Artur Queiroz*, Luanda
O orgulho pode ser mau conselheiro
mas às vezes faz bem. Mantém em nós, o gosto pela vida. A disponibilidade para
a luta. Meu Pai encheu a minha vida de orgulho ao tomar duas atitudes que
marcaram a nossa família. Em 1958 foi contactado para ser o procurador do
General Humberto Delgado no distrito do Congo Português, nas eleições
presidenciais
Minha Mamã disse-lhe que arranjou mais sarna para se coçar. Já tinha sido preso pela PIDE. Torturado. Atirado para o desterro. Aquela procuração podia ser fatal. E ele explicou-nos por que aceitou representar o candidato Humberto Delgado no Congo Português: Este homem formou-se no regime. Chegou a General. Podia ser mais um esbirro do Salazar. Mas preferiu liderar a Oposição aos fascistas. Se ele fez este sacrifício pela Liberdade eu tinha que estar a seu lado. Perca o que perder, perco muito menos do que ele. Ficámos todos apoiantes. Delgado é o nosso Presidente!
Nessa altura a Fábrica de Tabacos Ultramarina (FTU) lançou os cigarros AC. Logo inventámos um “slogan”: AC Américo Chora Angola Canta. O candidato do regime fascista era Américo Tomás. Américo Chora! Américo Chora! Angola Canta! Angola Canta! AC! AC!
Meu Pai dizia-nos que no Congo Português já estava preparada a derrota de Humberto Delgado. E isso ia acontecer em toda a Angola. No eixo Benguela-Catumbela-Lobito não conseguiram roubar e ganhou Delgado! No círculo distrital Humberto Delgado teve 2.599 votos e o fascista Américo Tomás 1.296. Por estas e por outras o meu amigo e camarada Paulo Jorge dizia ser governador da República Socialista de Benguela, já na vigência da democracia representativa.
Os maços de cigarros AC tinham
escrito
Depois do 25 de Abril os antigos presos políticos foram compensados coim uma indeminização e até pensões de sobrevivência. Meu Pai recusou essas benesses. Que orgulho! Um orgulho que me faz gostar da vida. Dá-me força para viver. Juntamente com o orgulho de ser angolano é o combustível que me impulsiona para a luta pela Liberdade.
O General Humberto Delgado continuou a liderar uma parte da Oposição portuguesa, disposta a derrubar o colonialismo e o fascismo pela luta armada. Chamavam-lhe o General Sem Medo. Foi atraído a uma armadilha montada pela PIDE e os esborros de Salazar. Assassinaram-no perto de Olivença, fronteira de Portugal com a Espanha. O seu corpo e o da sua secretária, Arajaryr Campos, foram abandonados no mato, em Villanueva del Fresno. Os matadores foram Rosa Casaco, chefe da quadrilha, Ernesto Lopes Ramos, Casimiro Monteiro e Agostinho Tienza.
Os assassinos de Humberto Delgado foram julgados no Tribunal Militar de Lisboa, depois do 25 de Abril. Sentenças leves. Mesmo assim houve recurso para o Supremo Tribunal Militar. A sentença final foi proferida a 8 de julho de 1982. O governo era da Aliança Democrática (AD), coligação que juntava os partidos PPD/PSD,o CDS e PPM. Onde é que eu já vi isto?
O patrão da PIDE/DGS, major Silva Pais, não foi sentenciado por ter falecido em 1981, antes de concluído o julgamento. Pereira de Carvalho, um dos responsáveis da Direção de Serviços de Informação foi absolvido. Barbieri Cardoso, subdiretor-geral, foi condenado a quatro anos de prisão maior, por quatro crimes de falsificação!
A farsa continua. Ernesto Lopes Ramos, assassino que montou a armadilha ao General Humberto Delgado e presente no local do crime foi condenado a 22 meses, por uso de identidade falsa. Fazia-se passar poro advogado! Pelo mesmo crime, Agostinho Tienza foi condenado a 14 meses. Este estava no local do crime e segundo Rosa Casaco, disparou!
