sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Angola | O BARÓMETRO DOS POBRES EXTREMISTAS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Angola nasceu como democracia popular e com o modelo socialista. Os senhores do mundo ocidental não descansaram enquanto não aderimos à democracia representativa e à economia de mercado, uma forma suave de dizer capitalismo, sempre selvagem, sempre produtor de pobreza, miséria e fome. A maquineta capitalista só funciona se lhe meterem no depósito, ao mesmo tempo, a exploração de quem trabalha, a corrupção e o roubo que pode assumir as formas violentíssimas do latrocínio.

Quadros revolucionários do MPLA levaram a mal a mudança, em 1992. Vaticinaram graves problemas no futuro entre os quais o fim de uma Angola livre, independente e democrática. Os piores receios não se confirmaram. Era impossível a confirmação.

 Angola chegou à Independência Nacional porque milhares de patriotas lutaram de armas na mão contra o colonialismo. E quando pensavam no repouso do guerreiro, tiveram de lutar contra a coligação mais agressiva e reaccionária que alguma vez se formou no planeta: Os restos do regime fascista e colonialista, matilhas de mercenários, a CIA, o exército do Zaire e as tropas da África do Sul. Com os agressores estrangeiros estavam a UNITA e o Esquadrão Chipenda! A Proclamação da Independência, pela voz de Agostinho Neto, aconteceu com o país ocupado por tropas estrangeiras. Algumas estavam no Morro da Cal, perto de Luanda.

A Juventude Angolana aderiu em massa ao MPLA e a coligação internacional, reforçada com traidores angolanos, foi estrondosamente derrotada. Os soldados zairenses e mercenários foram esmagados pelas Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) no Ntó, em Cabinda. Os soldados zairenses, os mercenários, os oficiais da CIA e os fascistas portugueses foram derrotados em Kifangondo. As tropas sul-africanas foram travadas no Ebo, já depois do dia 11 de Novembro de 1975. Desde então e até Março de 1976 os racistas de Pretória foram escorraçados. Nessa altura, o MPLA já tinha o apoio de 99 por cento dos angolanos. Impossível vencer milhões!

Essa impossibilidade esteve na base da decisão do Presidente José Eduardo dos Santos. Fosse qual fosse o regime, fossem quais fossem os adversários, o MPLA ganhava sempre. O MPLA ganha sempre! Mesmo tendo em conta o desgaste natural da governação. Mesmo sabendo que há descontentes e desiludidos. Ninguém agrada a todos. Mas também ninguém desconhece que a UNITA foi uma arma do colonialismo português. Era a tropa de choque e a capa dos invasores sul-africanos, nazis e racistas. 

Todos os problemas que hoje vivemos em Angola radicam na traição da UNITA. Nas suas destruições. Nas suas hordas terroristas. Votar no Galo Negro é legitimar a traição, o terrorismo, o roubo dos diamantes de sangue, o extermínio de elefantes para traficar marfim, o tráfico de droga. Ninguém quer fazer de Angola um estado falhado, dominado por assassinos, terroristas e traficantes.

Senegal | Coligação de Macky Sall vence legislativas e obtém maioria absoluta

Graças a um apoio pós-eleitoral, a coligação presidencial senegalesa mantém a maioria absoluta na Assembleia Nacional, depois de vencer com margem ligeira as eleições legislativas de 31 de julho.

A coligação presidencial no Senegal venceu com margem ligeira as eleições legislativas de 31 de julho, de acordo com os resultados finais, mantendo uma maioria absoluta na Assembleia Nacional, obtida graças a um apoio pós-eleitoral.

Dos 165 lugares da Assembleia, a coligação do Presidente Macky Sall tem agora 82 deputados, contra os 125 conseguidos em 2017, disse o Conselho Constitucional na noite de quinta-feira, confirmando os números provisórios anunciados a 4 de agosto pela Comissão Nacional do Recenseamento dos Votos (CNRV).

Ainda assim, esta força ganhou uma maioria absoluta de 83 deputados, contra 82 para a oposição, com a contabilização de um deputado da oposição, Pape Diop, antigo presidente da Assembleia Nacional e do Senado.

