segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Portugal | CONTORCIONISMO POLÍTICO

Joana Petiz | Diário de Notícias | opinião

Há governantes que aldrabam as próprias qualificações e antigos primeiros-ministros acusados de crimes que arrasam todos os pressupostos de confiança entre os eleitores e os que escolhem para os representar. Há familiares e amigos escolhidos para cargos e contratos importantes pela proximidade ou em pagamento de favores, descurando fatores como capacidade e competência. Há facilitismos e presentes e pagamentos feitos a titulares de cargos e órgãos públicos à vista de todos denunciados, debatidos e ultrapassados sem vergonha ou consequência. Há casos de polícia e outros que o deviam ser mas tardam em chegar aos tribunais, por incompetência, caducidade de prazos ou dificuldades dos meios policiais, judiciais e de investigação. Os casos que mancham a classe política portuguesa são generalizados e amplamente conhecidos. A incapacidade flagrante da justiça para os resolver com rapidez e de forma exemplar também.

Deixarmos seguir a farsa tem, porém, pouco de inocência. Não é espantoso que os portugueses considerem os políticos gente geralmente pouco séria, o que é incrível é que isso seja tacitamente aceite como um facto, e pronto. Ao ponto de se tornar o "rouba, mas faz" num argumento válido para a escolha de quem nos representa nos órgãos de poder.

No meio da podridão que retrata o estudo que a Fundação Francisco Manuel dos Santos publica, e de que o DN dá conta nestas páginas, há quem seja exceção; mas as barreiras que se erguem a quem não se move por interesses ou pelo menos é sensível à sua existência são tantas que os poucos que não estão comprometidos acabam por desistir da vida pública ou render-se a ser como os colegas que dão força à regra.

Esta degradação da imagem da classe política alimenta o populismo, conclui-se. Mas também dá vigorosos incentivos a que se propague esse tipo de comportamento aos que estão ao lado e abaixo, num infeliz contágio degradante que alimenta os tiques de chico-espertismo e a crença de que ninguém está a ser prejudicado com esses pecadilhos. Como a "burrice" de fazer obras em casa contra fatura - que deixa a empreitada muito mais cara do que se for feita nas costas do fisco. Ninguém sabe, ninguém sente... E é missão impossível fazê-los aceitar a ideia de que todos nós saímos prejudicados - mesmo que lhes revele os mais de 10 mil milhões de euros por ano estimados em perdas fiscais à boleia de fraude e fuga ao fisco em Portugal.

Os nossos políticos são "pouco sérios"? Mas há pouco quem os chame à pedra para assumirem erros e responsabilidades. Já lá vai o tempo em que até a mulher de César tinha de ser e parecer séria. Hoje, Júlio César teria um argumento falho para o divórcio. Se nem ao imperador se exigiria prova de caráter...

Portugal | "A sensação que temos é que Costa está cansado, desinteressado..."

Segundo Ana Gomes, António Costa terá uma "estratégia" de manter a possibilidade de "manter uma ida para o exterior" - para a União Europeia.

No seu habitual espaço de comentário na SIC Notícias, Ana Gomes teceu críticas ao Governo e àquilo que chama de "cansaço e desgoverno" perante tantas mudanças em apenas oito meses de liderança.

"O que me preocupa é que não se vê um élan reformista, não há visão estratégica, não se sabe para onde é que se vai. Num momento de crise como este, precisávamos de ter esse sentimento de direção. E a sensação que temos é que o primeiro-ministro está cansado, desinteressado...", atirou a antiga deputada.

Segundo Ana Gomes, António Costa terá uma "estratégia" de manter a possibilidade de "manter uma ida para o exterior" - para a União Europeia. Tal facto, considera, pode ajudar a explicar "o desnorte".

Angola | BANDIDOS ASSALTARAM BANDOLEIROS DO JORNALISMO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Ernesto Lara Filho, repórter, cronista e poeta (por esta ordem) ficou gravemente doente em Maio de 1974. O director do Hospital do Huambo, Belini Jara, telefonou-me dizendo que ele estava moribundo e insistia me chamar pois tinha um assunto importante para mim. Fui imediatamente. Estava internado num quarto, sozinho, no pavilhão das doenças infecto-contagiosas. O médico explicou-me que a situação era grave porque o enfermo tinha uma cirrose, um tifo e uma pleurisia, tudo ao mesmo tempo. Estava às portas da morte.

