sábado, 1 de junho de 2024

Angola | Factos do Golpe Militar de Maio -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Em Maio de 1977 trabalhava no jornal “Página Um”, em Lisboa. Este diário disputava o primeiro lugar em audiências na capital portuguesa. No dia 27 fiz a cobertura do golpe militar em Angola. As minhas fontes foram o Bureau Político do MPLA, Ministério da Defesa, Estado-Maior Geral das FAPLA e Comando do Corpo de Polícia Popular de Angola hoje Polícia Nacional. Nem uma linha publiquei sem ser chancelada por estas fontes. E foram-me fornecidos documentos autênticos que comprovam tudo o que escrevi. Hoje mando-vos um resumo desse material. Peço a vossa paciência porque o texto é longo.

No dia 27 de Maio de 1977 não houve em Angola uma purga e muito menos foram mortos milhares de militantes no golpe e contra golpe de 27 de Maio de 1977. Foram fuzilados os membros da direcção política e operacional golpista. Nos centros de detenção morreram algumas dezenas porque viviam em condições precárias e não tinham meios para se resguardarem do frio, no Planalto Central e sobretudo no Leste de Angola, onde no Cacimbo se registam temperaturas negativas. Nas ruas das cidades, durante as confrontações militares, morreram igualmente algumas dezenas.

Os falsificadores acusam Agostinho Neto de ter ordenado uma “purga” que teve a dimensão de “genocídio”. Afirmam que os golpistas foram fuzilados sem julgamento. Jogam com o tempo e confundem propositadamente as circunstâncias que existiam em Angola no ano de 1977 e as de hoje. Em 11 de Novembro de 1975, Angola tinha poucos advogados e ainda menos magistrados. Os funcionários judiciais mal chegavam para por a funcionar um Tribunal. O regime era revolucionário, na forma de uma democracia popular. 

O Poder Judicial assentava em tribunais populares revolucionários. Para os crimes de guerra e traição, cometidos pelos golpistas, foram criados tribunais marciais. Era esse o regime e eram essas as regras. De resto, os golpistas estavam de acordo com elas e até desencadearam o golpe de estado, porque consideraram que a direcção do MPLA estava nas mãos de burgueses reaccionários que traíram a revolução. 

Agostinho Neto dirigiu a luta armada dos angolanos contra o colonialismo, até à Independência Nacional, em 11 de Novembro de 1975. Quem, como eu, trabalhou com ele, sabe que a sua dimensão humana e política o coloca entre os maiores líderes mundiais do Século XX. O que é um orgulho para os angolanos patriotas e particularmente para os que lutaram contra o colonialismo. Neto é um dos maiores poetas de língua portuguesa, ainda que alguns autoproclamados intelectuais angolanos, não tenham capacidade nem disponibilidade mental para compreender a profundidade e complexidade da sua arte poética, porque ele usa uma linguagem muito simples. 

Contra ventos e marés, traições, sedições, calúnias, infâmias de toda a espécie, Agostinho Neto conduziu o seu povo, pelo “caminho das estrelas”, até à liberdade. Enfrentou vitoriosamente as forças armadas de Portugal, um país que é membro da NATO. Foi capaz de combater num terreno particularmente perigoso e difícil, porque além das forças de ocupação tinha que lutar contra a hostilidade de países vizinhos de Angola, nomeadamente o Zaire de Mobutu. Mas sobretudo foi capaz de combater as forças da África do Sul, que na época era uma das maiores potências militares do mundo. Venceu a coligação mais agressiva e reaccionária que alguma vez se formou no planeta: a ditadura salazarista e marcelista, o regime de apartheid da África do Sul, o Zaire de Mobutu e mercenários de várias nacionalidades contratados e pagos por Londres, Paris e Bona. 

Agostinho Neto encostou a pele ao chão, ao lado dos seus combatentes e dos oprimidos. Nas estruturas da guerrilha exigiu sempre especiais cuidados com as crianças. Esse foi o segredo do seu sucesso. A luta de libertação só teve êxito porque Agostinho Neto era um homem honrado, justo e o primeiro a dar o exemplo. Nunca delegou nos outros as missões mais difíceis. Quando as condições assim o exigiram, ele esteve sempre na linha da frente. Nenhum angolano pode permitir que o fundador da Nação seja vilipendiado, insultado e agredido, sobretudo porque já não está entre nós para se defender. Por isso escrevi este livro. 

