sábado, 9 de julho de 2022

A PERIGOSA OPOSIÇÃO DOS EUA À INTEGRAÇÃO EURO-ASIÁTICA

#Traduzido em português do Brasil

Vijay Prashad | Tricontinental: Instituto de Pesquisa Social| em Consortium News

Washington e seus aliados buscam permanecer hegemônicos e enfraquecer a China e a Rússia ou erguer uma nova Cortina de Ferro em torno desses dois países, escreve  Vijay Prashad. Ambas as abordagens podem levar a um conflito militar suicida.

Ao longo dos últimos 15 anos, os países europeus encontraram-se com grandes oportunidades a aproveitar e escolhas complexas a fazer.

A dependência insustentável dos Estados Unidos para comércio e investimento, bem como a curiosa distração do Brexit, levaram à integração constante dos países europeus com os mercados de energia russos e a uma maior aceitação das oportunidades de investimento chinês e suas proezas manufatureiras.

As ligações mais estreitas entre a Europa e esses dois grandes países asiáticos, China e Rússia, provocaram a agenda dos Estados Unidos para impedir essa integração ou adiá-la. Essa agenda, agora aprofundada durante a recente reunião do Grupo dos 7 (G7)  na Alemanha e a cúpula da  Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)   na Espanha, está criando uma situação perigosa para o mundo.

Isso remonta à crise financeira de 2007-2008, que foi estimulada pelo colapso do mercado imobiliário dos EUA e de várias instituições financeiras importantes dos EUA. A crise sinalizou para o resto do mundo que o sistema financeiro centrado nos EUA não era confiável. Os EUA não poderiam continuar sendo o mercado de último recurso para as commodities do mundo.

Os países do G7 – que se viam como os guardiões do sistema capitalista global –  imploraram  aos estados fora de sua órbita, como China e Índia, que colocassem seus excedentes no sistema financeiro ocidental para evitar seu colapso total.

Em troca desse serviço, os países fora do G7 foram informados de que, doravante, o G20 seria o órgão executivo do sistema mundial e o G7 se dissolveria gradualmente. No entanto, quase 20 anos depois, o G7 permanece no lugar e se arrogou o papel de líder mundial, com a OTAN – o cavalo de Tróia dos EUA – agora se posicionando como a polícia do mundo.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg,  disse  que a organização passará pela maior revisão de sua “dissuasão e defesa coletiva desde a Guerra Fria”.

Os estados membros da OTAN, agora com a adição da Finlândia e da Suécia,  expandirão  suas “forças de alta prontidão” de 40.000 soldados para 300.000 que, equipados com uma gama de armamento letal, estarão “prontos para desdobrar em territórios específicos no leste da aliança flanco”, ou seja, a fronteira russa. O novo chefe do Estado-Maior do Reino Unido, general Sir Patrick Sanders,  disse  que essas forças armadas devem se preparar para “lutar e vencer” em uma guerra contra a Rússia.

A GUERRA PERMITE CLAREZA

Na América (EUA) – como na Europa – há medo e raiva perante a desintegração do sistema.

Alastair Crooke [*]

O naufrágio do comboio é esperado há tanto tempo que nos sentimos confortáveis a viver sob a sua sombra. A vida continuava; os mercados estavam optimistas de que o subsídio ao estilo de vida do mercado fornecido pelos Bancos Centrais continuaria inalterado. E também não sem uma boa razão: Qualquer desapontamento dos operadores com a acção do Banco Central, qualquer queda nos mercados, provocava um ataque coletivo do mercado que, normalmente, forçava os Bancos Centrais a um apaziguamento imediato. Era-nos difícil imaginar de forma diferente.

Agora, porém, estamos numa nova era, em muitos aspectos. O Ocidente entrou numa guerra com a Rússia e a China. O Ocidente, contudo, não fez primeiro o seu trabalho de casa, e agora está a descobrir que a “guerra” está a revelar cruelmente a rigidez estrutural e as falhas inerentes ao seu próprio sistema económico, em vez de minar as fraquezas dos seus rivais.

Porque é que esta nova era é tão grave? Em primeiro lugar, por causa do que está “por debaixo das pedras”. Estas contradições estruturais têm vindo a acumular-se ao longo de décadas, à espreita no lado escuro e húmido das pedras. Mantido escondido da vista pelo afortunado resultado económico (para os EUA) da Segunda Guerra Mundial, e pela combinação igualmente afortunada de factores que mantinham a inflação baixa (tão baixa que os economistas ocidentais acreditavam ter encontrado o “Santo Graal” da “flexibilização” monetária – tinham banido as recessões para sempre). Tão simples, realmente, basta ligar a impressora de dinheiro!

