segunda-feira, 13 de junho de 2022

CRITÉRIOS DE COPENHAGA E OS OSSOS DO HERÓI -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Cara amiga e camarada. Eu não sou homem que leve desaforos para casa. Por isso, hoje vou de novo partir a barraca e a loiça toda. Dona Úrsula von der Leyen chegou a Kiev e fez uma declaração mentirosa. Isso não é muito grave. Ainda ontem me ameaçaram de morte e isso é mentira porque cão que ladra não morde. Apenas quiseram intimidar-me o que é normal. Se um fabiano dissesse de mim o que escrevo sobre eles, era capaz de partir para a acção directa. Cala-te boca que não sabes o que dizes.

A mentira da presidente da Comissão Europeia é hedionda porque se destina a prolongar o novo paradigma de guerra inventada pelo estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA), a OTAN (ou NATO) e a União Europeia. Os senhores da guerra entram com as armas, munições e dinheiro. Os desgraçados (ucranianos) pagam a conta do sangue e das vidas. Guerras por procuração passada aos lacaios de serviço.

Úrsula von der Leyen foi a Kiev dizer que a Ucrânia vai aderir à União Europeia e o único critério da adesão “é o mérito”. Ela bem sabe que está a mentir. E a mentira hedionda serve apenas para convencer os pobres ucranianos continuarem a pagar a conta do sangue e das vidas. Não posso silenciar este desaforo sem partir a barraca e a loiça toda. 

Na União Europeia todas as decisões exigem unanimidade. E é óbvio que a adesão da Ucrânia só é possível se aquele país cumprir os Critérios de Copenhaga. Mesmo assim, se não existirem vozes contra. Gastar votos contra para quê? A Ucrânia nem daqui a cem anos cumpre as exigências do cartel sedeado em Bruxelas.

O Tratado da União Europeia define os princípios (artigo 6º número 1) e as condições de adesão (artigo 49º). Não prevê qualquer excepção. Os países candidatos têm de cumprir os Critérios de Copenhaga, aprovados pelo Conselho Europeu de Copenhaga em 1993 e reforçados pelo Conselho Europeu de Madrid, em 1995. 

Eis o que tem de ser cumprido, sem excepção: Estabilidade das instituições que garantem a democracia, o Estado de Direito, os direitos humanos e o respeito pelas minorias e a sua protecção. Economia de mercado que funcione efetivamente mais a capacidade de fazer face à pressão concorrencial e às forças de mercado do cartel. Capacidade para assumir as obrigações decorrentes da adesão, incluindo a capacidade de aplicar eficazmente as regras, normas e políticas que compõem o corpo legislativo da UE (todo o acervo) e a adesão aos objetivos de união política, económica e monetária.

A Ucrânia introduziu as milícias nazis (Sector Direita, Bandera e Azov) nas forças de defesa e segurança nacionais, nazificando o Estado. A Ucrânia baniu os partidos comunistas e outras forças de esquerda. Zelensky prendeu o líder da oposição e ilegalizou o seu partido. Os patrões de Zelensky dominam as mafias de Leste e lideram a corrupção. Segundo o relatório dos direitos humanos no mundo, publicado recentemente pelo Departamento de Estado dos EUA, na Ucrânia o Poder Judicial obedece às ordens do Poder Político. A tortura está institucionalizada. O sistema prisional é uma arma de terror contra os cidadãos. A Oposição foi banida, antes de 24 de Fevereiro passado.

Os direitos humanos na Ucrânia são gravemente espezinhados e, segundo a ONU, as forças armadas nazificadas cometiam um autêntico genocídio no Leste do país, até 24 de Fevereiro. 

Zelensky e a sua quadrilha de nazis não respeitam as minorias e em vez de as protegerem, prendem, torturam e matam. Os ucranianos russos até foram impedidos de votar. A Ucrânia não cumpre um único princípio nem critério. Está a anos-luz dos Critérios de Copenhaga. Úrsula von der Leyen é mentirosa. Apenas quer mais sangue e vidas dos ucranianos para “enfraquecer a Federação Russa”. Para nada! E ainda bem. Porque quando alguém se sente fraco e encurralado, pode reagir de uma forma irracional. Cutucar a maior potência nuclear do mundo pode ser má ideia. 