Casimiro Monteiro e Rosa Casaco, foragidos à Justiça, tiveram as penas pesadas porque os condenadores sabiam que eles nunca cumpririam as penas. Casimiro Monteiro foi considerado o único autor material dos homicídios de Humberto Delgado e Arajaryr Campos. Levou 19 anos e oito meses de prisão. Nessa altura já estava a trabalhar com os racistas sul-africanos e a UNITA na agressão contra Angola. Mudou de identidade e de cara!
Rosa Casaco, o líder do grupo de assassinos, foi condenado a oito anos de prisão por seis crimes de falsificação e dois crimes de furto de documentos. Também mudou de identidade. Ninguém sabe se está morto ou vivo.
Um tal José Gomes Cravinho,
ministro dos negócios com o estrangeiro acaba de assassinar a memória do
General Humberto Delgado ao compará-lo com o nazi Navalny. Também assassinou a
memória do seu procurador no Congo Português, meu Pai. Um fajardo inútil ousou
cuspir na memória de dois homens que nunca se serviram do Estado. Nunca se
meteram
Sobretudo neste tempo em que os nazis de Telavive matam milhares de crianças e Mamãs na Faixa de Gaza. Até hoje já mataram 126 jornalistas porque não querem testemunhas do genocídio. Centenas de médicos e outros técnicos de saúde foram assassinados ou presos. Não chamam assassinos aos membros do Governo de Israel.
Navalny, porque era nazi, racista e xenófobo, vale mais do que milhares de crianças e mulheres que não podem ser classificados como “terroristas” do HAMAS. A mortandade continua, com a protecção e apoio dos EUA, União Europeia e do Reino Unido. São todos coniventes com os assassinos. Acusam a Federação Russa de censura! É o máximo do abuso da nossa paciência. O ocidente alargado cimpõe uma censura férrea aos jornalistas e Media russos!
O Jornalista Julian Assange está
preso há cinco anos, aos quais temo de acrescentar mais sete, exilado na
embaixada do Equador
Os Media do ocidente alargado embandeiraram em arco quando EUA e Reino Unido atacaram bases militares do Iémen, país que bloqueou a navegação no Mar Vermelho de e para Israel, em solidariedade com os palestinos vítimas de genocídio.
Ninguém sabe (censura pura e dura) que o navio norte-americano “Sea Champion” foi atacado. Missão cumprida. Depois foi atacado o “Navis Fortuna”! Agora foi ao fundo o navio britânico “Rubymar”. A guerra contra os genocidas começa a ter êxito. Mas a opinião pública ocidental não sabe o que se passa. Censura de ferro!
Na Ucrânia, os EUA, União Europeia e Reino Unido estão a ser derrotados. Como já não existe carne para canhão ucraniana, mandam tropas da OTAN (ou NATO). Os militares estão disfarçados de “trabalhadores civis” ou mercenários. Ainda ontem a Federação Russa estava a ser derrotada Ainda agora a mulher-a-dias da RTP Cândida Pinto viu a terra fresca das trincheiras onde os desgraçados da Ucrânia vão ganhar a guerra. Não têm pena dos Jornalistas e do Jornalismo. O embuste é que está a dar.
Ontem houve em Portugal um debate televisivo entre o líder do PS (Pedro Nuno Santos) e o da Aliança Democrática (Luís Montenegro). O local do debate foi cercado por ululantes do partido Chega. Os dois políticos foram sequestrados por polícias e militares da GNR. Em rigor, o sequestro foi mais ao político socialista. Porque Luís Montenegro achou muito bem a acção dos sequestradores. E garantiu que vai dar aos “manifestantes” tudo oi que quiserem. Passem a factura que eu pago.
O 25 de Abril vai ser comemorado com a extrema-direita no poder. E a tropa de choque do Chega vai estar nas ruas impondo a ordem nova. O José Gomes Cravinho junta-se aos feios porcos e maus. Já temos um ministro encostado ao Chega. Estás à pega, canalha!
* Jornalista
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