A soberba prevaleceu. Era magia: uma ‘nova economia’. E depois, inadvertidamente, a Equipa Biden deu um chuto nas pedras na sua ânsia de reduzir o tamanho da Rússia (instigando sanções e roubando as reservas estrangeiras da Rússia). E a inflação foi a serpente debaixo da rocha. Longa latente, invisível, mas sempre presente. E já não apenas uma serpente, mas agora muitas.

E depois descobriram que estavam a travar a guerra errada: A Ucrânia foi concebida como a guerra urbana que os treinadores americanos e da NATO tinham absorvido dos jihadistas que combatiam o Presidente Assad na Síria. Mas a Rússia conhecia bem este tipo de guerra – não mordeu o isco; em vez disso, travou uma guerra de artilharia clássica (na qual a Rússia se tem distinguido tradicionalmente).

Assim, as serpentes da inflação – numa época de xeque-mate económico estrutural – são afrouxadas, como sempre acontece na guerra. E à medida que as pressões aumentam, “coisas” e pessoas são atiradas para debaixo de um autocarro. A “guerra” torna a situação mais clara: Torna-se muito claro qual a bagagem que deve ir borda fora para salvar a embarcação.

Salvar a embarcação, é claro, é imperativo. Assim, a América decidiu cuidar dos “seus”. O plano de Davos-Bruxelas de eventualmente converter os bancos comerciais europeus sobre-endividados numa moeda digital única, controlada por Bruxelas, é visto – como se as escamas tivessem caído dos olhos – como potencialmente ameaçador de perfurar o casco abaixo da linha de água.

UMA CRISE ALIMENTAR OCULTA ESPREITA NA AMÉRICA LATINA

GENEBRA - Na América Latina e no Caribe há uma crise oculta, a de quase 10 milhões de pessoas que não têm acesso aos alimentos de que necessitam, e esse número pode chegar a 14 milhões este ano, disse o Programa Mundial de Alimentos (PMA). . ) em entrevista coletiva.

Lola Castro, diretora regional do PMA, disse que “o efeito dominó dos fenômenos climáticos, a pandemia em curso e a crise alimentar, energética e financeira ligada à guerra na Ucrânia, deixaram 9,7 milhões de pessoas em necessidade urgente. de ajuda alimentar, apenas nos 13 países em que trabalhamos”.

"Uma crise oculta está se aproximando que, sem dúvida, afetará milhões de pessoas na região e fora dela", acrescentou Castro.

Segundo dados do PAM, dos 2,3 bilhões de pessoas que vão dormir todas as noites com fome ou sem comida suficiente para levar uma vida normal, 11% estão na América Latina e no Caribe.

“No auge da pandemia, a grave insegurança alimentar afetou 176,2 milhões de pessoas na região, apenas nos 13 países onde trabalhamos”, disse Castro, mas esse número caiu para 8,3 milhões no final de 2021, como mostra a região sinais de recuperação.

No entanto, com o cenário mais adverso este ano, nos 13 países (na América Central, Cuba, Haiti e região andina) o número de pessoas que precisam de ajuda alimentar urgente pode chegar a 13,3 milhões este ano, segundo o PMA.

Para essa agência das Nações Unidas, a principal preocupação é o fato de que milhões de pessoas não podem ter acesso a uma cesta básica adequada. Por exemplo, só nos últimos meses, o custo de uma tonelada de produtos alimentícios aumentou 54% na região.

HÁ MAIS 71 MILHÕES DE POBRES EM APENAS TRÊS MESES

NAÇÕES UNIDAS - A crise global do custo de vida, intensificada pela guerra na Ucrânia, empurrou 71 milhões de pessoas nos países em desenvolvimento para a pobreza em apenas três meses, afirmou o Programa das Nações Unidas em relatório divulgado nesta quinta-feira. (PNUD).

Achim Steiner, administrador do PNUD, disse que "esta crise do custo de vida está empurrando milhões de pessoas para a pobreza e até a fome a uma velocidade vertiginosa, com a ameaça de mais agitação social crescendo a cada dia".

O impacto desta crise na pobreza é notavelmente mais rápido do que o da pandemia de covid-19, desencadeada no início de 2020, segundo o relatório do PNUD .

