sábado, 17 de junho de 2023

Reino Unido pode entender a chave para as relações China-Reino Unido?

Com espaço limitado pelos EUA para uma ação independente como pode RU entender?

O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, James Cleverly, pode visitar a China em julho, de acordo com a Reuters, citando pessoas com conhecimento dos planos. Especialistas acreditam que o Reino Unido optou por divulgar a notícia neste momento, possivelmente porque o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, está prestes a visitar a China. Isso indica uma certa sincronicidade na política externa entre o Reino Unido e os EUA.

Global Times | opinião | # Traduzido em português do Brasil

Wang Shuo, professor da Escola de Relações Internacionais da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim, disse ao Global Times que o movimento do Reino Unido pode ser visto como seguindo a tendência. A recente visita do presidente francês, Emmanuel Macron, à China causou alguma polêmica na Europa, mas também rendeu benefícios significativos. Além disso, líderes de outros grandes países europeus também visitaram a China recentemente. Em tal atmosfera, não é surpreendente que autoridades do Reino Unido visitem a China.

De fato, há um intenso debate em muitos países ocidentais sobre que tipo de política adotar em relação à China. Essa polêmica pode ser vista na nova Estratégia de Segurança Nacional da Alemanha e, mesmo nos EUA, há diferentes vozes em relação à China. O mesmo vale para o Reino Unido, onde há várias opiniões diversas dentro do país. Vozes racionais estão defendendo a competição com base em circunstâncias reais e cooperação quando necessário, em vez de adotar uma postura cegamente dura em relação à China, observou Wang.

Além disso, o Reino Unido é um país construído sobre o comércio, pelo que não deveria ter imposto tantas restrições a si próprio em primeiro lugar. Em particular, alguns empresários no Reino Unido acreditam que o mercado chinês não pode ser abandonado e que a relação China-Reino Unido é, de facto, muito importante para as empresas. A China é um mercado crucial e uma área de investimento.

Alguns falcões no Reino Unido criticaram Cleverly fortemente por sua defesa do engajamento com a China. O deputado trabalhista do Reino Unido acusou Cleverly de ser um "fantoche chinês" sobre uma possível viagem à China. Em resposta, Cleverly disse: "A ideia de que o ministro das Relações Exteriores interagindo com outro governo é qualquer coisa diferente do meu dever e da minha responsabilidade é um absurdo. É literalmente o meu trabalho."

As disputas partidárias se normalizaram no Reino Unido, e explorar questões relacionadas à China se tornou uma tática para os políticos atacarem uns aos outros, o que é uma tendência preocupante. Abordar questões relacionadas à China como uma ferramenta política e um meio de obter favores com os EUA vai atrapalhar a relação China-Reino Unido da trilha normal dos interesses nacionais, o que é anormal, afirmou Wang.

Quem se importa mais com Taiwan? Fórum traz a resposta: editorial do Global Times

O 15.º Fórum dos Estreitos arrancou na sexta-feira em Xiamen, província de Fujian, no leste da China, com a conferência do fórum a decorrer este sábado. Foi amplamente notado que mais de 5.000 participantes de Taiwan vieram mediante convite, incluindo mais de 1.000 que chegaram diretamente da ilha. Este é o maior evento de intercâmbio entre pessoas desde o início da pandemia de COVID-19.

Global Times | editorial | # Traduzido em português do Brasil

Entre os 5.000 participantes de Taiwan estão representantes de vários grandes partidos políticos da ilha, exceto o Partido Democrático Progressista (DPP), bem como representantes de várias indústrias, líderes comunitários e pessoas de sindicatos, organizações da Liga da Juventude Comunista, federações de mulheres, cidades e condados, representando uma ampla gama de pessoas. O desejo das pessoas de ambos os lados do Estreito de se comunicar e buscar a paz pode ser visto pela escala do Fórum dos Estreitos.

