quinta-feira, 30 de junho de 2022

O verdadeiro terrorismo de estado é a militarização de áreas residenciais de Kiev

Andrew Korybko* | One World

A disputa sobre quem é o culpado pelo que acabou de acontecer em Kremenchuk leva à questão mais ampla sobre o que exatamente constitui terrorismo de Estado no conflito ucraniano.

#Traduzido em português do Brasil

Zelensky acusou a Rússia do chamado “ terrorismo de estado ” depois que um incêndio em um dos shoppings de Kremenchuk que ele alegou ter sido causado por mísseis de seu oponente teria matado 18 pessoas até agora. O Ministério da Defesa da Rússia respondeu rapidamente , revelando que seu país realmente atingiu um estoque de armas localizado próximo a esse shopping, o que fez com que as munições escondidas explodissem e criassem um incêndio que se espalhou para o que descreveu como local não operacional. A disputa sobre quem é o culpado pelo que acabou de acontecer leva à questão mais ampla sobre o que exatamente constitui o terrorismo de Estado no conflito ucraniano .

Kiev, é claro, acredita que todos os danos colaterais que a Rússia inadvertidamente causa à infraestrutura civil se qualificam como tal, enquanto a posição de Moscou é que a militarização de áreas residenciais de seu oponente é o que é verdadeiramente terrorismo de estado. Se a Rússia estivesse realmente realizando o chamado “genocídio” no Donbass e na Ucrânia, então apenas bombardearia suas cidades em vez de arriscar a vida de suas tropas fazendo com que travassem batalhas rua a rua contra os militantes que estão detidos em áreas residenciais lá. Além disso, se quisesse “aterrorizar” os ucranianos, poderia simplesmente bombardear aqueles nas praias de Kiev.

Com base nesse último ponto, é revelador que os ucranianos na capital estão tão calmos em meio ao suposto “genocídio” da Rússia de seu próprio povo em outras partes do país que se aglomeraram nas praias de suas cidades no rio Dnieper durante todo este mês. Esta não é a atitude de um povo que está passando por um chamado “Segundo Holocausto”, como a Western Mainstream Media (MSM) liderada pelos EUA tem ridiculamente implícito, mas de pessoas que genuinamente se sentem seguras porque não pensam seriamente que A Rússia vai “aterrorizá-los” bombardeando um monte de famílias na praia como faria se estivesse “genocidando-os”.

Angola | Retrato de uma Vigarice Cozinhada na Capoeira – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O livro “Vigarices & Sacanices” foi publicado na extinta e saudosa editora Centelha, colecção Coisas do Carvalho, em 1985, já lá vão 37 anos. Infelizmente, não teve leitores mas esse é o destino da mercadoria que não cumpre as regras do difícil comércio das palavras. Nessa altura, de Angola, só incluí dois escroques que roubaram milhões a alguns colonos ricaços, vendendo-lhes cheques visados em escudos da “metrópole” ao preço da batata de Vila Flor (Ekunha).

Indirectamente, também entrou na obra de tese, dedicada a Mário Soares por tudo o que deu à causa, o soberbo vigarista Alves dos Reis, proprietário do Banco Angola Metrópole e que fez dinheiro verdadeiro, sem autorização dos ladrões de Lisboa, para salvar a colónia da bancarrota. Notas de mil ao preço da chuva!

O Príncipe Potemkine também teve a honra de figurar no livro. Se algumas e alguns analistas, professoras e professores de ralações internacionais, coronéis recrutas e generais faxineiros portugueses lessem esse capítulo, não diziam tantos disparates sobre a Ucrânia e saberiam que a “Crimeia” foi criada por ele, desde Odessa a Sebastopol, passando pela região do Dombass com suas cidades e cearas de trigo. Tudo aquilo era um deserto que o espantoso governante e amoroso vigarista transformou no paraíso, para agradar à sua amada Catarina, a Grande, a Imensa, a Inigualável.