Belini Jara acompanhou-me ao quarto e vi um esqueleto coberto de peles mirradas. Tinha os olhos encovados, a cara cadavérica e só o seu farto bigode continuava em grande. Quando ouviu a minha voz ele entreabriu os olhos, foi tacteando para me pegar na mão e quando conseguiu, sorriu e disse:

- Kitó chamei-te porque quero que publiques as minhas melhores crónicas! O padre veio dar-me a extrema-unção. Diz ao Belini Jara para não deixar entrar aqui esse gajo. Deixem-me morrer ateu. O médico disse-lhe que ninguém mais voltava a entrar no quarto, sem a sua autorização. Palavra de director não volta atrás.

No dia 10 de Dezembro comemorámos o aniversário do MPLA no salão de festas do Ferrovia. A delegação do movimento era chefiada por Lúcio Lara. E dela faziam parte Maria Mambo Café, Joaquim Kapango e Pepetela. Rui de Matos e Dudu entraram no sarau cultural. O comandante declamou o poema Procuro Um Leão e de seguida o Dudu, grande cantor e grande músico, cantou a peça com uma música que ele compôs. O leão é Hoji ia Henda.

Bissau | ESPANCAMENTO DE ADVOGADO GUINEENSE CAUSA INDIGNAÇÃO

A Liga Guineense dos Direitos Humanos alerta que o espancamento de Marcelino Ntupé é resultado da violência "institucional" no país. O advogado, crítico do regime, reconheceu os seus agressores.

O presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH), Augusto Mário da Silva, visitou, esta quarta-feira (30.11), o advogado Marcelino Ntupé no hospital militar em que foi internado depois do seu espancamento, na sua residência, nos arredores de Bissau.

Sem adiantar pormenores, o ativista disse que Ntupé reconheceu os seus agressores "com precisão".

"É preciso que as autoridades policiais deixem de brincadeira de investigar. Que investiguem de forma séria e levem as pessoas à Justiça, para acalmar a sociedade", acrescentou da Silva.

O analista político, crítico do regime, e advogado de 18 detidos em conexão com a alegada tentativa de golpe de Estado de 1 de fevereiro passado foi espancado na sua residência em Bissalanca, arredores de Bissau, na tarde de terça-feira, por homens armados e encapuçados.

Bissau | "O GOVERNO DECRETOU A MORTE DA IMPRENSA GUINEENSE"

Órgãos de comunicação social serão obrigados a pagar somas avultadas para continuarem a funcionar. Rádios comunitárias terão de pagar mais de 4.500 euros; licença para rádios privadas custa 15 mil euros.

A decisão do Governo que obriga os órgãos de comunicação social a pagarem somas avultadas de dinheiro para obtenção dos alvarás foi conhecida na semana passada, mas o despacho foi assinado a 15 de outubro pelos ministros das Finanças, Ilídio Vieira Té, e da Comunicação Social, Fernando Mendonça.

O Executivo já notificou oficialmente os órgãos de comunicação social no país sobre a medida, e alertou que o não  pagamento da referida verba obrigará o encerramento dos dos órgãos de comunicação em questão.

Angola | Empresário Distraído e Piratas da América – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Amigas e amigos do peito discordam de mim, mais do que concordam. Ainda bem. Ultimamente, tenho recebido reclamações que me preocupam. Dizem que sou a favor da corrupção. Alto lá. Sou contra o capitalismo em todas as suas versões logo, sou contra a corrupção, um dos potentes combustíveis que faz andar a maquineta do sistema que sacrifica cada vez mais pobres para fazer muitíssimos mais ricos. Nasci pobre, cresci assim-assim, voltei a ser pobre e vou morrer teso. Hoje vou contar-vos duas histórias.