O fórum deste ano não só continua a orientação de ser não governamental, de base e extenso, mas também mostra duas novas tendências. Primeiro, o fórum está se tornando mais jovem. O papel positivo da juventude nas relações entre os estreitos é mais proeminente. Em segundo lugar, há mais "visitantes de primeira viagem". Quase 450 jovens convidados participaram do fórum de sexta-feira no local, com 303 vindos da ilha de Taiwan. Mais de 70% dos participantes são caras novas.

Isso mostra que a juventude na ilha de Taiwan está adicionando mais vitalidade às relações entre os dois países. Proporciona às pessoas expectativas mais elevadas de que os jovens de ambos os lados do Estreito se conheçam e trabalhem juntos no futuro. Como disse um jovem de Taiwan que participou do fórum: "Você só percebe o quão grande é o mundo quando cruza o Estreito".

Desde a sua inauguração em 2009, o Fórum dos Estreitos tem sido realizado todos os anos, apesar de enfrentar todos os tipos de dificuldades. O DPP tentou de tudo para impedi-lo, usando intimidação e ameaças para criar obstáculos ao bom funcionamento do fórum. No entanto, o resultado real é que, durante os mais de sete anos de governo do DPP, embora as trocas oficiais entre os estreitos tenham praticamente estagnado, as trocas civis têm crescido constantemente. A forte resiliência do Fórum dos Estreitos é um reflexo do ímpeto da história representado por sua força interna.

Embaixador do Brasil recebido pelo Partido Socialista de Timor

J.T. Matebian, em Timor-Leste

O Embaixador do Brasil em Timor-Leste realizou uma visita de cortesia à Sede Nacional do Partido Socialista de Timor (PST), sediada em Díli.

Maurício Medeiros de Assis, Embaixador do Brasil em Timor-Leste, reuniu-se na manhã do dia 15 de Junho com a Direcção do PST para abordar assuntos relacionados com a cooperação entre o Brasil e Timor-Leste.

Desde Março de 2021 em Timor-Leste, Medeiros de Assis quis ouvir as propostas políticas do PST e falar sobre os propósitos da cooperação entre o Brasil e Timor-Leste, em diversos sectores, nomeadamente na área da educação, formação profissional e agricultura.

Segundo o diplomata brasileiro o seu país irá concretizar a partir de 2024 diversos projectos de cooperação, nas áreas referidas, uma ideia que ganhou força com a tomada de posse de Lula da Silva, Presidente do Brasil.

No domínio da educação e da formação profissional referiu-se à língua portuguesa, ao importante Centro de Formação de Becora, existente há mais de 14 anos, com a aposta em novos cursos, e à participação do Brasil na “criação de raíz de uma escola superior de educação”, uma iniciativa que vai ao encontro das propostas políticas do Partido Socialista de Timor (PST) que defende a construção urgente de uma Escola Superior de Educação para a formação inicial de professores e de especialistas em áreas educacionais.

Na área da agricultura o embaixador mencionou igualmente a vontade do Brasil em cooperar na formação de cooperativas de crédito considerando que é também uma prioridade na cooperação com Timor-Leste.

O Embaixador Medeiros de Assis foi recebido pela Direcção do PST, onde estiveram presentes Avelino Coelho (Presidente do PST) e Azancot de Menezes (Secretário-Geral do PST), entre outros dirigentes do Partido.

Fonte: J.T.Matebian, em Timor-Leste | Jornal Tornado

Polícia angolana dispersa marcha contra subida dos combustíveis em Luanda

Dispersão foi ativada com o uso de gás lacrimogéneo, havendo relatos de alguns feridos e detidos

A polícia angolana dispersou hoje, em Luanda, a marcha contra a subida do combustível e fim da venda ambulante, usando gás lacrimogéneo contra os manifestantes, originando pânico e desmaios, havendo relatos de alguns feridos e detidos.

A carga policial aconteceu pouco depois de a marcha iniciar o seu trajeto em direção à Mutamba, a cerca de 500 metros do local da concentração, junto do cemitério de Santana.

