sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Portugal | INFLAÇÃO TIROU TRES MIL MILHÕES AOS SALÁRIOS EM 2022

Cada funcionário público perdeu 1304 euros. No privado, a penalização anual para cada trabalhador foi de 484 euros

A inflação de 7,8%, registada em 2022, provocou um verdadeiro rombo nos salários dos funcionários públicos e dos colaboradores do setor privado. Cálculos realizados pelo Dinheiro Vivo com base nas estatísticas sobre as remunerações brutais mensais, publicadas esta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), revelam que, no conjunto, os trabalhadores perderam cerca três mil milhões de euros devido ao impacto da subida continuada dos preços.

No ano passado, o vencimento bruto médio mensal dos mais de 4,4 milhões de trabalhadores fixou-se em 1411 euros, o que representa uma perda real de 4% por força do embate da inflação, segundo os dados do INE. Assim, em termos reais, verificou-se um corte na massa salarial da economia portuguesa de cerca de três mil milhões de euros, o que dá uma perda anual de 676 euros para cada trabalhador.

Analisando os efeitos da variação dos preços nos ordenados brutos dos setores público e privado, verifica-se que os trabalhadores do Estado foram mais penalizados. Apesar de auferiram uma remuneração bruta média mensal superior, de 1951 euros, a perda real também foi maior, de 5,6%. Feitas as contas, os mais de 742 mil funcionários públicos sofreram uma perda global de 968 milhões de euros, o que significa, em termos médios, um corte anual nos salários de 1304 euros.

No perímetro das empresas do setor privado, o ordenado bruto mensal médio em 2022 era de 1302 euros, menos 642 euros face aos valores praticados na Administração Pública. Mas o abalo provocado pela inflação também foi menor. Os mais de 3,6 milhões de trabalhadores sofreram um corte de 3,1% nas suas remunerações, o que dá uma redução global anual de 1,7 mil milhões de euros e de 484 euros por cada funcionário.

Em termos acumulados, os portugueses perderam 9,5 mil milhões de euros nos últimos oito anos, o que significa um corte de 12,6% na massa salarial, de acordo com a série estatística do INE que deflaciona as remunerações a janeiro de 2014, altura em que a inflação era nula. Tendo em conta as penalizações globais geradas desde o último ano da troika em Portugal, os cortes no Estado superaram os 2,2 mil milhões de euros: a diferença entre o vencimento ilíquido médio mensal nominal (1951 euros) e o valor real (1703 euros) é de 248 euros que, multiplicado por 12 meses, uma vez que esta remuneração já inclui os subsídios de férias e de natal, dá uma perda global por trabalhador de 2976 euros. Ao contabilizar todos os 742 400 funcionários públicos existentes em 2022, chegamos a um recuo nas remunerações que supera os tais 2,2 mil milhões de euros.

No setor privado, e porque o universo de trabalhadores é muito superior, ultrapassando os 3,6 milhões, o impacto é maior. No conjunto, a inflação tirou mais de 7,3 mil milhões aos salários. Na comparação entre o vencimento médio bruto verificado, de 1302 euros, e o real, de 1137 euros, existe uma quebra de 165 euros por mês. A perda global por trabalhador atingiu os 1980 euros.

Salomé Pinto | Diário de Notícias

Salomé Pinto é jornalista do Dinheiro Vivo

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