sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Manuel Loff: "Esquerda está hoje incapaz contra a ultradireita e o liberalismo autoritário"

Olá,

A derrota de Jair Bolsonaro nas presidenciais brasileiras do mês passado foi um duro golpe para a extrema-direita internacional, mas a ameaça à democracia não desapareceu. Na Europa, continua a aprofundar ligações internacionais, a organizar grandes manifestações de rua e a alcançar posições de poder. No mínimo, condiciona o debate democrático, influenciando pelo caminho as direitas democráticas. O consenso antifascista europeu é uma miragem do passado. 

Em entrevista a João Biscaia, o historiador Manuel Loff alerta para os ensaios de assalto ao poder da extrema-direita nas democracias que não dão os sinais de robustez do passado. Critica quem diz que é um “relativo exagero” afirmar-se que as novas extremas-direitas ameaçam os fundamentos das nossas democracias e deixa um alerta: precisamos de declarar uma emergência antifascista. E faz um apelo sem que o seja: a esquerda que ainda se revê “numa leitura marxista da realidade” e se “concentra na defesa dos direitos dos trabalhadores, das mulheres, dos migrantes e das minorias étnicas deve assumi-la”. 

Uma esquerda que queira enfrentar a extrema-direita tem obrigatoriamente de dar resposta às dificuldades de quem (sobre)vive do seu trabalho. Lisboa e Porto, por exemplo, têm sofrido grandes mudanças. Uma delas é a crescente gentrificação, empurrando milhares de pessoas para as periferias. Há décadas, desde a I República, que o direito à habitação não passa de uma miragem para milhares de pessoas, mas, depois de um breve momento de esperança, piorou significativamente com a especulação imobiliária e com o boom do turismo. Se antes a crise da habitação atingia as classes mais pobres, hoje é transversal a quem vive do seu trabalho. 

É sobre décadas de políticas de habitação que o sociólogo Pedro Casanova escreve na edição desta semana. Acusa o Estado português de ser um instrumento para a financeirização do mercado de habitação e de as suas políticas públicas terem contribuído para a gentrificação. 

Por fim, na crónica desta semana dos Ladrões de Bicicletas, Nuno Serra salienta que o Banco Central Europeu acredita que a expansão do mercado imobiliária, vivia nos últimos anos, pode estar prestes a viver um momento de viragem. Ou seja, a acabar. E recorda que não devemos deixar de ter assente as responsabilidades do BCE para a crise de habitação que vivemos por toda a Europa ao limitar a intervenção dos Estados no setor da habitação, tanto pela via da promoção direta como da regulação.

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Bom fim de semana e boas leituras

Ricardo

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