A marcha, convocada por ativistas e membros da sociedade civil angolana, teve início de forma fragmentada no Largo do Cemitério da Santa Ana, sendo que os manifestantes se fizeram à Avenida Deolinda Rodrigues, pouco depois das 12h30, meia hora antes do horário previsto.

O movimento das centenas de manifestantes, entre ativistas, membros da sociedade civil, mototaxistas e até "zungueiras" (vendedoras ambulantes) surpreendeu os efetivos da polícia no local, facto que causou um rápido desdobramento após serem "engolidos" pela multidão.

Perante a velocidade dos manifestantes, que marchavam nas duas faixas da avenida, foi solicitada a intervenção da Polícia de Intervenção Rápida (PIR), tendo esta montado uma barreira logo em cima do viaduto da Unidade Operativa.

A barreira montada pela PIR enfureceu os manifestantes que pretendiam transpor o viaduto, gritando "a polícia é do povo e não é do MPLA (partido no poder)", enquanto uma outra ala da marcha circulava numa das faixas debaixo do viaduto sem impedimentos.

Angola | Erros de Honorato e uma Invocação Trágica – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O chefe estava a maquetar uma página e olhou-me de esguelha, enfadado, quando lhe disse que era o novo repórter informador. Sem tirar os olhos do desenho mandou-me ao banco de urgência do Hospital Maria Pia. Vai saber o que se passa por lá e quando voltares, contas-me. Lá fui. Cabeças partidas, ossos igualmente, facadas, agressões à paulada, bebedeiras, putas agredidas por cientes caloteiros vi lá de tudo. Quando regressei fui ter com o chefe, já sentado na sua secretária. Conta lá. Eu contava e ele escrevia. Era essa a vida dos repórteres informadores. Cavavam as notícias e os redactores escreviam.

Queres ser jornalista? Quero, chefe. Então só tens que saber viver entre as fronteiras da honra e da dignidade. Quando um dia te sentares à máquina para escrever a notícia, nunca te esqueças que não há adjectivos e a palavra “não” é proibida. Só contamos o que aconteceu. O que não acontece é para amadores. O chefe era Acácio Barradas, um senhor fino, com ar de galã do cinema.  

Com meu pai aprendi a viver com honra e dignidade. Ele era um exemplo. Ainda jovem foi preso pela PIDE e torturado. Não quebrou. Não cedeu. Cuspiu na cara dos torturadores como eu um dia hei-de cuspir na cara do Satula, o verme indeciso entre o cadáver e a lixeira. Era miúdo e fomos a Portugal. A minha tia Feliciana foi mostrar-me a prisão do Porto onde enclausuraram e torturaram meu Pai. Na rua ouvimos um homem cantar. E depois um assobio melodioso. Imaginei que era meu pai que estava lá dentro e chorei. Mas aprendi que ninguém cala o canto e o assobio de um homem livre. Honra e dignidade estavam garantidas.

Tata Tuma ensinou-me a dissimular a vida. Esconder os sentimentos, os desejos, os sonhos. Ninguém me ia apanhar nas curvas. E quanto a adjectivos, nunca consumi. Morador da Kapopa que vivia numa casa de pau a pique não valia nada. Nem uma palavra bonita entrava na sua vida. Cresci assim, sem adjectivos nem elogios. Era o burro da escola. Os colegas chamaram-me Kitó. E assim fiquei. Um dia destes o Luís Filipe Colaço telefonou-me. Kitó, estás bom? Tive um baque no coração. Já ninguém me chama Kitó. Será um morto ressuscitado? Era o meu camarada Colaço, director do DIP do MPLA. Um combatente da nossa luta. Deve ser o único que ainda me trata assim.

Por ele soube que o médico Tozé Miranda continua na linha da frente lutando pela honra e a dignidade. Também soube que o engenheiro Rangel está em forma. Ele era o nosso ANGOTIC. Garantiu as telecomunicações à luta pela honra e a dignidade. Estamos vivos camaradas! Milagre mais milagroso não há. Estamos ao nível do Papa Francisco.