Desaforos para casa, não levo. Vamos partir a loiça! A guerra da OTAN (ou NATOI) do estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) e da União Europeia contra a Federação Russa por procuração passada a Zelensky e à sua quadrilha nazi, serve também para erguer uma barreira humana aos negros e asiáticos refugiados dos países onde as potências ocidentais roubam petróleo, gás e outras matérias-primas valiosas. Os milhões de ucranianos que não conseguem fugir, são carne para canhão e figurantes para a ficção dos Media ocidentais. Os refugiados são mão-de-obra barata, para substituir negros e asiáticos. Com loiras e loiros de olhos azuis, os senhores da guerra ficam mais confortáveis. Racismo!

Para desviar as atenções, dizem que estão preocupados com a fome em África. Eles que são os donos da fome, os ladrões, os corruptos, os salteadores, os esclavagistas, os colonialistas. Eu não esqueço! Vim do mato, sei o que é a escravatura, o racismo, a arrogância dos ocupantes. Deus, acostumado ao banditismo, perdoa-vos. Eu nunca, jamais em tempo algum.

Desaforos, não levo e nunca levarei para casa, querida amiga e camarada. De repente, os falsificadores da História, dos Direitos Humanos e da Justiça atiraram-nos à cara com as ossadas de Ilídio Ramalhete. Misturadas com o perónio de Monstro Imortal e o cóccix de Nito Alves. Procurei logo saber como, tantos anos depois, apareceu esta nova personagem na direcção política e militar dos golpistas assassinos. Descobri.

Ilídio Ramalhete foi um dos operacionais da DISA que nos primeiros momentos do golpe tomou de assalto a sede da segurança nacional. Era especialista em vigilância visual, escutas e criptografia. O seu chefe directo era Zé Mingas, o mais alto quadro da DISA na direcção política e militar do golpe de estado. Ramalhete foi um dos que forneceu informações sobre os dirigentes do MPLA, altas figuras do Estado e das FAPLA a eliminar ou neutralizar durante a execução do golpe. Assassino de primeira! A sorte dos comandantes das FAPLA, do ministro Saidy Mingas e dos altos funcionários do Estado assassinados, é que os familiares dos golpistas já lhes perdoaram. Caso contrário, seriam assassinados todos os anos, pelo menos enquanto Francisco Queiroz for ministro.

As angolanas e os angolanos que enfrentaram os golpistas e os derrotaram também foram perdoados. Mesmo assim, cuidado! Está aberta a caça às Heroínas e Heróis Nacionais, vivos ou mortos. Nunca fiar. 

*Jornalista

Brasil | Já existe prova documental da tentativa de golpe nas eleições

#Publicado em português do Brasil

Diante de todas as pesquisas apontando a derrota de Bolsonaro para Lula, a “desconfiança nas urnas eletrônicas” surge agora como única saída golpista para se garantir a continuidade do governo fascista rejeitado pela maioria da população, mas benfeitor dos milhares de militares que ocupam cargos públicos e são cobertos por privilégios.

Val Carvalho*, Rio de Janeiro | Correio do Brasil

Não cabe mais a especulação de se Bolsonaro vai tentar dar ou não golpe nas eleições. A carta do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio, ao TSE, auto instituindo as Forças Armadas como tutoras da eleições, é prova documental desse plano antidemocrático.

Desde que foi implantada, em 1996, somente agora é que os militares levantam suspeitas sobre as urnas eletrônicas; e nada disseram quando Bolsonaro foi eleito em 2018 usando o mesmo sistema eleitoral.

Diante de todas as pesquisas apontando a derrota de Bolsonaro para Lula, a “desconfiança nas urnas eletrônicas” surge agora como única saída golpista para se garantir a continuidade do governo fascista rejeitado pela maioria da população, mas benfeitor dos milhares de militares que ocupam cargos públicos e são cobertos por privilégios.