Já me passou pela cabeça fazer uma segunda edição do fracassado produto incluindo apenas vigaristas e sacanas de Angola, actuando entre Setembro de 1992 e 2022. Mas já não tenho tempo de vida para escrever umas cinco mil páginas, para mais nunca para menos. Assim, para alertar os incautos e dedicando cada prosa ao Adalberto Costa Júnior, Abel Chivvukuvuku e Filomeno Vieira Lopes, vou revelando o “retrato paga já” de algumas e alguns. Já vos contemplei com a Mihaela Webba, empenada filha da Josefa Neto e do José Webba, acérrimos defensores do regime de Ceausescu, o ditador romeno.

Moçambique | Prisão preventiva sem prazos é "grave violação dos direitos humanos"

Alteração do Código Penal permite que indivíduos sejam detidos preventivamente, sem saberem por quanto tempo. Presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados associa a mudança às "dívidas ocultas".

A alteração do Código Penal em Moçambique permite que indivíduos fiquem detidos, mesmo sem condenação final, sem que lhes seja dito por quanto tempo.

Mas um outro aspeto intriga. Desconfia-se que esta alteração da lei penal seja um expediente político para que os acusados no caso das "dívidas ocultas" continuem detidos, embora os prazos de detenção tenham expirado, de acordo com o Jornal Evidências.

Ferosa Zacarias, presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados de Moçambique, acredita que "o legislador está apenas a olhar para questões políticas e não para questões de legalidade". Isto porque, segundo Zacarias, a falta de prazos para prisão preventiva "é uma grave violação dos direitos humanos”.

DW África: Com a supressão dos prazos de prisão preventiva, estamos perante uma violação aos direitos humanos no país?

Ferosa Zacarias (FZ): É uma grave violação aos direitos humanos porque é importante que cada cidadão saiba porquê e por quanto tempo vai ser restringida a sua liberdade. E não é o que acontece agora com essa nova revisão.

Autoridades exumam corpos de pessoas enterradas vivas por populares

MOÇAMBIQUE

As autoridades moçambicanas vão exumar esta segunda-feira (27.06) cinco dos corpos das sete pessoas enterradas vivas por populares na província de Maputo. Vítimas foram acusadas de roubo de gado pela população.

"As vítimas foram enterradas no distrito de Maluana, mas lá para o interior, no seu limite com distrito de Muamba", avançou o chefe do Posto Administrativo de Maluana, Juvenal Sigauque, citado pela Rádio Moçambique (RM).

Em causa está o caso de sete pessoas, incluindo três agentes da polícia moçambicana, enterradas vivas por populares na província de Maputo na semana passada, acusados de roubo de gado.

Segundo o chefe do Posto Administrativo de Maluane, os trabalhos para exumação de pelo menos cinco corpos começam esta segunda-feira (26.06), mas há outros dois corpos que foram enterrados num local ainda desconhecido.

"Uma parte da família das vítimas juntou-se à polícia para identificação do local", acrescentou Juvenal Sigauque.

 As vítimas foram torturadas pela população e enterradas vivas, acusadas de pertencerem a um grupo que rouba gado no distrito de Muamba, na província de Maputo.

"O caso ocorreu no dia 20 [segunda-feira], quando um criador de gado notou que havia invasores no seu curral. Ele chamou a população e os supostos meliantes foram amarados e enterrados vivos", explicou Juvenal Sigauque à comunicação social, na sexta-feira.

A Polícia da República de Moçambique destacou uma equipa para investigar o caso, mas três dos seus agentes também foram amarrados, torturados e enterrados vivos pela população.

"A Polícia dirigiu-se à zona na perspetiva de ir identificar o local onde os corpos dos supostos meliantes estavam enterrados e tentar esclarecer o assunto. Na sequência disso, a comunidade terá confundido os agentes da polícia com os meliantes", declarou Juvenal Sigauque.