Mais de dois terços do aumento de 167% no gás natural durante o período de 12 meses encerrado em 31 de maio de 2022 foi registrado desde o início da guerra em 24 de fevereiro deste ano.

No petróleo bruto e seus dois principais produtos refinados, gasolina e óleo de aquecimento, o período pós-invasão representa entre metade e 60% dos aumentos anuais de preços, quase 40% do aumento anual do trigo e entre 60 e 75% do aumentos anuais dos preços do óleo de semente de milho e girassol.

“Esse aumento de preços sem precedentes significa que, para muitas pessoas ao redor do mundo, a comida que podiam comprar ontem não é mais acessível hoje”, resumiu Steiner.

“Esta crise de custo de vida está empurrando milhões de pessoas para a pobreza e até a fome a uma velocidade vertiginosa, fazendo com que a ameaça de mais agitação social cresça a cada dia” – Achim Steiner.

VIRTUOSIDADE BOLIVARIANA NA MUDANÇA DE PARADIGMA

Martinho Júnior, Luanda

A SENSIBILIDADE BOLIVARIANA NOS RELACIONAMENTOS INTERNACIONAIS DEMONSTRADA TAMBÉM EM LUANDA.

(COMO O POVO BOLIVARIANO ASSUME E EXERCE A LUCIDEZ DA VANGUARDA EM QUE SE CONSTITUIU).

En el nombre de Dios Todopoderoso, nosotros, los representantes de las Provincias Unidas de Caracas, Cumaná, Barinas, Margarita, Barcelona, Mérida y Trujillo, que forman la Confederación americana de Venezuela en el continente meridional, reunidos en Congreso, y considerando la plena y absoluta posesión de nuestros derechos, que recobramos justa y legítimamente desde el 19 de abril de 1810, en consecuencia de la jornada de Bayona y la ocupación del trono español por la conquista y sucesión de otra nueva dinastía constituida sin nuestro consentimiento, queremos, antes de usar de los derechos de que nos tuvo privados la fuerza, por más de tres siglos, y nos ha restituido el orden político de los acontecimientos humanos, patentizar al universo las razones que han emanado de estos mismos acontecimientos y autorizan el libre uso que vamos a hacer de nuestra soberanía.

Parágrafo introdutório da Acta de la independencia de Venezuela de 1811 (5 de julio de 1811) Firma del acta de la Independencia, por Juan Lovera. Concejo Municipal, Caracas, Venezuela.

01- O programa que assinalou a comemoração do 211º aniversário da independência nacional da Venezuela em Angola, eleva a sensibilidade do relacionamento bilateral ao incomparável nível da cultura e da música, um campo de diplomacia inesgotável que se abre entre as duas margens do Atlântico Sul, entre a Améria e África!

O espaço que poderia um dia, de há largas dezenas de anos, ser preenchido por uma Áustria, está a fazê-lo pouco a pouco a Venezuela Bolivariana e a explicação é só uma: a música não pode ser um produto de consumo só para elites dominantes, excludentes e egocêntricas nas espirais reflexivas do seu poder, antes um processo cultural cada vez mais abrangente, à disposição da educação das sensibilidades dos povos que aspiram ao bem maior da paz, da harmonia e da segurança vital!

O acto central ocorreu nas magníficas instalações recentemente inauguradas da Academia Diplomática Venâncio de Moura, no seu auditório, cuja estrutura integra a Cidade do Kilamba e, para além das indefectíveis motivações históricas e antropológicas sintetizadas até ao momento corrente e com os olhos no futuro, transportou-nos ao patamar da sensibilidade que só a música enquanto património comum da humanidade nos pode elevar.

A mensagem que a Venezuela Bolivariana trouxe neste acto comemorativo, foi uma mensagem perfeita, de substantiva cultura de paz, por via dum micro concerto que preencheu a 2ª parte do programa… com intérpretes angolanos e dois maestros, um angolano e outro venezuelano!

