quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Angola | Os Assassinos de Laurindo Vieira – Artur Queiroz

Jonas Savimbi o "bom rapaz", no dizer do chefe do governo colonialista português, Marcelo Caetano

Artur Queiroz*, Luanda

Benjamim Almeida  em 2 de Abril de 1973 foi para Cangumbe com a unidade que comandava, a Companhia de Artilharia 6551, guardar as costas de Jonas Savimbi. Servia de apoio logístico aos “guerrilheiros” do Galo Negro. Não muito longe, em Lumbala Nguimbo (Gago Coutinho), os comandantes fundadores da UNITA, Pedro e Sachilombo, já estavam a reforçar os Flechas da PIDE desde 1968. 

O chefe Savimbi até pedia ao capitão Almeida creme para os pés e botas de cano alto. Era o seu oficial às ordens. Tinha que ser um “miliciano” a fazer este papel porque um oficial do quadro permanente não aceitava descer tão baixo. 

 Os generais do colonial-fascismo, Luz Cunha e Bettencourt Rodrigues, tinham dado as suas ordens ao jovem comandante da companhia de artilharia aquartelada em Cangumbe: Guarde bem o Savimbi e que não lhe falte nada! Ele cumpriu. Encontrou-se várias vezes com o chefe do Galo Negro e trocaram cartas. O “chefe guerrilheiro” andava na pedinchice. O Tenente Sabino era o mensageiro!

O Capitão Benjamim Almeida, em Maio de 2011, publicou o livro “Angola - O Conflito na Frente Leste” onde homenageia Jonas Savimbi, publicando a correspondência que ambos trocaram. Numa das cartas, o chefe do Galo Negro dizia que era preciso aproveitar a cisão de Daniel Chipenda (Revolta do Leste) “para acabarmos de vez com o MPLA”. O livro foi publicado pela Âncora, Lisboa. Leiam urgentemente, se querem conhecer pormenorizadamente a traição da UNITA ao juntar-se às forças de ocupação contra os combatentes da Luta Armada de Libertação Nacional.

Chegados aqui vamos ao assunto. Os sicários da UNITA fizeram este raciocínio simplório: Os portugueses é que mandam. Têm as empresas, as fazendas, os bancos. A força armada está com os portugueses. Vamos juntar-nos a eles. E juntaram. Savimbi andava a fazer corredores para ser nomeado governador do Moxico. Depois já se contentava com o governo do Bié. E por fim só queria ser o Soba Grande de Cangumbe. Marcelo Caetano publicou um livro (Depoimento) onde qualifica Jonas Savimbi como “um bom rapaz”. Lutou de armas na mão contra a Independência Nacional.

A UNITA colocou-se incondicionalmente ao lado dos independentistas brancos em 25 de Abril de 1974. Savimbi pensava que a força estava ali. Quando Rosa Coutinho expulsou de Angola os dirigentes dessas organizações, o chefe do Galo Negro percebeu que se tinha equivocado mais uma vez. Ofereceu os seus serviços ao ditador Mobutu. Ele aceitou mas pôs os novos aliados no quintal. Faziam o serviço de serventes. À boleia dos “evangélicos” (Bolsonaro, Trump, João Lourenço) abriu um atalho para os EUA. Só tinham trabalho para assassinatos selectivos e destruições.

Savimbi avançou com o Plano B. Em África ninguém é mais forte do que a África do Sul dos Botha! A UNITA vai ser aliada do regime de Pretória. Diga-se em abono da verdade que figuras como António Vakulukuta, Jorge Sangumba, Wilson dos Santos ou os dissidentes Miguel Nzau Puna e Tony da Costa Fernandes nunca viram com bons olhos esta aliança porque era “uma traição aos irmãos africanos” como me disse o próprio padre Vakulukuta, que conheci em Grenoble. 

Wilson dos Santos em 1974 era um jovem revolucionário. Tinha estudado nas universidades de Lisboa e Coimbra. Um antifascista e anticolonialista não podia aceitar que o seu movimento se submetesse ao regime racista de Pretória.

Só Jonas Savimbi se sentia bem com a aliança contranatura? Só ele se submeteu ao regime de apartheid? Não. Samuel Chiwale apoiou entusiasticamente o chefe. Muitos jovens que aderiram à UNITA em 1974/75 também alinharam. Pensavam que submetidos aos bóeres racistas tinham o futuro garantido. 

Hoje a UNITA é um cancro mortal no regime democrático angolano. O apoio dos colonialistas está longe, muito longe. Elites portuguesas ignorantes e corruptas não têm força para colocar o Galo Negro no poder em Angola. Os racistas da Irmandade Africâner também já não conseguem ir além de financiar o Club K ou outros pasquins e “portais” de Angola. Optaram pela violência assassina. 

Hoje os Media informam que as autoridades prenderam os assassinos do Professor Doutor Laurindo Vieira (foto à esquerda). Hélder Ricardo fez o disparo mortal. Os peritos garantem que o crime foi cometido por matadores bem treinados e conhecedores do ofício de matar a soldo. Está preso. Mas quem financia manifestações violentas e assassinatos selectivos está a rir. Se Hélder foi preso, Abílio Canmalata Numa também tem de ser preso. É o promotor pagador.

Raúl Domingos Gaieto também foi preso. Peixe miúdo. Nelito Ekuikui também tem de ser preso imediatamente, É outro promotor pagador de assassinatos e manifestações violentas. Ele quer assassinar a democracia angolana.

Adriano Júnior é outro matador preso pelas autoridades. Não chega. Adriano Sapiñala é um promotor pagador de manifestações violentas e assassinatos selectivos, Tem de ser preso imediatamente. 

E depois destes todos presos, é preciso prender Adalberto da Costa Júnior, o chefe dos sicários da UNITA. Raivoso. Encostou-se aos brancos portugueses colonialistas e sul-africanos racistas. E eles perderam. Entrou na traficância dos diamantes de sangue mas a ONU acabou com o negócio. Prometeram-lhe que ia ser presidente de Angola e nem o deixam presidir sossegado ao Galo Negro. Desesperado entrou no financiamento de manifestações violentas e assassinatos selectivos. 

Enquanto os sicários da direcção da UNITA não forem presos e julgados, o assassinato do Professor Doutor Laurindo Vieira fica impune. Só apanharam o peixe miúdo. Os tubarões vão continuar mandar matar, partir, destruir o regime democrático.

* Jornalista

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