Deutsche Welle | Lusa

Angola | A FESTA NO BAIRRO TCHIZAINGA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A festa das eleições em Saurimo foi uma vitória estrondosa antes da contagem dos votos. Aviso já o PRS e a UNITA que se cuidem porque pela amostra, ficam sem representação parlamentar nas províncias do Leste. Aquilo Foi muita txianda. Palmas, uculé,uculé, entrou o txingufo, bateria infinitiva, e mucupela. Músicos, bailarinas, cânticos de louvor ao MPLA. Sabem o que significou aquela multidão em festa? O povo que apoiou a guerrilha do MPLA. O facho ainda tem a chama bem acesa, muito viva. O Galo Negro também esteve no Leste, porque alugou as armas à PIDE e às tropas de ocupação. Esses já partiram todos, há muitos anos, Não ficou ninguém para apoiar a Frente Podre da UNITA (FPU).

A festa aconteceu à vista do Bairro Tchizainga. Ninguém explicou que sítio é esse. O seu patrono tem uma História fabulosa. Comandante Celestino Bernardo (Tchizainga). Lutou contra o colonialismo de armas na mão. Perdeu um braço em combate. Foi patenteado major quando as FAPLA passaram a Forças Armadas Nacionais. Tchiza! Tchiza! Ele só com um braço conduzia melhor do que Sir Lewis Hamilton! Um grande comandante. Um libertador, um construtor da Pátria Angolana. 

A UNITA que apresente um só militante ou dirigente que tenha combatido de armas na mão pela Independência Nacional. Não pode. No Galo Negro só há os que combateram para impedir que Angola fosse independente. Como falharam, bateram-se de armas na mão, disparando contra no Povo Angolano, ao lado dos racistas sul-africanos. Lutaram para que Angola fosse uma colónia dos racistas! Nós temos milhares e milhares de Tchizainga. A festa daas eleições em Saurimo foi uma homenagem à gesta heroica da Luta Armada de Libertação Nacional na Frente Leste.

A festa também entrou na História de Angola Contemporânea, quando o Presidente João Lourenço anunciou a construção de um ramal ferroviário até Saurimo, colocando a capital da Lunda Sul no Corredor do Lobito. No Caminho-de-Ferro de Benguela. A Lunda Sul no caminho do desenvolvimento. Imparável. Este ramal está pensado e em projecto desde 1926. Quase há cem anos. O MPL tirou-o da gaveta. Como libertou o Canal do Cafu. Um sonho acalentado pelo coronel Artur de Paiva, em 1890, mas nunca concretizado. Agora já mata a sede a pessoas e animais. Ninguém trava o MPLA.

Angola | A LUTA EM TORNO DA SAÚDE DE EDUARDO DOS SANTOS


Enquanto piora o estado de saúde de Eduardo dos Santos, parecem agravar as desavenças entre a família e o Governo angolano. João Lourenço diz acompanhar de perto a situação, mas filha fala em aproveitamento político.

O ex-chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, continua em estado crítico. Internado numa clínica em Barcelona e em estado de coma, depois de ter sofrido uma queda, o antigo estadista está ligado a máquinas. 

O Presidente João Lourenço disse esta quarta-feira (29.06) que a situação de saúde do seu antecessor é "preocupante" e garantiu que tem estado em contacto com a família de Eduardo dos Santos para acompanhar o desenvolvimento da situação.

"Só as equipas médicas é que poderão dar mais informações", referiu João Lourenço em declarações aos jornalistas, em Lisboa.

Mas em entrevista à DW, Tchizé dos Santos, uma das filhas de Eduardo dos Santos, acusa João Lourenço de querer retirar dividendos políticos, dizendo que autoridades angolanas se "apoderaram" do antigo chefe de Estado.

"Toda a segurança que está naquela moradia é afeta à Presidência da República. São militares ao serviço de João Lourenço. O médico é um militar ao serviço de João Lourenço."

O ANTES E O DEPOIS NO PORTUGAL DOS GOVERNANTES PEQUENINOS

Susana Charrua | opinião

Antes. Foi anunciado pelo governo que “O ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, anunciou ontem, dia 29 de junho, um despacho sobre a solução dos aeroportos que indicava que iria avançar não um, mas dois projetos. Um no Montijo, outro em Alcochete”.

Depois. A meio da manhã de hoje nova notícia: “Menos de 24 horas depois, António Costa desautorizou o ministro revogando o despacho e indicando que "a solução tem de ser negociada e consensualizada com a oposição", abrindo caminho a uma possível crise governativa”.