Acácio Barradas nunca me poupou. Quando estava bem-disposto chamava-me macaco. Se estava chateado dizia tunda! Tunda! Mas eu ficava. Com ele aprendi a organizar o espaço e a hierarquizar a informação na página. Quando escrevia da mesma maneira houvesse mortos e feridos ou apenas desordeiros detidos ele dizia-me: Põe calor nessa merda! E rasgava a peça que lhe entregava. Eu escrevia de novo com tempero. Um dia destes vou publicar um livro intitulado “Crónicas com Sal e Jindungo” em homenagem ao meu saudoso mestre.

Angola | Os Jacarés e a Fotografia na Gaveta – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O combate à corrupção é contra bichos ferozes como marimbondos e caranguejos, que se alimentam de dinheiro subtraído dos cofres do Estado. Crime mais criminoso não há. Nos dias em que consigo pensar assaltam-me ideias terríveis. Eles deviam ter as chaves da casa forte onde é guardado o kumbu. Ou enfiavam na cabeça uns panos pretos com aberturas nos olhinhos e na boca, pegavam na “Aka” e assaltavam quem tinha a missão de guardar a massa. Houve violência desumana, correu sangue aos borbotões, torturas para obter o segredo do cofre. Se foi assim ficou tudo no segredo dos deuses.

O sistema precisa da corrupção como de pão para a boca. Se o dinheiro não circula em grandes quantidades, se não muda de mãos, a economia de mercado morre de morte matada. Nas eleições gerais de 1992 o eleitorado angolano plebiscitou a morte da democracia popular e do socialismo. Caucionou 100 por cento a democracia representativa e o capitalismo, pai de todos os bichos, de marimbondos aos jacarés que vivem do lodo e lixo concentrado no fundo dos rios. Até pedregulhos engolem! Sem lixo, sem lodo, sem porcaria, jacaré morre de fome.

É altura de cortar a ração aos jacarés porque estes são mais perigosos e predadores do que marimbondos e caranguejos. Os nossos saltaram dos rios para a política e a comunicação social. Vivem da mentira, da falsificação, da calúnia, da manipulação. Assaltam a História roubando-lhe os factos. Roubam a honra de vivos e mortos para ficarmos todos ocos e zumbis. Manipulam a realidade apresentando factos passados como se tivessem acontecido hoje. Nada melhor do que exemplos.

Os jacarés que vendem opiniões nos Media (até nos públicos!) dizem que Angola é independente há 48 anos. O MPLA governa há 48 anos. E os problemas continuam por resolver. Nada mudou. Somos um país rico e o povo continua pobre. Há quem chame a isto populismo. Eu chamo-lhe desonestidade intelectual. Baixeza moral. Banditismo mediático.

No dia seguinte ao 11 de Novembro de 1975 Angola ainda não era um país. A colónia também já não existia. Tinha sido desmantelada até ao último tijolo, propositadamente, pela potência colonial e pelos invasores estrangeiros, entre os quais os fascistas do Exército de Libertação de Portugal liderados pelo coronel Santos e Castro. Este era desertor do Exército Português para repor o regime colonialista e as colónias. Não ficou pedra sobre pedra. A administração pública, a todos os níveis, ficou sem recursos humanos. O país chamado Angola nasceu do zero. Os seus dirigentes só ficaram com os mortos para enterrar e as famílias para consolar.

Portugal existe há 880 anos. Ainda tem problemas de pobreza e fome para resolver. Uma alta percentagem da população activa não tem emprego. Uma quota ainda maior não tem habitação digna. Andaram séculos a roubar os angolanos. Foram os primeiros marimbondos das riquezas do Povo Angolano. E estão muito bem vistos por João Lourenço!

Centenas concentram-se em Luanda para marcha pacifica contra subida da gasolina

ANGOLA

Mais de duas centenas de pessoas concentraram-se hoje pelas 10:00 no cemitério de Santana, em Luanda, onde terá início uma marcha de protesto contra a subida dos combustíveis e o fim da venda ambulantes.

