Artur Queiroz*, Luanda
A entrevista do assassino confesso Samuel Chiwale tem aspectos preocupantes. No meio de confissões tenebrosas o dirigente da UNITA mostra que a mentira continua a ser arma predilecta do Galo Negro. Ele começa por dizer que quando tinha 15 anos (1958) o pai foi preso: “Recebi uma carta da minha mãe a informar. Saí da missão onde estudava e fui à aldeia. Encontrei a minha mãe partida”. A mesma mãe que ele depois atirou para a fogueira na Jamba porque Savimbi decidiu que ela era bruxa!
Chiwale foi com a mãe à prisão no
Huambo ver o pai: “Estava desfigurado porque foi torturado. Senti uma revolta
profunda. Decidi juntar-me aos que lutavam contra o colonialismo português, a
UPA”. Acontece que em
Chiwale denuncia pontos de
concentração na sua zona de “contratados” para as roças de café do Norte. Ele
talvez não saiba mas eu sei. Os “angariadores” partiam do Planalto Central
todos os dias, a todas as horas, com os seus camiões carregados com escravos
para as roças do Norte de Angola. As plantações de café começavam nos Dembos e
acabavam
“Fui para Ondjiva e fiquei na casa de um comerciante português, o senhor Rocha, que vendia gado ao meu pai. Disse-lhe que o meu pai estava preso e eu fui descansar. Um dia atravessei a fronteira para visitar familiares. Cheguei a Ondangua, Centro da gravidade dos povos que lutavamm pela libertação da Namíbia. Disse que queria ir para o Congo Léopoldeville”.
O assassino confesso sabia que se
fosse voluntário para as fazendas do Norte como “contratado”, tinha boleia
directa quase até Léopoldville! Mas qual o quê? O mentiroso foi para o
“Sudoeste Africano” arranjar quem o levasse à capital do Congo Belga. Mente
descarada e estupidamente! Estávamos no ano de
As aldrabices continuaram:
“Em Janeiro de 1965 recebi um telegrama dizendo o internacionalista chegou. Vem para Dar es Salam. O internacionalista era nome de código do doutor Savimbi. Encontrei-me com Jonas Malheiro Savimbi, um jovem brilhante e articulado Falámos durante oito horas. Ouvi dele oito horas. Ele tinha o caminho certo de libertar Angola. Era Fundar a UNITA”.
O assassino confesso disse ao jornalista Emídio Fernando que Savimbi anunciou a partida para Cuba onde os jovens que aderissem à causa iam ser treinados. O entrevistador perguntou: Mas Cuba não era comunista?
Resposta: “Os comunistas é que lutavam contra o imperialismo. Jonas Savimbi foi à Zâmbia recrutar outros jovens e depois seguíamos para Cuba. Jonatão Chingunji, Jeremias Nundo e mais oito pessoas foram recrutadas. Regressou a Dar es Salam. Disse-me que encontrou outros jovens para irem treinar. Tu vais ser o coordenador deles porque conheces a área!”
Savimbi viajava entre Dar es Salam e a Suíça Alguém tratou dos passaportes mas o assassino não diz quem foi. Revela isto: “No aeroporto de Dar es Salam estava o Tiago Sachilombo e eu à espera dos outros. Afinal partimos para a China e Savimbi voltou para a Suíça”. Sabemos agora que o criminoso de guerra mandou os outros para o barulho mas ele foi tratar da papelada para ser doutor!
Tiago Sachilombo, já major das
FALA, em 1968 foi reforçar os Flechas da PIDE
Emídio Fernando pergunta: A Republica Popular da China era comunista e foram para lá sendo anticomunistas?
Responde Chiwale: “O comunismo era a salvação dos movimentos de libertação. Os comunistas é que davam a indicação clara. Che Guevara, Mao Tse Tiung e os marxistas leninistas. Partimos para Pequim. Se é maoismo ou quê não importa mais. O importante é encontrar quem possa nos lavar o cérebro e colocar-nos a filosofia de libertar o país.”
E como foi na China?
“Estivemos nove meses na academia de Nankim e depois voltámos a Dar es Salam. Jonas Savimbi foi receber o diploma à Suíça. Nós tínhamos preparação técnica, ideológica e militar. Jonas Savimbi quando voltou, disse agora vocês sabem libertar Angola. Ficam a saber que vamos formar o partido União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA). E o braço armado são as Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA). As FALA são vocês. Agora vamos para Congua discutir”.
O jornalista entrou a doer: Quem matou Samuel Piedoso Chingunji?
O assassino confesso: “Meu padrinho morreu atacado de malária. Morreu no Mungo.
Não foi morto por Savimbi?
“Não. O doutor Savimbi era um humanista.”
Eis o percurso do assassino
confesso na UNITA: “Em 1969 fui comandante das FALA. Fiquei no cargo oito anos.
Depois fui promovido a comandante
Esteve preso?