Diop anunciou na quinta-feira, durante uma conferência de imprensa, que tinha "tomado a decisão de aderir" à coligação presidencial para evitar "um bloqueio no funcionamento das instituições" no Senegal. E adiantou que dada a natureza presidencial do sistema político senegalês, uma Assembleia Nacional sob o controlo da oposição conduziria inevitavelmente a uma crise institucional, que estaria repleta de "todo o tipo de perigos".

A Assembleia Nacional tornar-se-ia então, "não um contrapoder, mas sim um estrangulamento à ação do Presidente da República e do seu governo", disse Pape Diop.

O CAPITALISMO À BEIRA DA GRANDE ESTAGFLAÇÃO

Como estão se degradando as condições que garantiram ao Ocidente, por décadas, preços baixos, crescimento e estabilidade política. O que marca o novo cenário. Por que ele é perigoso e instável – mas está aberto a grandes transformações

Noriel Roubini* | no Project Syndicate | em Outras Palavras |  Tradução: Antonio Martins

# Publicado em português do Brasil

A economia mundial está passando por uma grande mudança de regime. A Grande Moderação, que durou décadas, terminou. Iniciada após a estagflação (alta inflação combinada com recessões severas) dos anos 1970 e início dos 80, a Grande Moderação caracterizou-se por inflação baixa nas economias avançadas; crescimento econômico relativamente estável e robusto, com recessões curtas e pouco profundas; taxas de juros positivas, devido à queda da inflação e alta acelerada de ativos de risco, como ações das empresas norte-americanas e globais.

Este período prolongado de inflação baixa é normalmente explicado pela adoção, pelos bancos centrais de políticas de metas inflacionárias, após as políticas monetárias mais frouxas dos anos 1970 e a adesão dos governos a políticas fiscais conservadoras (que permitiam estímulos à economia apenas durante as recessões. Porém, muito mais importantes que as estas políticas [de controle da demanda por produtos e serviços] foram os muitos choques de ampliação da oferta, que elevaram o potencial de crescimento e reduziram os custos de produção – pressionando, assim, os preços para baixo.

No período de hiperglobalização pós-Guerra Fria, a China, a Rússia e outros economias de mercado emergentes integraram-se mais à economia global, abastecendo-a com bens, serviços, energia e matérias-primas a baixo custo. A migração em larga escala do Sul Global para o Norte ajudou o comprimir os salários nas economias centrais. As inovações tecnológicas reduziram os custos de produção de muitos bens e serviços e uma relativa estabilidade geopolítica permitiu que as corporações deslocassem a produção para países de menor custo sem se preocupar com a segurança dos investimentos.

Mas esta Grande Moderação começou a entrar em colapso durante a crise financeira global de 2008 e, mais tarde, com a recessão da covid-19, em 2020. Em ambos os casos, a inflação permaneceu inicialmente baixa, devido a choques de demanda [redução do consumo]. Além disso, políticas monetárias, fiscais e de crédito generosas impediram que os países entrassem em deflação. Mas agora a inflação voltou, avançando rapidamente, em especial a partir do ano passado, devido a um mix de fatores de demanda e oferta.

O NOVO DISPARATE DO SENHOR SCHOLZ

Jorge Figueiredo

Os deuses enlouquecem aqueles que querem fazer perder

O desespero dos dirigentes alemães conduz a disparates sem conta, uns a seguir aos outros. Primeiro adotam a política suicida de se absterem deliberadamente de utilizar o gasoduto Nord Stream 2, que já se encontra pronto. Trata-se de uma verdadeira política de auto-flagelação energética, corroborada pela indivídua não eleita que preside a Comissão Europeia bem como por todos os seus pares. A seguir, com a aproximação do Inverno 2022-2023, desesperam-se e procuram alternativas – que a curto prazo não existem. E para fingir que tem alguma coisa a dizer, o chanceler alemão acaba de rematar os disparates anteriores com outro ainda maior: a proposta de construir um gasoduto entre o porto metaneiro de Sines (Portugal) e a Europa Central.

Aqui está a notícia que descreve esta pérola do sr. Scholz:

O chanceler alemão, Olaf Scholz insistiu esta quinta-feira na construção de um gasoduto em Portugal e Espanha, para ligar a Península Ibérica à Europa central, através de França, a fim de libertar a Europa da dependência energética da Rússia.