O Augusto Pita Grós Dias, um dos maiores radialistas angolanos de sempre, chefe dos serviços de produção do Rádio Clube do Uíje, criou um spot publicitário sobre a laranjada “mission” acabada de lançar em Luanda na fábrica onde está hoje a Comissão Nacional de Eleições. Dizia o Pita Grós: Mission a laranjada que veio da América. O sumo de laranjas que amadureceram ao som dourado da Califórnia! 

Nós íamos todos os dias à Pousada do Congo, que ficava ao fundo do recreio da descola, saber se já tinha chegado a preciosa bebida refrigerante. Quando chegou foi um festim.

Naquele tempo tínhamos uma certa propensão para o gangue organizado. E como o dinheiro era pouco, lembrámo-nos de uma operação humanitária. Ao domingo, um padre capuchinho vinha da Missão rezar missa na nossa escola. Nós fizemos uns cubos em cartolina, sem uma das faces. E quando acabava a missa íamos para a porta e pedinchávamos: Quinhenta para a mission! Quinhenta para a mission! (quinhenta eram cinco tostões…)

As senhoras que se serviam dos criados quando os maridos andavam a roubar café nas sanzalas, davam-nos esmola pensando que era para a Missão Católica. Os fazendeiros e comerciantes depositavam moedas e mesmo notas de angolar nas caixinhas. Depois íamos para a Pousada do Congo beber laranjadas mission. Bebíamos ali no Negage, à vista da Serra do Pingano, o sol dourado da Califórnia.

Angola | As misteriosas pinturas rupestres que "caíram do céu" no Namibe

As pinturas rupestres de Tchitundo-Hulo, discretamente desenhadas em grutas remotas do sul de Angola, estão entre os vestígios arqueológicos mais importantes do país, mas a falta de proteção ameaça o valioso património.

Diz-se que "caíram do céu" - o significado de Tchitundo-Hulo na língua local - e encontram-se a cerca de 130 quilómetros da sede do município do Virei, província do Namibe, sul de Angola, numa região desértica à qual se acede seguindo uma picada arenosa.

À volta, o cenário é cor de areia e o terreno seco e pedregoso. Alguns cabritos mordiscam arbustos raquíticos e são visíveis os 'sambos' (currais circulares fechados com ramos) dos pastores mucabais que ali habitam, invisíveis, mas vigilantes, sempre atentos aos visitantes.

"Aqui, ninguém pense que está sozinho, estão sempre a ver-nos. E ai dos forasteiros que venham visitar as grutas sem se apresentarem. Houve uns turistas que vieram visitar as grutas sem avisar, mas não os deixaram avançar e tiveram de voltar", diz Paihama Catenga, responsável da área de cultura e turismo da Administração Municipal do Virei, que acompanhou uma equipa da Lusa ao local.

São Tomé e Príncipe: Os bons, os maus, os dedos e a Lua – a Engorda do Monstro

Adelino Cardoso Cassandra | Téla Nón | opinião

Um dia após a suposta intentona que abalou o país, recebi, por SMS, de um grande amigo meu, dos tempos de estudante em Coimbra, com quem partilhei o quarto durante alguns anos, a seguinte mensagem: “Estou à espera de um artigo”. Também, por mensagem, fiz-lhe saber que não tencionava, naquele momento, escrever nada sobre a referida intentona, por razões profissionais momentâneas, prometendo-lhe, todavia, que lhe telefonava, no dia seguinte, para trocarmos algumas impressões sobre o tema em causa.

Em conversa com o meu amigo, no dia seguinte, convergimos na ideia que aqueles acontecimentos, sobretudo o massacre perpetrado aos supostos assaltantes no quartel das forças armadas, representam algo abominável e, como tal, condenável. Todavia, ele tentara convencer-me, com argumentos válidos e aceitáveis, que a situação momentânea no país é surpreendente e inesperada, com contornos incompreensíveis ou indecifráveis, fruto de um desvario momentâneo de um grupo específico de irresponsáveis, quer daqueles que cometeram a suposta intentona quer dos perpetradores do massacre no quartel das forças armadas, que culminou com a morte de quatro ou cinco pessoas.

