quarta-feira, 29 de março de 2023

Angola | AS OSSADAS DE UM FALSO HISTORIADOR – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Jornalista Adelino de Almeida, presidente das Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana (ERCA), disse ao Novo Jornal que o lixo mediático que estamos com ele resulta de uma grave afronta à autoridade do Estado. Eu acrescento que o Estado, via ministério da tutela, não impõe a sua autoridade porque lhe interessa a lei da selva. Porque aposta na falência do Jornalismo Angolano. Porque tem tudo a ganhar com o descrédito dos jornalistas. Assim temos “on-line” canais de rádio e televisão que manipulam, falsificam, deturpam, mentem, insultam, desonram. O contrário de Informação. Tiros mortais contra a Liberdade de Imprensa. O Presidente João Lourenço é o pai do monstro.

Para esta tragédia contribui alegremente a TPA. Fazem gala em assassinar a língua oficial (Língua Portuguesa). Chamam às notícias notas. Brincam em serviço. Portam-se pior do que os lixeiros das redes sociais. Um exemplo de ontem. A equipa que foi enviada para o desmoronamento da Avenida Comandante Valódia (Combatentes) reportou o óbvio ululante. E seguiu o modelo dos jogos de futebol. Antes da partida perguntam quem vai ganhar e quem marca os golos e no final perguntam se gostaram do que viram. Uma pivot perguntou ao jovem repórter nos escombros: Tu que és da nova geração de jornalistas, o que sentes ao cobrir este acontecimento? E o moço muito despachado: Uma coisa maravilhosa!

Para quem não sabe ou sabe pouco, informar é igual a entretenimento e espectáculo. A parte técnica está a níveis rastejantes. Não há meio de acertarem com os novos equipamentos. Isto significa que a TPA está uns degraus abaixo do lixo mediático que afronta a autoridade do Estado. Mas os seus responsáveis foram nomeados pelo Presidente João Lourenço. Demolido o Poder Judicial e a Comunicação Social só fica mesmo o poder legislativo e o Presidente da República que também é titular do poder executivo. A democracia amputada das pernas fica estagnada. Só se mexe empurrada ou em cadeira de rodas.

E as opções editoriais? A TPA ontem no telejornal e hoje às 13 horas deu todo o programa da visita da vice-presidente dos EUA a África! Fui ver o que aconteceu nos espaços noticiosos dos principais canais do mundo mesmo os públicos. Tirando a Voz da América e antenas da CIA ninguém deu tão empolgante notícia. O canal público angolano deu dose dupla e na agenda de Kamala Harris não está Angola! Nunca lutes com um porco porque mesmo que ganhes ficas sempre sujo. É isso. O canal púbico de televisão desceu ao nível dos porcos. Dessa opção só pode resultar porcaria. Ficamos todos sujos, jornalistas, técnicos e telespectadores.

O Folha 8 publicou agora um texto do falso historiador Carlos Pacheco publicado há um ano. Um gesto egolátrico porque toda a sociedade pós-conflito que não viveu um processo de verdade, justiça e reparação aloja no seu seio um gigante enterrado. Angola também tem este gigante esquecido debaixo dos seus pés na figura de Carlos Pacheco. Para cúmulo do sofrimento a sua família recebeu as ossadas erradas. Até eu, a olho nu, descobria o erro.

As ossadas escreventes do Carlos Pacheco têm uma costela de Salazar. A língua ainda tem embrulhadas as palavras do discurso que fez na varanda do Palácio da Cidade Alta, em nome da juventude angolana, glorificando Portugal do Minho a Timor com passagem pela lagoa do Panguila. A alma do Pacheco, alojada no metatarso do dedo pequenino do pé direito, tem a forma de matacanha calcificada. A esposa e filhos devem enviar as ossadas erradas ao Francisco Queiroz. O desvairado comerciante de ossos tem de devolver a massa.

A Hidra de Lerna, reforçada com o hálito pestilento dos golpistas do 27 de Maio de 1977, arrasou o país de ponta a ponta. As espirais de sofrimento resultantes desse banquete de horrores jamais se aplacaram até aos dias de hoje. Mesmo que o Presidente João Lourenço e seu sócio Francisco Queiroz façam tudo para apresentar os assassinos como vítimas e os heróis que os enfrentaram como criminosas, não vão conseguir. Os membros da direcção política e militar do golpe de estado são assassinos e traidores. Foram julgados em tribunal marcial. Condenados à morte. Ninguém vai conseguir inverter os dados, mesmo com negociatas de ossadas.

O Pacheco é igual a Mefisto. Falta a este áulico da Justiça a necessária percepção para entender que um historiador não mente. Não falsifica. Os golpistas do 27 de Maio de 1977 não foram sepultados “em valas clandestinas”. O problema é que no local dessas valas hoje existem milhares de casas e vivem milhões de pessoas. Querem demolir tudo para entregar as ossadas do Carlos Pacheco à família? Loucura! Escreveu o Pacheco, quando ainda era uma ossada vendável: “Jacob Caetano (vulgo “Monstro Imortal”), antigo chefe do Estado-Maior das FAPLA…”) 

O Carlos Pacheco é falso historiador e uma ossada mentirosa. Monstro Imortal nunca exerceu tal cargo. O verdadeiro ainda está vivo: General de Exército João Luís Neto (Xietu). Desejo longa vida ao meu querido amigo e camarada.

A direcção política e militar do golpe de estado em 27 de Maio 1977 matou, prendeu, torturou. Carlos Pacheco vira trudo ao contrário. Para ele os heróis e as heroínas que enfrentaram os golpistas “mataram os melhores talentos civis e militares de uma geração”.  

Sita Vales. Veio para Angola em 1975 integrada num grupo de militantes revolucionários que ajudei a recrutar em Portugal com o apoio de altos dirigentes do MFA. A menina era militante da Juventude do Partido Comunista uma espécie de JMPLA. Uma oportunista rasteira. Culturalmente valia zero. Politicamente só sabia dizer “esquerdistas”. 

José Van-Dúnem. Frequentava a especialidade do curso de sargentos milicianos no Cuito quando foi preso. Gilberto Saraiva de Carvalho, seu companheiro no campo de concentração do Bentiaba, mobilizou-o para o MPLA. Culturalmente valia zero. Politicamente aprendeu pouco com Gigi Mano Carapau. Não teve tempo para aprender muito porque o seu oportunismo desmedido levou- o aos píncaros do MLPA e o seu mentor ficou onde sempre esteve: Militante de base. Foi alferes miliciano e comandou um pelotão de morteiros. Juca Valentim. Intelectual de paleio e doentiamente sectário.  Rui Coelho. Professor. Revisionista.

Nito Alves. Professor de posto. Falso comandante. Politicamente valia zero. Culturalmente não existia. Bakaloff zero absoluto. Sianouk muitos furos abaixo de zero. Minerva. Tipógrafo medíocre. Monstro Imortal a única cabeça dos golpistas. A desmedida ambição levou-o a trair e matar camaradas. Matou e morreu. É o primeiro responsável pela tragédia do 27 de Maio. Levem as ossadas deles todos para o Palácio da Cidade Alta mas deixem os angolanos em paz!

* Jornalista

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