Quais foram as causas do golpe militar em 27 de Maio de 1977?

Para os golpistas, os comandantes da guerrilha eram analfabetos, Escórcio, Pacavira e Aristides mais ou menos, Lúcio Lara, Iko Carreira, Gika, Ndalu, Eurico, Ngongo, Rui de Matos, Kianda, Kassessa, Dibala, Onambwe, Juju, Tetembwa e tantos outros, eram mulatos. Agostinho Neto era negro, médico, poeta universal, mas irremediavelmente burguês. O golpe de 27 de Maio de 1977 nasceu assim. Não matou o futuro dos angolanos, mas adiou-o durante décadas. E ainda mal se vê o amanhã radioso que todos os angolanos merecem e pelo qual lutaram até à derrota do colonialismo e ao esmagamento do apartheid. 

Através da brecha aberta pelos golpistas do 27 de Maio, entrou a África do Sul, às cavalitas da UNITA de Savimbi, que aderiu ao apartheid depois de ter falhado a integração no regime fascista de Lisboa e o federalismo de Spínola, que ele saudou efusivamente, numa entrevista concedida a Francisco Simons, em Maio de 1974. Foi para o ar na Emissora Oficial de Angola (Rádio Nacional). 

O golpe de estado também foi a confrontação entre o MPLA do Interior (militantes clandestinos nas cidades, sobretudo Luanda), que incluía a I Região, e o MPLA do Exterior, aqueles que, segundo os golpistas, fugiram à repressão colonialista e se meteram numa guerra de bate, nas chanas e lavras de mandioca, e foge para as bases da Zâmbia ou da República Popular do Congo. Esses eram os analfabetos, mulatos e, pecado dos pecados, alguns brancos. Racismo e tribalismo também serviram de combustível aos golpistas. 

O panorama político geral também foi afectado pelo golpe de estado. A UNITA renasceu das cinzas alugando as suas armas ao regime de Pretória. Savimbi e os seus apaniguados desceram à miserável condição de pistoleiros dos nazis sul-africanos e marionetas de Mário Soares, que lhes deu o palco de Lisboa para representarem o papel de heróis da democracia em Angola. Se os portugueses votassem nas eleições angolanas, a UNITA ganhava com maioria absoluta.

Já decorriam os preparativos do golpe de estado do 27 de Maio e Agostinho Neto falava com o Presidente Carter. Das conversações resultou a Emenda Clark, que impunha o fim da ajuda secreta às forças que se opunham ao Governo da República Popular de Angola, ao lado da África do Sul ou do Zaire de Mobutu. Este é o principal facto que levou o Kremlin a apressar o desencadear do golpe de estado dirigido por Jacob Caetano “Monstro Imortal”, e Ernesto Eduardo Gomes da Silva “Bakaloff”. Nito Alves, Cita Vales e José Van-Dúnem eram figuras menores, ainda que posteriormente romanceadas. 

Cita Vales e José Van-Dúnem foram presos a 16 de Junho de 1977. Desde então, uma máquina de propaganda montada em Lisboa fez deles heróis, atirando para baixo do tapete as suas responsabilidades na morte de centenas de angolanos, entre eles o melhor que existia ao nível do Estado e do MPLA, partido que dirigiu a luta armada de libertação nacional até à derrota do colonialismo português. Todos os angolanos ainda hoje são vítimas do sangrento golpe contra o seu futuro. E algumas das mentes mais brilhantes do Povo Angolano, foram atiradas para a lixeira do Sambizanga. Comandantes da guerrilha e altos quadros foram torturados, apunhalados e baleados antes de serem despejados no lixo. Agostinho Neto disse, a quente, que não há perdão para os autores destes crimes hediondos. Décadas depois, nenhum líder político no seu perfeito juízo é capaz de dizer o contrário.

