sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Portugal | POLÉMICA SOBRE RACISMO NA POLÍCIA

A Procuradoria Geral da República Portuguesa está a investigar eventuais atos ilícitos, baseados em mensagens de cariz racista e xenófoba, publicadas nas redes sociais por mais de 500 agentes das forças de segurança.

A polémica surgiu depois da exibição de uma reportagem televisiva, em que metade dos membros de um grupo nas redes sociais foi identificada como tendo "grande simpatia com a extrema direita". O Ministério da Administração Interna (MAI), tutelado por José Luís Carneiro, ordenou a abertura de um inquérito. Mas a organização não-governamental, SOS Racismo, duvida que daí saiam consequências palpáveis e que os alegados autores dos atos racistas venham a ser responsabilizados.

Imigrantes de origem africana preocupados

Mamadou Sima, guineense residente, há dez anos, em Portugal, hesitou quando questionado pela DW África se já tinha sido vítima de racismo policial ou institucional: "No meu ,caso nunca fui, porque também não sou muito de lidar com casos de polícia. Portanto, não tenho queixas em relação à polícia." Mas numa referência a notícias recentes, publicadas por um consórcio de jornalistas, sobre atitudes racistas e xenófobas nas forças de segurança portuguesas, Sima afirma: "Claro, que é muito preocupante; [é uma situação] que as pessoas têm de levar muito a sério." 

Reportagem televisiva põe a nu realidade chocante

Uma reportagem da televisão privada portuguesa SIC denunciou manifestações de racismo e de ódio por parte de cerca de 600 agentes das forças de segurança. Operacionais da Polícia de Segurança Pública (PSP) e da Guarda Nacional Republicana (GNR) foram apanhados em grupos privados no Facebook a fazer centenas de comentários racistas e xenófobos, ao que se juntaram apelos diretos à violência, visando mulheres, homossexuais, políticos, jornalistas, entre outros. Metade dos polícias e militares mostra proximidade com ideais de extrema direita.

Entre os visados das mensagens figuram os nomes de António Costa, atual primeiro-ministro de origem indiana, Francisca Van Dunem, ex-ministra da Justiça, de origem angolana, o ativista Mamadou Ba, originário do Senegal, a ex-deputada Joacine Katar Moreira, que nasceu na Guiné-Bissau, e a família do ator luso-guineense, Bruno Candé, vítima de um assassínio com motivação racista. 

Mamadou Sima mostrou-se indignado e disse que é função dos agentes policiais "manter a paz [social] e não causar mais ódio através de atos racistas". : "As forças policiais existem para nos proteger e não para nos denegrir", disse. 

São Tomé e Príncipe | CINCO MORTOS EM TENTATIVA DE GOLPE

Cinco pessoas morreram numa alegada tentativa de golpe de Estado, neutralizada pelas Forças Armadas de São Tomé e Príncipe. Os advogados do ex-presidente da Assembleia Nacional Delfim Neves, detido, temem pela sua vida.

Uma alegada tentativa de golpe de Estado em São Tomé e Príncipe foi neutralizada pelas forças leais ao Governo.

A tentativa de derrube do Governo ocorreu na madrugada desta sexta-feira (25.11) entre as 00.45 horas e as 05:00 horas da manhã, e culminou com a apreensão de quatro mercenários do antigo batalhão Búfalo, que viriam a morrer depois de terem sido detidos. Entre eles destaca-se Arlécio Costa, antigo oficial do 'batalhão Búfalo' que foi condenado em 2009 por uma alegada tentativa de golpe de Estado.

A informação foi avançada pelo vice-chefe de Estado Maior das Forças Armadas, brigadeiro Armindo Silva, que disse à imprensa ainda não estar em situação de avançar pormenores: "Temos a equipa forense da Polícia Judiciária. Eles saberão depois da autópsia se foi através da bala ou outra razão".

