sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

A HORA DOS GANGUES E REIZINHOS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A primeira Guerra do Golfo teve como justificação a libertação do Koweit. Começou no dia  2 de Agosto 1990 e terminou em 28 de Fevereiro de 1991. O ataque ao Iraque (país ocupante) foi autorizado pelo Conselho de Segurança da ONU. Eu estava lá e levei com mísseis Cruzeiro em cima. Vi bombardear Bagdade. Publiquei um livro onde foram incluídas todas as minhas reportagens.

No Koweit soube que as autoridades locais decidiram, instigados pelos EUA, ocupar vastas áreas petrolíferas em águas territoriais do Iraque. Em Bagdade, diplomatas e políticos dos EUA instigavam Saddam Hussein a “dar uma lição” à família reinante no Koweit, uma espécie de estado petrolífero que politicamente estacionou na Idade Média. O Presidente do Iraque deu a lição aos senhores feudais, mandando a Guarda Presidencial ocupar o pequeno país. Estava começando a matança para roubar o petróleo iraquiano e comprar o “crude” do Koweit a preços rastejantes. 

Apenas quatro dias antes de rebentar a guerra, o secretário-geral da ONU, Perez de Cuellar, visitou Bagdade. Quando regressava a Nova Iorque, perguntei-lhe se teríamos guerra ou paz. Muito simpaticamente respondeu que a paz estava garantida. E anunciou que a Guarda Presidencial ia abandonar o Koweit. No dia seguinte chegou a Bagdade o comandante Yasser Arafat. Entrevistei-o na Casa da Palestina (embaixada). Guerra ou paz? E ele respondeu com o semblante carregado: “Já soam os tambores da guerra. Mas o Ocidente perde para sempre a paz”. O empregado que os EUA tinham colocado à frente da ONU tinha-me enganado.

O Iraque foi atacado pela OTAN (disfarçada de coligação internacional) e no final de Fevereiro de 1991, há 32 anos, estava praticamente desarmado. Todo o país foi declarado como zona de exclusão aérea. Mais de um milhão de emigrantes de várias nacionalidades, do Egipto ao Paquistão, fugiram da guerra. Uma tragédia. Milhões de iraquianos fugiram do seu país. Milhares morreram nos bombardeamentos dos “libertadores”. O Ocidente destruiu o país mais progressista do Médio Oriente. E o mais rico. Ficou com o petróleo de borla.

O Iraque também era tampão do fundamentalismo islâmico que soprava do Irão. O estado socialista iraquiano começou a ser demolido pelo “ocidente alargado”. O fundamentalismo islâmico ficou à solta. E como havia previsto Yasser Arafat, o ocidente começou a perder a paz. Apenas dez anos depois aconteceu o 11 de Setembro em Nova Iorque. 

George W. Bush, presidente do estado terrorista mais perigoso do mundo, acusou o Iraque da autoria dos atentados. Teve pouco sucesso porque os serviços secretos ocidentais tinham provas do envolvimento da Arábia Saudita, aliado fiel de Washington. Como a aldrabice não pegou, a CIA e o Pentágono puseram a circular que o Iraque, praticamente desarmado depois da guerra, tinha armas de destruição maciça. Uma mentira que causou milhões de mortos, refugiados e deslocados. Até hoje esse genocídio está impune. E o Iraque continua ocupado pelas tropas dos EUA.

George W. Bush, Tony Blair (Reino Unido) e José Maria Aznar (Espanha), recebidos pelo primeiro-ministro português Durão Barroso, reuniram-se, na tarde de 16 de Março de 2003 na Base das Lajes, Açores, numa cimeira que culminou, quatro dias depois, na madrugada de 20 do mesmo mês, com o início de segunda intervenção militar no Iraque. Desta vez, o “ocidente alargado” já não tinha a capa do Conselho de Segurança da ONU. 

EUA, Reino Unido, Espanha e outros aliados menores fizeram a guerra por conta própria. Destruíram o que ainda estava de pé no Iraque e criaram as estruturas necessárias para o roubo do petróleo. Mataram o Presidente Saddam Hussein. Foram ver e afinal não existiam, nem sombras, das armas de destruição maciça.

A Espanha esteve na primeira linha deste crime sem nome. Participou na invasão e destruição de um estado soberano. Juan Carlos, o rei escolhido pelo ditador Franco, deu aval entusiástico à participação espanhola na criminosa guerra de Bush, Blair, Aznar e Barroso no Iraque.

Filipe VI, o reizinho que esteve em Luanda pavoneando a sua majestade, é soberano por transmissão hereditária e não por qualquer sufrágio directo e universal. Nunca disse uma palavra de condenação ao crime que o seu país estava a cometer no Iraque. A guerra começou em 2003 e ele casou em 2004. Mesmo que seja pouco dotado pela inteligência, ainda que tenha um atraso mental acentuado, nessa altura, com 35 anos, tinha a obrigação de saber distinguir um crime hediondo de uma apresentadora de televisão, a sua Letícia.