Trumpismo

A mesma intenção golpista teve pedido de Bolsonaro ao presidente Biden para que este o apoie contra Lula, sob o argumento lesa-pátria de que ele serve melhor aos interesses dos EUA no Brasil. No entanto, pressionado pela volta de Trump, dificilmente Biden, mesmo não gostando de Lula, apoiará a reeleição de Bolsonaro, cuja simpatia ao trumpismo sempre foi assumida.

As forças políticas já estão em movimento nessa disputa eleitoral que mais se assemelha a uma guerra. O que nos cabe nesse momento de luta aberta é fazermos a nossa parte, isto é, ampliar sem restrições ideológicas o voto antifascista em Lula visando a vitória no primeiro turno. A ampliação da frente antifascista é a resposta mais efetiva para derrotarmos o golpe de Bolsonaro.

Ele já mobiliza suas hordas fascistas para a data de 7 de Setembro buscando repetir a tentativa golpista do ano passado, que fracassou por mobilização insuficiente e falta de apoio militar.

Mas ao lado da conquista do voto em Lula, temos de defender com o mesmo afinco o voto na chapa completa, usando o argumento de fácil compreensão de que Lula vai precisar de forte base no Congresso e nos governos estaduais para conseguir realizar as mudanças que o povo necessita e o Brasil precisa para retomar seu desenvolvimento com inclusão social e soberania nacional.

*Val Carvalho é articulista do Correio do Brasil.

Desaparecidos na Amazónia. Bolsonaro diz que foram encontrados restos humanos

Dois corpos foram encontrados perto do local onde Dom Phillips e Bruno Pereira desapareceram. Porém, a polícia local considera que ainda não é possível confirmar se pertenciam ao jornalista e ativista que realizavam uma investigação sobre indígenas.

O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, afirmou que vísceras humanas foram encontradas na região onde um jornalista britânico e um ativista brasileiro que desapareceram na Amazónia brasileira, no meio da crescente confusão sobre o paradeiro de ambos.

O Presidente brasileiro garantiu que há indicações de que grupos ilegais que atuam na Amazónia cometeram o que ele classificou como 'maldade' contra o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Araújo, desaparecidos há uma semana no Vale do Javari, uma das regiões de floresta mais remotas do país.

"Os indícios levam a crer que fizeram alguma maldade com eles, porque já foram encontrados boiando no rio vísceras humanas que já estão em Brasília para fazer DNA", disse Bolsonaro numa entrevista à rádio CBN Recife.

"E, por causa do clima, já temos oito, nove dias aqui, vai ser muito difícil encontrá-los vivos. Peço a Deus que os encontrem vivos, mas as indicações levam ao contrário no momento", acrescentou Bolsonaro, sem se referir à informação dada pela esposa de Phillips sobre a possível descoberta de dois corpos numa mata na região das buscas.

O jornalista André Trigueiro, da Rede Globo, que é amigo pessoal de Alessandra Sampaio, esposa de Dom Phillips, informou que a embaixada britânica e a Polícia Federal relataram na manhã desta segunda-feira a descoberta de dois corpos.

Segundo informações de Alessandra Sampaio, devido ao avançado estado de decomposição, os corpos seriam encaminhados a Manaus, capital regional, ou a Brasília para passarem por perícia para confirmar a identificação das vítimas.

Já outra notícia publicada pelo jornal The Guardian referia que o embaixador brasileiro no Reino Unido também terá telefonado para a família de Dom Phillips para comunicar que as equipas de busca encontraram dois corpos.

O jornal britânico, que citou como fonte o cunhado de Phillips, Paulo Sherwood, relatou que a família foi informada pelo embaixador brasileiro que dois corpos foram encontrados amarrados a uma árvore no meio da mata.

Na sequência da divulgação destas informações nos 'media' locais e do Reino Unido, a Polícia Federal brasileira divulgou uma nota frisando que "não procedem as informações que estão sendo divulgadas a respeito de terem sido encontrados os corpos do Sr. Bruno Pereira e do Sr. Dom Phillips."

"Conforme já divulgado, foram encontrados materiais biológicos que estão sendo periciados [examinados] e os pertences pessoais dos desaparecidos. Tão logo haja o encontro, a família e os veículos de comunicação serão imediatamente informados", acrescentou a autoridade policial brasileira.