Nito Alves foi “construído” por quem esteve por trás do golpe: a CIA e o KGB! Nunca teve um posto de destaque entre os guerrilheiros que actuavam nos Dembos. O comandante da I Região, César Augusto Kiluanji, não o reconhece como tal. Denunciou-o como impostor, mas demasiado tarde. 

Nito foi levado ao Congresso de Lusaka pelos membros das células clandestinas de Luanda (MPLA do Interior) como representante da I Região e comandante. O que era falso. Kiljuanji nunca o mandatou para representar os combatentes da região que comandava e que resistiram heroicamente a várias operações de extermínio que incluíram guerra química, com desfolhantes. 

Fracassado o Congresso, os seguidores de Agostinho Neto entraram em Angola e numa conferência inter-regional elegeram um comité central e o bureau político. Nito Alves apanhou a boleia. Já em Luanda, até teve direito a um gabinete e “staff” de apoio, na Vila Alice. Um dia Kiluanji encontrou-o. Quando soube que ele era alto dirigente do MPLA, o comandante da I Região caiu das nuvens. E disse a Lúcio Lara que se tratava de um impostor. Mas naquele momento, com o MPLA acossado pela Revolta Activa e pela Revolta do Leste (Chipenda) não interessava denunciar o oportunismo e a vigarice política de Nito Alves. Assim nasceu uma estrela da política angolana. 

José Van-Dúnem tinha um trunfo: Esteve preso no campo de concentração de São Nicolau. Recebeu umas lições políticas de Gilberto Saraiva de Carvalho, que esteve preso no Tarrafal e depois foi inaugurar o campo de concentração de São Nicolau, criado pelo general “Comando” Soares Carneiro, então secretário-geral do Governo-Geral de Angola. Gilberto Saraiva de Carvalho era um homem com grande bagagem política. Era estudante universitário em Portugal quando foi compulsivamente enviado para Mafra, onde fez o curso de oficiais milicianos. Foi mobilizado para a sua terra natal, Angola, onde no Leste do país comandou um pelotão de morteiros. 

Depois de desmobilizado voltou aos estudos, mas em Luanda. Cedo organizou e dirigiu na Universidade de Angola as células clandestinas do MPLA. Um dirigente incontestado porque era mais velho e tinha experiência militar. 

José Van-Dúnem foi assessor do comissário político das FAPLA, comandante Gilberto Teixeira da Silva “Gika”. Um grande equívoco, porque politicamente valia pouco e apenas tinha feito a recruta no exército português, unidade dos Dragões (cavalaria) no Cuito (Silva Porto). Quando o comissário político morreu em combate, nos arredores da cidade de Cabinda, o assessor começou a ir às reuniões do Ministério da Defesa, como titular do cargo. Face aos protestos de vários comandantes, Iko Carreira propôs a nomeação de Bakaloff para o lugar de Gika e José Van-Dúnem foi transferido para Luena, capital da província do Moxico. 

Gilberto Saraiva de Carvalho, fiel ao seu companheiro de infortúnio no campo de concentração de São Nicolau, quando ele foi demitido e colocado no Luena, seguiu-o. A avassaladora onda de tribalismo, levantada pelo golpe de estado de 27 de Maio, foi particularmente violenta no Leste de Angola. Gilberto, Paulinho Cadavez e outros militantes do MPLA oriundos de Luanda, foram assassinados para “vingar” os comandantes do Leste torturados e mortos pelos fraccionistas. 

O golpe liderado por oportunistas e irresponsáveis resultou em tragédia. O único dirigente com estrutura mental, formação política e militar, Jacob Caetano “Monstro Imortal”, esteve sempre na sombra a manejar os cordelinhos das marionetas. Nunca se mostrou nem se expôs nas reuniões conspirativas. Se o tivesse feito, seguramente que os comandantes Eurico Gonçalves, Nzaji, Dangereux, Bula Matadi, Saidy Mingas, Garcia Neto, Helder Neto e outros valiosos quadros políticos e militares do MPLA não teriam sido barbaramente assassinados pelos golpistas. 

Em contacto com a direcção política e operacional do golpe esteve sempre o comissário político das FAPLA, Bakaloff, ele também cego pela ambição e um oportunista que se destacou sempre pela mais confrangedora mediocridade. Oportunismo, ambição, ignorância, vaidade e a bebedeira do poder inesperado deram a tragédia do 27 de Maio de 1977. 

