segunda-feira, 1 de maio de 2023

COMO DESBARATAR A CONFIANÇA DOS PORTUGUESES

Paula Ferreira* | Jornal de Notícias | opinião

Assistimos, incrédulos, a um espetáculo rasca transmitido a partir da Avenida Barbosa du Bocage. Como protagonistas, um ministro e o seu adjunto. As personagens secundárias são chefes de gabinete, um primeiro-ministro, um presidente da República, a CEO de uma empresa de aviação em queda, secretas e outras polícias. Título da obra: "Como desbaratar a confiança dos eleitores".

Este Governo, desde janeiro de 2022, na sequência de eleições antecipadas, mergulha num emaranhado de casos. Uns mais graves que outros, sem dúvida, nenhum tão pouco digno como o que nos tem sido apresentado nos últimos dias. Além de nos expor um partido, a quem a maioria dos portugueses delegou a sua confiança para governar, a maltratar essa mesma confiança sem qualquer explicação e respeito pelos eleitores, mostra de forma evidente a qualidade dos escolhidos para a governação. Depois de cenas de pancadaria no ministério, o ministro João Galamba, a um sábado à tarde, no início de um fim de semana prolongado, viu-se obrigado a explicar o motim. E a emenda parece ter sido pior que o tumulto. Em qualquer governo, seria evidente, Galamba não mais teria condições para continuar no cargo - mesmo que a responsabilidade de grave caso seja do seu adjunto. Não sabemos se é. Sabemos uma coisa: o adjunto depende do ministro, logo, Galamba deverá assumir a responsabilidade.

Quem nos governa, fica-se com essa sensação, esquece-se de algo básico num regime democrático: representa quem os elegeu para tentar melhorar as condições de vida e não para patrocinar jogos de poder. É tempo de ficarmos a conhecer o pensamento de António Costa sobre a matéria - o seu silêncio só poderá ser entendido como concordância.

*Editora-executiva-adjunta

Portugal | Ministro Medina: dados errados e manipulação sobre a situação do país

A apresentação do “Programa de Estabilidade” por Medina: dados errados e manipulação sobre a situação do país

O “Programa de Estabilidade 2023-2027” do governo não tem em conta a situação real do país e os seus objectivos não são credíveis. Assentam numa realidade manipulada e em dados que não são correctos, uma vez que não traduzem a verdadeira situação do país.

Contrariamente ao que afirmou Medina, nem “a inflação está a diminuir de forma gradual e consistente”, nem os “ganhos salariais estão a subir acima da inflação”, nem o investimento público irá reverter a tendência que vem dos governos de Passos Coelho e de Costa, nem haverá desagravamento de impostos para quem trabalha ou vive da sua pensão. E são dados do INE que comprovam isto tudo.

A falta de aderência à realidade dos dados utilizados pelo governo para elaborar o “Programa de Estabilidade” determina que crescimento económico previsto seja muito baixo e mesmo esse corre o risco de não ser atingido como revelam previsões de organismos internacionais. Em resumo: mais austeridade e mais atraso.

O Diário.info – 28.04.2023

Ler texto completo [PDF]

Portugal | 1º DE MAIO DE 2023, CGTP-IN -- informação

Dia 1 de Maio de 1886 as fábricas paravam e os trabalhadores na rua exigiam melhores condições de vida e de trabalho, principalmente a redução do horário de trabalho que muitas vezes chegava às 17 horas diárias.

No dia internacional do trabalhador, homenageamos o sacrifício, esforço, unidade e luta de milhares de trabalhadores que, ao longo destes anos, conquistaram os direitos de que  ainda hoje usufruímos. Não podemos esquecer os milhares de trabalhadores que por esse mundo fora e em Portugal foram assassinados, presos e torturados para que a liberdade e a democracia trouxessem um país e um mundo melhor e mais justo.

Por isso, em Maio, continuamos a lutar pela justiça social e pelos direitos, por melhores condições de vida e de trabalho, por emprego com direitos, salários e horários dignos, mas também a festejar o que conquistámos num dia em que afirmamos a unidade, fraternidade e solidariedade de todos os trabalhadores.

Programa de comemorações do 1º de Maio » ver aqui

Todos ao 1º de Maio

Neste 1º de maio, vamos lutar pelo aumento dos salários dos trabalhadores, pelas 35 horas para todos, Vamos contra o aumento do custo de vida e pela dinamização da negociação e contratação colectiva. Vamos ao 1º de Maio pela defesa e reforço do Serviço nacional de Saúde e Vamos ainda defender os serviços públicos e as funções sociais do estado. 