Angola | Crónica dos Grandes Vencedores ao Som da Poesia de Agostinho Neto

O Arquitecto da Paz e os seus comandantes militares que ganharam a guerra

Artur Queiroz*, Luanda

O Dia da Paz e da Reconciliação Nacional só existe porque os angolanos travaram uma guerra longa, entre 4 de Fevereiro de 1961 e 4 de Abril de 2002. À frente do povo em armas estiveram grandes líderes. Agostinho Neto esteve aos comandos desde o primeiro grito de revolta até à morte. Em 1962, foi eleito Presidente de Honra do MPLA e desde então, até falecer, teve uma vida sem tréguas. Derrotou os exércitos estrangeiros do Zaire (hoje República Democrática do Congo) e da África do Sul. Em Março de 1976, quando os últimos soldados do apartheid abandonaram o solo sagrado da Pátria, Neto proclamou o Carnaval da Vitória. 

O Presidente Agostinho Neto conseguiu unir o MPLA em 1974, quando surgiram as chamadas “revoltas”. E no ano de 1975, proclamou a Resistência Popular Generalizada contra os invasores estrangeiros, os mercenários, os fascistas do Exército de Libertação de Portugal (ELP) e as forças da FNLA e UNITA que serviram de capa às invasões estrangeiras. 

Em Ndalatando, com os mercenários e as tropas zairenses no Lucala, Agostinho Neto fez um discurso que ficou gravado nos anais da História de Angola: “Nós somos milhões e contra milhões ninguém combate”. O inimigo não ouviu o seu aviso e acabou derrotado.

(A quitanda./ Muito sol/ e a quitandeira à sombra/da mulemba./ - Laranja, minha senhora,/laranjinha boa!)

Agostinho Neto proclamou a Independência Nacional e fez tudo para aliviar o cerco a Angola, um autêntico bloqueio não declarado. De Pretória surgiu uma proposta de acordo que garantisse a segurança de Angola e África do Sul, deixando a Namíbia ocupada ilegalmente pelos racistas.

No Grande Hotel da Huíla houve uma reunião de alto nível, em 1976. Magnus Mallan, ministro da Defesa, e Pick Botha, ministro das Relações Exteriores da África do Sul chefiaram a delegação que foi negociar ao Lubango.

A delegação angolana era chefiada por Iko Carreira, ministro da Defesa. As conversações terminaram e os sul-africanos confirmaram a sua proposta: segurança na fronteira do Sul de Angola e proibição de actividades em solo angolano dos combatentes do ANC e da SWAPO. Os angolanos renegados eram impedidos de qualquer actividade política na África do Sul.

Agostinho Neto teve conhecimento da proposta e a resposta foi dada num comício no Estádio da Cidadela: “Angola é uma trincheira firma da revolução em África. A nossa luta prolonga-se na Namíbia, no Zimbabwe e na África do Sul”. Ele é um dos vencedores do 4 de Abril.

HERÓIS ANGOLANOS ESTÃO VIVOS NA MEMÓRIA E NOS CORAÇÕES DE MILHÕES

O Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, juntou-se definitivamente à grandiosa história de Angola, assim como o Presidente Agostinho Neto e muitos mais combatentes pela independência e liberdade da ex-colónia portuguesa salazarista e fascista. 

Dos Santos faleceu. Ladeia agora o seu camarada Agostinho Neto e outros camaradas de luta. Angola chora comovida com a perda de um dos que muito idolatrava. Que foi obreiro da condução do país à paz e obreiro de enfrentar e superar muitas das dificuldades orquestradas pelo ultra-liberalismo, neocolonialismo e racismo que, como sempre, os EUA, a Europa e o Ocidente destilam quando não podem roubar à sua vontade as riquezas de África e explorar até à exaustão os seus povos. 

Inteligentemente, diplomaticamente José Eduardo dos Santos soube sempre fazer gorar os ataques desses centenários inimigos. Angola e o povo angolano devem-lhe isso. Como JES fez ao longo da sua vida os angolanos devem saber respeitar e homenagear os seus heróis. Gloria para José Eduardo dos Santos, glória para Agostinho Neto, glória para os combatentes pela independência e liberdade de Angola. E assim todos eles se manterão vivos para o povo daquela nação e para a memória dos cidadãos do mundo. Estão vivos e nos corações de milhões. 

PG

Angola | KAPUTO SABIAS QUE… -- Artur Queiroz


Artur Queiroz*, Luanda

Sabias que José Eduardo, Zédu para o Povo Angolano, foi eleito pelos seus colegas do sexto ano do Liceu Salvador Correia, chefe de turma? Sabes quantos negros estudavam nessa altura nas escolas médias angolanas? Nem eu. Mas sei quantos aluno existiam nesse nível de ensino em toda a Angola, quando o futuro Presidente José Eduardo dos Santos se matriculou: 40.920 alunos. Ensino Superior não existia. Devias ter vergonha, Kaputo. 

