Artur Queiroz*, Luanda
Ernesto Lara Filho, repórter, cronista e poeta (por esta ordem) ficou gravemente doente em Maio de 1974. O director do Hospital do Huambo, Belini Jara, telefonou-me dizendo que ele estava moribundo e insistia me chamar pois tinha um assunto importante para mim. Fui imediatamente. Estava internado num quarto, sozinho, no pavilhão das doenças infecto-contagiosas. O médico explicou-me que a situação era grave porque o enfermo tinha uma cirrose, um tifo e uma pleurisia, tudo ao mesmo tempo. Estava às portas da morte.
Belini Jara acompanhou-me ao
quarto e vi um esqueleto coberto de peles mirradas. Tinha os olhos encovados, a
cara cadavérica e só o seu farto bigode continuava
- Kitó chamei-te porque quero que publiques as minhas melhores crónicas! O padre veio dar-me a extrema-unção. Diz ao Belini Jara para não deixar entrar aqui esse gajo. Deixem-me morrer ateu. O médico disse-lhe que ninguém mais voltava a entrar no quarto, sem a sua autorização. Palavra de director não volta atrás.
No dia 10 de Dezembro comemorámos o aniversário do MPLA no salão de festas do Ferrovia. A delegação do movimento era chefiada por Lúcio Lara. E dela faziam parte Maria Mambo Café, Joaquim Kapango e Pepetela. Rui de Matos e Dudu entraram no sarau cultural. O comandante declamou o poema Procuro Um Leão e de seguida o Dudu, grande cantor e grande músico, cantou a peça com uma música que ele compôs. O leão é Hoji ia Henda.
Ernesto Lara Filho era um declamador excepcional. Entrou no palco e abriu com Adeus na Hora da Largada de Agostinho Neto. Os aplausos foram tantos que a sala ia desabando. O artista pediu ao Dudu para sublinhar as suas palavras no violão e declamou O Grande Desafio, de António Jacinto. Mais um êxito retumbante. A seguir declamou Namoro de Viriato da Cruz. E fechou com Uma Fuga para a Infância, de Mário António. Estão a ver? Ernesto Lara Filho não morreu com aquelas três doenças graves. Recuperou heroicamente porque sempre foi um resistente. Partiu mais tarde num acidente de viação, já depois da Independência Nacional.O Joca Luandense sabia da encomenda do cronista e quando ele morreu disse-me para cumprir o prometido, porque o defunto era menino para me infernizar a vida, sobretudo à noite, quando os pesadelos atacam e bichos estranhos nos trepam pelo corpo acima por causa do excesso de álcool. Mano Arnesto era um andarilho, escreveu em tudo quanto era publicação angolana, portuguesa e brasileira. Como cumprir? Fui ajudado.
Um dos meus ajudantes chama-se José Paulo Viana, um angolano do Lobito, matemático e revolucionário. O livro chama-se Crónicas da Roda Gigante e tem uma introdução minha sobre “literatura marginal angolana”. Não pensem que estou a vender o meu peixe. A obra está esgotada e não acredito que alguma vez seja reeditada.
Em 1970, José Paulo Viana assaltou os Serviços Cartográficos do Exército Português, em Lisboa, e roubou as cartas militares de Angla, Guiné e Moçambique. Conseguiu chegar com o material a Paris, via terrestre. Da capital francesa arranjou maneira de enviar tudo para Argel, onde fez a distribuição pelo MPLA, PAIGC e FRELIMO. Hoje assisti a um documentário cinematográfico sobre essas operações das Brigadas Revolucionárias, fundadas por um grande amigo do MPLA, Carlos Antunes, além de José Paulo Viana, Isabel do Carmo e outras amigas e amigos cujas amizades muito prezo.
O documentário devia ser exibido em Angola porque trata da nossa História. E não pensem que isso da História é passado. É o presente e sem ela não há futuro. Se o Ministério da Cultura quiser, trato disso. Sendo amigo dos autores, será fácil levar a fita às angolanas e angolanos.
A Luzia Moniz, por culpa de todos
nós, falsifica descaradamente a História Contemporânea de Angola. Vende fruta
podre ao vender de si a imagem de alguém que luta contra a censura, contra o
silêncio, contra o jornalismo submetido ao poder e às suas estruturas
repressivas. Ela vive
Logo em Março de 2022 o Jornalismo foi trucidado. Desde então, só a propaganda acéfala conta. E pessoas da baixeza mortal de Luzia Moniz usam o Jornalismo para servirem os donos veiculando mera propaganda. A falsária diz que publicou um grande livro, mas em Angola ninguém quis saber.
A Francisca Van-Dúnem, “angolana de Luanda” fez a apresentação daquele lixo e ninguém em Angola fez a menor referência ao grande acontecimento literário. O “historiador” Mabeko, a partir de Washington também disse que as 35 crónicas publicadas pela sobrinha (e chula) do meu amigo Manuel Pedro Pacavira são peças importantes para a História de Angola. Está tudo de joelhos ante a propaganda acéfala.
Para dar mais sainete ao “lançamento” do lixo da Luzia Moniz, o Teixeira Cândido montou uma operação em Luanda destinada a provar que em Angola há censura. Pôs a circular que o Sindicato dos Jornalistas foi assaltado e roubaram um computador. Que foi devolvido logo a seguir! O criado às ordens dos sicários da UNITA diz que recebeu ameaças. Este figurão foi receber mundos e fundos para o Projecto Medianova. Mas continuava a ganhar pelo Jornal de Angola e o seu lugar ficou cativo. Habituou-se a ganhar por dois carrinhos. Como agora está a escorrer pouco dinheiro para os seus bolsos de corrupto, faz estas figuras.
A Operação foi bem pensada. As ONG dos “direitos humanos” logo condenaram os “assaltos e intimidações a jornalistas”. O Grupo de Trabalho de Monitoria dos Direitos Humanos (GTMDH) em Angola condenou o assalto às instalações do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, uma "ameaça e sinal claro de intimidação aos jornalistas”. Como é que este lixo humano sabe que houve um assalto? As autoridades competentes ainda não se pronunciaram e os sócios do Teixeira Cândido já decidiram que o sindicato foi assaltado. É óbvio que estamos perante uma manobra, montada em Luanda e Lisboa, para denegrir o Estado Angolano e as suas instituições. Assumo integralmente a responsabilidade do que escrevo.
*Jornalista
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