Phillips, colaborador do jornal The Guardian, e o indigenista Araújo, ativista pelos direitos indígenas, estão desaparecidos desde domingo, 5 de junho, no Vale do Javari, região remota e de selva na Amazónia brasileira próxima à fronteira com Peru e Colômbia, onde foram realizar uma investigação sobre ameaças contra povos indígenas.

No domingo, o Comité de Gestão de Crise, criado para coordenar as buscas e chefiado pela Polícia Federal, informou que o Corpo de Bombeiros havia encontrado uma mochila com um computador e outros itens pessoais dos desparecidos.

Segundo a comissão, composta também pelas Polícias Civil e Militar, Corpo de Bombeiros do estado do Amazonas, Secretaria Regional de Segurança Pública, Exército e Marinha, além da mochila - que pertenceria à Phillips e que também continha livros e algumas roupas - foi encontrado um cartão de saúde em nome de Araújo e outros pertences do indigenista.

O material foi encontrado em um local próximo à casa de Amarildo da Costa de Oliveira, mais conhecido como "Pelado", até agora o único suspeito dos desaparecimentos e que foi preso na sexta-feira depois que as autoridades encontraram vestígios de sangue em um de seus barcos.

Diário de Notícias | Lusa

Ler em Página Global:

PISTA TRÁGICA SOBRE OS DOIS DESAPARECIDOS NA AMAZÓNIA

“Esquerda não pode abandonar à extrema-direita a ideia de nação” - João Rodrigues

João Rodrigues é economista e professor na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

«A ideia que o Estado nacional impotente é uma ideia que não serve a democracia enquanto ideia de igualdade», diz-se numa entrevista em que se analisa a história do neoliberalismo e as formas de o derrotar.

O neoliberalismo não estava inscrito na pedra, nem determinado pela biologia, muito menos previsto nas estrelas. Aquilo que, com o capitalismo, nos vendem como horizonte inultrapassável da humanidade, foi e é um projecto político criado por membros da elites empresariais, académicas e políticas. A sua hegemonia global é sustentado por uma correlação de forças que usou o Estado e as instituições supranacionais como aríete para impor a «liberdade dos mercados».

Foi esse o processo, como escrevia um dos seus defensores mais conhecidos, Milton Friedman: «Até que o politicamente impossível ser torne o politicamente inevitável.»

João Rodrigues é professor de História da Economia na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e autor do recente livro O Neoliberalismo Não é um Slogan.

Nesta conversa , com o AbrilAbril, discute-se como o politicamente inevitável pode passar à reciclagem da História.

O poeta Baudelaire dizia que o maior feito do diabo era fazer-nos crer que ele não existia. É também o grande feito do neoliberalismo?

Há muito essa inclinação, por parte dos neoliberais de dizer que a ideia de «neoliberalismo» resulta da inclinação conspirativa dos seus críticos. Ou seja que é uma invenção dos seus críticos, denegrindo aquilo que eles pretendem designar apenas como a tradição liberal.

É uma reacção recente. Há textos de Milton Friedman e de outros que chamam «neoliberalismo» a aquilo que defendiam.

Na história do neoliberalismo está muito consolidada a ideia que há vários momentos. Entre os quais, o momento em que os neoliberais aceitaram o uso da expressão «neoliberalismo» para aquilo que eles estavam a tentar fazer: reagir à crise do liberalismo clássico, adaptando esse credo a novas formas e circunstâncias intelectuais e políticas. Reconhecendo que o triunfo de uma certa forma de capitalismo requeria um certo controlo do Estado para promover o domínio dos mercados.

Uma conquista que não derivava de processos naturais expontâneos que decorriam do laissez faire e laissez passer do liberalismo clássico.

Há uma certa rejeição por parte dos autores neoliberais, a partir dos anos 30 e 40, da assunção automática do laissez faire et laissez passer, que estava em alguns clássicos do liberalismo. Pelo contrário, as novas formas de liberalismo económico teriam de ser deliberadamente instituídas pela acção pública. A construção de mercados era um processo que, longe de ser natural, era um processo que iria resultar de uma transformação política e ideológica com reflexos nos estados nacionais e a nível da integração em espaços supranacionais, que de alguma forma garantisse esse viés a favor dos mercados.

