domingo, 9 de abril de 2023

Portugal | POUCO CÉU E POUCA TERRA

Pedro Ivo Carvalho* | Jornal de Notícias | opinião

Apenas os mais distraídos, ou excessivamente crédulos, podem invocar surpresa perante um desastre anunciado chamado TAP.

O privatiza-nacionaliza-vamos-privatizar-outra-vez não produziu, infelizmente, nenhum resultado meritório. Nem para a saúde financeira da companhia, nem para a sua reputação. Pelo meio, já todos parecem ter esquecido que os portugueses foram convocados a insuflar esse desvario com mais de três mil milhões de euros dos seus impostos. A companhia aérea nacional há muito que deixou de servir o país, mas é particularmente dececionante perceber que os que desembainhavam espadas na direção de quem ousasse questionar a teimosia são, afinal, os seus maiores coveiros. A comissão parlamentar de inquérito à TAP é a prova acabada de que esse reiterado ativo estratégico foi sendo gerido pelo aparelho socialista com assento no Governo apenas com uma preocupação: controlar. A gestão da empresa e até os voos do presidente da República.

Mas se descermos do céu à terra, a neblina não espairece. A CP é uma empresa moribunda, entregue aos desmandos de um exército sindical que produz pré-avisos de greve a uma velocidade que nem o Alfa Pendular consegue acompanhar. Vemos algum membro do Governo a perder um minuto de sono com isto? A preocupar-se com os milhares de utentes que ficam sem meio de transporte para o emprego?

A lógica do protesto a qualquer custo normalizou-se na CP, sem que com isso haja conquistas visíveis por parte dos trabalhadores. É uma cultura de desgaste social que atinge sobretudo os mais fracos: cidadãos da periferia a quem não é permitida uma alternativa de mobilidade. Portugueses de segunda que não têm outro remédio senão aguentar. Os comboios, todos o sabemos, não são sexy como os aviões. E nunca dão azo a comissões de inquérito, apesar do crime que continua a ser praticado.

*Diretor-adjunto

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