EUA "não têm preferência" por qualquer candidato em Angola
Em entrevista à DW, porta-voz de
Antony Blinken diz que EUA respeitarão quaisquer resultados das eleições
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken prosseguiu esta quinta-feira (11.08) o seu périplo pelo continente africano. Depois de ter estado na África do Sul, na terça-feira (09.08), e ontem na República Democrática do Congo (RDC), o chefe da diplomacia norte-americana seguiu para o Ruanda, onde conversou com o Presidente Paul Kagame sobre as crescentes tensões entre Kigali e a RDC, além de questões relacionadas com os direitos humanos.
Durante o seu périplo, Blinken, apresentou uma "nova estratégia do Governo Biden para a África Subsaariana", numa altura de grande instabilidade a nível internacional, com crises em pano de fundo como a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que tem grande repercussão também nos países do continente africano.
Em entrevista à DW África a propósito desta "nova estratégia", Kristina Rosales, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, fala sobre Angola e Moçambique.
Afirma que os EUA não têm preferência por qualquer dos candidatos presidenciais em Angola e respeitará os resultados das eleições de 24 de agosto. Quanto à luta contra o terrorismo em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, promete mais empenho norte-americano para evitar que mercenários, como o grupo russo Wagner, ganhem terreno nas regiões que enfrentam insegurança e terrorismo no continente africano.
DW África: Como é que política externa dos Estados Unidos da América quer reagir a todos os desafios na África Subsaariana?
Kristina Rosales (KR): A nossa nova estratégia foi delineada esta semana, na segunda-feira (08.08), quando o secretário Blinken esteve na África do Sul. Ele colocou no mapa essa nova estratégia, colocando, assim, o continente africano como nosso parceiro vital. O foco da nossa estratégia agora é no sentido de fazermos uma mudança de olhar. Precisamos ver os nossos parceiros no continente africano como iguais, porque é a única forma como vamos conseguir lidar com os desafios que temos a nível global.
DW África: Vamos ter eleições em Angola já no dia 24 de agosto. Em 2023, haverá eleições na RDC, na Nigéria e no Senegal. A administração Biden pretende apoiar os países a respeitarem as regras das democracias?
KR: Sabemos que é possível que os países que, por exemplo, vão ter essas eleições - inclusive Angola, como mencionou - tenham um processo de eleição justo e livre, que dê voz ao povo africano. Sabemos que o povo africano prefere a democracia. Sejam os jovens, sejam os outros grupos da sociedade, eles temem o conceito de autocracia e não querem isso nos seus países. Então, estaremos bem focados especificamente em apoiar que esses processos sejam justos e livres e ficar de olho em como vai ser esse processo.
DW África: Muitos angolanos da sociedade civil dizem que a administração Biden e o secretário de Estado, Antony Blinken, apoiam João Lourenço, uma vez que já o convidaram antes das eleições para a cimeira dos líderes africanos que os Estados Unidos vão conduzir este ano. Pode comentar?
KR: Bom, nós até agora só
anunciámos a cimeira dos líderes africanos em dezembro, que vai acontecer de
DW África: Mas o secretário de Estado Blinken e o Presidente Biden não têm preferência por qualquer um dos candidatos em Angola?
KR: Não. Nós, como Estados Unidos, como administração Biden, nunca nos colocamos numa situação em que vamos falar ou dar preferência a qualquer candidato, a qualquer pessoa que esteja a participar numa eleição. O Presidente Biden, o secretário Blinken e todos nós, a nossa administração, vamos respeitar esse resultado e trabalhar com a pessoa que for eleita.
DW África: Outro tema que preocupa o continente africano é a segurança. Os Estados Unidos vão empenhar-se mais nesse campo, uma vez que têm estado um pouco fora da luta contra o terrorismo, por exemplo, no norte de Moçambique?
KR: Obviamente nós ligamos ao tema da segurança ao tema de democracia, porque sabemos que, muitas vezes, quando existe uma democracia fraca, quando há corrupção, é aí que entram também a insegurança, a instabilidade. O secretário Blinken até falou no caso de Moçambique, onde há uma participação do Estado Islâmico. Muitas vezes entram grupos mercenários, que são grupos que não apoiamos. Queremos focar-nos também no conceito, por exemplo, de trabalhar na temática de construir forças de segurança africanas que sejam mais eficazes, mais responsáveis, que respeitem os direitos das pessoas e que consigam combater, não só os grupos criminosos, os grupos extremistas, mas que também tenham o papel de lidar com essa temática de insegurança que, infelizmente, está a afetar muitos países dentro do continente.
António Cascais | Deutsche Welle
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