Artur Queiroz*, Luanda
A Revolução dos Cravos em Portugal (25 de Abril) chegou tardiamente a Angola. E quando chegou, os Media, controlados pelos independentistas brancos, conluiados com o regime de Pretória, começaram logo a lançar sombras para ninguém ver a luz que se acendia com o fim do regime fascista e colonialista português. De fora ficou a Emissora Oficial, a Voz de Angola (órgãos públicos) e o Diário de Luanda que pertencia ao partido de Salazar, União Nacional. Esta empresa era igualmente proprietária do jornal ABC que ressurgiu como semanário.
Sem surpresas, os Media privados apoiavam a UNITA, apresentada como “movimento dos brancos” e Savimbi, o “Muata da Paz”. Menos de um mês após o 25 de Abril, também o jornal Província de Angola (Hoje Jornal de Angola) abriu as suas páginas à propaganda da FNLA. Os partidos que nasceram com a mudança de regime, todos defensores da independência branca, tinham mais espaço do que UNITA e FNLA. O jornal do partido fascista União Nacional, Diário de Luanda, era a voz troante dos esquadrões da morte. O mais extremista dos extremistas.
Este panorama mudou com a chegada a Angola do Almirante Rosa Coutinho. Os Media privados tornaram-se ainda mais extremistas na defesa da independência branca com o apoio da África do Sul. O jornal Província de Angola (Jornal de Angola) assumiu ser a voz da FNLA. Os Media públicos, Emissora Oficial, Voz de Angola e Diário de Luanda, nacionalizado com a extinção da União Nacional, foram os arautos da mudança.
A grelha da emissora Voz de Angola incluiu dois programas, Contacto Popular e Voz Livre do Povo, que defendiam os novos tempos. A Emissora Oficial de Angola sofreu uma reestruturação ao nível da Direcção. O Secretário Provincial da Comunicação Social, Correia Jesuíno, nomeou dois “militares de Abril”, Comandante Garrido Borges e Capitão Alcântara de Melo, para dirigirem a emissora. A Direcção de Informação ficou a cargo de Manuel Rodrigues Vaz (realizador e produtor do Jornal das 20 horas), António Cardoso, intercalares da noite e Artur Queiroz, jornal das 13 horas.
O MPLA passou a ter voz no
processo de transição, o que parecia impossível até à chegada do presidente da
Junta Governativa de Angola, Rosa Coutinho, que substituiu o último
governador-geral, Silvino Silvério Marques. Ao mesmo tempo começou a debandada
de jornalistas e técnicos. Decidimos que cada jornalista sénior tinha como
missão formar cinco jovens, num ano. Formação
Na técnica foi aplicada a mesma receita, mas a debandada não foi tão grande. Mesmo assim, técnicos de grande valia como os manos Artur e Fernando Neves, César Barbosa, Humberto Jorge, Lucrécio, Jofre Neto, Arriscado e outros, responderam em grande! Para não dispersarmos jornalistas e técnicos, foi extinta a Voz de Angola e os quadros migraram para a Emissora Oficial de Angola (RNA). Jornalismo de alto nível. Rádio de primeira! O Povo Angolano ficou bem servido no palco mediático. Pela primeira vez na História de Angola.
Após a tomada de posse do Governo de Transição (31 de Janeiro 1975) a debandada de profissionais qualificados aumentou dramaticamente. O Sindicato dos Jornalistas criou um Centro de Formação Permanente. Luciano Rocha, Castro Lopo, Horácio da Fonseca e Artur Queiroz davam formação em técnicas redactoriais e editoriais para a Imprensa e Rádio. Maria do Carmo Medina ensinava Direito da Comunicação. Bobela Mota História do Jornalismo Angolano.
FNLA e UNITA abandonaram o Governo de Transição e a guerra nas ruas de Luanda atingiu o máximo. A debandada de jornalistas aumentou ainda mais. O ministro Manuel Rui Monteiro, Gabriela Antunes, Francisco Simons e Sebastião Coelho decidiram criar uma escola superior de jornalismo. O Sindicato não alinhou no projecto. Fez bem porque a megalomania acabou com Gabriela Antunes, sozinha, a criar um “curso médio de jornalismo”. Ainda bem que ninguém se lembrou de criar cursos médios de Medicina, Engenharia ou Letras.
