O mais importante está assegurado. Face a uma das mais brutais perdas do poder de compra das últimas décadas, Fernando Medina, ministro das Finanças, destacou o fundamental para o PS: é que a economia cresceu.
AbrilAbril | editorial
Não há pão? Comam crescimento económico... Em declarações à Agência Lusa, Fernando Medina, ministro das Finanças e um dos nomes fortes do Governo de maioria absoluta do PS, destacou o alcançar do maior crescimento económico em 35 anos, que se verificou no ano de 2022.
A população residente em Portugal pode ter sentido na pele as consequências da pandemia, da inflação e do aumento do custo de vida mas o sector económico não podia estar mais satisfeito com os resultados: estamos 2,6% acima dos níveis anteriores à pandemia, 2019, «o que não acontece com outros países» da União Europeia.
«Um défice dentro do patamar 1,5%, abaixo de 1,5% do Produto [Interno Bruto] e uma dívida pública de 115% do Produto», são, considera o ministro, «um elemento de confiança no país». Em contrapartida, no mesmo ano, verificou-se uma descida substancial do salário real (-4,5%).
Mas Medina não é o único que, perante as dificuldade sentidas pelos trabalhadores e a grave situação que o PS prolonga na educação e no SNS, assume uma postura celebratória.
A economia está de boa saúde, os trabalhadores é que estão piorzinho
O que realmente se verificou em Portugal, neste período, foi uma enorme operação de transferência de riqueza dos trabalhadores para as grandes empresas, que não contém o jubílio ao anunciar sucessivos anos de lucros recorde. Enquanto os salários perdem cada vez mais valor e os custos da habitação, alimentação, saúde, etc... aumentam, o Governo PS opta por boicotar todas as tentativas de proteger os rendimentos de quem, todos os dias, constrói a riqueza.
Se o PS (acompanhado por PSD, IL e Chega), por um lado, chumba propostas, como a do PCP, que pretendem impor controlo aos preços do cabaz alimentar, por outro, para garantir as tais contas certas, limita em milhares de milhões o indispensável investimento público.
Em relação ao que era proposto no Orçamento do Estado para 2022 (aprovado com a abstenção do PAN e Livre), o investimento público ficou aquém 2,4 mil milhões de euros. São 2,4 mil milhões que não foram investidos na melhoria da ferrovia, não foram para garantir que as maternidades e urgências permanecem abertas e que não serviram para fixar professores nas escolas (quando dezenas de milhares de alunos não têm, pelo menos, um professor a cada disciplina).
Uma vez mais, Medina comemora o desinvestimento feito pelo Governo PS: em relação aos dados da execução orçamental, «estamos no bom caminho para fecharmos o ano de 2022 dentro das metas».
É clara a razão que levou o PS de António Costa a recusar-se a reverter a maioria das medidas austeritárias de Passos Coelho
O Governo PS assume uma maior confiança relativamente ao andamento do ano de 2023, perante os lucros pornográficos de empresas dos vários sectores de actividade (grande distribuição, energia, banca, etc...). Esta perspectiva assumida pelo ministro das Finanças evoca as declarações de Luís Montenegro em 2014, já perto do final do mandato de Passos Coelho: «a vida das pessoas não está melhor mas o país está muito melhor».
É certo que a vida das pessoas está muito pior, que não conseguem marcar consultas nos hospitais, que não conseguem pagar as rendas, que perderam salário (embora tenham aumentado a produtividade), mas as administrações da Jerónimo Martim, da Sonae, do Santander, da Galp meteram ao bolso milhares de milhões de euros. Foquemo-nos antes no positivo.
Fernando Medina não renuncia a deixar um último aviso ao povo português: «a inflação diminuir não significa que os preços caiam, significa que aumentarão menos do que estavam a aumentar». Sem interesse por parte do PS, os povos que lidem com isso.
Imagem: Tiago Petinga / Agência Lusa
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