sábado, 1 de junho de 2024

O Lado Horrendo do Terrorismo -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Em 1961 os Media de Angola faziam terrorismo permanente. As estações de rádio estimulavam o ódio contra os terroristas. E quem eram os terroristas? Todos os negros e os brancos “amigos dos pretos”. Os jornais publicavam fotografias de colonos, homens, mulheres e crianças, esquartejados nas fazendas e pequenas vilas do Norte de Angola. Morte aos terroristas! E quem eram os terroristas? Todos os negros. 

Em Luanda os colonos, espumando ódio, apedrejaram o templo da Igreja Metodista, novinho, porque os “protestantes” eram todos terroristas e amigos dos pretos. Foi assim que envenenaram a minha juventude. Foi nessa fornalha de ódio e violência que escolhi o lado dos que mais sofriam, como aprendi com minha Mamã. Continuo ao lado de todos os que sofrem, desde o Iona ao Polo Sul, de Namacunde ao Polo Norte.

A ONU informou o mundo que as tropas israelitas obrigaram mais de 800.000 palestinos a fugir de Rafah, em apenas 17 dias! Imaginem as cidades de Benguela e do Lobito ficarem vazias em duas semanas. Ou a cidade do Huambo e arredores. Ou a cidade do Lubango até à Chibia.

A Organização Mundial de Saúde informou que as tropas de Israel cercaram durante cinco dias o hospital Awda uma moderna instituição de saúde na cidade de Jabalia. Agora está fechado. A cidade tem mais de 100 mil habitantes. Em Julho de 2023, 116 mil palestinos viviam no campo de refugiados das Nações Unidas. Entretanto muitos foram mortos nos bombardeamentos.

No final de Outubro do ano passado Israel bombardeou o campo de refugiados em Jabalia, matando 50 civis a maioria mulheres e crianças. Este campo tem pouco mais de um quilómetro quadrado. Imaginem concentrar toda a população desde Caxito até à Barra d Dande naquele espaço. E depois despejar bombas potentes sobre as pessoas. É o que Israel está a fazer há sete meses. Largar bombas num local exíguo com 116 mil habitantes é matar indiscriminadamente civis indefesos. No campo existem três escolas geridas pela ONU. Desde o início do genocídio serviam de refúgio à população da cidade. Assassinatos à bomba!

Jabalia neste momento não tem qualquer hospital funcionando. Os nazis de Telavive levantaram o cerco ao Hospital Awda mas partiram tudo. Imaginem uma população de 220 mil habitantes sem qualquer cuidado de saúde. Sem água, sem medicamentos, sem comida. Na Faixa de Gaza não há uma guerra. Há um genocídio. Em 1961, as tropas portuguesas também bombardeavam as sanzalas para “matar terroristas”. Terroristas eram todos os negros. Como para os nazis de Telavive todos os palestinos são terroristas. 

Os colonos, em 1961, organizaram-se em milícias. Não foi uma resposta ocasional. Essas milícias continuaram até 25 de Abril de 1974. Tinham um nome: Organização Provincial de Voluntários para Defesa Civil de Angola (OPVDCA). Oficiais superiores das Forças Armadas Portuguesas aceitavam comandar essas milícias, piores que as SS de Hitler. Eram as milícias que protegiam as grandes roças no Norte de Angola!

Na Cisjordânia ocupada militarmente por Israel, os nazis de Telavive criaram as suas milícias que todos os dias espancam, prendem e matam. Desde o dia 7 de Outubro de 2023 os nazis de Telavive fizeram 8.840 reféns palestinos! EUA e França impuseram “sanções” contra os colonos ocupantes israelitas que chefiam essas milícias. Nunca se viu tanta hipocrisia. Os sancionados não saem da Cisjordânia ocupada. A sua missão é ocupar a Palestina, não é passear em França ou nos EUA.

Até hoje os nazis de Pretória mataram na Faixa de Gaza 35.827 civis inocentes dos quais 15.104 crianças. Milhares de Mamãs. Todos são terroristas, porque para o governo de Israel, cada palestino é um terrorista e assim tratado. Ninguém exige a libertação dos reféns palestinos, presos nos campos de extermínio israelitas, em condições desumanas. Todos exigem a libertação dos reféns israelitas. Eu também. Mas exijo a libertação de todos e não apenas os dos aliados do estado terrorista mais perigoso do mundo e das grandes potências do ocidente alargado. Aprendi a estar ao lado de todos os que sofrem, sejam quem forem.

Desde o início do genocídio (na Faixa de Gaza e na Cisjordânia não há forças militares palestinas, só israelitas) os nazis de Telavive já forçaram à deslocação de dois milhões de palestinos. Imaginem toda a população entre o Sumbe e a Baía Farta ter de fugir dos sicários da UNITA em poucos dias! Deixarem as suas casas, as suas lavras, as suas escolas, o seu chão. Está a acontecer na Palestina. E por falar em sicários da UNITA, até hoje não ouvi uma só palavra de condenação do genocídio em Gaza. Porque os nazis de Telavive e os sicários da seita savimbista são farinha do mesmo saco. 

