segunda-feira, 4 de março de 2024

O Túmulo de Hitler e os Medrosos -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Bertrand Russel escreveu centenas de páginas para nos explicar por que razão não é cristão. O livro “Porque não sou cristão” fez escola na época. li e reli aquelas páginas. O meu problema era quase impossível de resolver. Um filósofo moderno e com um pensamento bem estruturado  precisou de páginas e páginas para explicar o que eu explicava apenas com uma palavra. Ele analisou o tema pelo lado da epistemologia, da teoria do conhecimento, da moral, da crítica da razão pura e até da escolástica. Notável!

E foi por isso que compreendi, quase sem querer e sem que isso tivesse alguma coisa a ver com a notável obra de Bertrand Russel, que a filosofia grega é euro-asiática. Tem na sua geografia o Médio Oriente, primeira paragem dos bantus que emigraram para Norte, quando o paraíso de Nakuru foi arrasado por cataclismos naturais. A filosofia grega dá-me alegria e uma confiança pletórica absolutamente imparável. Desde Pirro a Platão. No pensamento grego sou livre. Naquele manancial de maravilhas optei por duvidar da própria dúvida. Os libertários são poucos e com tendência para acabar.

Os romanos são verdadeiramente europeus e muito cansativos. Mas absolutamente grandiosos. Quando entro no pensamento de Séneca sinto que está para breve a imortalidade do meu ser. E como essa verdade me pesa!

Depois de tanto ler o “Porque não sou cristão” concluí sem a mínima hesitação que os brancos pensam muito. E resolvi mudar de pele. Já lá vão pelo menos 50 anos! Eu posso explicar ao mundo por que não sou cristão, com uma palavra e o respectivo artigo definido, masculino do singular: o Purgatório.

Se o deus dos cristãos me quiser mandar para o Inferno, fico-lhe eternamente agradecido. Se me mandar para o Céu, não lhe acho tanta piada e juro que desde o primeiro instante em que chegar ao assento etéreo, vou fazer tudo para seduzir e possuir no meu leito de seda, todas as santas e anjinhas que puder. Na vida já fiz de tudo e fui mais alguma coisa. Só me falta por os cornos a um deus com tiques de juiz vingativo, bárbaro e escandalosamente parcial.

Ele manda os bons para o Céu, os maus para o Inferno e os assim-assim para o Purgatório. Essas almas penadas só têm uma maneira de enganar a eternidade: Convencer os vivos a rezarem desalmadamente por elas, até que o energúmeno que preside ao Santíssimo Tribunal decida libertá-las das duras penas do Purgatório. Eu nunca terei ninguém que salve com rezas e ladainhas a minha alma penada, das salas de tortura do Purgatório. Sou pecador por convicção e iconoclasta por emoção. Qualquer pessoa com tendência para a caridade compreende a minha rejeição inquieta.

Os cristãos impõem, fazem do dever uma espada sobre os pobres mortais. Começaram com os Dez Mandamentos e já vão em milhões. A moral judaico-cristã impõe, exige, pesa, esmaga e castra. Só os libertários, poucos, conseguem produzir alguns impulsos sem punição nem castração. Sem medo. Eu valho muito pouco, mas não tenho medo e por uma questão de sobrevivência intelectual, rejeito em absoluto os mandamentos do poder. 

Se leram a prosa até este ponto, chegou a altura de ir directo ao assunto. Quem na corte do nosso Mobutu tem medo do empresário Carlos São Vicente? Os bajuladores de hoje, que viveram à sua custa, devem estar nesse grupo. Os que lhe extorquiram dinheiro em nome do chefe também devem estar borrados de medo. Magistrados judiciais que aceitaram ordens superiores não sabem onde esconder-se depois das eleições de 2027. As confiscadoras e confiscadores a soldo da quadrilha que se apoderou do poder ao arrepio do programa de governo do MPLA, também tremem só de pensar que vem aí o fim do nosso Mobutu.

Aviões dos EUA largam comida de paraquedas na Faixa de Gaza. Vai quase tudo parar ao mar. Aquilo é apenas espectáculo. E para os assassinos Biden, Blinken e Austin irem à igreja de cabeça levantada. Estão a preparar a “solução final” na Palestina com os nazis de Telavive.

O ocidente alargado tem um novo herói. Primeiro agarraram-se às partes baixas do Savimbi. O Adalberto não consegue ir além de porteiro dos palácios do poder na União Europeia, Reino Unido e Washington. O grande herói destes dias é o Navalny. Merece porque encarna todas as qualidades da civilização dos genocidas. É corrupto, nazi e ilusionista. Vai ter uma estátua em cada capital e um memorial em Round Top, uma aldeia do Texas com 77 habitantes. 

É um bom sítio porque se Boris Vian ressuscitar não vai cuspir-lhe na tumba. A aldeia texana é só para cobóis assassinos de índios apaches. Eu jamais irei ao estado terrorista mais perigoso do mundo, não vou mijar no memorial do Navalny depois de uma litrada de kapuka. Um dia fui à Alemanha respirar a atmosfera que Kant respirou. Encontrei uma menina muito loira, olho azul. Apresentei-me e disse-lhe qual era a minha missão. Ela adoptou-me e bebemos à saúde do encontro. Na madrugada fomos saber do túmulo de Hitler para lhe urinarmos em cima. Já amanhecia quando a deusa germânica informou que não há túmulo de Hitler!

Quem tem medo de Carlos São Vicente pode dormir em paz. Quando o banditismo político for remetido à sua insignificância vão ser todas e todos tão anónimos que nem merecem ser lembrados, vivos ou mortos. 

O bispo Imbamba tem medo que os angolanos se habituem à pobreza. Este acordou tarde. Os angolanos vivem na pobreza há muitos, muitos séculos. A guerra dos amigos do Imbamba contra Angola causou um retrocesso longuíssimo. Guerra colonial, um século de atraso. A II Guerra de Libertação Nacional, mais um século se atraso. Guerra pela Soberania e Integridade Territorial, cem anos de pobreza. Operação policial e militar contra o bando armado de Jonas Savimbi, entre Setembro de 1992 e Fevereiro de 2002. Mais um século de atraso. 

Onde estavas tu, Imbamba, que ficaste em silêncio estes anos todos? Está descansado que também não vais ser incomodado na tumba. Vales menos do que as fezes do Savimbi e do Navalny! A tua cruz ao lado da espada dos colonialistas condenou os Angolanos à miséria séculos e séculos. És parte do problema. Nunca a solução.

* Jornalista

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