Artur Queiroz*, Luanda
A democracia é coisa antiga, vem dos gregos, romanos, cartagineses e assírios. Um luxo para os povos que os ditadores rapidamente desmantelaram. O único império que se dá bem com o regime democrático é o das ideias. Os restantes são inimigos jurados, mesmo que tenham uma constelação de partidos e façam eleições periódicas, esse fetiche da sociedade do espectáculo que tem tempo de antena ilimitado. Os assassinos da liberdade, das ideias, da dignidade e da honra, também.
O primeiro sinal inquietante da
sociedade do espectáculo nos nossos dias conturbados foi o choque de aviões de
passageiros contra torres
A minha avó Ana tinha algumas
tiradas assustadoras. Um dia disse-me que está a chegar o dia em que os seres
humanos vão comer aquilo que nem os bichos peçonhentos querem comer. Depois os
caminhos são invadidos pelas silvas e só ficam as baratas. Kafka deve ter
falado com ela porque deu ao mundo o seu livro A Metamorfose. Gregor, um
empregado do comércio, teve a suprema felicidade de acordar transformado
Professores doutores, doutoras arrebatadas e comentadores acéfalos dizem-nos que Israel é a única democracia no Médio Oriente. Coisa estranha! Este país tem leis que institucionalizam e glorificam o apartheid. Exactamente como o da África do Sul, que os angolanos combateram até à vitória, durante os anos que mudaram África e o mundo. Tomem nota.
Lei do Estado-Nação. Foi aprovada em 2018 e estabelece que Israel é um estado judeu. Logo, quem não é judeu está à parte. Apartheid. O diploma tem estatuto de Constituição da República. A Lei Fundamental é racista! Exclui árabes, eslavos e todos os outros cidadãos de Israel. Os direitos colectivos são exclusivos dos judeus! Os colonatos são “valor nacional” promovido pelo Estado, à custa do roubo de terras aos israelitas árabes ou aos palestinos. A Lei do Estado Nação aboliu o árabe como língua oficial e declarou o direito à autodeterminação nacional como “exclusivo do povo judeu”. Grandes democratas! Os nazis de Pretória, que os angolanos derrubaram, estão desculpados.
Lei da Ausência. O Estado sionista, com base neste diploma, apropria-se das terras dos palestinos obrigados a fugir para países vizinhos. As terras dos refugiados são para os colonatos judeus. A lei determina que os donos das terras as trabalhem pessoalmente, sob pena de expropriação. Acontece que os donos estão refugiados! Os cidadãos de Israel de origem palestina, (20 por cento da população) têm apenas 3,5% do total do território.
Leis de Emergência. Proíbem os árabes israelitas de se mudarem para áreas interditas pela autoridade militar. Os palestinos podem ser detidos por tempo indeterminado sem julgamento, sem serem interrogados por autoridades judiciais e sem a presença de advogados. O governo pode expulsar de Israel os israelitas árabes. Por “razões de segurança” qualquer área de Israel pode ser proibida aos israelitas árabes e ser expropriada para estabelecer colonatos dos judeus. Grande democracia!
Para reforço destas leis de apartheid, os nazis de Telavive estão a matar os refugiados. A sociedade do espectáculo mostra o genocídio. A democracia parlamentar mais antiga do mundo (Reino Unido) apoia o extermínio de palestinos até onde for preciso. A poderosa democracia dos EUA fornece as bombas e os assessores militares. O cartel falido da União Europeia aplaude. Excepto António Costa e Pedro Sanchez. Os povos ibéricos têm alma árabe e cartaginesa.
Angola teve um Governo de Transição constituído por ministros e secretários de Estado dos três movimentos de libertação, MPLA, FNLA e UNITA. O que ficou para a História deste gabinete é simples. Graça Tavares, secretário de Estado do Comércio pela FNLA, importou vinho “Bordeaux” grande reserva. Eu comprei 50 caixas. Samuel Abrigada, ministro da Saúde pela FNLA, desviou milhões do seu ministério e importou armas com o rótulo de medicamentos. Jeremias Chitunda, ministro dos Recurso Naturais pela UNITA, fez um cambalacho com a Diamang e começou o tráfico dos diamantes de sangue às ordens do chefe Savimbi. Nada mais contas do tal governo.
Mais tarde Angola teve o Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN) com ministros der todos os partidos que elegeram deputados. A UNITA teve nesse governo 11 ministros, quatro na Saúde, dois na Hotelaria e Turismo, dois no Comércio e três na Geologia e Minas.
Querem nomes? Marcos Samondo e Manuel Bunjo (falecidos), Adelino Manaças, Ruben Sicato, Albertina Hamukwya, Sebastião Veloso, Jorge Valentim e “Dinho” Chingunji. Os “vices” têm nomes: Júnior João, Clarice Kaputu, Fernando Heitor, Arnaldo Sicato, Demóstenes Chilingutila (falecido). Estes são os que tenho na memória. Mas nem uma só obra deles ficou para a posteridade. Salvo Jorge Valentim que fez um trabalho notável na área da Hotelaria.
Hoje a UNITA fala de governar como se tivesse obra feita. Ou se soubesse do que fala. Generais da UNITA que em 1992 despiram a camisola partidária e foram nomeados para a cúpula das Forças Armadas, a primeira operação digna desse nome em que participaram, foi desertar. A juventude hoje não sabe bem que é isso mas eu informo: Deserção, traição e sedição são os crimes mais graves que um militar pode cometer.
Um dos desertores e traidores, o cruel assassino Abílio Camalata Numa, hoje dá lições de democracia. Parece um nazi de Telavive. E se lhe derem espaço, um dia destes volta a matar em série como sempre fez ao serviço do chefe Savimbi e dos racistas de Pretória. Um muleke dos brancos! Traidor dos seus irmãos oprimidos. Mas ele é só uma amostra. O armazém da UNITA está cheio de outros muito piores, inclusive Aldraberto da Costa Júnior, o aldrabão compulsivo.
* Jornalista
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