências ocidentais. Acabem com ela.

Por fim, não aceito o argumento idiota de que os países da NATO e da União Europeia fizeram bem em derrubar Saddam Hussein, Kadhafi, Bem Ali, Mubarak ou Morsi porque não eram flores que se cheirassem. O esqueleto ambulante Cavaco Silva, o descabeçado Passos Coelho, o mânfio Paulo Portas (a loira Catherine Deneuve) ou Marcelo Rebelo de Sousa (o nome basta, não precisa de cognomes) não são flores que se cheirem mas ninguém fez ou faz uma guerra contra Portugal para os derrubar. Hollande, Merkel, Cameron (este chamou aos refugiados de guerra uma praga) ou Rajoy também não eram flores que se cheirassem mas ninguém despejou bombas sobre os seus países para os derrubar. Quem muda os regimes e os governos são os povos. Com a arma do voto. 

É preciso dizer um rotundo não aos criminosos de guerra que afogam civis inocentes nas águas do Mediterrâneo. E essas vítimas são refugiados, não são migrantes. O Direito Internacional dá-lhes especial protecção. É bom que ninguém ignore essa realidade. E sobretudo, é bom que todos tenham presente que os nazis da Ucrânia são os únicos responsáveis pelos milhões de refugiados ucranianos. Dar-lhes dinheiro e armas, sim, é um crime contra a Humanidade.

*Jornalista

MÃES DE MAIO

Pedro Neto | TSF | opinião

Durante a ditadura da junta militar argentina no século passado, foram milhares os homens e mulheres que foram presos naquela que se designou por "operação condor". Foram milhares os que foram levados das suas mães e pais.

Desapareceram.

Todos os que pensassem diferente da ditadura vigente que governava à força, eram levados. De entre os desaparecidos a pessoa mais nova foi um bebé que tinha apenas 20 dias quando foi raptado com a sua mãe, em julho de 1976. A mãe voltou a aparecer, mas perdeu, antes da liberdade, o rasto do seu filho recém-nascido. A pessoa mais velha foi um ancião de 81 anos de idade, segundo uma lista publicada pela Amnistia Internacional em 79.

Que medos provocariam estas pessoas aos ditadores e senhores do mundo? Que terror este o de existir, o de pensar? O de ter consciência?

As mães dos desaparecidos começaram a juntar-se e sentavam-se todas as semanas na Praça de Maio, que fica em frente à Casa Rosada, o palácio presidencial em Buenos Aires.

Numa presença silenciosa, mas ensurdecedora no bater dos corações dos filhos desaparecidos, exigiam que lhes dessem notícia do seu paradeiro, exigiam, muitas vezes com esperança que eles reaparecessem.

Quando foi decretado o estado de emergência, passaram a ser expulsas da praça e reencontraram-se de novo em peregrinação ao santuário da Virgem de Lujan a cada 8 de maio de cada ano. Aí, a cerca de 75 kms da Praça de Maio, usavam as fraldas de tecido dos seus filhos atadas à cabeça como lenços para se reconhecerem. Juntas de novo, partilhavam as suas histórias de luto, dor e perda.

Anos mais tarde, voltaram à praça em frente ao palácio. Agora já não sentadas, mas a caminhar em círculos, numa marcha de resistência contínua.

As mães de maio são hoje as mulheres em todo o mundo que procuram dos seus filhos desaparecidos, assassinados por quem com medo se sentia incomodado com as suas vozes e o seu pensamento.

Chile, Colômbia, Nicarágua, Cuba, México, Irão, sem esquecer as mães de sábado que se reuniam todas as semanas na praça Galatasaray em Istambul na Turquia. Erdogan primeiro-ministro recebeu-as e apoiou-as. Erdogan presidente mandou-as prender no sábado em que completaram 700 vigílias.

Também na Ucrânia, na Rússia, tantos os sítios, as ditaduras, guerras surdas.

Quantas mães de quantos jovens soldados não verão mais os seus filhos por quem choram?

A vós senhores da guerra, economistas do armamento, olhai para os olhos estas mães de maio, olhai para os olhos das vossas próprias mães.

Envergonhem-se dos tiros e das bombas. Recolham as balas e os mísseis, as ideias nucleares que nos destruirão a todos.