“Isso foi um problema de intriga total da juventude. Estive quatro anos suspenso de funções mas nunca estive preso. Fui fazer agricultura com outros camaradas. A UNITA tinha essa dimensão da produção agrícola. Nunca estive preso”.
O assassino confesso teve a coragem de dizer que não foi para um “campo de reeducação” mas apenas cumprir uma missão. A UNITA não tinha ninguém para capinar e cavar as lavras de mandioca. Precisava do comandante em chefe dos assassinos!
Como foram as fogueiras da Jamba?
“Assisti a tudo, foi na parada. O doutor Savimbi tinha um dom, explicava tudo aos quadros, qual era o mal que estava a acontecer. Foi assim que surgiu o problema das bruxas. Havia bruxas na Jamba que estavam a prejudicar os nossos doentes e mutilados. Passavam as noites junto deles fazendo bruxaria. Foram presas. No primeiro dia 12 foram queimadas.”
Não tem um peso na consciência?
“Não. Falar das bruxas que foram queimadas vivas é falar da História da UNITA. Não tenho remorso nenhum”.
E as crianças atiradaspara a fogueira?
“Uma bruxa tinha duas crianças. Foram queimadas. Acredito que uma criança pode fazer bruxaria. Uma menina de cinco anos pode ser bruxa. Um miúdo de quatro anos pode ser bruxo. Tudo o que mancha o caminho e orientação do povo angolano é nocivo. Faziam bruxaria aos nossos feridos!”
Acredita mesmo?
“Acredito. A minha mãe foi queimada. Era bruxa. A minha mãe meteu-se na questão e foi queimada. Acabou a história”.
E como foi a morte de Tito Chingunji e Wilson dos Santos?
“Isso Foi percurso da luta. Foram mortos na Jamba mas eu não estava lá.”
Matar crianças na fogueira não lhe causa perturbação?
“Isso foi no contexto da guerra. No me incomoda nada”.
Como vê a ligação da UNITA aos racistas sul-africanos?
“Fui o primeiro a escrever aos bóeres para nos darem armas que permitissem expulsar os russos e cubanos de Angola. Os sul-africanos foram cruciais para a nossa luta. O bóer foi a tábua de salvação no contexto angolano. Quando nos aliámos aos bóeres não foi para nos rendermos. Fomos buscar caminhos. E na verdade os bóeres não eram racistas.”
Acha mesmo que o regime de Pretória não era racista? Não prenderam Nelson Mandela?
“Jonas Savimbi é que libertou Nelson Mandela”.
Savimbi e a UNITA estavam com os sul-africanos desde 1975. Nelson Mandela foi libertado em 1990.Porque razão Jonas Savimbi não libertou antes Mandela?
“Tudo tem o seu tempo!”
Como vê a UNITA hoje?
“Hoje a UNITA é um fenómeno! Uma lenda do povo angolano. Todos os angolanos têm esperança na UNITA”.
O que pensa de Adalberto da Costa Júnior?
“O Adalberto da Costa Júnior em 1975 meteu um lenço branco no pescoço de Jonas Savimbi no seminário do Quipeio (Caala)! Tem o direito de dirigir a UNITA. Isso de derrubar o Adalberto é coisa de malucos. Um homem sério não pode falar mal da UNITA. É maluco.”
Prognóstico para as eleições (Agosto de 2022)?
“A UNITA nunca perdeu as
eleições
O que fez de bom a UNITA?
“Criámos na Jamba a estrutura que libertou o país. Isto é histórico. Criámos um governo de equilíbrio na Jamba. Criámos um estado dentro do Estado. A Jamba é que correu com russos e cubanos. Foi um bastião da luta de libertação do povo angolano. Em Agosto vamos libertar Angola e instaurar um novo governo”.
Um pormenor que demonstra o empenho do grande guerrilheiro nas frentes de combate:
“Fiz 20 filhos durante a guerra!”
Qual é o seu filho com mais provas dadas na política?
“É o meu filho Didi secretário provincial da UNITA em Benguela. (Adriano Abel Sapinãla)”
Porquê?
“Tudo o que ele faz está escrito nos livros do doutor Savimbi, Tudo o que ele faz é seguir taxativamente Jonas Malheiro Savimbi, o expoente máximo da revolução”.
Savimbi fazia a guerra. Desde que morreu estamos há 20 anos em paz…
“A paz sempre foi a escola do doutor Savimbi. A sua morte levou-nos a uma tristeza profunda. Chorámos muitas lágrimas.”
Senhor Procurador-Geral da República tem que me pagar este trabalho. Senhor director do Serviço de Instrução Criminal, tem que pagar a reprodução das partes mais importantes da entrevista. Camarada Gigi, o MPLA não paga nada mas tem que me prometer intervenções como a de hoje, na Assembleia Nacional.
Minhas caras e meus caros leitores, se ainda existem, para vós é de borla, Agradeço a paciência de terem lido até ao fim.
*Jornalista
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