“Este gasoduto iria aliviar massivamente a situação atual do abastecimento”, assinalou o chefe do Governo alemão durante uma conferência de imprensa em Berlim, segundo declarações citadas pela Reuters.

Esta questão terá sido abordada em conversações com os líderes de Espanha, Portugal, França e a Comissão Europeia em Bruxelas. Na mesma ocasião, Olaf Scholz fez também um forte apelo para que se crie um projeto desta dimensão.

Sobre estas declarações, o Governo português recordou que “as interligações são uma grande prioridade estratégica nacional. É uma questão que tem sido colocada no centro das prioridades do Governo”, referiu o secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, André Moz Caldas, após a reunião desta quinta-feira. -- In eco.sapo.pt/2022/08/11/chanceler-da-alemanha-apela-a-construcao-de-gasoduto-de-portugal-para-europa-central/

Por que se afirma que a proposta do Sr. Scholz é disparatada? A resposta a essa pergunta repousa tanto em razões técnicas como como em razões económicas. Convém analisar umas e outras.

Razões técnicas

O gasoduto proposto seria de transporte, ou seja, uma conduta em aço com capacidade para aguentar altas pressões (iguais ou maiores do que 70 bar) com uma extensão da ordem dos 3500 km.

Em primeiro lugar, a elaboração de um projeto desta natureza levaria no mínimo um ano ou dois, senão mais. A sua execução levaria um período de tempo que agora não se pode prever, mesmo admitindo que se possam ultrapassar todos os obstáculos técnicos (atravessamentos de rios, atravessamento marítimo para contornar os Pirineus, etc) e legais (direitos de propriedade sobre terrenos, etc).

Em segundo lugar, entra o fator da perda de carga. Os 3500 km de extensão de um gasoduto com início em Sines obrigaria necessariamente a instalar numerosas estações de compressão ao longo do seu trajeto. O Nord Stream, com apenas 1224 km, tem oito estações de compressão. Fazendo uma proporção grosseira, o gasoduto proposto por Scholz exigiria a enormidade de 23 estações (mas a Siemens agradeceria, com certeza).

Em terceiro lugar está a matéria de facto de Portugal não ser um país produtor de gás natural. Mesmo propostas muito mais modestas, como o transhipment de grandes navios metaneiros que aportam Sines para metaneiros mais pequenos são técnica e economicamente muito discutíveis (pensou-se nisso a fim de abastecer países do norte da Europa). Sines recebe gás natural liquefeito (GNL) de países terceiros e este combustível tem de ser ali armazenado até que possa ser regaseificado e injetado nas redes de gás existentes ou no novo gasoduto sonhado pelo político alemão. É claro que a capacidade de armazenagem e regaseificação de GNL em Sines também teria de ser aumentada a fim de atender ao novo gasoduto.

Em quarto lugar estão as leis da termodinâmica. O GNL é um combustível excelente porque tem uma alta densidade energética. Ao ser regaseificado, a fim de poder ser injetado num gasoduto de transporte, está-se a diluir o seu conteúdo energético. Tudo indica que o balanço energético final nunca poderá ser favorável. Gasta-se energia para regaseificá-lo, gasta-se energia para injetá-lo num gasoduto de transporte e gasta-se energia nas numerosas estações de compressão que terá de haver pelo caminho até a Europa Central. Às tantas, será preciso verificar se o valor energético intrínseco do gás natural é maior ou menor do que o valor energético gasto com todo o seu processamento até ao centro da Europa. Caso seja menor, o gasoduto do Sr. Scholz não seria uma fonte de energia e sim um sumidouro da mesma.

Caldinho de oligarcas, uma «esquerda» ajoelhada ao capital: retrato dos Trabalhistas

REINO UNIDO

Uma onda de greves, protestos e lutas no Reino Unido veio pôr a nu o que separa os trabalhadores de um partido tomado pelo neoliberalismo como o Labour.

