MPLA Propôs a Portugal Solução Pacífica e Democrática
Artur Queiroz*, Luanda
Agostinho Neto foi preso em Luanda no dia 8 de Junho de 1960, acusado de actividades subversivas e por pertencer ao MPLA. A sua prisão gerou grandes manifestações populares em frente ao seu consultório médico de São Paulo, nos vários musseques da capital e na sua terra natal, Kaxicane, Icolo e Bengo. Agentes da polícia e militares reprimiram os manifestantes e a sua aldeia foi ocupada pelas forças repressivas vários dias.
Toda a região de Catete à Kissama entrou em pé de guerra. As autoridades colonialistas tremeram. Na capital, a população negra libertou-se do medo e exigiu a libertação do seu líder. Faz hoje 63 anos. Pouca memória existe deste acontecimento crucial para o início da Luta Armada de Libertação Nacional. Mas há muita manobra de diversão, muita falsificação, demasiada aldrabice. Um tal Agualusa, falso escritor e falso angolano, publicou falsidades sobre o MPLA e a sua génese. Para enaltecer a UNITA que nessa altura lhe pagava a ração com que se alimentam as traições.
Alguns anos depois, João Lourenço chancelou as suas aldrabices distinguindo a besta insanável com um prémio. Dando-lhe estatuto de agente cultural quando não passa de um colonialista ressabiado de falinhas mansas e passaporte de angolano. Este energúmeno disfarçado de intelectual até escreveu que o MPLA não existia quando foi desencadeada a Revolução do 4 de Fevereiro. Na época publiquei este texto:
O Comité Director do MPLA emitiu um comunicado em Conacri, Guiné, cinco dias depois da prisão de Neto, em 13 de Junho de 1960, no qual denunciava ao mundo que as autoridades portuguesas estavam a preparar “uma guerra colonial” e já existiam no terreno acções “preventivas”. A capital angolana era palco de prisões em massa, entre as quais o médico Agostinho Neto, que os nacionalistas tratavam como “o nosso Moisés”. O histórico documento é assinado por Lúcio Lara, Mário Pinto de Andrade e Viriato da Cruz. Agualusa, premiado por João Lourenço, diz que nesta data o MPLA não existia.
A direcção do MPLA, sete meses antes do 4 de Fevereiro já denunciava ao mundo que o governo colonial-fascista de Lisboa estava a desencadear “medidas opressivas que podem levar ao derramamento de sangue inocente”. Se a comunidade internacional nada fizer, então, diz o histórico comunicado, “o MPLA não será cúmplice desses crimes” alertando a tempo e horas para o clima de revolta criado pela prisão de Agostinho Neto e outros destacados nacionalistas.
Os citadinos (segundo Agualusa, o premiado do Presidente João Lourenço) do MPLA exigiram no comunicado “o fim do domínio colonial através de meios pacíficos e democráticos. Isso depende apenas do governo português”. A direcção do movimento termina fazendo exigências sérias: “Reconhecimento do direito do Povo Angolano à autodeterminação. Amnistia total e incondicional. Libertação imediata de todos os presos. Restabelecimento das liberdades públicas, nomeadamente a criação de partidos políticos. Retirada imediata das tropas portuguesas. Liquidação das bases militares”.
A exigência mais importante e que consta do histórico documento é esta: “O MPLA, porta-voz do Povo Angolano, exige ao governo português a convocação, até final de 1960, de uma mesa redonda entre Portugal e representantes de todos os partidos políticos angolanos, para a solução pacífica do problema colonial”.Por fim, o comunicado do Comité Director do MPLA afirma: “Interessa ao Povo Angolano e ao Povo Português liquidar a dominação colonial pela via pacífica e democrática, através de negociações”. Caso contrário, “o governo português é responsável por todos os acontecimentos sangrentos que venham a ocorrer em Angola”. A resposta dos colonialistas foi brutal.
Agostinho Neto, que estava preso,
foi deportado sob prisão para Lisboa sendo enclausurado na cadeia do Aljube.
Menos de sete meses depois o MPLA desencadeou em Luanda, no dia 4 de Fevereiro
de
Os historiadores avençados mais o Agualusa premiado (pelo Presidente João Lourenço) ousam pôr em dúvida não só a existência do MPLA, mas também que tenha dirigido a revolução que é ainda hoje (pelo menos assim espero) a nossa matriz ideológica. Só quem viveu no colonialismo português com apartheid e esclavagismo percebe por que razão os patriotas revolucionários escondiam as suas actividades e filiações político-partidárias.
Avençados e premiados pensam que a Angola colonial era um mar de rosas onde a maioria negra tinha todos os direitos e liberdades. Essa gente mete-me imensa pena. Porque com a sua ignorância, oportunismo e irresponsabilidade está lavando a face de um regime que cometeu os mais hediondos crimes contra a Humanidade. As vítimas foram os angolanos, foi o Povo a que eles dizem pertencer.
Até ao dia 4 de Fevereiro de 1961 as grandes roças de café no Norte de Angola funcionavam com escravos. Nas primeiras décadas do século XX e até aos anos 50, os comerciantes do Congo Português enriqueciam roubando no peso e na medida. Mas também matando. No tempo da colheita do café, os camponeses iam às casas comerciais das vilas e às cantinas do “mato” vender o café. Quando regressavam às suas sanzalas eram vítimas de emboscadas. Os comerciantes matavam-nos e roubavam-lhes dinheiro e mercadorias que tinham adquirido. Um negro que ousasse cruzar-se com um branco no mesmo passeio, era espancado, algumas vezes até à morte. Salário não existia. Cada patrão pagava o que queria e quando lhe apetecia. Por aqui me fico.
