Rosália Amorim* | Diário de Notícias | opinião
O atraso na escolha do novo aeroporto custa dinheiro, muito dinheiro ao país. Dizem as mais recentes contas, da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), que são 650 milhões de euros. É "uma vergonha" Portugal esperar 50 anos por uma nova solução, atira o presidente Francisco Calheiros. O valor que a nação desperdiça está agora visível num contador eletrónico mesmo junto à 2.ª Circular, na cidade de Lisboa. O cálculo é feito desde o dia 14 de julho e é atualizado, a cada segundo, no contador que fica perto do Aeroporto Humberto Delgado (ler mais na Última página desta edição).
A não-decisão de um novo aeroporto não é só um atraso para o país, é um custo de oportunidade gigantesco e que vai atravessar e penalizar várias gerações. Como diz Francisco Calheiros, "as pessoas, em geral, e o poder político, em particular, podem assim ter noção do custo da não-tomada de uma decisão sobre o aeroporto". Não vale a pena esconder. Numa altura em que se fala tanto em ética republicana, o melhor mesmo é seguir o caminho da verdade e da transparência.
650 milhões de euros é um valor apurado pela CTP e a EY, num estudo sério que contou com a participação de todos os stakeholders , desde as agências de viagens, à hotelaria, sem esquecer a restauração, aviação, aeroportos, entre outros. Segundo dados da CTP e EY, entre 2010 e 2019, o número de passageiros movimentados, anualmente, em Lisboa, mais do que duplicou (122%) para 31 milhões. Em 2020 e 2021, com a pandemia, a atividade no aeroporto de Lisboa sofreu uma forte contração, mas o turismo já está de volta e não há mãos a medir. O estrangulamento na capacidade da atual infraestrutura é visível nos constantes atrasos nas partidas e chegadas. Dados do Eurocontrol, reportados a 2019, indicam que, já nessa altura, Lisboa estava no grupo dos aeroportos europeus com maiores atrasos.
Os players que a CTP representa estão cansados de tanta espera. Os passageiros também. E ainda falta mais uma avaliação ambiental estratégica para a expansão aeroportuária na região de Lisboa. Mais uma espera longa, quando os diagnósticos estão todos feitos. A lista de possíveis localizações já acumula sete destinos (sete!), na margem norte e na margem sul do Tejo.
Enquanto se gasta tempo em estudos e estudinhos, a economia perde com isso e compromete-se o crescimento dos próximos anos. E os governantes assistem a tudo isto, como se um país pobre se pudesse dar ao luxo de desperdiçar oportunidades e dinheiro.
*Diretora do Diário de Notícias
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