No decurso da nossa conversa, tentei, contudo, convencer o meu amigo que, embora compreendesse a abordagem que ele fizera do problema em causa, eu defendia, no entanto, uma perspetiva analítica mais profunda e ampla do mesmo, consequência dos constrangimentos de natureza política e socioeconómica prevalecentes no referido contexto, há décadas, sendo que, para mim, aqueles acontecimentos não tinham nada de surpreendente ou inesperado.

De facto, recorrentemente tenho escrito sobre o rumo que a nossa sociedade tem seguido, e, para mim, estes acontecimentos não trazem nenhuma surpresa, muito pelo contrário, e até estranho o facto do impacto do mesmo não ter provocado um maior número de vítimas e mais estragos, quer em termos pessoais como patrimoniais.

Rússia rejeita limite de preço do petróleo do Ocidente e cogita suspensão da oferta

Global Times | #Traduzido em português do Brasil

Moscou expressou oposição contra um teto de preço do petróleo russo e disse que os países europeus que defendem o teto de preço podem enfrentar uma suspensão do fornecimento de petróleo, informou a mídia local no fim de semana. 

A postura intransigente do Kremlin veio logo após um anúncio feito na sexta-feira pelos países do Grupo dos Sete (G7) e pela Austrália de se juntar à UE ao estabelecer um limite de US$ 60 por barril para o petróleo bruto transportado por via marítima da Rússia. 

O teto de preço é indicativo dos planos da Europa de transformar a prática não comercial em propaganda para mostrar sua correção política, disseram especialistas, argumentando contra o exagero do Ocidente em torno do limite supostamente servindo como um estabilizador para o fornecimento global de energia com petróleo russo com desconto. 

Um cenário contundente após o limite de preço pode ser uma possível alta nos preços do petróleo que eventualmente se torna um bumerangue na UE e aumenta os sofrimentos econômicos do bloco, observaram.

O DESTINO DA AMÉRICA: REVOLUÇÃO OU FASCISMO -- vídeo

Finian Cunningham* | Strategic Culture Foundation | # Traduzido em português do Brasil

Daniel Lazare é jornalista, autor e comentarista especializado em analisar criticamente a política e a Constituição dos Estados Unidos. Ele é autor de vários livros, incluindo The Velvet Revolution e The Decline of American Democracy.

A pandemia de Covid-19 nos últimos dois anos expõe o estado patológico do capitalismo dos EUA, onde o lucro privado é priorizado sobre a saúde pública. Mais de um milhão de pessoas morreram nos EUA, de longe o maior número de mortes de qualquer outra nação.

Por outro lado, o número de mortos na China por Covid-19 é de cerca de 5.200, ou 0,5% dos EUA. Isso mostra que a morte e a doença não são inevitáveis, mas, na verdade, resultado de uma escolha política. Essa escolha é feita em Washington sob os ditames dos imperativos capitalistas. E não importa se democratas ou republicanos estão no poder.

No entanto, apesar da terrível negligência com a saúde pública e outras necessidades vitais, os Estados Unidos são atormentados pelo militarismo e por uma política externa de buscar confronto com a Rússia e a China.

As contradições dos EUA (e de outros estados ocidentais) demonstram que o capitalismo é um sistema sem saída.

A rígida estrutura bipartidária dos Estados Unidos e sua antiquada Constituição do século 18 significam que o sistema não é reformável, diz Lazare.

Premonitoriamente, isso significa que os Estados Unidos, em sua condição de impasse político, estão se movendo em direção a um governo autoritário crescente tanto sob os democratas quanto os republicanos, ou o povo assumirá o controle por meio de uma revolução progressiva que coloca os interesses dos trabalhadores e do público em geral em primeiro lugar.

Daniel Lazare apresenta uma escolha rígida para o futuro que lembra a revolucionária alemã Rosa Luxemburgo. Escolhemos o socialismo ou a barbárie?

*Ex-editor e redator de grandes organizações de mídia. Ele tem escrito extensivamente sobre assuntos internacionais, com artigos publicados em vários idiomas

VER VÍDEO DA ENTREVISTA – YouTube, em inglês

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