A luz foi-se extinguindo e
surgiram novas sombras. A Emissora Oficial manteve o alto nível porque em
devido tempo formou os seus jornalistas e técnicos. Mas a Imprensa entrou
Ernesto Lara Filho reforçou a
equipa três meses antes do 11 de Novembro mas foi nomeado director da Missão
Apícola de Angola no Huambo e partiu. Ele era quadro técnico do Ministério da
Agricultura desde os anos 50. No final de 1975 regressou a Luanda Adelino
Tavares da Silva e ficou a trabalhar connosco. Fugiu de Portugal por estar a
ser perseguido pelos vendedores do 25 de Novembro de
O Jornal de Angola era um deserto igual. Na época tinha apenas dois jornalistas seniores: Moutinho Pereira e Antero Gonçalves, o Poderoso. Dois jovens davam os primeiros passos na profissão: Paulo Pinha e Quim Pereira de Almeida. O director, Fernando Costa Andrade (Ndunduma) foi emprestado ao jornalismo. E um fiscal da Inspecção dos Espectáculos, Júlio Guerra, virou chefe de Redacção! Para colmatar tão gritantes faltas, Ndunduma admitiu uma dezena de estagiários, Alguns são hoje profissionais de bom nível.
O Presidente João Lourenço fez no Huambo esta afirmação: “No tempo do partido único o jornalismo praticado era bem diferente daquele que é praticado agora. Hoje existe liberdade de imprensa, não é só o Estado detentor de empresas de comunicação social, o sector privado também está neste nicho de mercado”.
Informo sua excelência que fiz jornalismo no regime de democracia popular e socialismo. Fazia exactamente o mesmo jornalismo que faço hoje. Ouso infirmar o Presidente da República que as Redacções do Diário de Luanda e Jornal de Angola eram espaços de liberdade. Enquanto fui chefe de Redacção da Emissora Oficial de Angola (RNA) a liberdade andava à solta. Nenhum poder ilegítimo conseguiu fazer lá ninho. Nunca! Nem sequer o senhor ministro Manuel Rui e seus secretários de Estado, Hendrick Vaal Neto e Jaka Jamba conseguiram impor a censura prévia aos noticiários!
As Redacções deixaram de ser espaços de liberdade quando os golpistas de 27 de Maio de 1977 tomaram de assalto a RNA. Demitiram do Diário de Luanda Luciano Rocha e Artur Queiroz. Sabotaram a direcção de Fernando Costa Andrade (Ndunduma). Mas no Jornal de Angola não passaram! Director e jornalistas defenderam a Liberdade de Imprensa com risco das suas vidas! Derrotados os golpistas, o Jornalismo continuou, em liberdade.
Sua excelência o Presidente da República provavelmente não sabe. Tem mais que fazer. Não pode perder tempo com ninharas. Mas os Media privados em Angola, hoje, representam poderes ilegítimos, Nunca foram a votos ou se foram, perderam estrondosamente. Existem para derrubá-lo e derrubar o seu partido que ganhou as eleições com maioria absoluta. Os Media públicos hoje são antros de poderes ilegítimos representados pelo chefe Miala. Há uma séria ameaça à Liberdade de Imprensa e ao do Jornalismo Livre. É o sistema no seu pior.
Liberdade de Imprensa na democracia representativa e “economia de mercado” é coisa que não existe. Sem querer tirar o sono a sua excelência o Presidente da República informo que até ao ano de 1977, mais de 400 jornalistas norte-americanos eram agentes da CIA.
Nesse ano, o jornal New York Times “investigou” e concluiu que a CIA controlava 800 órgãos de informação e seus responsáveis. A CBS (Columbia Broadcasting System) tinha uma linha directa com a sede da CIA. A Empresa Time Inc. (Life, Fortune e outros títulos) aceitou contratar agentes da CIA disfarçados de jornalistas.
A CIA assumiu o controlo total da American Newspaper Guild e os seus agentes passaram a ter o disfarce de jornalistas nas publicações do grupo. A CIA tem os seus agentes na Reuters, Associated Press (AP) e United Press Internacional (UPI). O especialista na matéria William Schaap garante que a CIA é proprietária ou controla 2.500 meios de comunicação social em todo o mundo. O repórter John Cewdson descobriu que a CIA tem pelo menos um jornal em cada capital do “mundo ocidental”. Na folha de pagamentos da CIA constam correspondentes, repórteres, editores em praticamente todos os grandes Media do mundo.
E em Angola, excelência? O editor
de Opinião do Jornal de Angola é empregado da embaixada dos EUA
* Jornalista
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