Devido à barafunda evidenciada o PM Costa diz que é com o ministro Pedro Nuno Santos demitir-se ou não… Muitos portugueses, da esquerda, neutros e à direita, concordam que Pedro Nuno Santos se deve demitir. Porém, uma parcela muito significativa desses e de outros portugueses considera que também António Costa se deve demitir e levar consigo, por arrasto, o actual governo.

O que é mais que evidente é que este governo está a prestar um mau desempenho e que a embriaguez de o PS ter obtido maioria parlamentar vem uma vez mais provar aos eleitores que as maiorias resultam em flagrantes governações com muito resquícios ditatoriais e, consequentemente, muito menos democráticas e de abandono de tomadas de medidas governativas justas que protejam os portugueses de vidas de grandes sacrifícios, de desigualdades, de grande pobreza e de fome.

Portugal | ATAQUE AO AEROPORTO. TROCAS & BALDROCAS DO PODER NÉSCIO

Costa desautoriza Pedro Nuno. Primeiro-ministro "desconhecia" despacho sobre novo aeroporto

O primeiro-ministro mantém que vai esperar pela tomada de posse de Luís Montenegro. Fonte do Governo diz ao Expresso que o primeiro-ministro foi apanhado de surpresa pela publicação do despacho por Pedro Nuno Santos. Comunicado do gabinete de Costa reforça que decisoes só serão tomadas com a informação prévia de Marcelo Rebelo de Sousa

O primeiro-ministro, António Costa, determinou esta quinta-feira a revogação do despacho publicado na quinta-feira sobre a solução aeroportuária para a região de Lisboa e reafirmou que quer uma negociação e consenso com a oposição sobre esta matéria. Fonte do Governo diz ao Expresso que o primeiro-ministro "desconhecia o despacho" publicado na quarta-feira e "apanhado de surpresa" na cimeira da NATO. De acordo com a mesma fonte, a decisão de António Costa foi a de esperar pela tomada de posse de Luís Montenegro, anunciada na quarta-feira passada no Parlamento, no debate de política geral.

A informação de que o primeiro-ministro tinha decidido pela revogação do despacho foi prestada em comunicado às redacções depois de ontem, o ministro das Infraestruturas ter defendido a decisão do Governo, dizendo que o PSD se tinha "posto de fora" da solução.

“O primeiro-ministro determinou ao Ministério das Infraestruturas e da Habitação a revogação do despacho ontem [quarta-feira] publicado sobre o novo aeroporto da região de Lisboa”, lê-se num comunicado hoje divulgado pelo gabinete de António Costa.

No comunicado, o primeiro-ministro “reafirma que a solução tem de ser negociada e consensualizada com a oposição, em particular com o principal partido da oposição e, em circunstância alguma, sem a devida informação prévia ao Presidente da República”.

Esta última frase dá nota de uma contradição que ontem surgiu depois de o Presidente da República ter dito que precisava de mais detalhes sobre a decisão. Questionado sobre isto na RTP, Pedro Nuno Santos começou por dizer que a relação com o Presidente da República "era óptima". "Foi sempre havendo conversas", com Marcelo Rebelo de Sousa, disse. Mas informou o Presidente do que ia anunciar hoje? "Hoje não. Não informo o senhor Presidente de todas as decisões que vamos tomando no Ministério das Infraestruturas."

No comunicado do gabinete do primeiro-ministro, Costa termina dizendo que "compete ao primeiro-ministro garantir a unidade, credibilidade e colegialidade da ação governativa. O primeiro-ministro procederá, assim que seja possível, à audição do líder do PSD que iniciará funções este fim de semana para definir o procedimento adequado a uma decisão nacional, política , técnica , ambiental e economicamente sustentada”, acrescenta-se no comunicado.

Liliana Valente | Expresso | Imagem: Pedro Nuno Santos com António Costa // Tiago Miranda

Portugal | ANDA COMIGO VER OS AVIÕES

Tanta polémica, tantos euros em "estudos", tanta má governação. Porque não o aeroporto em Beja?