Primeiro-ministro considera que o seu Governo era o alvo

O primeiro-ministro Patrice Trovoada, que se reuniu com o Procurador-Geral da República, Kelve Nobre de Carvalho, a ministra da Justiça, Ilza Amado Vaz, e o ministro da Defesa, Jorge Amado, pediu uma investigação exaustiva do caso.

Segundo informações divulgadas pelo chefe do Governo, cerca das 00:40 locais, quatro homens, civis, assaltaram o quartel na capital são-tomense, alegadamente com a cumplicidade de militares. Os atacantes fizeram refém o oficial de dia, que ficou gravemente ferido após agressões, mas encontra-se livre de perigo.

Entende o primeiro-ministro são-tomense que objetivo desta operação visava derrubar o seu Governo.

"O quartel foi atacado, o quartel defendeu-se, e o quartel e as Forças Armadas têm a obrigação de esclarecer se há outras ramificações no seio das Forças Armadas ou não", disse Trovoada.

A LOUCURA MANSA DE ISABEL DOS SANTOS

Tribuna de Angola | opinião

Isabel dos Santos entrou num mundo só dela, situação próxima da loucura patológica. O Luanda Leaks foi uma montagem dos serviços secretos angolanos, não há processos contra ela, não a ouviram judiciariamente porque não quiseram…Este é o mundo virtual de Isabel. Um mundo falso.

É evidente que não há qualquer relação entre o Luanda Leaks e os serviços secretos angolanos. Basta referir que jornais como o Guardian ou entidades como a BBC fazem parte do consórcio e obviamente não serão influenciáveis por serviços secretos de qualquer país. Além do mais muita da matéria Luanda Leaks já tinha sido exposta publicamente por Rafael Marques. É uma ilusão total esta afirmação de Isabel.

Sobre os processos e comportamentos de Isabel, basta referir as recentes afirmações do antigo Governador do Banco de Portugal: “o que está em causa com a eng. Isabel dos Santos é o facto de ter havido indícios de não observância das regras em matéria de combate ao branqueamento de capitais, como aliás depois se verificou com os processos que entretanto foram abertos.”. Ele próprio atribui-lhe comportamentos de branqueamento de capitais.

O facto é que Isabel fugiu e nunca esteve disponível para ser interrogada por qualquer autoridade judicial de qualquer país do mundo. Nem em Angola, nem em Portugal, nem em lado nenhum.

O que temos, mais uma vez, é uma completa mistificação da realidade. Até quando durará?

É evidente: até ser presa e interrogada.

FALHARAM E NÓS FALHAMOS

Alberto Monteiro de Castro, Londres | Jornal Empoderado

Com o assinalar dos 47 anos da independência de Angola no último 11 de novembro, se fechou o ciclo de aniversários independentistas com a mesma idade nas ex-colônias portuguesas em África. Tal como Angola, Moçambique (25 de junho), Cabo Verde (5 de julho) e São Tomé e Príncipe (12 de julho), esses países conquistaram as respectivas independências territoriais em 1975. A exceção é a Guiné-Bissau cuja independência foi unilateralmente declarada em 24 de setembro de 1973 pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

#Publicado em português do Brasil 

Passado que está quase meio século das independências nos chamados PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), idade que em tempo histórico é quase nada, e vendo o atual panorama político, econômico e social desses países é inevitável questionar sobre o que falhou, quem falhou e porque falhou?

Ao fazer esses questionamentos temos que começar pelos libertadores. Foram homens e mulheres valentes que viveram o contexto e as contradições do seu tempo, com seus defeitos e virtudes como qualquer ser humano tem. Bem e/ou mal cumpriram a missão de nos conduzir à independência, mas nos falharam mesmo antes de nos fazerem acontecer como povos e países independentes.