Raquel Ribeiro | AbrilAbril | opinião

 muito que o Labour não é o partido dos trabalhadores britânicos. É verdade que a direita (lá como cá) continua a idolatrar saudosamente as máximas de Margaret Thatcher de que «não há alternativa» ao sistema capitalista. Para a discussão que nos importa, e que não comece necessariamente com as sucessivas traições do Labour aos trabalhadores desde tempos remotos, podemos afirmar com segurança que, desde o governo de Tony Blair, é no mínimo irónico chamar Trabalhista a um partido que, chegado ao poder em 1997 nos escombros do Thatcherismo, que levou à fragilização da esquerda britânica e à fragmentação do movimento sindical, já não tinha nada a perder em adoptar o neoliberalismo «com rosto humano».

Com a criação do New Labour, Blair montou ardilosamente uma Terceira Via (cruxis) para os trabalhadores: com a paulatina privatização de serviços públicos1 e desmantelamento do Estado Social, a acumulação de riqueza dos mais poderosos, o embrião das parcerias público-privadas, o mercado «evangelizado» dos empreendedores, a demonização da classe trabalhadora (os «chavs»), a diabolização dos funcionários públicos tornados precários e subcontratados. Uma (terceira) via enfim aberta, aproveitada a toda a velocidade pelos governos conservadores que lhe seguiram, desde 2010. Como dizia Peter Mandelson, político, barão e Lord (estas coisas no Reino Unido nunca se excluem), braço direito e «spin doctor» de Blair (e de Gordon Brown) nos seus governos trabalhistas: «Estamos imensamente relaxados se as pessoas se tornarem absurdamente ricas, desde que paguem os seus impostos.»

Os ricos tornaram-se absurdamente ricos. A classe média, entrincheirada no elevador social e nas suas ilusões de classe (aquelas férias anuais, ou até uma segunda casa, no Algarve ou na Costa del Sol, com as recém-criadas companhias aéreas low-cost), deixou para trás a classe trabalhadora nas cinturas urbanas das cidades pós-industriais e no rescaldo do desmantelamento de grande parte do sector produtivo do Reino Unido. Mas eram os anos 90: a «história» tinha finalmente «acabado», e o crescimento económico, a integração europeia «plena» e prosperidade eram uma larga autoestrada rumo à aparente «conciliação» das classes.

Para os portugueses, este retrato não é muito diferente do que aconteceu no nosso País com os governos do PS, pelo menos desde António Guterres (que era, aliás, fã de Anthony Giddens, pai da «terceira via»), com a gradual «direitização» do Partido Socialista até à intervenção da troika, e as subsequentes opções de classe – dominante – que o PS continua a ter, mais e mais próximo do capital, cada vez mais distante dos trabalhadores, de que aliás esta maioria absoluta está a ser a todos os títulos exemplar.

Não foi por acaso que, já no século XIX, Marx e Engels usaram o Reino Unido como laboratório da sua análise do capital. Ontem (século XIX), como no final dos anos 90 e, novamente, hoje, as Ilhas Britânicas continuam a ser, pelo menos na Europa, palco privilegiado das tensões entre trabalhadores e capital: entre acumulação da riqueza e a sua desigual distribuição, caldinho de oligarquias no poder económico, financeiro e político, mas também mobilizadora dos movimentos sindicais, comunistas ou trabalhistas, de resistência da classe trabalhadora, e na luta por muitas conquistas que (ainda) hoje são nossas – do direito à greve, à jornada de trabalho.

No rescaldo da derrota do Labour em 2010 e da sua completa desorganização (apenas interrompida pelo curto mandato de Jeremy Corbyn, aniquilado pela campanha mediática dos «moderados de esquerda» levada a cabo pelo The Guardian2, por ser demasiado «militante» e «radical»); de uma série alterações à lei eleitoral (que favoreceram e continuarão a favorecer o partido Conservador); após três PM dos Tories (David Cameron, Theresa May, Boris Johnson), a caminho do quarto (só em Setembro saberemos quem); após a caótica posta em prática do Brexit – o Reino Unido continua a ser o espaço por excelência das mais modernas «experimentações» do capital.