Pedro Candeias, jornalista, editor de Sociedade | Expresso Curto

Olá, e uma pergunta: a quem serve melhor uma maioria absoluta? Ora, é simples: uma maioria absoluta serve precisamente os interesses do titular da maioria absoluta que fica desobrigado das negociações típicas nas maiorias relativas, avançando sem cedências e/ou chumbos parlamentares.

Isto é bastante útil quando, vá, um dia se decide construir um aeroporto auxiliar no Montijo, primeiro, um novo aeroporto em Alcochete, depois, enquanto se prepara o fim do aeroporto lisboeta atual. Uma deliberação legitimada pelas eleições, que dispensou consultas e pré-avisos à oposição, aos antigos parceiros da geringonça e até ao Presidente da República.

Há um subtexto aqui: antes das legislativas, o PS precisaria sempre do apoio do PSD para mudar uma lei segundo a qual a construção de uma nova infraestrutura assim necessitaria de um parecer favorável de todas as câmaras municipais dos concelhos “potencialmente afetados”.

Agora, o PS só precisa do PS para seguir em frente, rumo ao Montijo e mais além, se e quando o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) der o ok na Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) até final do ano; posta de lado ficou a AAE que estava nas mãos do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT).

Cronologicamente, se tudo correr de feição a Pedro Nuno Santos, a pista complementar do Montijo ficará operacional em 2026 e o novíssimo aeroporto de Alcochete em 2035.

Obviamente, houve reações.

Os partidos políticos ignorados pelo Governo sentiram-se despeitados: Rui Rio disse “nunca ser boa ideia mudar uma lei sozinho”, o Bloco de Esquerda pediu “explicações”, o Livre falou em “desorientação” e o Chega em “desrespeito”, o PAN usou a imagem do “rolo compressor da maioria absoluta” e a IL pediu “escrutínio”. Marcelo foi cauteloso, afirmando precisar de perceber os “pormenores políticos, jurídicos e técnicos da solução” antes de a poder comentar. Os autarcas de Montijo, Alcochete e Seixal deram respostas diferentes e os ambientalistas responderam em uníssono: é uma “esquizofrenia enorme” e uma “delapidação do património natural cada vez mais ameaçado”.

Entretanto, os aviões passam. Quer dizer, mais ou menos.

“O país mais violento do mundo conseguiu negociar a paz, ao contrário da Europa”

Organizado pela Fundación Yuste, na Extremadura, em torno do centenário de Saramago, o encontro reuniu académicos, tradutores e escritores, entre eles o nicaraguense Sérgio Ramírez e a colombiana Laura Restrepo.

Foi uma muito emocionada escritora Laura Restrepo, colombiana, e um menos optimista prémio Cervantes, o escritor nicaraguense Sérgio Ramírez, que se reuniram no encontro «Diálogos Ibéricos: um minuto, um século», organizado pela Fundação Yuste, na Extremadura (Espanha). O debate dos dois escritores latino-americanos, em torno da obra e do activismo humanitário de José Saramago, aconteceu na segunda-feira, dia 27 de Junho, nos claustros do Mosteiro de Yuste, com a moderação do jornalista do Babelia, suplemento cultural do El País.

Profundamente admiradores de José Saramago, ambos travaram conhecimento com a obra do Nobel português, através do livro Evangelho Segundo Jesus Cristo. Curiosamente o livro que levou ao exílio voluntário de Saramago em Lanzarote, depois do ver o seu nome excluído por um governante do PSD (mais recentemente do Chega) da selecção de um prémio europeu.

O autor de ¿Te dio miedo la sangre? (1978), Sérgio Ramírez, teve de abandonar por algum tempo a carreira literária para se incorporar na revolução sandinista, que derrotou a ditadura de Somoza. Ramírez assumiu, posteriormente, durante 5 anos, a vice-presidência da Nicarágua.

«A esquerda tem de ser ética e democrática. Se se tira a liberdade deixa de ser esquerda e torna-se uma ditadura, como qualquer outra», afirma, acrescentando que «Saramago veria com esperança o que se passa na Colômbia e com muita tristeza o bolsonarismo do Brasil».