Neste quadro político e social, avençados e premiados queriam que os revolucionários andassem com o facho do MPLA na lapela e fossem a manifestações de protesto contra o colonialismo. Confundem, propositadamente, o passado com os nossos dias. São verdadeiramente vermes sociais e vírus da História de Angola. Agualusa fez uma “análise” ao MPLA e diz que era um grupo de citadinos e ainda por cima mestiços. A UNITA era um movimento de rurais mas muito educados nas missões protestantes dos americanos! Este idiota desvairado foi distinguido pelo seu contributo Cultura Angolana!
No “Processo dos
Agualusa cita Savimbi (com propriedade e a propósito) onde o criminoso de guerra diz que os mestiços não podiam entrar na luta de libertação, porque não sofreram com o colonialismo. O premiado do Presidente João Lourenço até descobriu que os dirigentes da UNITA se referiam ao MPLA como o “movimento dos mulatos”. E eram todos muito educados ainda que de origem rural.
Se o premiado consultar a documentação de Lúcio Lara (Documentos e Comentários para a História do MPLA até Fevereiro de 1961) vai encontrar o manifesto da fundação do movimento, em 1956, mas também cartas de Jonas Savimbi ao MPLA. Uma de 10 de Fevereiro de 1960, estava ele na Suíça. Outra datada de 12 de Dezembro de 1960 (Friburgo). As cartas tiveram resposta. Antes de aderir à UPA, o ovimbundo rural, muito educado no matar, queria juntar-se aos mestiços citadinos do MPLA.
Agualusa destapou um pouco o véu que cobre os mais terríveis crimes de Savimbi. Como os mestiços não podiam lutar pela libertação de Angola porque não sofriam com o colonialismo, o criminoso de guerra e assassino cruel matava a sua gente, para todos estarem na linha da frente do combate, cheios de sofrimento. As mulheres, não fossem negligenciar a sua luta, de vez em quando eram queimadas vivas, para que não faltasse sofrimento a ninguém no Galo Negro.
Os educados dirigentes da UNITA nas missões protestantes americanas (segundo Agualusa…) cometeram na cidade do Huambo, a partir de Maio de 1975, crimes hediondos. Em Agosto de 1975, os educadíssimos militares do Galo Negro tentaram capturar o repórter da RTP no aeroporto do Huambo, já ele estava dentro de um avião da Força Aérea Portuguesa com destino a Luanda. Isto porque o jornalista filmou e reportou muitos desses crimes. Agualusa pode consultar esse material nos arquivos da RTP.
O tenente-coronel Ramires Ramos, que comandava a tropa portuguesa na antiga Nova Lisboa (Huambo), deu uma entrevista ao canal português público de televisão, onde relatou os crimes horríveis da soldadesca de Savimbi. Contou igualmente um episódio que na altura deu brado. Militares portugueses que escoltavam um comboio de refugiados do Moxico e do Bié rumo ao Huambo, foram cercados por uma chusma do Galo Negro, que os obrigou a despirem-se e entregarem as armas. Obedeceram para não haver um banho de sangue entre os civis refugiados, muitos dos quais eram angolanos. Os militares portugueses chegaram nus e humilhados ao destino.
O mesmo canal que despacha textos anónimos para me intimidarem, deu-me a conhecer que o texto de Agualusa foi escrito em Dezembro de 1992. Mais grave ainda. As eleições tinham ocorrido apenas três meses antes e o premiado do Presidente João Lourenço ainda escrevia isto sobre os vencedores das eleições, com maioria absoluta: “O MPLA era um movimento esgotado. Anos e anos de violência totalitária e péssima governação tinham erodido a base de descontentamento”. Se os eleitores estivessem contentes eram 100 por cento!
Só mais este pormenor. O cabeça de lista do MPLA nas eleições de 1992 era Marcolino Moco, secretário-geral do MPLA, rural ovimbundo, natural de Chitué, município de Ekunha (antiga Vila Flor), Huambo. Na direcção da campanha eleitoral estava um pastor ruralíssimo, Kundi Paiama, natural do município de Quipungo, província da Huíla, sul de Angola. E um ovimbundo do Lobito, João Lourenço, hoje Presidente da República. Uma boa parte dessa vitória eleitoral deve ser creditada à sua inesgotável capacidade de trabalho.
De vez em quando é preciso refrescar a memória destes tipos distraídos mas convencidos de que são muito divertidos. O mártir da gramática (Agualusa) tem andado muito calado. Ainda lhe sobram uns dólares do quinhão que recebeu pelas aldrabices e a traição. Quando o kumbu se esgotar volta a ladrar e João Lourenço tapa-lhe a boca com o dinheiro recuperado do combate à corrupção, que já não cabe nos cofres do Grupo Carrinho.
Acabo de reler o texto e parece-me muito suave. O banditismo denunciado merecia mais indignação.
Hoje é um dia importante na História de Angola. A prisão de Agostinho Neto, no dia 8 de Junho de 1960, levou ao início da Luta Armada de Libertação Nacional. Nunca se esqueçam dos nossos Heróis e das nossas Heroínas.
*Jornalista
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