Por outro lado, há aqui uma nova argumentação a favor dos mercados: eles aparecem com uma espécie de processadores de informação sem rival, muito superiores a outras formas de coordenação económica, que poderiam existir, nomeadamente a planificação. É nesse debate que o neoliberalismo se reinventa: como uma defesa do mercado, mas como uma defesa construída a partir do papel do poder político.

Mas essa alteração do Estado que eles pedem não é muito democrática, os neoliberais tendem a não querer confiar a economia à vontade dos eleitores.

Na tradução neoliberal, de resto como na tradição liberal, procurou-se sempre proteger a economia das incursões democráticas. Os neoliberais filiam-se nessa profunda desconfiança sobre os resultados de democracia.

A democracia apareceria, para os neoliberais, como uma espécie de mercado que não funciona.

A acção colectiva democrática é um dos alvos intelectuais e políticos dos neoliberais. Têm um excesso de desconfiança na acção colectiva que pode reordenar a acção económica substituindo ou reconformando os mercados, de modo a alterar a distribuição de poderes e de recursos entre os vários grupos sociais. Daí esta verdadeira obsessão por essa imagem do capitalista enquanto empreendedor. Esta tentativa de proteger os direitos associados à propriedade privada, esta defesa da integração económica internacional e da globalização. Esta tentativa de revigorar, aquilo que Friedrich Hayek, algumas vezes, chama de convicção utópica, a possibilidade de libertar os mercados em relação a essa dependência da acção colectiva democrática.

Estado sim, mas apenas um Estado para proteger os mercados e conforme à defesa da sua expansão ilimitada.

Os neoliberais fazem até apelo a formas supranacionais para impedir que a democracia actue na esfera económica e concretamente na direcção da política monetária.

O que é muito interessante, na esfera neoliberal, é a reflexão feita depois do colapso do padrão ouro. Há aqueles que reconhecem a realidade política da moeda, mas que a sua gestão deve ser entregue a bancos centrais, tando quanto possível protegidos da influência da política democrática. Hayek é um pensador precoce na matéria, defende que se deveria entregar a condução da política monetária a uma organização supranacional. Escreve-o num famoso artigo, de 1939, sobre as condições económicas para a integração de estados nacionais.

O FORA-DA-LEI


Henrique Monteiro | Henricartoon

Portugal | Com socialismo e social-democracia assim, os liberais já ganharam

Paulo Baldaia* | Diário de Notícias | opinião

É certo que temos um governo do PS e que isso leva muita gente, principalmente na oposição de direita, a proclamar que temos um governo socialista. Mas um governo socialista cuida da máquina do Estado e, sobretudo, garante que a máquina do Estado serve com equidade todos os cidadãos. Ter um número crescente de funcionários públicos, podendo garantir uma maior satisfação da clientela partidária, não garante serviços que os utentes percecionem como consentâneos com os impostos que pagam. Para isso é necessária competência. Na gestão política, pelas apostas que cada governo faz, e na gestão dos serviços, pela forma como trata os seus trabalhadores.

Há dois negócios a florescer no privado porque o Estado é incompetente a cumprir a sua obrigação e outros dois que, sendo exclusivos da esfera pública, pela sua incompetência, contribuem para minar a autoridade do Estado. Tudo na exata medida dos interesses privados. Saúde e Educação são as duas áreas onde a má gestão tem feito com que cada vez mais contribuintes procurem o setor privado, engrossando a multidão que corre atrás do mito liberal de que pode haver verdadeira liberdade de escolha. Segurança Pública e Justiça são as áreas onde o Estado, falhando sistematicamente, mais contribuiu para a descrença no ideal do serviço público e do interesse coletivo.

Ter agora uma maioria do PS, podendo ser diferente na questão dos detalhes de um governo liderado pelo PSD, também não aquece, nem arrefece, quando se trata de olhar para um plano mais geral. Se é socialismo, pois de certeza que vão diminuindo as desigualdades sociais. Puro engano! Dados divulgados pelo Expresso no início do ano mostram que há 10% de portugueses que ficam com 25% do rendimento do país e, como naturalmente podem poupar e acumular riqueza, basta juntar os 5% mais ricos para chegar a 42% da riqueza.