Nos falharam com suas desunidades e guerrinhas fratricidas pelo poder na caminhada para a libertação, com maquinações fabricadas desde o início para diabolizar, desqualificar, eliminar adversários e mesmo correligionários que viam como ameaças às suas ambições de poder. Alguns fizeram tudo isso em conluio com o próprio colonizador e o assassinato de Amílcar Cabral, o pedagogo das nossas lutas de libertação, é o exemplo trágico mais sonante daquele período.

E, porque nos falharam mesmo antes de nos fazerem acontecer como povos e países livres e soberanos, também falhamos herdando suas falhas e continuando prisioneiros delas quando delas nos deveríamos desfazer guardando lições e optando por carregar em nós apenas o legado das suas bravuras e ensinamentos para, com ambas, nos inspirarmos e agirmos como sujeitos da nossa história e donos do nosso futuro.

TENTATIVA DE GOLPE EM SÃO TOMÉ: DELFIM NEVES DETIDO

Delfim Neves, ex-presidente da Assembleia de São Tomé e Príncipe, foi detido esta manhã, na sequência de um ataque ao quartel militar, já neutralizado. "Fomos alvo de uma tentativa de golpe", disse o primeiro-ministro.

"Fomos alvo de uma tentativa de golpe, que começou por volta das 00:40 e que teve o seu desfecho, em termos operacionais, pouco depois das 06:00", disse o chefe do Governo, numa conferência de imprensa. "Tudo indica" que o ataque ocorreu "a mando de algumas personalidades", disse Patrice Trovoada.

"O Estado Maior informou-me que detiveram algumas pessoas, na base de declarações do primeiro grupo de quatro [atacantes] que foi detido e neutralizado. Alguns nomes mais conhecidos, Arlécio Costa, está detido no quartel e Delfim Neves também está detido no quartel", avançou o primeiro-ministro.

As forças de segurança de São Tomé e Príncipe detiveram militares que facilitaram a entrada de atacantes no quartel militar, durante o assalto na noite passada que foi neutralizado ao início da manhã, disse à Lusa o ministro da Defesa Nacional e Administração Interna, Jorge Amado.

Manuel Loff: "Esquerda está hoje incapaz contra a ultradireita e o liberalismo autoritário"

Olá,

A derrota de Jair Bolsonaro nas presidenciais brasileiras do mês passado foi um duro golpe para a extrema-direita internacional, mas a ameaça à democracia não desapareceu. Na Europa, continua a aprofundar ligações internacionais, a organizar grandes manifestações de rua e a alcançar posições de poder. No mínimo, condiciona o debate democrático, influenciando pelo caminho as direitas democráticas. O consenso antifascista europeu é uma miragem do passado. 

Em entrevista a João Biscaia, o historiador Manuel Loff alerta para os ensaios de assalto ao poder da extrema-direita nas democracias que não dão os sinais de robustez do passado. Critica quem diz que é um “relativo exagero” afirmar-se que as novas extremas-direitas ameaçam os fundamentos das nossas democracias e deixa um alerta: precisamos de declarar uma emergência antifascista. E faz um apelo sem que o seja: a esquerda que ainda se revê “numa leitura marxista da realidade” e se “concentra na defesa dos direitos dos trabalhadores, das mulheres, dos migrantes e das minorias étnicas deve assumi-la”. 

Uma esquerda que queira enfrentar a extrema-direita tem obrigatoriamente de dar resposta às dificuldades de quem (sobre)vive do seu trabalho. Lisboa e Porto, por exemplo, têm sofrido grandes mudanças. Uma delas é a crescente gentrificação, empurrando milhares de pessoas para as periferias. Há décadas, desde a I República, que o direito à habitação não passa de uma miragem para milhares de pessoas, mas, depois de um breve momento de esperança, piorou significativamente com a especulação imobiliária e com o boom do turismo. Se antes a crise da habitação atingia as classes mais pobres, hoje é transversal a quem vive do seu trabalho. 