Em 2003, Filipe tinha o dever de condenar a invasão e destruição do Iraque. Nem uma palavra. Andava entretido nas páginas da imprensa cor-de-rosa. E seguiu o caminho do pai, apoiando a agressão ao Iraque. Seguidista como é, provavelmente também vai atrás do pai, imitando-o nos actos de corrupção em que está metido até ao pescoço. O rei do ditador Franco até teve de fugir para não ser preso em Espanha!  

O reizinho Filipe teve a lata de condenar a Federação Russa por ter “invadido a Ucrânia sem nenhum motivo!”. Esta declaração foi feita na Assembleia Nacional, ante os deputados da Nação. O monarca oligarca não tem juízo nem vergonha. E é um abusador. Se lhe encostarem um canhão sem recuo às nádegas ele também vai achar que não tem motivo para reagir, enxotando o dono da arma pesada? Pobre diabo.

Quando a Espanha apoiava os fascistas e colonialistas portugueses na guerra colonial, a União Soviética apoiava o MPLA e o Povo Angolano. Intriguista e desmiolado, o reizinho podia estar calado. Porque não te calas? Fica-lhe muito mal atirar o Povo Angolano contra os seus irmãos russos, que nunca viraram a cara a Angola nas horas difíceis. Os espanholitos querem de Angola negócios leoninos e dinheiro fácil, como bons genocidas e colonialistas que são. 

O reizinho gaba-se que é a primeira vez que visita um país da África Austral. É um pândego. Ainda não percebeu que na região, só mesmo João Lourenço teve coragem para convidar um monarca oligarca, representante de uma casa real mergulhada na corrupção até ao pescoço. Falta de vergonha e de juízo por todos os lados. O mobutismo não justifica tudo!

Desencadeada a guerra no Iraque por uma coligação militar liderada pelos EUA e pelo Reino Unido, apoiada por Portugal e Espanha, a operação conduziu à ocupação militar do Iraque, que se mantém até hoje, e ao derrube do regime de Saddam Hussein. Da reunião na ilha Terceira, nos Açores, saiu esta pérola do genocida George W. Bush: “Ou o Iraque entrega as armas de destruição maciça ou é desarmado pela força”.

No dia 14 de março de 2003, Durão Barroso foi ao gabinete do Presidente Jorge Sampaio informá-lo da “cimeira das Lajes”. Mentiu-lhe dizendo que era para encontrar uma solução de paz. Mas já sabia que ia participar na reunião da guerra. Quando regressou a Lisboa disse aos jornalistas: “Eu vi as provas das armas de destruição maciça no Iraque”. Mentira hedionda.

Durão Barroso um ano depois foi promovido a presidente da Comissão Europeia e actualmente, mama em grande na financeira Goldman Sachs, atingindo o topo da hierarquia no sinistro Grupo de Bilderbeg. Paulo Portas, seu ministro da Defesa, chegou a a vice-primeiro-ministro e hoje dedica-se aos negócios, sobretudo em Angola! O reizinho Filipe VI veio a Angola tratar dos negócios da família. Este vai mais longe do que o pai.

Falei do gangue que destruiu o Iraque. Agora vou falar do gangue mais perigoso de Angola, uma autêntica seita satânica. O grupo parlamentar da UNITA exigiu hoje a demissão do presidente do Tribunal Supremo, pela voz de Liberty Chiaka chefe do grupo parlamentar. 

O sicário do Galo Negro explicou porque quer a demissão do titular de um órgão de soberania, interferindo gravemente no Poder Judicial, violando selvaticamente a separação de poderes. Eis a sua explicação: “Não se pode compreender, aceitar, que todos os meses saem notícias envolvendo o presidente do Tribunal Supremo”.  Portanto, se o lixo mediático produzido pela UNITA afecta o titular de um órgão de soberania, ele tem que ser demitido. Para a UNITA democracia é isso. Não conseguem esquecer a Jamba nem o criminoso de guerra Jonas Savimbi. 

Outro gangue poderoso. Num artigo assinado a meias pelo “investigador” Thomas j. Duesterberg e Rafael Marques a República Popular da China é gravemente atacada a propósito daquilo a que os dois gangsters chamam “os elevados custos da divida odiosa” contraída por Angola. Pedem uma “auditoria forense” e defendem que Angola não deve assumir novas dívidas com a China.

O reizinho Filipe VI ataca a Federação Russa na casa da democracia. O condecorado de João Lourenço ataca a República Popular da China. O mobutismo reinante é mesmo muito fraco. Não vai longe. O genocida Biden no seu discurso de ontem disse que a Federação Russa é para abater. Mas declarou amizade à China! Alguém avise os mobutistas dessa mudança de política. 

* Jornalista

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