segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Angola | BANDIDOS ASSALTARAM BANDOLEIROS DO JORNALISMO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Ernesto Lara Filho, repórter, cronista e poeta (por esta ordem) ficou gravemente doente em Maio de 1974. O director do Hospital do Huambo, Belini Jara, telefonou-me dizendo que ele estava moribundo e insistia me chamar pois tinha um assunto importante para mim. Fui imediatamente. Estava internado num quarto, sozinho, no pavilhão das doenças infecto-contagiosas. O médico explicou-me que a situação era grave porque o enfermo tinha uma cirrose, um tifo e uma pleurisia, tudo ao mesmo tempo. Estava às portas da morte.

Belini Jara acompanhou-me ao quarto e vi um esqueleto coberto de peles mirradas. Tinha os olhos encovados, a cara cadavérica e só o seu farto bigode continuava em grande. Quando ouviu a minha voz ele entreabriu os olhos, foi tacteando para me pegar na mão e quando conseguiu, sorriu e disse:

- Kitó chamei-te porque quero que publiques as minhas melhores crónicas! O padre veio dar-me a extrema-unção. Diz ao Belini Jara para não deixar entrar aqui esse gajo. Deixem-me morrer ateu. O médico disse-lhe que ninguém mais voltava a entrar no quarto, sem a sua autorização. Palavra de director não volta atrás.

No dia 10 de Dezembro comemorámos o aniversário do MPLA no salão de festas do Ferrovia. A delegação do movimento era chefiada por Lúcio Lara. E dela faziam parte Maria Mambo Café, Joaquim Kapango e Pepetela. Rui de Matos e Dudu entraram no sarau cultural. O comandante declamou o poema Procuro Um Leão e de seguida o Dudu, grande cantor e grande músico, cantou a peça com uma música que ele compôs. O leão é Hoji ia Henda.

Ernesto Lara Filho era um declamador excepcional. Entrou no palco e abriu com Adeus na Hora da Largada de Agostinho Neto. Os aplausos foram tantos que a sala ia desabando. O artista pediu ao Dudu para sublinhar as suas palavras no violão e declamou O Grande Desafio, de António Jacinto. Mais um êxito retumbante. A seguir declamou Namoro de Viriato da Cruz. E fechou com Uma Fuga para a Infância, de Mário António. Estão a ver? Ernesto Lara Filho não morreu com aquelas três doenças graves. Recuperou heroicamente porque sempre foi um resistente. Partiu mais tarde num acidente de viação, já depois da Independência Nacional. 

O Joca Luandense sabia da encomenda do cronista e quando ele morreu disse-me para cumprir o prometido, porque o defunto era menino para me infernizar a vida, sobretudo à noite, quando os pesadelos atacam e bichos estranhos nos trepam pelo corpo acima por causa do excesso de álcool. Mano Arnesto era um andarilho, escreveu em tudo quanto era publicação angolana, portuguesa e brasileira. Como cumprir? Fui ajudado. 

Um dos meus ajudantes chama-se José Paulo Viana, um angolano do Lobito, matemático e revolucionário. O livro chama-se Crónicas da Roda Gigante e tem uma introdução minha sobre “literatura marginal angolana”. Não pensem que estou a vender o meu peixe. A obra está esgotada e não acredito que alguma vez seja reeditada.

Em 1970, José Paulo Viana assaltou os Serviços Cartográficos do Exército Português, em Lisboa, e roubou as cartas militares de Angla, Guiné e Moçambique. Conseguiu chegar com o material a Paris, via terrestre. Da capital francesa arranjou maneira de enviar tudo para Argel, onde fez a distribuição pelo MPLA, PAIGC e FRELIMO. Hoje assisti a um documentário cinematográfico sobre essas operações das Brigadas Revolucionárias, fundadas por um grande amigo do MPLA, Carlos Antunes, além de José Paulo Viana, Isabel do Carmo e outras amigas e amigos cujas amizades muito prezo.

O documentário devia ser exibido em Angola porque trata da nossa História. E não pensem que isso da História é passado. É o presente e sem ela não há futuro. Se o Ministério da Cultura quiser, trato disso. Sendo amigo dos autores, será fácil levar a fita às angolanas e angolanos.

A Luzia Moniz, por culpa de todos nós, falsifica descaradamente a História Contemporânea de Angola. Vende fruta podre ao vender de si a imagem de alguém que luta contra a censura, contra o silêncio, contra o jornalismo submetido ao poder e às suas estruturas repressivas. Ela vive em Lisboa. Portugal é o país mais seguidista na censura instaurada perla União Europeia, Reino Unido, EUA e o seu braço armado, a OTAN (ou NATO). Mas todo o “mundo ocidental” impôs uma censura férrea aos Media sobras a guerra na Ucrânia. Nunca se viu nada igual.

Logo em Março de 2022 o Jornalismo foi trucidado. Desde então, só a propaganda acéfala conta. E pessoas da baixeza mortal de Luzia Moniz usam o Jornalismo para servirem os donos veiculando mera propaganda. A falsária diz que publicou um grande livro, mas em Angola ninguém quis saber. 

A Francisca Van-Dúnem, “angolana de Luanda” fez a apresentação daquele lixo e ninguém em Angola fez a menor referência ao grande acontecimento literário. O “historiador” Mabeko, a partir de Washington também disse que as 35 crónicas publicadas pela sobrinha (e chula) do meu amigo Manuel Pedro Pacavira são peças importantes para a História de Angola. Está tudo de joelhos ante a propaganda acéfala. 

Para dar mais sainete ao “lançamento” do lixo da Luzia Moniz, o Teixeira Cândido montou uma operação em Luanda destinada a provar que em Angola há censura. Pôs a circular que o Sindicato dos Jornalistas foi assaltado e roubaram um computador. Que foi devolvido logo a seguir! O criado às ordens dos sicários da UNITA diz que recebeu ameaças. Este figurão foi receber mundos e fundos para o Projecto Medianova. Mas continuava a ganhar pelo Jornal de Angola e o seu lugar ficou cativo. Habituou-se a ganhar por dois carrinhos. Como agora está a escorrer pouco dinheiro para os seus bolsos de corrupto, faz estas figuras.

A Operação foi bem pensada. As ONG dos “direitos humanos”  logo condenaram os “assaltos e intimidações a jornalistas”. O Grupo de Trabalho de Monitoria dos Direitos Humanos (GTMDH) em Angola condenou o assalto às instalações do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, uma "ameaça e sinal claro de intimidação aos jornalistas”. Como é que este lixo humano sabe que houve um assalto? As autoridades competentes ainda não se pronunciaram e os sócios do Teixeira Cândido já decidiram que o sindicato foi assaltado. É óbvio que estamos perante uma manobra, montada em Luanda e Lisboa, para denegrir o Estado Angolano e as suas instituições. Assumo integralmente a responsabilidade do que escrevo.

*Jornalista

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