- em CGTP-IN

1º DE MAIO - DIA DO TRABALHADOR, DAS REINVINDICAÇÕES, DOS PROTESTOS...

O Dia do Trabalhador,[1] Dia Internacional dos Trabalhadores é uma data comemorativa internacional, dedicada aos trabalhadores, celebrada anualmente no dia 1 de maio em quase todos os países do mundo, sendo feriado em muitos deles.

A homenagem remonta ao dia 1 de maio de 1886, quando uma greve foi iniciada na cidade norte-americana de Chicago com o objetivo de conquistar melhores condições de trabalho, principalmente a redução da jornada de trabalho diária, que chegava a 17 horas, para oito horas. Durante a manifestação houve confrontos com a polícia, o que resultou em prisões e mortes de trabalhadores. Este acontecimento serviria de inspiração para muitas outras manifestações que se seguiriam. Estas lutas operárias culminaram numa série de direitos, previstos em leis e sancionados por constituições.[2]

No período entre-guerras, a duração máxima da jornada de trabalho foi fixada em oito horas, na maior parte dos países industrializados.[3]

No calendário litúrgico, o dia celebra a memória de São José Operário, o santo padroeiro dos trabalhadores.

Dia do Trabalhador em Portugal

Em Portugal, só a partir de maio de 1974, após a Revolução dos Cravos, é que se voltou a comemorar livremente o Primeiro de Maio, que passou a ser feriado. Durante a ditadura do Estado Novo, a comemoração era reprimida pela polícia.

O Dia Mundial do Trabalhador é comemorado em todo o país, com manifestações, comícios e festas de carácter reivindicativo, promovidos pela central sindical CGTP-IN (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical) nas principais cidades de Lisboa e Porto, assim como pela central sindical UGT (União Geral dos Trabalhadores).

No Algarve, assim como na Madeira e nos Açores, é costume a população fazer piqueniques, e são organizadas algumas manifestações e festas alusivas à data.

VER COMPLETO - Wikipédia

O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO -- dito por Mário Viegas


O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO

Rio de Janeiro, 1959 – Vinícius de Morais 

E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo: 
- Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu. 
E Jesus, respondendo, disse-lhe: 
- Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás. 
Lucas, cap. V, vs. 5-8

Era ele que erguia casas 
Onde antes só havia chão. 
Como um pássaro sem asas 
Ele subia com as casas 
Que lhe brotavam da mão. 
Mas tudo desconhecia 
De sua grande missão: 
Não sabia, por exemplo 
Que a casa de um homem é um templo 
Um templo sem religião 
Como tampouco sabia 
Que a casa que ele fazia 
Sendo a sua liberdade 
Era a sua escravidão. 

De fato, como podia 
Um operário em construção 
Compreender por que um tijolo 
Valia mais do que um pão? 
Tijolos ele empilhava 
Com pá, cimento e esquadria 
Quanto ao pão, ele o comia... 
Mas fosse comer tijolo! 
E assim o operário ia 
Com suor e com cimento 
Erguendo uma casa aqui 
Adiante um apartamento 
Além uma igreja, à frente 
Um quartel e uma prisão: 
Prisão de que sofreria 
Não fosse, eventualmente 
Um operário em construção. 

Mas ele desconhecia 
Esse fato extraordinário: 
Que o operário faz a coisa 
E a coisa faz o operário. 
De forma que, certo dia 
À mesa, ao cortar o pão 
O operário foi tomado 
De uma súbita emoção 
Ao constatar assombrado 
Que tudo naquela mesa 
- Garrafa, prato, facão - 
Era ele quem os fazia 
Ele, um humilde operário, 
Um operário em construção. 
Olhou em torno: gamela 
Banco, enxerga, caldeirão 
Vidro, parede, janela 
Casa, cidade, nação! 
Tudo, tudo o que existia 
Era ele quem o fazia 
Ele, um humilde operário 
Um operário que sabia 
Exercer a profissão. 

Ah, homens de pensamento 
Não sabereis nunca o quanto 
Aquele humilde operário 
Soube naquele momento! 
Naquela casa vazia 
Que ele mesmo levantara 
Um mundo novo nascia 
De que sequer suspeitava. 
O operário emocionado 
Olhou sua própria mão 
Sua rude mão de operário 
De operário em construção 
E olhando bem para ela 
Teve um segundo a impressão 
De que não havia no mundo 
Coisa que fosse mais bela. 

Foi dentro da compreensão 
Desse instante solitário 
Que, tal sua construção 
Cresceu também o operário. 
Cresceu em alto e profundo 
Em largo e no coração 
E como tudo que cresce 
Ele não cresceu em vão 
Pois além do que sabia 
- Exercer a profissão - 
O operário adquiriu 
Uma nova dimensão: 
A dimensão da poesia. 