Trabalho escravo de apanhadores de fruta e simultânea criminalização da imigração, importação de mão-de-obra para o SNS (enfermeiros e médicos) sem reforço de investimento na formação nacional e progressão nas carreiras, sub-orçamentação e investimento em PPP, progressiva privatização do SNS (recentemente, com a entrada de seguradoras e farmacêuticas norte-americanas no negócio da Saúde); neoliberalização do Ensino Superior e subida exponencial de propinas; privatização dos Correios (Royal Mail) e das empresas ainda públicas de energia (água, gás, electricidade); privatizações ou concessões de PPP nos transportes públicos (o que restava da aviação pública, mais linhas de comboio, companhias ferroviárias, transportes urbanos), subfinanciamento e subcontratações a privados em todos os serviços públicos (do SEF à recolha do lixo à cobrança de impostos).

Colhendo os frutos dos alicerces lançados pelo neoliberalismo de Margaret Thatcher, que o Labour de Tony Blair tão bem aproveitou para alimentar a sua rede de poder, privilégios e amigos, os Tories da última década só tiveram de assinar de cruz o processo de destruição em curso do que resta do Estado Social britânico.

A pandemia, acelerando a concentração de capital e a destruição de milhares de postos de trabalho, a par do Brexit, da guerra na Ucrânia e da hiper-inflação, pôs a nu mais do que nunca a necessidade de organização dos trabalhadores. Este «Verão quente do descontentamento» no Reino Unido com greves, lutas e paralisações em sectores estratégicos como a ferrovia, transportes urbanos, correios, bombeiros, tribunais e, a preparar-se no Outono, professores e o SNS, está a mostrar que, ao contrário do que nos disseram, o movimento sindical britânico não está, de facto, morto e até parece ter uma força que não se via em anos. Mas está sozinho, porque o Labour o abandonou.

FORMOSA E NÃO SEGURA

Joana Amaral Dias* | Diário de Notícias | opinião

Bem-vindos à Terceira Grande Guerra Mundial. Já começou, não sabia? Resta saber como e quando acaba.

O volante do velho continente parece ter sido capturado por um animal febril de insanidade. Talvez uma galinha sem cabeça. Desde o início da guerra na Ucrânia, que a Europa se liquefaz. De fevereiro para cá, assistimos à queda dos governos italiano, estónio, búlgaro. No Reino Unido, Boris Johnson também passou à história, na Irlanda do Norte o Sinn Féin chegou ao poder, em França Macron perdeu a maioria e na Alemanha o Governo esbarra em dificuldades. Os protestos na Holanda e na Hungria, a inflação a galope na besta negra, o povo em pânico e faminto, as sanções boomerang, o imposto fim do carvão russo, os lucros pornográficos do sector energético (e não só) enfim, Bruxelas está a arder. Como se não bastasse, Von der Leyen lança gasolina noutras fogueiras do globo. Por exemplo, o conflito entre a Arménia e o Azerbaijão voltou a estalar pouco depois da cônjuge do diretor clínico da biotecnológica Orgenesis ter assinado um acordo de fornecimento de gás com Ilham Aliyev, o presidente desse último país. Baku logo cobrou o favor, violando o cessar-fogo e o seu exército está agora a engolir cidades arménias como Berdzor e Aghavno, ameaçando mesmo uma limpeza étnica dos cristãos. Pelo meio, a Sérvia e o Kosovo abespinham-se, os turcos já vislumbram a sua oportunidade para deglutir curdos, Irão e Israel estão cada vez mais amofinados.

Estas mãos europeias manchadas de sangue com o alto patrocínio dos EUA (numa suposta coligação sempre assimétrica) não são alheias ao estertor deste império que, qual cadáver adiado, ainda procria, parindo miséria e terror. Correndo já depois de decapitado, como a tal ave doméstica, Biden e os interesses que representa disparam para todo o lado, como num tiroteio em massa, na vã esperança de preservar o seu poderio. De tal forma, que metade da sua população considera que haverá uma guerra civil nos próximos anos. De tal maneira, que até o precário equilíbrio China/ Taiwan conseguiram destabilizar. O resultado é que o eixo Moscovo- Pequim está agora mais sólido e oleado que nunca, desafiando a ordem mundial estabelecida há 70 anos por Washington e seus aliados. Com os abastecimentos garantidos do lado de Putin, Xi sente-se menos vulnerável a embargos, está mais forte e preparado para um conflito no Pacífico.