O que faria um governo socialista ou social-democrata de diferente de um governo liberal perante estas circunstâncias? Reforçava a Educação Pública para aumentar a igualdade de oportunidades, valorizava os salários e recuperava a contratação coletiva, reformava a fiscalidade para a tornar mais eficaz, reforçando a progressividade. E o que é que anda a fazer o governo PS? Quanto mais apregoam o papel do Estado, mais parecem interessados em que o povo se vá desacreditando desse mesmo Estado. Quem tira cidadãos dos seguros privados de saúde e os faz regressar ao SNS, quem faz os alunos da classe média regressar à Escola Pública, nunca são o PS ou o PSD, são as crises económicas. Não tendo nada muito diferente para dizer, os liberais só pretendem acelerar este caminho, tornando irreversível esta marcha-atrás que, ainda assim, a prática governativa do PS ou do PSD vai permitindo. A Escola Pública e o SNS estão constantemente sob pressão e o Bloco Central nunca deixará desligar a máquina, porque tem uma clientela partidária que depende disto.

Socialismo e social-democracia não se podem contentar com os pequenos ganhos conseguidos em décadas de poder, têm de ser capazes de lutar por uma sociedade mais justa, onde a igualdade de oportunidades não é um slogan, mas um caminho. É obrigação de partidos herdeiros desse caminho, percorrido por Olaf Palme, lutar como ele fez para conciliar o Estado Social com a economia de mercado. O que estão a permitir que aconteça envergonha a social-democracia.

*Jornalista

Nota: Por falar em xuxalismo e neoliberalismo... Consideramos que o vídeo acima serve perfeitamente para explicar-denunciar as rasteiras, a desonestidade e o perigo que representam o Chega e o Iniciativa Liberal. Só não entenderá quem não quiser. (PG)

MARCHAS LINDAS! MAS LISBOA JÁ NÃO É LADINA NEM USA CHINELO NO PÉ

Madragoa vence Marchas Populares de Lisboa

O bairro da Madragoa venceu a edição deste ano das Marchas Populares de Lisboa, anunciou hoje a Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC), responsável pela organização da iniciativa

Alcântara ficou em segundo lugar e em terceiro Alto da Pina (vencedor em 2019), numa edição que regressou após um interregno motivado pela pandemia de covid-19.

Outros 17 grupos competiram este ano: Mouraria, Castelo, Carnide, Bela Flor — Campolide, Bairro Alto, Bairro da Boavista, Penha de França, Lumiar, Belém, Baixa, Campo de Ourique, Alfama, Ajuda, Marvila, Bica, São Vicente e Olivais.

A EGEAC deu conta em comunicado de outras distinções: Alto da Pina e Madragoa ganharam na categoria de Melhor Coreografia e o Bairro Alto a Melhor Cenografia.

O Melhor Figurino foi atribuído a Alfama e Madragoa, enquanto Penha de França e São Vicente foram premiados na categoria de Melhor Letra.

Alfama e Alto do Pina venceram na Melhor Musicalidade, enquanto a Melhor Composição Original foi atribuída a “Corte e Cose” da Penha de França.

O Melhor Desfile da Avenida foi para a marcha de Madragoa.

A Marcha Popular Vale do Açor, a convidada deste ano, abriu o desfile. Seguiu-se a Marcha Infantil das Escolas de Lisboa, em estreia na Avenida da Liberdade, e as três marchas extraconcurso: “A Voz do Operário”, Mercados e Santa Casa.

Vião | Lusa

MENTIROSOS ASSINAM COOPERAÇÃO BILATERAL NO 10 DE DOWNING STREET

Costa e Boris Johnson assinam em Londres novo quadro de cooperação bilateral pós-‘Brexit’

Os primeiros-ministros britânico e de Portugal fecham hoje, em Londres, um acordo político global para reorientar a cooperação bilateral entre os dois países, após a saída do Reino Unido da União Europeia

Esta será a primeira vez que António Costa é recebido por Boris Johnson na residência oficial do chefe do Governo britânico, o número 10 de Downing Street, e é também o primeiro encontro formal entre ambos desde o ‘Brexit’.