É sobre décadas de políticas de habitação que o sociólogo Pedro Casanova escreve na edição desta semana. Acusa o Estado português de ser um instrumento para a financeirização do mercado de habitação e de as suas políticas públicas terem contribuído para a gentrificação. 

Por fim, na crónica desta semana dos Ladrões de Bicicletas, Nuno Serra salienta que o Banco Central Europeu acredita que a expansão do mercado imobiliária, vivia nos últimos anos, pode estar prestes a viver um momento de viragem. Ou seja, a acabar. E recorda que não devemos deixar de ter assente as responsabilidades do BCE para a crise de habitação que vivemos por toda a Europa ao limitar a intervenção dos Estados no setor da habitação, tanto pela via da promoção direta como da regulação.

Newslettar de Setenta e Quatro

««»»

270. É o número de novas subscrições de que precisamos para chegarmos ao final do ano. Sem isso, o Setenta e Quatro fica-se por aqui.

Se achas que o nosso jornalismo faz falta, que vale a pena continuarmos, faz a tua subscrição já hoje em www.setentaequatro.pt/contribuir

Obrigado.

Bom fim de semana e boas leituras

Ricardo

Portugal | Maratona orçamental termina esta 6.ª feira com aprovação garantida pelo PS

Antes da votação final global, serão discutidas e votadas as normas que forem avocadas pelos partidos

Depois de quatro dias de apreciação de um número recorde de propostas na especialidade, o processo do Orçamento do Estado para 2023 (OE2023) termina esta sexta-feira com a votação final global, documento com aprovação garantida devido à maioria absoluta socialista.

Antes do momento da votação final, os partidos com assento parlamentar e o Governo terão a oportunidade de intervir na sessão de encerramento, ficando a cargo do ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, a intervenção pelo executivo, segundo informação adiantada à agência Lusa por fonte oficial.

O dia começará com a discussão e votação das normas que forem avocadas pelos partidos.

O processo orçamental arrancou em 10 de outubro com a entrega pelo Governo da sua proposta, que na votação na generalidade foi aprovada com votos a favor apenas do PS e abstenção dos deputados únicos do PAN e do Livre, merecendo o voto contra dos restantes partidos.

Este ano os partidos bateram o recorde de propostas de alteração apresentadas e desde segunda-feira foram votadas mais de 1.800, tendo a grande maioria das medidas sugeridas pela oposição acabado por ser chumbada pelo PS.

Os 'campeões' das medidas viabilizadas foram o Livre e o PAN -- juntos conseguiram cerca de meia centena -, os únicos que mantiveram negociações com o Governo.

Já o PSD, a IL, o PCP e o BE conseguiram, no total, luz verde para menos de 20 alterações, tendo o Chega sido o único que ficou a zeros.

O conjunto de alterações terá um impacto orçamental pouco significativo, ao contrário do que acontecia no período da 'geringonça', em que o PS dependia dos parceiros à esquerda para fazer passar os orçamentos.

Os partidos de oposição criticaram o "rolo compressor" da maioria absoluta do PS, considerando que, ao chumbar grande parte dos contributos da oposição, não sairá da especialidade um orçamento melhor do que a versão inicial.

Esta ideia foi rejeitada pelo executivo, que reiterou a sua abertura negocial e recordou as medidas que foi aprovando.

TSF | Lusa | Imagem: © Leonardo Negrão/Global Imagens

Portugal | A CGTP-IN "CHUMBA" O ORÇAMENTO ESTA SEXTA-FEIRA

«As dificuldades dos trabalhadores contrastam com o colossal aumento dos lucros do grande capital», protegidos, no OE23, pelo Governo PS. CGTP-IN convoca concentração no parlamento, às 10h30 desta sexta-feira.

A pretensão de apresentar os orçamentos «mais à esquerda de sempre», mesmo que exclusivamente retórica, parece já não fazer parte da propaganda do Governo PS. O segundo orçamento da maioria absoluta dos socialistas confirma a narrativa pretendia esconder: o Orçamento do Estado para 2023 (OE23) serve os interesses económicos das grandes empresas e prejudica os trabalhadores, os pensionistas e reformados.