Certo é que, entretanto, a guerra continua, a UE falhou em ajudar o agonizante povo ucraniano. Só conseguiu arruinar os restantes europeus em particular e povos do mundo em geral, esboçando-se então o panorama de três frentes bélicas - a europeia (com a Rússia); a do Pacífico (com a China) e a do Golfo (com o Irão).

Perante este horizonte, não será melhor seguir a regra de ouro do salva-vidas? É que, se a Europa não nadar por si mesma e tentar ajudar os EUA a não se afogarem, serão eles mesmos, esbracejando desordenamente e em hiper-ventilação, que acabarão por afundar ambos.

Pois é. Ainda acreditam que a democracia, os direitos humanos e a democracia sairão ilesos quando tudo isto passar? Não vai ficar tudo bem, não. Bem vindos à terceira grande guerra mundial. Cerrem os dentes, apertem os cintos e preparem a despensa. Já é irreversível.

*Psicóloga clínica.
Escreve de acordo com a antiga ortografia

Portugal | A VIDA CUSTA, COSTA. XUXALISMO E ROSAS DO RATO E DE SÃO BENTO

Cortes na devida ação xuxalista trazem por consequência cortes nas compras, anuncia David Dinis no Curto de Expresso. Vem atrasado, há muitos meses que já sabemos disso. Dois terços dos portugueses andam a morder o pó da miséria representado por tão baixos salários e com a carestia de vida a ser insuportável. Mais de um terço desses mesmos portugueses já sabem o que é fome e convivem com a desnutrição todos os dias. Dirão os santos padres que afinal o que o governo Costa quer proporcionar aos portugueses é o jejum à moda do cardeal Cerejeira em conluio com Oliveira Salazar, Passos Coelho, outros bons sacristas e as suas “santas políticas”.

Indiferente, opulento, garboso, Costa segue com denodo a bíblia do capitalismo selvagem, esclavagista, ultra neoliberal… E ainda a procissão vai na praça, dizem os entendidos nestas coisas de destinar milhões da população aos jejuns, às fomes de salários dignos, de políticas de trabalhos dignos, etc. Mas qual dignidade? Perguntará Costa anafado, primeiro-ministro quase vitalício a caminho de toucinho. Europeísta de alma e carteira exclama com a escova da graxa da UE na mão: “Mas qual dignidade, qual carapuça! O que temos é de ajudar a Ucrânia nazi e os Zé Lenskis corruptos, afetos a paraísos fiscais, sedentos de mísseis e de crimes de guerra!” Para Costa e para o governo xuxalista não faz sentido mitigar os efeitos da inflação. Na sua bíblia capitalista é regra que os ricos devem ganhar com a crise à custa dos milhões de pagantes, de explorados e desnutridos. Pois então. Isso é que é xuxalismo do puro! Aleluia.

Além disso existe um ministro das Finanças xuxalista que tem muita lábia e bons cargos de vencimentos chorudos... para os amigos.

Dito isso, retirado do cardápio da verdade atualizada… Abusos declarados que querem que fiquem nas sombras do pecado e da épica santa pedofilia para terminar. Desses encontra-se referência no Curto do Expresso hoje com Dinis. Abusos da igreja. Para além dos abusos do governo e das suas políticas de indiferenças na linha xuxalista há mais matéria para lerem no Curto do Expresso. Façam o favor de aceder. Convidamos.

Saúde, sorte e sujeição exemplar à falta de dinheiro para gastos, que é causa de miséria e fome. Santa inflação e indiferença xuxalista nos castigue. Siga para a prosa promocional de Dinis, sem rebuço nem um pingo do “Milagre das Rosas”. A vida e a sobrevivência custa, Costa. Não para uns quantos e sim para, pelo menos, dois terços da população portuguesa. Socialismo… Perdão. Xuxalismo, a morar no Rato e em São Bento.

Bom fim de semana. Mas como?

