terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Angola | DONOS DA CASA E CONFISCOS ALARGADOS – Artur Queiroz


 Artur Queiroz*, Luanda

Os venerandos conselheiros do Tribunal Supremo, todos, vão transferir o plenário para Lisboa, Estrasburgo e Haia a fim de reforçarem a jurisprudência angolana em matéria de “confiscos alargados, confiscos não baseados em condenações e confiscos de bens de terceiros”. A informação foi divulgada pelo secretário-geral da Corte Suprema, juiz de direito Altino Kapalakayela. 

Está visto. Chegou a vez de irem ao castigo Sobrinhos, Madalenos, Carrinhos, Carrões e outros bichos raros como caranguejos, caranbondos, vampiros e outras aves chupadoras de dinheiro. Atenção! Os “bens de terceiros” são dos verdadeiros donos. Tudo o resto é ilusionismo. 

Graças ao Presidente João Lourenço e seus protegidos, os cofres do Estado vão ficar repletos de kumbu. Desta vez é que todas as crianças vão ter escola e todas as escolas vão ter professores. Os confiscados anteriores, estreitos ou alargados, primeiros, segundos ou terceiros proprietários, tenham paciência. Foram despojados sem formação. Mais vale tarde do que um tiro na nuca. 

O Presidente João Lourenço está em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, para participar na “Semana da Sustentabilidade” e na cimeira “O Futuro de África”. Entretanto teve um encontro com o Presidente Maomé bin Zayed Al Nahyan, mais conhecido por MBZ. No noticiário das 13 horas de hoje, a enviada especial da TPA disse que sua excelência “foi recebido pelo dono da casa como costuma dizer-se”. 

Alto lá, menina. Isso do “dono da casa” costumava dizer-se no palácio do Mobutu e em Kinkuzu. Em Angola não há donos da casa. Existem servidores da causa pública, eleitos pelo Povo Angolano. O Presidente da República termina o seu mandato em 2027 e foi eleito nas listas do MPLA. Temos uma democracia representativa.

Nos Emirados Árabes Unidos também não se pode falar de “dono da casa”. O país é constituído pelos emirados de Abu Dhabi, Sharjah, Ajman, Umm al-Quwain, Ras al-Khaimah, Fujairah e Dubai. O regime é uma monarquia absolutista, como as que existiam na Idade Média mas com muito petróleo e gás, produtos que na “idade das trevas” não valiam nada.

Cada emir pertence ao Conselho de Estado (espero que o Ismael Mateus não exija já o seu harém por ser do Conselho da República) presidido por MBZ, o monarca absoluto da capital, Abu Dhabi. Existe um primeiro-ministro que é o emir do Dubai. Os “sete príncipes” ou emires querem muito ser os donos da casa mas por enquanto, quem manda ali é o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA). 

O que têm os emires do Golfo Pérsico a ver com o futuro de África? Eis uma pergunta para a qual o Presidente João Lourenço vai na terça-feira exigir resposta. Depois pode dizer ante o corpo diplomático que aquilo em Abu Dhabi foi tão importante para o continente africano como aquela cimeira nos EUA. Os primeiros resultados já estão à mostra. Úrsula von der Leyen já vai mandar uma esmola de 25 milhões de euros, para nos matar a fome. Cada povo tem os dirigentes que merece. E nos quais vota! 

Um amigo que se bateu contra as tropas invasoras sul-africanas discorda de mim por considerar um ultraje, a visita do embaixador dos EUA ao memorial da Batalha do Cuito Cuanalave. Entende que o embaixador da França, país que forneceu os aviões Mirage e helicópteros alouette aos racistas de Pretória, também devia ir visitar o monumento. O embaixador do Reino Unido, que forneceu aviões de guerra, devia fazer o mesmo percurso. O embaixador da Alemanha igualmente. Os poderosos tanques oliphant eram alemães.

Sim, camarada estou de acordo, todos deviam lá ir. Mas nas mesmas circunstâncias que foram os sul-africanos. O General Nando Cuito recebeu uma delegação militar sul-africana no Cuito Cuanavale e explicou-lhes o que fizeram. Muitos choraram. Outros rezaram. Depois, todos juntos, foram ao Memorial da Batalha do Cuito Cuanavale pedir perdão, de joelhos.

Os angolanos, na sua infinita bondade, perdoaram aos colonialistas. Perdoaram aos traidores que tentaram destruir o MPLA. Perdoaram aos criminosos de guerra da UNITA. E perdoaram aos karkamanos. Todos os outros que destruíram Angola causando triliões de dólares de prejuízos, que mataram milhares de angolanos, que são responsáveis pelo que ainda hoje estamos a sofrer, podem ir ao memorial mas para pedir perdão, publicamente. EUA, França, Reino Unido, Alemanha, entre outros, apoiaram o regime racista de Pretória na guerra contra Angola. Os portugueses entraram com Mário Soares e o filho patarata.

Depois de todos pedirem perdão podem ir ao Memorial da Batalha do Cuito Cuanavale. E quando o Presidente João Lourenço lá voltar, não se esqueçam de lhe mostrar o espaço onde estão expostas as armas de guerra que as FAPLA usaram para derrotar a coligação mais agressiva e reaccionária do mundo: EUA, Reino Unido, França, Alemanha e África do Sul. Surpresa, camarada presidente! É armamento soviético! Os comandantes das FAPLA foram formados em Cuba e na União Soviética! Os pilotos de guerra igualmente.

Se vossa excelência não acredita em mim, pergunte ao General Furtado. Ele sabe disso como ninguém. Pergunte aos Generais Kianda e Zumbi por que razão as tropas sul-africanas não passaram da Cahama. Eles vão dizer-lhe que as FAPLA receberam armamento soviético de defesa antiaérea e os racistas sul-africanos perderam o domínio do ar.

Eu sei destas coisas porque como repórter fiz mil perguntas aos protagonistas e obtive as respostas que depositei em reportagens com o título genérico Os Anos que Mudaram África e o Mundo. Até publiquei a “acta da derrota” dos nazis de Pretória, documento que anos mais tarde serviu de pretexto para sua excelência o Presidente João Lourenço mandar prender o General Zé Maria (António José Maria). 

Os representantes dos países coligados com o regime racista de Pretória, destruído pelas gloriosas FAPLA, podem visitar o Memorial da Batalha do Cuito Cuanavale, sim. Mas antes têm de pedir perdão ao Povo Angolano. Sobretudo o mobutista que Biden mandou para Luanda como embaixador. Os EUA forneceram aos racistas sul-africanos, via Savimbi, os mísseis Stinger e os canhões G5, que mataram muitos combatentes e civis angolanos. E mais: Nesse tempo o regime sul-africano de apartheid estava sob rigoroso embargo internacional!

*Jornalista

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