José Van-Dúnem foi recruta do exército português no Cuito e tirocinado nas salinas e hortas do Bentiaba. Foi colocado ao lado do comandante Gika e quando este tombou em combate, usurpou o cargo. Tinha a coragem de reunir com Xietu, um dos mais ilustres comandantes da guerrilha e o Chefe do Estado-Maior Geral das FAPLA. Desta situação caricata resultou que os mais respeitados comandantes da guerrilha ficaram sob as ordens de um homem sem qualquer experiência militar, nem como comandante nem como comandado. E com uma formação política rudimentar. Ele foi preso pela PIDE-DGS quando estava a fazer a especialidade nos “Dragões” de Silva Porto (Cuito), após três meses de recruta. Assim se constroem as grandes comédias da História.

Na madrugada de 26 para 27 de Maio a rebelião avançou. Pela calada da noite, os golpistas foram a casa de vários dirigentes, prenderam-nos e assassinaram-nos. Ao amanhecer, vários foram queimados vivos. As fogueiras da Jamba começaram na madrugada de 27 de Maio de 1977, aqui em Luanda. Os golpistas, sedentos de sangue, atacaram em todas as frentes. Quando foi dado o alarme, já o golpe estava numa fase muito adiantada. Elementos da IX Brigada, unidade estratégica, também tinham aderido ao golpe. E na hora da verdade, estava praticamente inoperacional ou ao serviço dos golpistas.

Vários dirigentes e comandantes foram despejados mortos ou a agonizar na lixeira da estrada do Cacuaco, junto ao Sambizanga, onde mais tarde nasceu o mercado Roque Santeiro. Em poucas horas, Angola acabara de perder alguns dos seus melhores quadros. Saidy Mingas, Nzaji, Dangereux, Bula, Eurico, Garcia Neto, Hélder Neto e tantos outros. Estes mortos não são mentira. Não são ficção. São uma trágica realidade. O Estado-Maior Geral das FAPLA estava decapitado de alguns dos seus melhores comandantes.

Os golpistas assassinaram muita gente. Queimaram, vivos, alguns dirigentes. Desencadearam a fúria dos seus camaradas. Toda a tragédia que aconteceu de seguida foi da sua inteira responsabilidade. Tudo o que aconteceu na sequência do 27 de Maio é da exclusiva responsabilidade dos golpistas estejam eles mortos ou vivos. E nesta fase não adianta falsificar a História e culpar as vítimas ou falar de milhares de mortos, porque isso é mentira. Não houve milhares de mortos. 

Os golpistas fizeram, por escrito, o seu depoimento no Tribunal Marcial ou Conselho de Guerra.

Nito Alves foi preso mais tarde que a maioria dos membros da direcção política e militar do golpe. Por isso, o seu depoimento manuscrito e por si assinado, estava guardado num local à parte. Há quatro anos tive o privilégio de ler cuidadosamente o documento, no gabinete de um camarada que o tem guardado num cofre onde estão documentos secretos. Ele conta como tudo aconteceu e nomeia, um por um, todos os seus companheiros de aventura, indicando as suas funções no golpe e, mais tarde, no “governo revolucionário”. Nito ia ser o presidente do partido e da República Popular de Angola. José Van Dúnem Primeiro-Ministro e Monstro Imortal, Ministro da Defesa, para herdar a estrutura montada por Iko Carreira e no momento certo afastar os fantoches, ficando dono e senhor do poder.

Nito Alves afirma no seu depoimento: “Queríamos acabar com os desvios de Neto e com o poder dos dirigentes burgueses. Se o presidente resistisse era morto.” 

O Ministro do Comércio Interno, Aires Machado “Minerva”, foi demitido de funções no dia 8 de Junho de 1977. Membros da direcção política e militar do golpe revelaram o seu envolvimento “ao mais alto nível”.

 Essa informação foi confirmada por Pedro Fortunato, ex-Comissário Provincial de Luanda (governador) e um dos principais dirigentes do golpe. Fortunato refere que “os comissários provinciais de Malanje, Zaire, Cuanza Norte, Cuanza Sul e Benguela pertencem à nossa direcção e alguns, nas suas deslocações a Luanda em missão de serviço, contactavam as embaixadas estrangeiras que apoiavam o golpe de estado”. 