Sob o olhar vigilante de um enorme cordão policial, ativistas, maioritariamente jovens gritavam, pediam os “empregos prometidos”  e o “fim da repressão da venda ambulante”,  prometendo marchar pacificamente ate ao Largo da Mutamba.

Empunhando cartazes com dizeres como o “preço da gasolina subiu, o arroz subiu, só o salário não subiu”, “queremos salários condignos” e “manifestação não é crime” gritavam também palavras de ordem como “João Lourenço fora”, à medida que a moldura humana ia engrossando com a chegada de mais manifestantes.

Alguns mototaxistas, classe profissional que tem estado no centro dos protestos contra o aumento do preço da gasolina também se fizeram presentes no local aguardando o inicio da marcha, previsto para as 13:00 ate ao largo da Mutamba, no coração de Luanda.

“Mamãs zungueiras”, as tradicionais vendedoras ambulantes, juntaram -se também ao protesto, umas dançando e cantando, outras tentando vender algumas das suas mercadorias.

Também presentes estão alguns deputados da oposição, sem os seus símbolos partidários, já que a UNITA, maior partido da oposição angolana, optou por se solidarizar com a causa, sem participar oficialmente na manifestação, deixando aos seus militantes a possibilidade de o fazerem individualmente.

Angola | OS COMBATENTES DA VILA ALICE – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A implantação do MPLA em Luanda depois do 25 de Abril de 1974 foi um processo que revelou grandes dirigentes, grandes militantes, grande patriotismo. Ao comando estiveram três homens excepcionais: Hermínio Escórcio, Manuel Pedro Pacavira e Aristides Van-Dúnem. E estes criaram uma equipa de operacionais igualmente excepcionais. Vou apenas referir aqueles que ainda guardo na memória com o pedido antecipado de desculpas aos que omitir. Eis os seus nomes: Aristófanes Couto Cabral, Mário Torres, Luís Rita (o homem das finanças), Correia Mendes e os manos Antas (Chico e Lindinho). A “decoradora” foi Teresa Gama.

Os esquadrões da morte ao serviço dos independentistas brancos começaram a atacar as populações dos musseques criando na capital um clima de terror. Dois comandantes do MPLA que foram capturados pela PIDE, quando chamados a ciladas montadas por agentes duplos (Ingo e Tetembwa), comandaram a resistência no “posto de comando” Dona Amália. Foram os primeiros a chegar porque estavam na situação de prisão domiciliar, não vieram da guerrilha. Tetembwa estava na Quiminha. Ingo no Lobito. As matanças de Luanda marcaram o início da II Guerra de Libertação Nacional, que durou até ao dia 11 de Novembro de 1975.

As instalações do MPLA ficavam em vivendas na Vila Alice. Após a assinatura do cessar-fogo entre o movimento e a potência colonial, em Setembro de 1974, foi criado o Comando Operacional de Luanda (COL). O comité Dona Amália continuou a ser um posto avançado. Defesa do povo numa lógica de proximidade abrangendo os bairros Marçal, Rangel, Terra Nova, Casa Branca e Sambizanga/Zangado.

O Comando Operacional de Luanda aglutinou os jovens angolanos que em 15 de Julho de 1974 abandonaram as forças armadas portuguesas. Oficiais subalternos, sargentos e praças eram a força armada que enfrentou e destruiu os esquadrões da morte dos independentistas brancos. Uma força aguerrida e altamente treinada. Mais tarde chegaram ao COL os grandes comandantes da guerrilha. Iko Carreira passou por lá, antes de mudar para o edifício onde está hoje o Ministério da Defesa e era o quartel-general da Região Militar de Angola. 

Comandante Xietu tinha lá o seu gabinete antes de mudar para o Ministério da Defesa. Comandante Valódia. Esteve lá até morrer em combate na Avenida Brasil para encerrar o aquartelamento do Esquadrão Chipenda. Os manos Soares (Nélito e Avelino). Nélito foi assassinado na Vila Alice pela tropa portuguesa já em retirada. Avelino foi o primeiro comandante da Marinha de Guerra. Comandante Marcos, operacional a tempo inteiro dia e noite. Comandante Ngongo um luandense acabado de chegar da Frente Leste. 

