O general Dutra negociou junto ao então interventor na segurança do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, o veto à ação da Polícia Militar no acampamento golpista de Brasília ainda na noite das invasões aos três Poderes.
Correio do Brasil, Brasília | # Publicado em português do Brasil
A Polícia Federal (PF) iniciou, nesta quarta-feira, a oitiva de cerca de 80 militares do Exército sobre os episódios de invasão e vandalismo em prédios públicos ocorridos em 8 de janeiro, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Três deles são generais. Os investigadores buscam esclarecer a possível participação ou omissão das tropas antes ou durante os atos golpistas, que deixaram as sedes dos Três Poderes amplamente depredadas.
Entre os militares já ouvidos nesta manhã está o general Gustavo Henrique Dutra
de Menezes, que era responsável pelo Comando Militar do Planalto (CMP) no dia 8
de janeiro. Ele já foi ouvido pelos agentes federais por mais de duas horas. No
Diário Oficial da União (D.O.U) desta quarta-feira, o militar foi exonerado da
chefia do CMP. A medida era esperada desde 16 de fevereiro, quando fora
anunciada pelo Exército.
O general Dutra negociou junto ao então interventor na segurança do Distrito
Federal, Ricardo Cappelli, o veto à ação da Polícia Militar no acampamento
golpista de Brasília ainda na noite das invasões aos três Poderes.
Radicais
Dentre os comandantes ouvidos pela manhã estão ainda os generais Carlos Feitosa
Rodrigues, ex-secretário de segurança do Planalto, e Carlos José Russo
Assumpção Penteado, ex-número 2 do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
Outro militar ouvido nesta quarta é o coronel Jorge Fernandes da Hora, que nos
dias dos ataques era o chefe do Batalhão de Guarda Presidencial, responsável
pela proteção do Palácio do Planalto.
Uma força-tarefa com aproximadamente 50 agentes foi montada pela PF para colher
os depoimentos dos militares. Os interrogatórios ocorrem na Academia Nacional
de Polícia da Capital Federal. A ideia foi ouvir a todos num único dia, técnica
que visa evitar que um saiba o que foi dito por outros.
Apuração
A PF quer esclarecer, por
exemplo, as declarações do coronel Jorge Eduardo Naime, que em depoimento à
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Democráticos, conduzida pela
Câmara Legislativa do Distrito Federal, disse que membros do Exército teriam
tentado impedir a prisão de radicais da ultradireita.
Outro ponto a ser esclarecido é o fato de tanques do Exército terem sido
colocados entre policiais militares e o acampamento de bolsonaristas em frente
ao Quartel-General, em Brasília, na noite do 8 de janeiro. As pessoas acampadas
no local, que pediam abertamente uma intervenção militar para reverter o
resultado das eleições, somente foram presas no dia seguinte.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) abriu, no mês passado, apuração
preliminar para investigar a eventual responsabilidade de militares do Exército
nos atos antidemocráticos. A medida foi tomada após o Supremo Tribunal Federal
(STF) decidir que os militares envolvidos com atos golpistas devem ser julgados
pela Justiça comum, e não pela Justiça Militar.
Nenhum dos militares chegou à PF acompanhado de advogados.
Imagem: O general bolsonarista Gustavo Dutra, em solenidade com o então mandatário neofascista
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