Revela também Pedro Fortunato: 

“O comandante Monstro Imortal estava incumbido de proceder à prisão dos dirigentes que deveriam ser afastados. E ia encabeçar a delegação encarregada de apresentar as nossas reivindicações ao Presidente Neto. Caso ele rejeitasse, era detido pelo Monstro Imortal para ser depois exilado num país à sua escolha (…). Ficou decidido fazer o golpe de Estado. As unidades militares contactadas sairiam para a rua e a população era convocada para uma manifestação. Tínhamos elementos infiltrados entre as massas para agitar. A finalidade do envolvimento popular era encobrir a nossa verdadeira intenção, que era o golpe de Estado militar. Os membros do governo eram depois divididos entre a direita, os moderados e a ala esquerda. Mas só era considerado de esquerda, o Ministro Aires Machado. Nito Alves era o nosso Presidente da República e do MPLA. José Van-Dúnem, o Primeiro-Ministro. Aristides Van-Dúnem ficava com a pasta do Trabalho. Betinho era o Ministro da Educação. Monstro Imortal, Ministro da Defesa. Aires Machado ficava como Ministro do Comércio. Maria do Carmo Medina seria a ministra da Justiça”.

Rui Coelho, professor, foi preso em Luanda por envolvimento no golpe. Disse no seu depoimento: 

“Defendemos que o MPLA deve estar ligado ao Partido Comunista da União Soviética. Confesso que estou convencido da existência de anti-sovietismo a nível do aparelho de Estado e do MPLA. Colaborei na elaboração das teses que Nito Alves escreveu para apresentar em sua defesa ao comité central. Ele considera que o partido está dominado por forças direitistas, por social-democratas aliados aos maoistas. Levei para Lisboa as provas do livro de poemas de Nito Alves e entreguei-as a Albertino de Almeida, o editor da obra em Portugal”.

Bakaloff só foi preso em Novembro de 1977. Andou sempre em Luanda disfarçado de mendigo, O seu depoimento escrito é curto: 

“O partido está nas mãos de contra revolucionários. Por isso, tínhamos que expulsá-los e derrubar o Governo”.

Betinho, colaborador do programa radiofónico Kudibanguela, foi detido e disse tudo. Implicou o ministro Aires Machado no golpe e denunciou o envolvimento de “alguns portugueses que vivem em Angola”. Contou todos os pormenores da reunião que teve lugar no dia 21 de Maio, para estudar as respostas a dar, no caso de se consumar a expulsão de Nito Alves do Comité Central do MPLA:

“Nesta reunião tentámos esboçar um plano para o caso de Nito Alves vir a ser expulso do Comité Central. Se viesse a dar-se esta eventualidade, prevíamos desencadear uma insurreição, que é o tal golpe de Estado, que deveria ter início em Malanje. Um levantamento de massas populares em Malanje e que ia culminar aqui em Luanda. Vários militares que nos apoiam, garantiram na reunião, que era possível desencadear o golpe de estado a partir dos seus quartéis”.

No jornal português “Diário de Lisboa”, edição de 30 de Junho de 1977, Mário Pinto de Andrade, então a trabalhar com o Governo de Luís Cabral, em Bissau, escreveu a seguinte mensagem: 

“Considero-me sempre um militante do MPLA. Em primeiro lugar lamento profundamente a expressão criminosa e facínora que tomou a intentona de 27 de Maio, devido ao oportunismo e ambições políticas do grupo de Nito Alves e que levou à perda irreparável de comandantes e camaradas tão determinantes na luta de libertação nacional. Estou de acordo com as decisões tomadas pelo Bureau Político do MPLA e com as declarações do camarada presidente Agostinho Neto. Todos nós esperamos que o MPLA saia reforçado desta prova. Reconhecemos que o MPLA, temperado neste tipo de luta, vai com certeza triunfar mais uma vez sobre todas as formas de oportunismo político, mascaradas de verbalismo esquerdista”.

* Jornalista

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