SG | PG

Angola-Eleições | OCUPAR OS LOCAIS DE VOTO SÓ NA JAMBA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O acampamento da Jamba foi criado pelos racistas da África do Sul com o apoio e financiamento da CIA e do Pentágono. Era a montra do banditismo político apadrinhado por Washington e armazém dos traficantes de droga, diamantes e marfim, acobertados pelo alto comando das forças de defesa e segurança, sul-africanas. Ali o programa de acção era a traição. As eleições faziam-se à maneira do criminoso de guerra Jonas Savimbi. Quem pensava de forma diferente era morto à paulada ou a tiro. A oposição interna morria nas mãos de Abel Chivukuvuku e outros assassinos profissionais da BRINDE, a polícia secreta do Galo Negro.

O nível cultural era rastejante. Quem fosse um degrau acima de analfabeto, morria nas mãos dos torcionários de Savimbi por saber demasiado.  Dezenas de jovens angolanas passaram pelas escolas secundárias e pelas universidades. Em 1974, aderiram ao que lhes venderam sobre a UNITA. Um movimento pacífico, abrangendo todas as raças e etnias, tolerante a todas as ideologias e credos religiosos. Seguiram Jonas Savimbi até à Jamba. Como não eram analfabetas e exprimiam abertamente o que pensavam, foram todas assassinadas nas fogueiras. 

Pualo Lukamba Gato, Abílio Camalata Numa, Abel Chivukuvuku, Uambu e outros sicários da UNITA descobriram uma forma expedita de votar: Iam a correr buscar lenha para as figueiras enquanto Savimbi, com os olhos injectados pelo ódio, álcool e drogas berrava: Corram, corram! Vão buscar mais lenha! 

Algumas mulheres das elites femininas do Galo Negro foram atiradas para as fogueiras com os seus bebés ao colo. Ana Isabel Paulino, a esposa oficial de Jonas Savimbi, em pleno congresso do Bailundo ousou falar de paz ante os belicistas. Foi enterrada viva. Tinha concluído um curso superior em França, não podia viver. O chefe nem conseguiu completar o sexto ano do liceu. Os brancos, seus donos, fizeram dele doutor.

Jonas Savimbi teve com sua esposa Ana Isabel Paulino, cinco filhos. Em quem vão votar no dia 24 de Agosto? Nos assassinos da Mamã ou em quem salvou Angola dos criminosos de guerra, hoje capitaneados por Adalberto da Costa Júnior? Nas seitas satânicas nunca se sabe.

Ana Isabel Paulino, quando concluiu o curso em Paris, regressou à Jamba. Nessa altura era noiva de Tito Chingunji. Savimbi fez dela a primeira-dama e exibia a jovem do Katchiungo nas capitais do mundo ocidental. Em Lisboa foi recebida, com o marido, no Palácio de Belém. Mário Soares rendeu as suas homenagens ao Flecha da PIDE e ao matador às ordens dos racistas sul-africanos. Os amigos são para as ocasiões.

Blinken, missão em África: VAMOS CONTAR MENTIRAS?

EUA "não têm preferência" por qualquer candidato em Angola

Em entrevista à DW, porta-voz de Antony Blinken diz que EUA respeitarão quaisquer resultados das eleições em Angola. E promete mais empenho contra o terrorismo em Cabo Delgado, para evitar que mercenários ganhem terreno.

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken prosseguiu esta quinta-feira (11.08) o seu périplo pelo continente africano. Depois de ter estado na África do Sul, na terça-feira (09.08), e ontem na República Democrática do Congo (RDC), o chefe da diplomacia norte-americana seguiu para o Ruanda, onde conversou com o Presidente Paul Kagame sobre as crescentes tensões entre Kigali e a RDC, além de questões relacionadas com os direitos humanos.

Durante o seu périplo, Blinken, apresentou uma "nova estratégia do Governo Biden para a África Subsaariana", numa altura de grande instabilidade a nível internacional, com crises em pano de fundo como a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que tem grande repercussão também nos países do continente africano.

Em entrevista à DW África a propósito desta "nova estratégia", Kristina Rosales, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, fala sobre Angola e Moçambique.

Afirma que os EUA não têm preferência por qualquer dos candidatos presidenciais em Angola e respeitará os resultados das eleições de 24 de agosto. Quanto à luta contra o terrorismo em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, promete mais empenho norte-americano para evitar que mercenários, como o grupo russo Wagner, ganhem terreno nas regiões que enfrentam insegurança e terrorismo no continente africano.

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