Neusa e Silva | Deutsche Welle
Jornalista denuncia que grupo de agentes da polícia de Moçambique o agrediu fisicamente. Rádio Comunitária Tumbine acusa a corporação de "violar o direito à livre circulação" e pede responsabilização dos culpados.
O jornalista Rosário Adelino Cardoso denunciou nesta segunda-feira (16.01) que foi agredido fisicamente, com bastões, por um grupo de cinco agentes da polícia moçambicana, no distrito de Milange, na província da Zambézia.
A agressão terá ocorrido no domingo à noite quando saía do trabalho na Rádio Comunitária Tumbine (RCT), para a qual colabora.
"A RCT considera que a agressão ao seu colaborador viola o direito à livre circulação de cidadãos no território nacional, um direito inalienável e fundamental para todos os cidadãos moçambicanos previsto nos termos do artigo 55 da Constituição da República", reagiu a emissora comunitária em comunicado, sublinhando que o "Ministério do Interior não tem legitimidade para limitar ou suspender o direito constitucional à livre circulação dos cidadãos".
Na mesma nota, a RCT exige a responsabilização dos culpados. Em entrevista à DW África, o jornalista Rosário Adelino Cardoso falou sobre a agressão.
DW África: Em que circunstâncias sofreu esta agressão?
RC: Tudo aconteceu quando estava a regressar a casa, saindo da rádio. Chego à igreja católica, na Estrada Nacional 1, e fui interpelado por um agente da polícia afeto à Guarda-Fronteira. Perguntou-me de onde eu vinha e eu disse que estava a sair da rádio. Não quiseram saber sobre a minha documentação. Os agentes perguntaram: "Vais para onde a esta hora da noite?". Eu disse que ia para a casa, saindo do trabalho, como eles, que estavam a trabalhar.
DW África: Mas não há nenhum recolher obrigatório em vigor neste momento?
RC: Não, não há. Eles dizem que é trabalho de patrulha. Então, prenderam-me e fiquei lá das 22h até as 00h00, quando decidiram libertar-me, depois de me agredirem com bastões. Apanhei mais de dez "chambocos". Foram cinco agentes e uma mulher, que estava a liderar o grupo.
DW África: Conseguiu identificar os agressores?
RC: Infelizmente, não consegui identificar os agentes, porque, quando eu tentava olhar, ameaçavam-me e diziam-me que não podia olhar para eles.
DW África: Havia outras pessoas detidas ou foi o único a ser detido nesta operação?
RC: Estava eu e mais duas pessoas. O resto conseguiu passar porque deram um dinheirinho [aos agentes] para passar.
DW África: E hoje já houve algum posicionamento, alguma informação por parte da polícia em relação a este comunicado emitido pela rádio comunitária?
RC: Hoje fomos ao Comando da Polícia da República de Moçambique (PRM), com a equipa da rádio, mas não fomos bem recebidos. Então, apresentámos queixa contra os agentes da polícia e depois tivemos uma ligação do comando do 5. Regimento, que está a fazer algumas diligências para poder identificar os agentes que estavam a trabalhar naquele local.
A DW África contactou a polícia local, para obter uma reação sobre esta denúncia, mas a polícia rejeitou comentar o assunto.
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