E um fato novo se viu 
Que a todos admirava: 
O que o operário dizia 
Outro operário escutava. 

E foi assim que o operário 
Do edifício em construção 
Que sempre dizia sim 
Começou a dizer não. 
E aprendeu a notar coisas 
A que não dava atenção: 

Notou que sua marmita 
Era o prato do patrão 
Que sua cerveja preta 
Era o uísque do patrão 
Que seu macacão de zuarte 
Era o terno do patrão 
Que o casebre onde morava 
Era a mansão do patrão 
Que seus dois pés andarilhos 
Eram as rodas do patrão 
Que a dureza do seu dia 
Era a noite do patrão 
Que sua imensa fadiga 
Era amiga do patrão. 

E o operário disse: Não! 
E o operário fez-se forte 
Na sua resolução. 

Como era de se esperar 
As bocas da delação 
Começaram a dizer coisas 
Aos ouvidos do patrão. 
Mas o patrão não queria 
Nenhuma preocupação 
- "Convençam-no" do contrário - 
Disse ele sobre o operário 
E ao dizer isso sorria. 

Dia seguinte, o operário 
Ao sair da construção 
Viu-se súbito cercado 
Dos homens da delação 
E sofreu, por destinado 
Sua primeira agressão. 
Teve seu rosto cuspido 
Teve seu braço quebrado 
Mas quando foi perguntado 
O operário disse: Não! 

Em vão sofrera o operário 
Sua primeira agressão 
Muitas outras se seguiram 
Muitas outras seguirão. 
Porém, por imprescindível 
Ao edifício em construção 
Seu trabalho prosseguia 
E todo o seu sofrimento 
Misturava-se ao cimento 
Da construção que crescia. 

Sentindo que a violência 
Não dobraria o operário 
Um dia tentou o patrão 
Dobrá-lo de modo vário. 
De sorte que o foi levando 
Ao alto da construção 
E num momento de tempo 
Mostrou-lhe toda a região 
E apontando-a ao operário 
Fez-lhe esta declaração: 
- Dar-te-ei todo esse poder 
E a sua satisfação 
Porque a mim me foi entregue 
E dou-o a quem bem quiser. 
Dou-te tempo de lazer 
Dou-te tempo de mulher. 
Portanto, tudo o que vês 
Será teu se me adorares 
E, ainda mais, se abandonares 
O que te faz dizer não. 

Disse, e fitou o operário 
Que olhava e que refletia 
Mas o que via o operário 
O patrão nunca veria. 
O operário via as casas 
E dentro das estruturas 
Via coisas, objetos 
Produtos, manufaturas. 
Via tudo o que fazia 
O lucro do seu patrão 
E em cada coisa que via 
Misteriosamente havia 
A marca de sua mão. 
E o operário disse: Não! 

- Loucura! - gritou o patrão 
Não vês o que te dou eu? 
- Mentira! - disse o operário 
Não podes dar-me o que é meu. 

E um grande silêncio fez-se 
Dentro do seu coração 
Um silêncio de martírios 
Um silêncio de prisão. 
Um silêncio povoado 
De pedidos de perdão 
Um silêncio apavorado 
Com o medo em solidão. 

Um silêncio de torturas 
E gritos de maldição 
Um silêncio de fraturas 
A se arrastarem no chão. 
E o operário ouviu a voz 
De todos os seus irmãos 
Os seus irmãos que morreram 
Por outros que viverão. 
Uma esperança sincera 
Cresceu no seu coração 
E dentro da tarde mansa 
Agigantou-se a razão 
De um homem pobre e esquecido 
Razão porém que fizera 
Em operário construído 
O operário em construção.

O autor e o interprete:

** Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes, mais conhecido como Vinicius de Moraes, foi um poeta, dramaturgo, jornalista, diplomata, cantor e compositor brasileiro. Poeta essencialmente lírico, o que lhe renderia o apelido "Poetinha", que lhe teria atribuído Tom Jobim, notabilizou-se pelos seus sonetos. Wikipédia

Nascimento: 19 de outubro de 1913, Gávea, Rio de Janeiro, Brasil - Falecimento: 9 de julho de 1980, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

** António Mário Lopes Pereira Viegas foi um actor, encenador e recitador português. É considerado um dos melhores actores da sua geração e um dos maiores recitadores de poesia de Portugal. Wikipédia

Nascimento: 10 de novembro de 1948, Santarém, Portugal -- Falecimento: 1 de abril de 1996, Lisboa, Portugal. Wikipédia

Portugal - 1º de Maio | Trabalhar o Ano Inteiro, Muita Força para Pouco Dinheiro...