Para a CGTP-IN, esta opção do Governo, «que em vez de dar combate às profundas injustiças sociais, legisla para as acentuar», é completamente inaceitável. Mais uma vez, desdizendo-se, o PS «opta por manter as normas que na legislação laboral tanto agridem os trabalhadores: a caducidade da contratação colectiva, vínculos precários, banco de horas, adaptabilidades, e despedimentos fáceis e baratos».

Exemplo disso foi a reunião de 23 de Novembro, com a Frente Comum, onde «o Governo manteve a atitude de optar pela não resolução dos problemas dos trabalhadores da Administração Pública», lamenta o Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL/CGTP-IN). Mantendo-se, a verba orçamental, inalterada, fica claro que, no PS, nunca houve uma verdadeira «abertura face às soluções apresentadas pela Frente Comum em relação à valorização das carreiras».

A proposta do Governo para o Salário Mínimo Nacional (SMN), 760 euros, equivalente a levar para casa 676,40 euros líquidos, «não é suficiente para melhorar o nível de vida de quem vive com o SMN, e está muito longe do que é possível e necessário».

Em resposta às opções da maioria absoluta do PS, a CGTP-IN convocou uma concentração, em frente à Assembleia da República, às 10h30 desta sexta-feira, dia 25 de Novembro.

Utentes associam-se à manifestação da CGTP-IN

«Os trabalhadores e os utentes precisam de respostas no imediato e por isso exigem o aumento dos salários e das pensões, a fixação de limites máximos nos preços dos bens e serviços essenciais e a aplicação de um imposto que incida sobre os lucros colossais das grandes empresas», afirma, em comunicado, a Coordenadora das Comissões de Utentes do Litoral Alentejano.

Entre as reivindicações dos utentes, que não estão contempladas na proposta de OE do Governo, conta-se a construção ou reparação de diversas acessibilidades (exemplo do IC1 e o IP8), um regime de exclusividade para os médicos e a reposição do Comboio de Passageiros na linha Ermidas-Sado, Sines.

AbrilAbril | Imagem: António Pedro Santos / Agência Lusa

COMISSÃO EUROPEIA FAZ AVISO EM JEITO DE AMEAÇA E A INGERÊNCIA É CLARA

Os condicionamentos à livre discussão sobre as respostas aos problemas do país já são conhecidos, ainda assim a Comissão Europeia faz sempre questão de relembrar que a despesa pública, ou seja, medidas que reponham rendimentos, não podem avançar

A situação económica e social exigiria um conjunto de medidas orçamentais que, mesmo a custo de aumento da despesa pública, pudessem minimizar os impactos da inflação e consequente poder de compra. Ajudas que poderiam ser variadas, para vários sectores, e estancassem o empobrecimento geral da população e o aproveitamento por parte de alguns. 

Ao longo da discussão do Orçamento do Estado tem-se verificado que essas respostas não fazem parte da resposta do Governo, como se pode ver na questão das pensões. As conhecidas «contas certas», jargão utilizado pela direita, é usado como bandeira pelo PS para evitar, precisamente, responder aos problemas sentidos e seguir cegamente as amarras impostas pela União Europeia. 

Apesar disto, a Comissão Europeia já começou a lançar avisos que na realidade são ameaças a quem trabalha. Ao Governo português foi pedida uma limitação das «despesas correntes primárias», ou seja, despesas com pessoal, com prestações sociais ou subsídios. 

Nestes avisos ou recomendações, o Vice-Presidente da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, alertou para o facto de haver países onde a «despesa corrente está a crescer demasiado depressa», colocando como grande entrave a ditadura da dívida pública. Um dogmatismo claro, que olha para as contas como números e não para as responsabilidades sociais dos Estados. 