Sabias que o jovem José Eduardo, quando se matriculou no Liceu Salvador Correia, vivia numa colónia cuja rede viária asfaltada tinha 80 quilómetros? Uma estrada entre Benguela e Lobito, outra entre Luanda e Catete. Devias pedir desculpa aos angolanos até ao fim dos teus dias, Kaputo. Porque na imensa Angola, 14 vezes maior que Portugal, só existiam 20 mil quilómetros de vias, em terra batida, e 35 mil quilómetros de picadas. Só tu, que vivias entre nós mas tinhas o poder nas mãos, podias aceitar isto. 

Como aceitaste, Kaputo, ser servo da gleba e consentiste o direito de pernada dos suseranos. Violavam as tuas mães, irmãs e esposas na tua frente. E tu bendizias o pedaço de miséria que te cabia. Aceitaste, rezando fervorosamente, ser carne para a fogueira da Inquisição. Escravo das caravelas. Viveste, feliz, sob a pata dos ingleses. Nunca mais conseguiste viver na vertical. Aceitaste, cantando e rindo, o ditador Salazar quase meio século. E quando Otelo te libertou, não descansaste enquanto não o meteste na cadeia. Os comunistas libertaram-te e tu odeias os libertadores. Como odeias José Eduardo dos Santos porque te libertou do império colonial.

Kaputo, sabes quantos automóveis existiam em Angola quando José Eduardo, o nosso Zédu, se matriculou no Liceu Salvador Correia? Ligeiros, 9.472. Pesados (de trabalho…) 4.947. Motociclos, 2.532. Tu viveste com isto sem um grito de revolta. Domesticado, enroscado aos pés dos donos, atento, venerando e obrigado. Pobre de ti, Kaputo!

Sabias, Kaputo, que a colónia de Angola, quando José Eduardo dos Santos se matriculou no Liceu Salvador Correria, tinha apenas estruturas de saúde em Luanda, Congo (hoje é território das províncias do Uíje, Zaire e Cabinda) Malanje, Bié, Benguela e Huíla? Nota bem, Kaputo, Angola tinha apenas 85 delegados de saúde! Vou dizer-te, Kaputo, qual era o quadro de médicos e enfermeiros no Congo Português porque eu estava lá.

Toma nota: Um chefe dos serviços sanitários (médico), no Uíje, um enfermeiro e três auxiliares de enfermagem. No Songo existia um enfermeiro e três auxiliares. No Bembe, um enfermeiro e três auxiliares. No Lucunga, um enfermeiro e um auxiliar. Em São Salvador do Congo (Mbanza Congo), um enfermeiro e três auxiliares. Em Santo António do Zaire (Soyo), um enfermeiro e um auxiliar. Em Cabinda, um médico, um enfermeiro e três auxiliares. Kaputo, se tivesses dimensão humana, condenavas o colonialismo para todo o sempre! Choravas ao nosso lado a morte do Presidente José Eduardo dos Santos.

Eduardo dos Santos: O presidente da guerra e da paz que se confunde com Angola


José Eduardo dos Santos (1942-2022). O presidente da guerra e da paz que se confunde com Angola

Entre 1979 e 2017, ninguém teve mais influência na história de Angola do que José Eduardo dos Santos. Estes são alguns dos momentos da vida de um dos maiores líderes africanos no pós-colonialismo.

Os últimos 80 anos da história de Angola confundem-se com a vida de José Eduardo dos Santos, que nasceu em Luanda há exatamente oito décadas.

Corria o mês de agosto de 1942 e, em Luanda, o colonialismo português atravessava tempos inatacáveis.

O filho do calceteiro Avelino e da dona de casa Jacinta foi batizado José Eduardo Van Dunem, e herdou do pai o apelido Dos Santos.

Viveu e estudou em Luanda até aos 16 anos, quando integrou a luta pela independência - em termos políticos e militares - integrando o MPLA.

Brazzaville, no vizinho Congo Belga, passou a ser a base de José Eduardo dos Santos, mas a estada foi curta.

Menos de dois anos depois, rumou a Baku, a atual capital do Azerbaijão, onde se licenciou em engenharia petroquímica e recebeu formação em comunicação militar.

É também em Baku que se casa com uma campeã de xadrez russa, Tatiana Kukanova, a mãe da mais famosa herdeira de José Eduardo dos Santos, Isabel.