Comandante Nzaji trabalhou no COL até mudar para o Morro da Luz. Comandante Ndalu antes de ir para a União Soviética formar a IX Brigada era comandante no COL. Um dia estávamos todos nas imediações do edifício quando um combatente empunhou a sua arma e começou a ameaçar todos de morte. Uma situação perigosa que podia descambar num banho de sangue. O comandante Ndalu, pé ante pé, como um felino, foi-se aproximando das costas do jovem. Se ele o visse era morte certa. 

Angola | ACABOU O RECREIO VAMOS TRABALHAR -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Na escola número 78 do Negage, a meio da manhã, tínhamos um intervalo. Quem levava sandula comia quem não tinha, dava umas dentadas no lanche dos outros. Depois jogávamos um trumunu rijo de futebol, com bola feita de trapos e sumaúma. No melhor da festa, a senhora professora batia as palmas e berrava: Meninos acabou o recreio. Todos para a sala. Só chamava os meninos porque as meninas, recatadas, ficavam na sala de aula ou sentadas na escada de acesso. Eram uma minoria.

Hoje vou fazer a figura da professora Maria Cândida. Atenção, muita atenção ajudantes do Titular do Poder Executivo acabou o recreio. Chegou a hora de governar antes que seja pior para todos nós. Chega de recreio. Com o devido respeito informo que o MPLA ganhou as eleições com maioria absoluta. Os votos que lhe foram confiados são para governar e não para engordar acomodados, sejam lobos ou passarinhos, masculinos, femininos, neutros ou não praticantes. 

O recreio acabou. É hora de fazer uma revisão da Constituição da República que altere a natureza do regime. Outra vez! Eu fui um entusiasta do actual texto constitucional porque a mudança de regime garantiu estabilidade política à prova de bala. Condição essencial para a estabilidade social e o desenvolvimento económico. Tudo certo. E funcionou bem. Acabou o recreio. Vamos pensar.

José Eduardo dos Santos tinha mão-de-obra política de altíssima qualidade. Mas também com experiência única. Ninguém no mundo tinha a capacidade dos governantes que trabalhavam com o Presidente da República. Ninguém. Alguns estavam com ele desde 1979. Outros entraram no seu governo depois do Acordo de Bicesse. Aliaram a sua formação e inteligência à experiência única que foi enfrentar os anos da rebelião armada da UNITA. O empresariado da época era verdadeiramente à prova de guerra. A Constituição da República de 2010 foi mesmo ouro sobre azul.

Ninguém esperava que em 2017 esse capital humano valiosíssimo, único no mundo, fosse desprezado, abandalhado, humilhado, perseguido. O próprio Presidente José Eduardo dos Santos foi vítima do novo modelo de governação. Quem construiu a Constituição da República de 2010 jogou com um dado fundamental: O MPLA seria sempre um fornecedor de quadros altamente qualificados para a governação, mesmo que outros partidos chegassem ao poder por via do voto.

Conselho da Magistratura nomeia juiz condenado para conselheiro do Tribunal Supremo

O Conselho Superior da Magistratura Judicial (CSMJ) de Angola nomeou Carlos Cavuquila, condenado num processo envolvendo fundos públicos, como juiz conselheiro do Tribunal Supremo, segundo uma resolução publicada em Diário da República

Carlos Cavuquila, vogal do CSMJ, tinha sido anteriormente indicado como vice-presidente do júri de um concurso curricular para o recrutamento de cinco juízes do Tribunal de Contas, mas foi travado, em maio, por uma deliberação do plenário deste órgão.

Segundo a deliberação, Carlos Cavuquila tem dois processos pendentes, um dos quais transitado em julgado, em que foi condenado a devolver ao Estado mais de 29 milhões de kwanzas (54 mil euros), que ainda se encontra em execução, e um outro, a correr ainda trâmites, envolvendo valores aproximados de 1,4 mil milhões de kwanzas [2,5 milhões de euros] e 177 milhões de kwanzas [317 mil euros], respetivamente.