Ouvir - Autoria de Sérgio Godinho do álbum "Os Sobreviventes" em YouTube

QUE FORÇA É ESSA

Vi-te a trabalhar o dia inteiro
Construir as cidades pr'ós outros
Carregar pedras, desperdiçar
Muita força p'ra pouco dinheiro
Vi-te a trabalhar o dia inteiro
Muita força p'ra pouco dinheiro

Que força é essa? Que força é essa?
Que trazes nos braços?
Que só te serve para obedecer?
Que só te manda obedecer?
Que força é essa? Amigo
Que força é essa? Amigo

Que te põe de bem com outros
E de mal contigo?
Que força é essa? Amigo
Que força é essa? Amigo
Que força é essa? Amigo

Não me digas que não me compr'endes
Quando os dias se tornam azedos
Não me digas que nunca sentiste
Uma força a crescer-te nos dedos
E uma raiva a nascer-te nos dentes
Não me digas que não me compr'endes

Que força é essa? Que força é essa?
Que trazes nos braços?
Que só te serve para obedecer?
Que só te manda obedecer?
Que força é essa? Amigo
Que força é essa? Amigo

Que te põe de bem com outros
E de mal contigo?
Que força é essa? Amigo
Que força é essa? Amigo
Que força é essa? Amigo

Vi-te a trabalhar o dia inteiro
Construir as cidades pr'ós outros
Carregar pedras, desperdiçar
Muita força p'ra pouco dinheiro
Vi-te a trabalhar o dia inteiro
Muita força p'ra pouco dinheiro

Que força é essa? Que força é essa?
Que trazes nos braços?
Que só te serve para obedecer?
Que só te manda obedecer?
Que força é essa? Amigo
Que força é essa? Amigo

Que te põe de bem com outros
E de mal contigo?
Que força é essa? Amigo
Que força é essa? Amigo
Que força é essa? Amigo
Que força é essa? Amigo

Que força é essa? Amigo
Que força é essa? Amigo
Que força é essa? Amigo
Que força é essa? Amigo

Fonte: Musixmatch

Compositores: Sérgio De Barros Godinho

Angola | Os Matadores da Democracia e da Unidade -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O MPLA fez a Luta Armada de Libertação Nacional entre 4 de Fevereiro de 1961 e 21 de Outubro de 1974. Após o 25 de Abril os seus combatentes ainda protagonizaram uma acção importantíssima na defesa da integridade territorial. O governador do distrito de Cabinda, brigadeiro Themudo Barata, fazia reuniões com dirigentes da FLEC, organização para a qual foi eleito “presidente de honra”. O militar português revelou, muitos anos depois, que “os contactos com a FLEC foram ordenados pelo Presidente Spínola no sentido de convocar uma delegação da FLEC para reunir com ele em Lisboa”.

Combatentes do MPLA em Cabinda tomaram de assalto o palácio do governador e prenderam-no. Oficiais do Movimento das Forças Armadas (MFA), entre os quais o coronel Fontão, associaram-se à operação. Themudo Barata foi recambiado, sob prisão, para Luanda onde o almirante Rosa Coutinho já tinha substituído o general SS Marques, em finais de Julho de 1974, como presidente da Junta Governativa. Tinha terminado a época dos governadores.

Rosa Coutinho ainda não tinha aquecido lugar quando um grupo de mercenários comandados por franceses e elementos da FLEC tomaram de assalto o posto fronteiriço de Massabi. O presidente da Junta Governativa não perdeu tempo e repôs a ordem. Os combatentes do MPLA continuaram a proteger a integridade territorial na província de Cabinda.

Estes acontecimentos foram antecedidos de uma cimeira na Base das Lajes, Açores, em 19 de Junho de 1974, entre os presidentes Spínola e Nixon. Além deles, estava também o patrão da CIA. Ali ficou decidido que o MPLA tinha de ser excluído do processo de descolonização. No interior a Revolta Activa fazia cada vez mais barulho para ajudar à festa. Graças à abnegação dos seus combatentes, o MPLA continuou a contar.

Após a prisão e expulsão de Themudo Barata e o fracasso de Massabi, os presidentes Spínola e Mobutu encontraram-se na Ilha do Sal, Cabo Verde, em, 16 de Setembro de 1974. Ponto único da agenda: A província de Cabinda é integrada na República do Zaire e o MPLA fica excluído do processo de descolonização. Os combatentes e militantes do movimento cerraram fileiras e enfrentaram todos os perigos. Assumiram o controlo militar em Cabinda.

Mais lidas da semana