Nos sete meses de genocídio, as tropas dos nazis de Telavive já fizeram 80.017 feridos graves. A maioria foi amputada. Deficientes físicos para sempre. Eis uma face do genocídio que ninguém refere. Também ninguém diz que desde 7 de Outubro, os nazis de Telavive destruíram todas as universidades da Faixa de Gaza. Os hospitais e outras unidades de saúde vão pelo mesmo caminho. Quando tudo estiver em escombros e já não existirem palestinos, Israel diz ao mundo que eliminou o HAMAS! Uma forma ardilosa de dizer que os nazis de Telavive concluíram o genocídio.

Ontem o Tribunal Internacional de Justiça ordenou o fim da operação militar de Israel em Rafah. Os nazis de Telavive disseram logo que não aceitavam a ordem. Desprezaram a decisão. Associam a ONU ao terrorismo. Humilharam os embaixadores da Noruega, Espanha e Irlanda porque estes países reconheceram o Estado da Palestina. Os nazis de Telavive são piores do que os nazis de Hitler. Já nem respeitam os Estados com embaixadas em Israel. 

O chefe dos nazis, Benjamim Netanyahu, chamou a imprensa amestrada para dizer: “Nenhuma força no mundo nos vai impedir de prosseguir a operação em Rafah.” Logo a seguir à decisão dos juízes do Tribunal, a artilharia israelita bombardeou zonas residenciais da cidade palestina. Trucidou civis. Joe Biden na Casa Branca declarou o seu apoio ao regime israelita que tem leis de apartheid. É um estado de apartheid, igual ao da África do Sul que o Povo Angolano derrotou no Triângulo do Tumpo. Hoje os nossos irmãos sul-africanos são a primeira linha de combate contra o nazismo na forma de apartheid. 

A ONU quer instituir o Dia Mundial do Genocídio para perpetuar o Massacre de Srebrenica. Entre 11 e 25 de julho de 1995, tropas do exército bósnio da Sérvia mataram 8.373 civis bósnios muçulmanos  na região de Srebrenica, município no leste da Bósnia e Herzegovina. A região era considerada segura por estar sob protecção das Nações Unidas.

Na Palestina já foram massacradas 15.104 crianças, corpos identificados e enterrados. Mais milhares de corpos que estão sepultados sob os escombros provocados pelos bombardeamentos dos nazis de Telavive. Esta mortandade não chega aos calcanhares do Genocídio de Srebrenica. Joe Biden disse na Casa Branca, com pompa e circunstância que na Faixa de Gaza não há qualquer genocídio.

Israel já recusou cumprir dezenas de resoluções da ONU. Ocupa militarmente a Cisjordânia onde instala colonatos ilegais. Fez da Faixa de Gaza uma imensa prisão a céu aberto. A tropa nazi mata deliberadamente civis indefesos, inclusive jornalistas, funcionários da ONU e de agências humanitárias. Luz verde para matar!

União Europeia e EUA, uma semana depois de começar a operação especial para desarmar e desnazificar a Ucrânia, impuseram pesadas sanções contra a Federação Russa. Congelaram os fundos soberanos russos no valor de 350 mil milhões de euros. Agora decidiram confiscar os juros para financiarem os nazis de Kiev. Em mais de dois anos de operações militares, o número de civis mortos na Ucrânia é de 10.749 e 15.599 feridos.   Em sete meses de genocídio na Faixa de Gaza os nazis de Telavive mataram 35.827 civis e feriram gravemente 80.017 palestinos.

Se a União Europeia e os EUA congelarem os fundos de Israel e dos autocratas genocidas israelitas, nem mais um tiro. Nem mais uma criança assassinada. Nem mais um trabalhador da saúde assassinado. Não mais trabalhadores das agências humanitárias trucidados.

Se os nazis de Telavive não respeitarem a ordem do Tribunal Internacional de Justiça, nem mais uma arma para Israel. Nem mais uma bala. Nem mais uma bomba. Nem mais um euro ou dólar. E o genocídio acaba num instante. 

Claro que nada vai acontecer. Úrsula von der Leyen, Charles Michel e Roberta Metsola, a cúpula da União Europeia, em Outubro foram a correr a Telavive dizer aos nazis para avançarem com o genocídio. Matem os palestinos até à última criança. Joe Biden, Blinken e Austin fizeram o mesmo. O chanceler alemão seguiu a mesma rota. De Londres chegou o mesmo apoio. Ainda há muito palestino para matar. O genocídio continua. O Tribunal Internacional de Justiça vale zero.

As autoridades angolanas falam de mansinho, não vá Joe Biden zangar-se e acabar com o negócio da cirurgia robótica. A Casa Branca já mandou um aviso. Pôs o Rafael Marques, na Voz da América, a enterrar o nosso Peron e a sua Evita. Qualquer dia congela as contas ao Ricardo Viegas de Abreu. Ministro dos Transportes sofre! Perguntem a Augusto Tomás. 

* Jornalista

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