A Procuradoria Geral da República Portuguesa está a investigar eventuais atos ilícitos, baseados em mensagens de cariz racista e xenófoba, publicadas nas redes sociais por mais de 500 agentes das forças de segurança.
A polémica surgiu depois da exibição de uma reportagem televisiva, em que metade dos membros de um grupo nas redes sociais foi identificada como tendo "grande simpatia com a extrema direita". O Ministério da Administração Interna (MAI), tutelado por José Luís Carneiro, ordenou a abertura de um inquérito. Mas a organização não-governamental, SOS Racismo, duvida que daí saiam consequências palpáveis e que os alegados autores dos atos racistas venham a ser responsabilizados.
Imigrantes de origem africana preocupados
Mamadou Sima, guineense residente, há dez anos, em Portugal, hesitou quando questionado pela DW África se já tinha sido vítima de racismo policial ou institucional: "No meu ,caso nunca fui, porque também não sou muito de lidar com casos de polícia. Portanto, não tenho queixas em relação à polícia." Mas numa referência a notícias recentes, publicadas por um consórcio de jornalistas, sobre atitudes racistas e xenófobas nas forças de segurança portuguesas, Sima afirma: "Claro, que é muito preocupante; [é uma situação] que as pessoas têm de levar muito a sério."
Reportagem televisiva põe a nu realidade chocante
Uma reportagem da televisão privada portuguesa SIC denunciou manifestações de racismo e de ódio por parte de cerca de 600 agentes das forças de segurança. Operacionais da Polícia de Segurança Pública (PSP) e da Guarda Nacional Republicana (GNR) foram apanhados em grupos privados no Facebook a fazer centenas de comentários racistas e xenófobos, ao que se juntaram apelos diretos à violência, visando mulheres, homossexuais, políticos, jornalistas, entre outros. Metade dos polícias e militares mostra proximidade com ideais de extrema direita.
Entre os visados das mensagens figuram os nomes de António Costa, atual primeiro-ministro de origem indiana, Francisca Van Dunem, ex-ministra da Justiça, de origem angolana, o ativista Mamadou Ba, originário do Senegal, a ex-deputada Joacine Katar Moreira, que nasceu na Guiné-Bissau, e a família do ator luso-guineense, Bruno Candé, vítima de um assassínio com motivação racista.
Mamadou Sima mostrou-se indignado e disse que é função dos agentes policiais "manter a paz [social] e não causar mais ódio através de atos racistas". : "As forças policiais existem para nos proteger e não para nos denegrir", disse.