sábado, 21 de janeiro de 2023

FRANÇA INSURGE-SE CONTRA "REFORMA" DA PREVIDÊNCIA

Greve geral leva mais de 1 milhão às ruas e abala Macron – que, eleito em frente democrática, apressou-se em avançar programa liberal. Mais de 60% rechaçam retardar aposentadoria para 64 anos, como querem empresários

Maurício Ayer | Outras Palavras

Mais de 1 milhão de pessoas foram às ruas na França nesta quinta-feira (19), em greve geral em todo o país contra a proposta de reforma da previdência de Emmanuel Macron. As centrais sindicais acreditam que esse número pode ter chegado a 2 milhões. As manifestações ganharam vulto não apenas na capital como também em Lyon, Marselha, Bordeaux e dezenas de outras cidades. Em Paris, mais 80 mil pessoas marcharam até Place de la République, onde houve repressão e 15 pessoas foram presas. A operação de trens e metrôs foi interrompida. Segundo matéria do jornal britânico The Guardian, as autoridades estimam que 40% das escolas primárias e 30% das secundárias pararam – os sindicatos afirmam que a adesão chegou a 70%.

A greve geral aconteceu após uma sequência de outras greves e protestos ao longo de todo o ano de 2022. A rejeição à reforma e a intensidade das manifestações parece indicar um dado político importante, que é a baixa legitimidade de Macron para implementar propostas-chave de seu mandato. Os principais pontos da reforma é o aumento da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos e que o tempo de contribuição para recebimento da pensão máxima também seja estendido. Reeleito no ano passado, o presidente afirma que a reforma constava do programa de sua candidatura. No entanto, manifestante entrevistada pelo Guardian afirma que votou em Macron, mas que, como ela, milhões de franceses fizeram o mesmo não por apoiar seu programa e sim para impedir que Marine Le Pen chegasse ao poder. Em suma, a eleição do “menos pior” livrou temporariamente a França da ultradireita mas não resolveu a crise política, já que reconduziu um mandatário com dificuldade de afirmar sua força política.

Ainda não está claro qual será o desdobramento desse exitoso dia de protestos. Reafirmando sua unidade, as organizações sindicais e de movimentos da juventude agendaram para 31 de janeiro um novo dia de greve geral, e conclamaram a população a multiplicar os atos por todo o país. O desafio agora é fazer a intensidade perdurar até uma vitória política maior. A temperatura dos movimentos pode ser acompanhada de perto através do site independente francês À l’encontre, como nesta página, que reúne relatos, manifestos e análises sobre os protestos e os próximos passos de mobilização.

Para entender mais a fundo os eventos de ontem e o movimento que obteve uma vitória política pela capacidade de mobilização, sugerimos a leitura da citada matéria de The Guardian, que apresenta um relato dos acontecimentos do dia de manifestações e um sumário de suas implicações políticas. O debate pode ser mais aprofundado com a leitura deste texto publicado pela ATTAC, que apresenta uma análise do sistema previdenciário francês e refuta ponto por ponto os argumentos apresentados por Macron e os liberais franceses para desmontar o direito à aposentadoria digna no país.

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