E neste pedido ingénuo, façam a paz antes que já não haja filhos, antes que já não haja mães.

Nota PG: Durante décadas idas, e ainda atualmente, as ditaduras assassinas instaladas na América Latina tiveram sempre por mentores os EUA e todo o apoio e organização da CIA-EUA, que vê aquele continente ao sul como o seu quintal das traseiras. Esse é um exemplo factual, outros existem espalhados pelo mundo, incluindo na Europa – Portugal, Espanha, Grécia, Turquia, etc. Atualmente os EUA desestabilizam e têm em mira o Leste da Europa, instalaram-se na Ucrânia, arquitetaram o Golpe de Estado, instalaram o governo que lhes convinha para assim criar condições para provocar e instabilizar a Rússia. Levando a guerra àquela parte do mundo e por arrasto à União Europeia. Contudo, o que se presencia na atualidade, os europeus estão cegos, surdos, mudos e estupidificados, não olham a história e os métodos dos EUA desde sempre ...

IMAGEM ICÓNICA DO "SÃO" ZELENSKY

Novo santo beatificado já aparece em velas

A igreja ortodoxa ucraniana, o comediante, o regime ukronazi e a NATO estão alinhados. Grotesco.

Ao contrário dos sevandijas ucranianos, a Igreja Católica tem outra dignidade e compostura, como se pode ver nesta entrevista do Papa Francisco publicada no Vatican News.

Resistir.info

GENERAL CANADIANO CAPTURADO EM MARIUPOL - AZOVSTAL

general Trevor Kadier, do Canadá, foi capturado pelas Forças Armadas da Rússia na noite de 2 para 3 de Maio quando tentava fugir de Mariupol.

O referido general era responsável pelo laboratório de armas biológicas financiado pelo Pentágono que funcionava nos porões da Azovstal. Tudo indica que venha a ser submetido a julgamento, tal como os demais mercenários capturados na Ucrânia.

Os media corporativos ainda não deram esta notícia e as autoridades russas não a confirmaram nem desmentiram. Ver YouTube.

Resistir.info - 04/Maio/2022

Ler mais em Nova África

UMA NAÇÃO DE “GEOFÓBICOS” – Patrck Lawrence

#Traduzido em português do Brasil

Patrick Lawrence -  especial para o Consortium News

Refletindo sobre a condição americana há alguns anos, inventei uma palavra para nos descrever como somos. A América é uma nação “geofóbica”, imaginei – um povo com uma aversão aos espaços e populações do mundo que se manifesta como indiferença a qualquer conhecimento genuíno de ambos.

Essa indiferença, essa ignorância de outros lugares e pessoas – e a indiferença dos americanos à sua ignorância – é perfeitamente evidente como um fio que atravessa toda a história americana.

Os americanos são, no fundo, um povo medroso, assustado com o que está além de suas costas. Isso já foi mais do que agora, no crepúsculo do império?

A geofobia, por mais estranho que possa parecer, serviu bem aos Estados Unidos em certos aspectos – supondo, isto é, que se tenha uma compreensão muito estreita de bem-estar.

A América decidiu tornar-se um império após a Guerra Hispano-Americana, paradoxalmente, em parte para manter o mundo à distância. Poderia estender seu poder acumulado para além de suas costas, sabendo que o resto do povo do mundo estava caído, um borrão, e o que eles pensavam ou queriam não importava muito.

Todos nós conhecemos o exercício: você consegue encontrar, digamos, a Malásia em um mapa? Ao balançar a faixa azul e amarela na varanda da frente, você consegue encontrar a Ucrânia em um mapa? Isso é o que quero dizer com geofobia. 

Do lado material, a geofobia permitiu aos americanos saciar sua ganância e egoísmo ao acumular uma parte indevida da riqueza do mundo sem ter que pensar em sua ganância e egoísmo. George Kennan defendeu esse ponto após as vitórias de 1945: os Estados Unidos, com 5% da população mundial, consomem cerca de metade de seus recursos, e o objetivo da política dos EUA deve ser manter as coisas assim o maior tempo possível.

Isso reforçou a fobia fundamental dos Estados Unidos – seu medo de longa data de que o resto do mundo o olhasse com uma inveja ameaçadora e volátil.

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