Estas afirmações são corroboradas pelo Comissário Europeu ao dizer que «o orçamento português está perto do que pedimos, mas estamos preocupados que a evolução das medidas para enfrentar a crise da energia possa fazer com que o orçamento fique fora daquilo que recomendamos». Ou seja, há uma clara ingerência que acaba por condicionar logo à partida toda a discussão que existe na Assembleia da República.

Daqui retira-se que o Governo quer ser bom aluno e basta ver que as medidas que o Governo disse que acolheu no Orçamento do Estado, até ao momento, são na prática medidas sem impacto orçamental e apenas um falso sinal de abertura. 

AbrilAbril, editorial | Imagem: Ilustração de Irene Sá

ESCRAVOS DO BARRO VERMELHO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Um industrial de cerâmica disse-me, em segredo, que o sector em Portugal estava estragado porque a maior parte das fábricas tinham escravos e, por isso, faziam preços muito baixos. Quem pagava salários de acordo com a lei e garantia condição dignas aos trabalhadores, corria o risco de falência. É preciso acabar com isto, quanto mais não seja para salvar os desgraçados que vivem pior que os meus cães.

Nessa altura trabalhava no Jornal de Notícias, o de maior tiragem em Portugal. Fui saber dos escravos do barro vermelho. O que vi, era mais feio do que me foi pintado pela minha fonte. Dezenas de africanos (alguns angolanos e muitos guineenses) dormiam no chão dos armazéns e tinham apenas uma latrina. Quem estivesse apertado, ia ao mato. Nem sequer tinham um chuveiro. Só descansavam ao domingo, por causa da missa. Recebiam menos de metade do salário mínimo nacional e não tinham qualquer protecção social. Passavam fome. Fiz uma série de reportagens denunciando a escravatura, em pleno sucesso do cavaquismo. 

As minhas reportagens levaram a outras denúncias anónimas. Descobri que todas as grandes obras do betão e asfalto no consulado de Cavaco Silva tinham trabalhadores escravos. Aos milhares. Desde as estradas à construção da sede da Caixa Geral de Depósitos em Lisboa. O trabalho escravo era regra. Mais reportagens. Para daí lavarem as suas mãos, os “donos” das obras (o Estado Português era o maior…) escondiam-se atrás de subempreiteiros, figuras sinistras que faziam cursos técnico profissionais e depois, devidamente certificados, vendiam os escravos. Eu comprei dez a um subempreiteiro. O negócio foi devidamente fotografado. 

As minhas reportagens não tiveram qualquer impacto. O Governo de Cavaco Silva assobiou para o lado. A Inspecção do Trabalho não quis saber. As autoridades policiais tinham mais que fazer. O sucesso do cavaquismo não podia ser beliscado com essa coisa dos pretos que eram escravizados nas grandes obras públicas. Quanto a mim, fiquei mal visto, como sempre. E recebi insultos misturados com ameaças de morte. 

PATRIMONIO DAS EX-COLÓNIAS, O MUNDIAL E O SORRISO DO RONALDO DECADENTE

O património das ex-colónias, a morte antecipada e o Presidente cansado

David Dinis, director-adjunto | Expresso (curto)

Bom dia,

O ministro da Cultura promete “reflexão, discrição e alguma reserva”, mas numa entrevista ao Expresso admite “envolver os museus e a academia” numa “inventariação mais fina” do património com origem nas ex-colónias. A notícia faz a manchete do Expresso, reabrindo um debate que há muito se faz lá fora.

Na mesma entrevista, Pedro Adão e Silva (que faz parte do núcleo duro do Governo) deixa outros considerandos políticos, mas talvez este seja o mais sonoro: “Não vou ao Catar mesmo que a Seleção chegue à final”. E deixa uma crítica à FIFA, não ouvida de Costa nem de Marcelo, representantes de um país que quer organizar um dos próximos mundiais de futebol.