O ENCOLHIMENTO DO OCIDENTE -- Boaventura

#Publicado em português do Brasil

Fracasso na guerra contra a Rússia pode acelerar um longo declínio. Mas com ele vêm arrogância e ambições irreais. E há perigo à frente – porque os impérios não se admitem nem como espaços subalternos, nem em relações igualitárias

Boaventura de Sousa Santos | Outras Palavras

O que os ocidentais designam por Ocidente ou civilização ocidental é um espaço geopolítico que emergiu no século XVI e se expandiu continuamente até ao século XX. Na véspera da Primeira Guerra Mundial, cerca de 90% do globo terrestre era ocidental ou dominado pelo Ocidente: Europa, Rússia, as Américas, África, Oceânia e boa parte da Ásia (com parciais excepções do Japão e da China). A partir de então o Ocidente começou a contrair: primeiro com a revolução Russa de 1917 e a emergência do bloco soviético, depois, a partir de meados do século, com os movimentos de descolonização. O espaço terrestre (e logo depois, o extraterrestre) passou a ser um campo de intensa disputa. Entretanto, o que os ocidentais entendiam por Ocidente foi-se modificando. Começara por ser cristianismo, colonialismo, passando a capitalismo e imperialismo, para se ir metamorfoseando em democracia, direitos humanos, descolonização, auto-determinação, “relações internacionais baseadas em regras” – tornando sempre claro que as regras eram estabelecidas pelo Ocidente e apenas se cumpriam quando servissem os interesses deste – e, finalmente, em globalização.

Em meados do século passado, o Ocidente havia encolhido tanto que um conjunto de países recém-independentes tomou a decisão de não se alinhar nem com o Ocidente nem com o bloco que emergira como seu rival, o bloco soviético. Assim se criou, a partir de 1955-61, o Movimentos dos Não-Alinhados. Com o fim do bloco soviético em 1991, o Ocidente pareceu passar por um momento de entusiástica expansão. Foi o tempo de Gorbatchev e o seu desejo de a Rússia integrar a “casa comum” da Europa, com o apoio de Bush pai, um desejo reafirmado por Putin quando assumiu o poder. Foi um período histórico curto, e os acontecimentos recentes mostram que, entretanto, o “tamanho” do Ocidente sofreu uma drástica contração. No seguimento da guerra da Ucrânia, o Ocidente decidiu, por sua própria iniciativa, que só seria ocidental quem aplicasse sanções à Rússia. São neste momento cerca de 21% dos países membros da ONU, o que não chega a ser 15% da população mundial. A continuar por este caminho, o Ocidente pode mesmo desaparecer. Várias questões se levantam.

Contração é declínio? Pode pensar-se que a contração do Ocidente o favorece porque lhe permite focar-se sobre objetivos mais realistas com mais intensidade. A leitura atenta dos estrategas do país hegemônico do Ocidente, os EUA, mostra, pelo contrário, que, sem aparentemente se darem conta da flagrante contração, mostram uma ambição ilimitada. Com a mesma facilidade com que preveem poder reduzir a Rússia (a maior potência nuclear) a uma ruína ou a um Estado vassalo, preveem neutralizar a China (a caminho de ser a primeira economia mundial) e provocar em breve uma guerra em Taiwan (semelhante à da Ucrânia) com esse objetivo. Por outro lado, a história dos impérios mostra que a contração vai de par com declínio e que esse declínio é irreversível e implica muito sofrimento humano.

Caitlin Johnstone: UCRÂNIA ENGATINHANDO COM CIA E COMPANHIA

 #Publicado em português do Brasil

A ideia anteriormente impensável de que os EUA estão em guerra com a Rússia foi gradualmente normalizada, com o calor aumentando tão lentamente que o sapo não percebe que está sendo fervido vivo.

Caitlin Johnstone* | Consortium News

O New York Times relata que a Ucrânia está repleta de forças especiais e espiões dos EUA e seus aliados, o que parece contradizer relatos anteriores de que o cartel de inteligência dos EUA está tendo problemas para obter informações sobre o que está acontecendo na Ucrânia.