Lourenço conta com a presença de toda a família de Eduardo dos Santos no funeral

 

Presidente angolano abordou o assunto no final de uma reunião de de emergência do MPLA.

Presidente angolano, João Lourenço, disse esta sexta-feira que o Governo vai organizar as exéquias fúnebres do ex-chefe de Estado José Eduardo dos Santos, para as quais conta com a presença de todos, incluindo a família "que está lá fora".

"Se tivermos em conta as atuais circunstâncias não vemos por que razão a família que está lá fora não [possa] acompanhar o seu ente querido, estamos a contar com a presença de todos sem exceção de ninguém", disse João Lourenço, à saída de uma reunião de emergência do MPLA, partido do poder e do qual José Eduardo dos Santos foi presidente emérito.

Depois da morte do ex-presidente angolano, hoje, aos 79 anos, em Barcelona, Espanha, permanece a incerteza quanto ao lugar onde será feito o enterro.

A advogada que representa Tchizé dos Santos, uma das filhas em disputa com o regime angolano, disse hoje que José Eduardo dos Santos não queria ser enterrado em Angola, para evitar um aproveitamento político da cerimónia e porque os filhos não podem entrar no país.

Tchizé dos Santos, que vive há vários anos fora de Angola perdeu o mandato de deputada do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) em 2019 e afirma correr risco de vida no seu país, enquanto a irmã mais velha, Isabel dos Santos, também a residir no exterior, enfrenta vários processos judiciais e diz ser vítima de perseguição.

O PRÓXIMO DONALD TRUMP DA ÁFRICA DO SUL

#Traduzido em português do Brasil

Nhlanhla "Lux" Mohlauli, um agitador xenófobo, está cortejando eleitores negros empobrecidos ao incutir medo de pessoas de fora. 

Em 27 de maio, o líder da Operação Dudula, Nhlanhla “Lux” Mohlauli, dançou uma dança de protesto sul-africana, seguido por apoiadores em Joanesburgo.

Lux, o carismático millennial no comando da Operação Dudula, um novo movimento sul-africano que aterroriza imigrantes de países vizinhos e instila xenofobia, acabava de comparecer ao tribunal por saquear uma casa onde suspeitava que drogas estavam sendo vendidas, e começou a liderar um grupo desafiador marcha de volta para sua cidade natal de Soweto.

Lux e seus apoiadores gritavam slogans anti-imigrantes e seguravam faixas que diziam "África do Sul em primeiro lugar".

O homem de 35 anos está ganhando notoriedade na África do Sul por suas tiradas venenosas contra imigrantes africanos, acusando-os de aceitar empregos locais e contribuir para a alta taxa de crimes violentos do país. A Operação Dudula, que significa "erradicar" em zulu, visa locais de trabalho para zimbabuenses, moçambicanos e outros, e seus eventos se tornaram frequentemente violentos.

SANGUE DOS OUTROS -- Marrocos

Gustavo Carneiro*

Marrocos, às portas do enclave espanhol de Melilla, 25 de Junho de 2022, véspera da Cimeira da NATO. Imigrantes cercados por forças de segurança marroquinas e espanholas. Cerca de 40 mortos: espancados, uns, asfixiados ou esmagados, outros. Dos dirigentes da UE e da Nato, tão preocupados com os “direitos humanos”, nada se ouviu. A excepção foi o espanhol Sanchez, que elogiou a brutal acção das duas polícias. Quanto aos media dominantes, estavam distraídos com outras prioridades.

As imagens são terríveis, chocantes, daquelas que nunca se esquece. Corpos sem vida ou moribundos, às dezenas, amontoados e exangues. Observa-os, a poucos metros, indiferente, um contingente policial numeroso e fortemente armado.

O local é Marrocos, às portas do enclave espanhol de Melilla, a poucas centenas de quilómetros da fronteira portuguesa. A data, 25 de Junho de 2022. O saldo, esse, é dramático, cerca de 40 mortos: espancados, uns, asfixiados ou esmagados, outros.

A história é brutal, mas não é inédita, longe disso. E conta-se em poucas palavras. Imigrantes e requerentes de asilo, na maioria subsarianos, tentavam entrar em Melilla, quando foram cercados por forças de segurança marroquinas e espanholas. «Brutalidade extrema», «uso desproporcionado da força», actos comparáveis a «execuções sumárias» foram algumas das expressões utilizadas para caracterizar o que ali se passou.

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