A propósito de mundial, um breve parênteses para celebrar consigo a vitória à portuguesa de ontem. E para lhe deixar a interessante análise de Bruno Vieira do Amaral após o jogo de ontem - eu não concordo com tudo, mas gostei muito de ler.

A propósito de Marcelo - e aproveitando para sair da Tribuna - deixo-lhe o link para este texto na edição de política desta sexta-feira: “Dez anos é demais.” O cansaço de Marcelo. E quanto ao primeiro-ministro? Bem, Costa faz sete anos de primeiro-ministro. Agora é que é?

No primeiro caderno desta edição passamos por outros temas. Por exemplo, contamos como Gouveia e Melo foi ameaçado “por grupo perigoso e violento” da Margem Sul. Como João e Joana pensam na eutanásia como recurso de fim de vida, um texto sensível e cuidadosamente escrito sobre a eutanásia. Como também o texto sobre os migrantes hospitalizados por “cansaço extremo”, não no Catar, mas aqui mesmo em Beja, para onde devemos olhar primeiro quando queremos falar de direitos humanos. Não esqueçamos isso.

No caderno de Economia algo mais para não esquecermos: a Roménia vai ultrapassar Portugal no PIB per capita já em 2024. Portugal vai convergir apenas um ponto percentual com a média europeia. Os quadros e gráficos na página são reveladores.

Contamos-lhe também sobre dois processos, um negativo para o Novo Banco, outro difícil para a EDP e Fisco, por causa das barragens.

Adicionalmente, debruçamo-nos em pormenor sobre alguns temas sensíveis dos dias de hoje. Um bom exemplo é este: Mais de metade dos trabalhadores diz já ter sido discriminado. Mas também um outro, a que chamámos ADSE, gigante com pés de barro. E este, sobre revolucionar a moda com “alto nível de risco”.

Também há espaço para notícias mais otimistas - e talvez seja seja o caso mais destacado: Lisboa sobe cinco lugares no ranking das melhores cidades para investir.

Na Revista, o tema de capa é sobre as linhas cruzadas do 25 de Novembro, o dia em que a revolução acabou. É onde Vasco Lourenço revela o nome de quem deu a ordem de avanço e, depois, recuo para as forças comunistas, onde se mostra um documento até aqui desconhecido e onde, sobretudo isso, se remonta com novas peças os dias em que Portugal era visto como um “manicómio em autogestão”.

Nesta edição descreve-se A eterna sombra russa, desta vez não sobre a Ucrânia, mas sobre a Finlândia, que também tem uma longa fronteira com a Rússia, que também fez parte do império russo, mas que — diferença significativa — não integrou a União Soviética. Mas a proximidade geográfica com a Rússia condicionou sempre os seus passos.

Mas queria chamar-lhe ainda a atemção para a entrevista a Pedro Penim, o novo Rei do D. Maria II: “As pessoas LGBTQ politizadas sabem que a sexualidade delas ainda importa”.

E, quase a fechar, para este Ronaldo, o 11 inicial, aquele dos tempos do Andorinha. E como voa ainda, esta andorinha.

Resta-me apenas deixar-lhe algumas recomendações de podcasts para hoje e o fim de semana, começando pelo Deixar o Mundo Melhor de Francisco Pinto Balsemão, hoje com Henrique Gouveia e Melo: “Nunca desejei ter um cargo político ." Passando pela guitarra do cristão que tocava a música do diabo no PBX desta semana, ao som de Inês Meneses e Pedro Mexia. E passando pelo Justiça Sem Códigos, onde se discutem os limites (legais) da exposição das crianças na internet.

Deixo-lhe assim um abraço, o desejo de uma boa sexta-feira e de um excelente fim de semana.
Até já

LER O EXPRESSO

Imagem: Equipa de Portugal no primeiro encontro neste 2022 do Mundial no Catar contra a seleção do Gana. Foto Marvin Ibo Guengder – Ges Sport

Mais lidas da semana