De acordo com fonte diplomática, no final da reunião, que tem início previsto para as 13:00 (a mesma hora em Lisboa), será assinada uma declaração conjunta que “estabelece o quadro do relacionamento entre os dois países nas áreas não cobertas pelos acordos da União Europeia”.

“A declaração abrange cinco áreas fundamentais: Política externa, defesa, comércio e investimento, ciência e inovação, e educação”, completou. 

No sábado, o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, avançou à agência Lusa que “está a ser preparado um acordo chapéu entre os dois países também com particular incidência nas alterações climáticas, em especial os oceanos”.

O Presidente da República, que esteve em Londres até sábado no âmbito das comemorações do 10 de Junho – cerimónias nas quais não esteve presente António Costa por razões de saúde -, destacou também a importância e o momento em que será fechado este acordo bilateral, precisamente quando se assinalam 650 anos do Tratado de Tagilde, que teve depois como desenvolvimento o Tratado da Aliança Luso Britânica.

De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, o acordo global a fechar com o Reino Unido, “não contradiz as regras da pertença de Portugal à União Europeia”.

“O acordo completa e mostra que Portugal pode ser uma ponte muito interessante com o aliado tradicional Reino Unido dentro da União Europeia”, sustentou o Presidente da República.

Esta linha diplomática em relação ao Reino Unido foi seguida pelo primeiro-ministro desde o ‘Brexit’.

Durante o longo e complexo processo para a saída do Reino Unido da União Europeia, António Costa procurou desempenhar um papel de moderação no conjunto dos Estados-membros europeus, procurando evitar uma rutura negocial entre o Governo de Londres e o grupo de trabalho da Comissão Europeia chefiado por Michel Barnier.

Uma saída desordenada do Reino Unido da União Europeia, de acordo com as estimativas então feitas pelo executivo de Lisboa, colocaria em risco parte da comunidade portuguesa residente naquele país, estimada em cerca de meio milhão, dificultaria a deslocação de turistas britânicos a Portugal e introduziria perturbações nas fortes relações bilaterais ao nível comercial e financeiro.

No programa do XXII Governo Constitucional, o segundo liderado António Costa, foi acentuado o objetivo de Portugal concretizar uma negociação com o Reino Unido, tendo em vista “uma relação futura tão próxima e profunda quanto possível” após o ‘Brexit’.

Esse mesmo objetivo estará em cima da mesa na reunião de hoje entre os primeiros-ministros do Reino Unido e de Portugal.

Visão

Eleições em França: Coligação de esquerda a “roer os calcanhares” de Macron

Por menos de uma décima. Macron vence primeira volta, com Esquerda logo atrás

A coligação de Macron venceu a primeira volta das eleições em França com 25,75%. A coligação de esquerda Nova União Popular Ecologista e Social (Nupes) vem logo a seguir, com 25,66% dos votos.

A coligação do partido do Presidente Emmanuel Macron ganhou, este domingo, a primeira volta das eleições legislativas em França, ficando em segundo lugar a coligação de esquerda.

De acordo com os resultados finais divulgados esta noite, a coligação Ensemble!, de Emmanuel Macron, obteve 5.857.557 votos (25,75%), seguida de perto pela coligação de esquerda Nova União Popular Ecologista e Social (Nupes), com 5.836.116 votos (25,66%). Significa que apenas 21.441 votos separam as duas coligações, nas eleições de domingo.

Segundo os dados do Ministério do Interior de França, em terceiro lugar ficou a União Nacional, de Marine Le Pen, extrema-direita, com 4.248.600 votos (18,68%).

Na quarta posição, com 2.370.882 votos (10,42%), ficaram os republicanos, e em quinto lugar, com 964.865 votos (4,24%), o Reconquista!, um partido de extrema-direita.

Mais de 6 mil candidatos, com idades compreendidas entre os 18 e os 92 anos, concorreram domingo para 577 lugares na Assembleia Nacional francesa, na primeira volta das eleições, um sistema de votação em duas voltas complexo e não proporcional ao apoio nacional a um partido.

A afluência às urnas foi a mais baixa numas eleições parlamentares, com 52,49% de abstenção.

TSF | Lusa

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