Isso também, obviamente, colocaria o prego final no caixão da alegação de que esta não é uma guerra por procuração dos EUA.

Em um artigo intitulado “ A Rede de Comandos Coordena o Fluxo de Armas na Ucrânia, Dizem os Funcionários ”, funcionários ocidentais anônimos nos informam o seguinte por meio de seus estenógrafos no The New York Times :

“À medida que as tropas russas avançam com uma campanha opressiva para tomar o leste da Ucrânia, a capacidade do país de resistir ao ataque depende mais do que nunca da ajuda dos Estados Unidos e seus aliados – incluindo uma rede furtiva de comandos e espiões correndo para fornecer armas, inteligência e treinamento, de acordo com autoridades americanas e europeias.

Grande parte desse trabalho acontece fora da Ucrânia, em bases na Alemanha, França e Grã-Bretanha, por exemplo. Mas mesmo que o governo Biden tenha declarado que não enviará tropas americanas para a Ucrânia, alguns funcionários da CIA continuaram a operar no país secretamente, principalmente na capital, Kyiv, direcionando grande parte das enormes quantidades de inteligência que os Estados Unidos estão compartilhando com Forças ucranianas, de acordo com funcionários atuais e antigos.

Ao mesmo tempo, algumas dezenas de comandos de outros países da OTAN, incluindo Grã-Bretanha, França, Canadá e Lituânia, também estão trabalhando dentro da Ucrânia”.

Ex-oficial do serviço secreto da Ucrânia denuncia crimes do regime de Kiev

– “Ao longo de oito anos após o golpe da Praça Maidan, milhares de crimes de guerra foram cometidos pelas forças de segurança ucranianas contra civis”, afirma o tenente-coronel Vasily Prozorov.

Vassily Prozorov -- entrevistado por Hora do Povo

Em entrevista exclusiva à Hora do Povo, Vasily Prozorov, tenente-coronel do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) – onde atuou de 1999 até o final de 2017 –, falou sobre o que o governo da Ucrânia e os media subordinados a Washington escondem:   o caráter antidemocrático do regime de Kiev, com perseguições políticas, assassinatos, crimes de guerra e bombardeios a alvos civis, e a ascensão de grupos neonazistas

Enquanto oficial do serviço secreto ucraniano, foi testemunha da interferência dos Estados Unidos no golpe de estado de 2014, da ajuda do novo governo para a formação de milícias neonazistas e da perseguição e assassinatos contra jornalistas e políticos da oposição.

Atualmente, Vasily Prozorov mantém o site Ukraine Leaks (ukr-leaks.com) onde divulga documentos secretos do governo ucraniano e do SBU que comprovam os crimes que ele denuncia. O ex-agente escreveu e publicou dezenas de artigos sobre a formação e a atuação de grupos neonazistas na Ucrânia, que podem ser encontrados em seu site.

Abaixo a íntegra da entrevista:

Hora do Povo– Qual era sua função dentro do SBU? Como membro da Inteligência, qual foi sua participação nos conflitos do Donbass?

Vasily Prozorov- A partir de 1999, eu fui funcionário do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU). Durante muito tempo trabalhei em unidades operacionais, em particular nas unidades de combate à corrupção e ao crime organizado. Desde abril de 2014, comecei a trabalhar no Centro Antiterrorista do SBU, que dirigiu a chamada Operação Antiterrorista (ATO) no Donbass. Trabalhei lá até o final de 2017.

Desde abril de 2014, voluntariamente, por motivos ideológicos, comecei a cooperar com os serviços especiais da Rússia, pois queria lutar a qualquer custo contra aqueles que chegaram ao poder em Kiev em fevereiro de 2014.

No quartel-general do Centro Antiterrorista do Conselho de Segurança da Ucrânia, fui oficial de ligação com outras estruturas policiais e estatais, o que me permitiu receber informações de vários serviços e departamentos especiais da Ucrânia. A informação obtida desta forma, eu transmitia para Moscou.

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