Segundo a resolução, consultada pela Lusa, o plenário do CSMJ decidiu designar Carlos Cavuquila para o provimento da vaga de juiz conselheiro, reservada a juristas de mérito “por se tratar do candidato imediatamente a seguir na lista de graduação final”  do concurso curricular para preencher oito vagas de juízes conselheiros, estando ainda uma vaga em aberto.

Carlos Cavuquila
, que foi administrador do município do Cacuaco, em Luanda, é atualmente vogal do CSMJ, órgão presidido pelo juiz Joel Leonardo, também presidente do Tribunal Supremo e que tem estado no centro de várias polémicas, associado a suspeitas de venda de sentenças, má gestão e nepotismo.

Visão | Lusa

CRISE DO CAJU TRAZ DE NOVO A FOME À GUINÉ-BISSAU

A guineense Maria Esperança Fernandes tem muitas bocas para alimentar, mas está cansada de procurar alternativas à venda do caju, amontoado em casa porque ninguém compra.

A guineense Maria Esperança Fernandes tem muitas bocas para alimentar, mas está cansada de procurar alternativas à venda do caju, amontoado em casa porque ninguém compra, e a fome já é uma realidade na família.

A viúva, produtora em Mansoa, na região de Oio, centro-norte da Guiné-Bissau, diz que, de vez em quando, não tem outra hipótese senão vender o caju a 150 ou 200 francos CFA (entre 0,22 e 0,30 euros) um preço muito inferior aos 350 francos CFA (0,57 euros) estipulados pelo Governo.

“Às vezes vendo um saco [de caju] para conseguir três ou quatro mil francos CFA [4,5 ou sete euros] para comprar um saco do arroz”, diz, manifestando, no entanto, a revolta por ter de vender ao desbarato a fonte de sustento das 14 pessoas da família, incluindo seis crianças.

Sobre a hipótese de trocar caju por arroz, a resposta é pronta: “Não consigo e não vou fazer isso. Tenho fome, é verdade, mas não vou fazer isso. De vez em quando desenrasco e vendo 10 quilogramas para arranjar 2 mil francos CFA (3,5 euros) para comprar o arroz e depois labuto para comprar outros ingredientes para fazer a comida”.

Além da dificuldade em alimentar a família, Maria Esperança diz que “nem sabão para lavar a roupa das crianças” consegue comprar e antecipa já um novo problema: “Tenho de arranjar dinheiro para pagar a matrícula das crianças, estamos no meio do ano letivo, não consigo”.

Ucrânia diz à missão de paz africana que não haverá negociações com a Rússia

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, disse nesta sexta-feira, após uma reunião com líderes africanos, que negociações de paz com a Rússia serão possíveis apenas depois de Moscou retirar as suas forças de territórios ucranianos ocupados.

# Publicado em português do Brasil

Os seus comentários não sinalizaram uma mudança na posição de longa data de Kiev sobre negociações de paz, apesar das expectativas da delegação africana de mediar um fim à guerra que se alastra desde a invasão em grande escala da Rússia em fevereiro de 2022.

"Permitir qualquer negociação com a Rússia neste momento, enquanto o ocupante está em nossas terras, é congelar a guerra, congelar tudo: a dor e o sofrimento", disse Zelenskiy em uma entrevista coletiva conjunta com a delegação africana.

"Precisamos de uma paz de verdade e, portanto, uma verdadeira retirada das tropas russas de todo o nosso território independente."

Zelenskiy deixou claro que a Ucrânia mantém sua própria iniciativa de paz, baseada em uma retirada completa dos russos, mas convidou os líderes africanos a participarem de uma cúpula internacional da paz que está sendo organizada.

A delegação africana, que incluiu líderes de Senegal, Egito, Zâmbia, África do Sul e Comores, reuniu-se com Zelenskiy após ser recebida em Kiev por uma saraivada de mísseis russos. 

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